21.11.14
Moradias
20.11.14
Órbita
Na semana que num meteoro pousou um robô
Não consegui pousar em mim mesmo
Até parece que alguém me robou
Bateu minha carteira num planeta esmo
E meus vizinhos continuam brigando por migalhas
Enquanto 40 milhões de verde-amarelos planejam pousar em órbitas fora da fome
Orbitam sob o signo desconexo das metralhas
Olham para o céu com a cara de quem consome
E a tecnologia alcançou um meteoro, na mesa o cheiro de agrotóxicos, em algumas barrigas o cheiro da fome, nas urnas o engodo, nos esgostos políticos saltam aos olhos. Qual será o próximo planeta a ser descoberto?
11.11.14
A(r)me
Arme-se contra o machismo
Arme-se no marxismo
Ame-se no existencialismo
Ame o comunismo
Ame o sismo
o abalo
o tiro
a ira
o id
Ame
ou
Arme
Mas não se esqueça de odiar o idiota capitalista
26.10.14
Domingo
Um leito viscoso corre sobre minha sombra denegrida. Encobre paisagens e desfruta do horror matinal.
Amanhã é domingo e este pasto seco deixado pelas larvas amorfas demorará a se reconstituir. Não há bom sujeito que dure sem ser tomado pelo ódio tenobroso desse rio imundo que deságua em mares infindos.
Os jornais e revistas desencontrados em bancas, antes explodidas pelos verdugos da morte, dilaceram a opinião coletiva. Não escuto ressoar o canto lírico do bem-te-vi, quedou mudo no pasto seco.
Meus olhos ardem, o horizonte ficou mais distante. Ainda não sei como irei transpor esse domingo pedregoso, mas há uma certeza dizendo que é preciso [...].
Mas não adianta. Carreatas, comícios e discursos, com volume acima da média, ensurdeceram a plateia. É preciso esperar a segunda-feira raiar.
24.10.14
Guarida
E se eu for dar guarida a todos esses sentimentos que rasgam minha veste, seguirei nu, visivelmente tonto, esquálido e sem bússola. E se todas as propagandas fossem a pura verdade, se todas as eleições respeitassem a moral e se essa luta do bem contra o mal fosse a última fronteira norte-sul, eu estaria exilado do outro lado, bem distante desse maniqueísmo artificial, plantado justamente para crescer como folhas hidropônicas distantes da terra e sem o sabor gostoso daquele que veio da amálgama do húmus com a indignação verdejante.
22.10.14
Inerme
O sol esta manhã iluminou mais uma encruzilhada histórica
Releio notícias velhas tão novas que causam espanto
Inerme procuro nos autos mais e mais argumentos
Gente séria [e não tão séria] define o tom do debate
As ruas vazias estão cheias de santinhos que voam sem compromisso
As ruas vazias calam frente ao berro das urnas
Mais uma vez o santo demônio desintegra quem não crê no céu e no inferno
Milhões sangram e não são considerados válidos
Milhões estão em abstinência, são brancos, negros insatisfeitos, nulos pelo sistema
A ordem mundial segue [quase] incólume
Os bombardeios prosseguem, os trabalhadores explorados continuam cabisbaixos, a missa é pontual como sempre
O céu e o inferno definem como devemos agir
O outubro vermelho desbota-se num botão verde [encarnado de verdade]
Poemas sujos estão tão limpos que dão nojo
Jovens desconhecem os broches com a imagem de Vladimir
Tecem longos comentários
Afirmam ter tv, casa própria, iogurte
Chamam qualquer teoria de ortodoxa
E continuam gerando mais-valor de 8h às 18h
Chamam de sem fronteiras o ideário ianque
Os universitários sentados em privadas, reafirmam o pensamento dominante
As alianças espúrias, os velhos lobos no poder
Ladainhas do dia-a-dia
Mas amanhã vou para a rua, varrer santinhos do pau oco
Ovacionar a classe [deliberadamente] adormecida, combater a tragédia desse vazio eleitoral
Mesmo que o sol se ponha silencioso e recomece a cantilena noutro dia
15.10.14
Ímpeto
Portas entreabertas, bocas fechadas
Frestas de passagem, faces ocultas
E os desejos cálidos como um pôr do sol
Nublados por um dia eterno de chuva torrente
E este dilúvio arrasta tudo que está pela frente
Troncos, correntes, vontades, matilha
[coletivos]
Ficam entulhos, individualidades, fedor
Pensamentos obtusos e robustos
Ímpetos desajeitados, direita, ruas sem saída
E um maniqueísmo inveterado
Assiste o féretro passar
Dos sonhos que serão maculados
[e jogados em covas abertas]
13.10.14
Dobradiças
E o meu silêncio virou noite
Silêncio de uma casa inteira
Silêncio que fala mais que uma novela
Silêncio dos túmulos
Na calada da noite fria
Silêncio de uma sinfonia inacabada
De repente um ruído
Um prurido
Um tiro no escuro
Centenas de vezes gritei
Um grito mudo
Acuado, diuturno
Centenas de vezes decorei a fala
Do monólogo apresentado a mim mesmo
Num silêncio sepulcral
Centenas de vezes desconfiei
Que aquele silêncio era um eco
O ressoar de palavras [mudas]
A partida
O tilintar de algum recado
Que lavrei em papel alheio
Apupos secos, silenciosos
Proclamam, pelo menos hoje,
que parti
Parti em silêncio, sem abrir nem fechar portas
Para evitar o ranger e o gemido das dobradiças
[ ]
Depois de uma multidão
Preciso mesmo é do quarto vazio
Do silêncio dos meus pensamentos
Sem a interferência da antena de TV
Chama silêncio que não arde
[cala] balde d'água
Entope o barulho ensurdecedor
Das mazelas diárias
[silêncio]
[silênci]
[silênc]
[silên]
[silê]
[sil^]
[sil]
[si]
[s]
[]
.
27.9.14
Paraibano
Sou paraibano, nascido em Recife
[por engano]
Batizado às margens do Rio Sanhauá
Alimentado pelo refrigerante homônimo
E pelo Dore Guaraná
Nascido na Várzea
[repito, por engano]
Foi a várzea quem me criou
Correndo pelos campos de terra e pedra
Junto com os moleques de Mandacaru
Jogava bola com Zé da Penha
E outros tantos Zés-Pés-Descalços
Com tantos calos que denunciam
Que hoje não brotam mais nas Cinco Bocas
As flores do mandacaru
Nunca mais vi Zé da Penha
Nem os campinhos de várzea
Nunca mais tomei banho às margens
de qualquer rio
A cidade ficou poliglota?
Ou será que a idade se transformou num vazio?
Onde estão os meninos de pés calejados
que um dia tomariam esta terra de assalto?
Foram todos engolidos por este ignóbil asfalto?
Onde estão os indignados, cujo os pais bailavam no Pé de Ouro?
Foram todos suprimidos pelas urnas de outubro?
Ou foram vítimas do calibre do três-oitão?
Sou paraibano, repito
[apesar de nascido em terra alheia]
Escuto todos os dias as vozes da infância
Dos meninos da zona norte
É preciso reencontrá-los, dizer que ainda é possível
Deixar outro legado
16.9.14
O verme
[Microconto]
Era fruto de uma vida tão solitária, mas tão solitária, que a própria solitária que vivia feliz em suas entranhas morreu de solidão.
Plúmbeo
14.9.14
Vazio
Amanheci no Ponto Cem Réis vazio
Num domingo que poderia ter a cara do lazer
Eu, meu filho e a bicicleta
Dando voltas, imaginando aquele espaço
Repleto de acrobatas, palhaços e piruetas
Pensei em vários esportes
Patins, ciclismo, futebol, vôlei e basquete
Pensei nas crianças das ocupações
Pintando rostos, comendo algodão doce
Os pais nas oficinas de formação política
Mas a desgraça corria solta
A Lagoa tomada por buzinas, óleo diesel
Carreata, políticos, adesivos, sujeira
E o domingo correu vazio
13.9.14
Alô Alô Ivo
7.9.14
Para Joselúcia
No nosso último encontro em terras baianas você comentou como eu estava magrinho. Sigo magrinho, feinho, feito Fabiano, em Vidas Secas, que ao contar os trocados recebidos do patrão constatou que a exploração era tão cruel quanto o engodo da democracia neste sistema. Os cambitos combinam com os parcos recursos da educação, finos e incrustados nesta tênue linha entre a miséria e a insensibilidade patente dos gestores. Sigo catando restos de vida, tentando apaixonar gente para a luta e me indignando dia após dia. Talvez por isso dez quilos esvaíram porta afora, sem pedir licença. Na feira encontrei dois amigos de longa data, igualmente macérrimos, contando doenças e descasos. Por isso, resolvi correr contra o tempo e assim não deixar para amanhã as batalhas de hoje. Sigo saudoso das terras do velho Jorge, mas, apimentado que sou, enraizei-me em terras paraibanas que, antes de comerem meus olhos, sentirão todo ardor que poderei exalar enquanto eu sentir o cheiro do vilipêndio atroz desses gestores desumanos.
Agradeço o teu olhar puro que ainda enxerga a beleza neste rosto uva-passa,
saudades,
Lauro
6.9.14
O IDEB na capital paraibana
Acaba de ser divulgado o resultado do IDEB 2013. Apesar das limites e das incongruências do índice da educação básica, gestores alardeiam aos quatro cantos que a educação vem melhorando, apesar das notas e projeções estarem sempre aquém do mínimo esperado, e mesmo assim comemoram notas inferiores a 5,0.
De maneira superficial, as notas do IDEB podem apontar os problemas das redes de ensino e nos ajudar a compreender quais são os gargalos da educação nos municípios.
No caso do município de João Pessoa/PB o resultado foi pior ainda. A nota final do 5o ano da rede pública municipal de ensino foi 4,5 abaixo do resultado de 2011 (4,6). A nota do 9o ano, acreditem, foi 3,7 abaixo dos 3,9 alcançados em 2011.
E por que as notas do IDEB da cidade de João Pessoa/PB despencaram?
Um dos elementos para consolidação de um rede de ensino de qualidade está relacionado com a CARREIRA DOCENTE.
Infelizmente, a rede pública municipal da capital paraibana tem em seus quadros mais de 60% de prestadores de serviço (dados do SAGRES/TCE/PB), que são trabalhadores da educação sem vínculo, sem estabilidade, sem direito a uma carreira profissional, que recebem bem abaixo da média salarial e estão suceptíveis a todo o tipo de coerções (para não dizer uso da máquina pública em períodos eleitorais).
Se havia alguma esperança que a atual gestão pudesse mudar esse quadro, a prática tem sido outra. Forçado pela necessidade legal de realizar concurso para a área de educação (o último foi realizado em 2007!) o atual gestor brinca de fazer concurso e não convoca os aprovados, em detrimento a mais de 6.500 prestadores estarem sendo pagos com a rubrica magistério FUNDEB (SAGRES/TCE/PB).
Mesmo com a previsão legal da nomeação garantida pela LDO 2014, com o excesso de arrecadação do FUNDEB (segundo o Semanário Oficial da PMJP mais de R$ 6 milhões no primeiro semestre), com recursos extras injetados em 2014 pelo reajuste do FUNDEB 2013 e pela Complementação do Piso por parte da União, o prefeito de João Pessoa/PB teima em não convocar os aprovados no concurso público.
E os índices educacionais na capital paraibana, infelizmente, seguem ladeira abaixo.
3.9.14
Incisivos
Quando lembro que um Veloso Borges
Atirou para matar no João Pedro Teixeira
E como sexto suplente
Tornou-se deputado, livre e solto
Quando lembro que um filho de governador
[aquele mesmo que atirou para matar, virou deputado e renunciou para não ser julgado, livre e solto]
Segue líder nas pesquisas "eleitorais"
Vejo que o tiro causou a morte
e a morte
Da Lei da Ficha Limpa
Quando vejo um policial à paisana
Mostrar a arma para um trabalhador
Dar voz de prisão
Por portar pneus em seu carro
Pneus usados pelo trabalhador para lutar por moradia digna
Vejo a morte prematura da dignidade
Quando vejo um bebê de colo
Chorar na porta da delegacia
Esperar a soltura do pai preso
Pela ação arbitrária de uma polícia lacaia
Debruçada numa acusação infame
Imagino que não devemos esperar pelo amanhã
Que não devemos encher urnas
Que não podemos viver calados
Que precisamos construir nossas armas
E partir para a ofensiva
Nem que seja com os nossos incisivos
Nem que seja de maneira incisiva
30.8.14
24.8.14
Verdugo
13.8.14
24.7.14
Circular 1500
A namorada morava muito distante. Quase sempre pegava o último transporte público estatal (acreditem, um dia ele existiu), naquelas noites escuras de postes com as luzes queimadas.
Vencido pelo cansaço do dia e pelas horas intensas de namoro, fazia o trajeto de volta para casa dormindo. Impressionava como sempre acordava perto da parada de casa e nunca ultrapassava os limites do sono.
Dormia sentado, olhos cerrados, coluna ereta pois sabia que o encosto do banco da frente seria mais um circular pela cidade. E assim se chamava a lotação, Circular 1500.
Uma hora e tantos minutos de viagem, vários bairros, várias comunidades e muitas histórias. A mais trágica foi no dia que acordou assustado após ter sido acertado por um objeto estranho.
Ainda anestesiado conferiu a boca, os dentes, os olhos e sentiu uma lama escura e espessa espalhada no rosto. No chão, ao lado, um sapo cururu enorme, também desconfiado, não sabia como havia se transformado em artefato de guerra e alegria dos moleques de boa mira.
23.7.14
Doutor Honoris Lixus
Não vou arredar pé
Ficarei circunscrito a esse espaço
Provinciano
Limitado pelo desejo
E por minha falta de fé
"Não comerei da alface a verde pétala"
Nem provarei esse gosto amargo de fel
Não farei inscrições indevidas
Metade de mim não será consciência rala
Farei greve de fome
Tocarei fogo em meu corpo
Mutilações mil
Mas não serei mais um homem
Que enterrará seus princípios
Meios e fins
Com caminhos não justificados
Jogados em precipícios
Não vou abrir mão
Dos meus braços, antebraços
Pés de barro
Cabelos, unhas e corrimão
Quero minha ficha corrida
Parada de amolações
Dias claros, tardes quentes
E uma noite bem dormida
Não darei bandeira
Posso até ser confundido
Com aquele homem no lixo
Meu deus, que nojeira
Mas não serei ficha suja
No meio da imundície do pátio
Posso catar lixo, com o título na mão
Doutor honoris causa
Desta vida dita cuja
20.7.14
É fuzil?
Efusivo dilúvio tempestivo de um sistema gerador de sujeitos empertigados
É possível?
É fuzil alguma solução
Fusível
Neste mar vermelho
Plasmado por esta paz dos túmulos?
Por esta justiça que arrebanha gados
Açoitados para o abate
Como a primeira coluna, esquartejada, no dia D
Dia de todos os mortos
Das carnes repletas de bolor
Mofadas pelo ritual nefasto
E pelos gritos de horror
Sentimentos comprados a prazo
Consciências com cheques pré-datados
Taxas especulativas sobre o livre pensar
Aluguéis, pensões, ações em bolsas sem estética
Nessa éticapatética que nos leva a crer nos comentários vazios das noites de domingo
É fuzil? É violência a música que toca no rádio da polícia?
É fuzil? É verdade a saia justa do político na voz do Brasil?
É fuzil? Covardes adormecidos em berço esplêndido, da nossa pátria mãe gentil?
É fuzil? Neste oco da intelectualidade que navega em mar arredio?
É fuzil alguma solução?
15.7.14
Doação
Conduzido por La Poderosa (magrela, camelo ou simplesmente bicicleta) segui com uma bolsa pesada, cheia de livros, em direção ao IFPB (nenhuma ciclovia no percurso, só para constar).
Trouxe livros para doação, e já comecei a retirá-los da bolsa.
Não estamos aceitando doações, a biblioteca está cheia, disparou o servidor.
Boca aberta, catatonia vespertina, olhar marejado, silêncio.
Agradecemos [ponto]
(Deixei os livros na Coordenação do Curso de Licenciatura em Química, para o proveito de quem desejar, pelo menos lá pude doá-los)
[ponto]
9.7.14
Biblioteca
Desde ontem procuro uma biblioteca no centro da capital parahybana.
A biblioteca da Faculdade de Direito da UFPB foi desativada esta semana. O diretor da Academia do Comércio falou que a biblioteca só pode ser usada pelos alunos da instituição.
Na biblioteca do Ministério do Trabalho não pude ligar o computador, as tomadas só podem ser utilizadas pelos servidores. O servidor da Assembleia Legislativa não soube informar onde ficava a biblioteca.
Por último visitei a biblioteca pública do estado. Prédio histórico, convidativo e acolhedor, mas com as janelas abertas ao lado de uma rua movimentada, com as buzinas e arrancadas dos carros desviando a concentração. Quatro computadores para todo público e o wi-fi? "Não liberamos a senha, pois a internet é de apenas 3 giga", disse-me a servidora.
Pelo menos consegui ler o Jornal A União (único disponível) e doar alguns livros.
"Pode ser o país do futebol, mas não é com certeza o meu país".
Assalto em Alagoas
No dia 08 de junho de 2014 estava fazendo uma viagem de carro de Sergipe para a Paraíba. Em Alagoas fui parado pela Polícia Militar, numa daquelas fiscalizações corriqueiras.
Parei o carro, apresentei os documentos e aguardei o policial sem sair do veículo. Como de praxe o PM foi conferir os documentos com a placa traseira, retornou e me fez o convite para descer.
Este carro já sofreu alguma batida traseira? Perguntou. Sim, por duas vezes, respondi. Pois o lacre está rompido, asseverou. Apontei para o lacre branco da placa, intacto. O PM colocou a mão na parte interna da placa e pediu para que eu fizesse o mesmo. Está rompido aqui na parte traseira, vou ter que apreender seu documento e você terá cinco dias para retirá-lo em Maceió. Mas vamos ali conversar com o Coronel (?).
Qual a sua profissão? (fico imaginando o interesse na pergunta). Ainda não multei o senhor, saia do sol, venha pra cá. (Silêncio). O senhor quer me dizer alguma coisa? Não, respondi. (Silêncio). Fique à vontade senhor. (Silêncio). Olhe, o talão de multas está na pasta aqui na viatura, eu ainda não multei o senhor, fique à vontade. (Silêncio).
Fui em direção ao carro ver meu filho que dormia e suava bastante devido o calor das 15h. Fui chamado de volta. Constrangido e com o princípio peremptório de não macular essa ação sinistra, continuei em silêncio. (Mais silêncio).
O senhor quer me dizer alguma coisa? (Silêncio). Tudo bem senhor, aqui estão os seus documentos.
Dei as costas e ouvi o derradeiro recado em tom sarcástico: a multa vai chegar na sua residência.
Hoje, 09 de julho, recebo a notificação da "infração": conduzir o veículo com o lacre de identificação violado/falsificado. Classificação Gravíssima. 7 pontos.
6.7.14
Não mais que vinte
E faltam apenas vinte
Anos de solidão
Para poder cumprir qualquer tarefa
Qualquer meio de chão
Para poder fazer mais amigos
Desprezar qualquer quina
Ou milhão
Fiz as contas
Não mais que vinte
Futuro certo
Filho criado
Destino revide
Solo fértil
Da mãe gentil
Não mais que vinte
Anos de contemplação
Caberão quantos assaltos
Quantas ocupações
Quantos escritos
Saídos do forno
Bem quentinhos
Passados na manteiga
Na contramão
Não mais que vinte
Subir e descer
A antiga Palmeira
Passar no Cem Réis
Cortejar Livardo Alves
O busto de Augusto
O Caixa D'Água
Não mais que vinte
Não mais que pinte
Tinta guache em meio muro
Não preciso de mais
7.6.14
O círculo sujo da Ficha Suja na Paraíba
6.6.14
De volta ao começo II
Vou enfim rever os amigos
Viver na casa que Vovô morou
Cuidar do pé de amora
da mangueira
Andar no centro toda hora
Plantar desejos, hortaliças
Fazer política, derrubar mourões
Brotar lembranças e cultivar ventanias
Combater pragas e ameaças
Ocupar prédios, desobstruir artérias
Amedrontar os lenhadores da Beira-Rio
Plantar esperanças e orquídeas vermelhas
Encravado, enraizado, exasperado
Prometo dormir pouco
Varar madrugadas
Curtir a vida ao seu lado
Desatar seus nós
Paraíba do Norte, Parahyba capital
"Terrinha querida do meu coração"
Coloque mais água no feijão
Que chego já com tempero forte:
Enfim sós!
1.6.14
Hasta Siempre
Continuo minha pesquisa sobre financiamento da educação aqui em Sergipe e reitero manter os compromissos com o GEPEL/UFS e com a minha orientadora Professora Solange Lacks, além de já ter estabelecido contato com o Professor Fernando Cunha com o intuito de retorno à LEPELPB. Neste sentido, sempre que possível e necessário estarei em Aracaju para tratar dos assuntos relativos à tese e às demandas do Grupo.
Gostaria de agradecer aos membros do GEPEL pelos momentos preciosos de aprendizagem e luta diária e saúdo todos em nome da Professora Solange Lacks, na qual tenho um respeito por sua história. Sei que é lugar-comum, mas não correrei o risco de citar nomes específicos daqueles que compartilhei momentos de intensa amizade, para não incorrer em lapsos.
Sei que poderia ter feito e realizado mais e mais, sei que cometi excessos, sei que deveria ter me engajado mais, porém as minhas limitações estiveram expostas em demasia durante este curto período. Continuarei fazendo autocrítica e verificando onde posso me tornar uma pessoa mais humana e combativa.
Espero ter contribuído minimamente com o coletivo, com o Movimento Não Pago (uma grande escola), com o Movimento Estudantil (na tentativa natimorta de criar a APG, no Colegiado do PPGED e no CONSEPE), com o NETE (na qual agradeço a Professora Sonia Meire e ao Coletivo as oportunidades de aprendizado), ao Sarau de Baixo e aos partidos de esquerda de Sergipe (em especial ao PSOL e ao PCB) - a todas as pessoas e entidades meu muito obrigado.
Estabeleço o compromisso de continuar a luta pela Educação Básica, no qual iniciei a minha vida profissional em 1999 no município de Sapé/PB, e afirmo que desejo me fixar na capital paraibana, lugar onde me encontro como ser humano e que estive afastado desde 2000 percorrendo os sertões e cidades nordestinas, aprendendo com as lições do povo,
Hasta Siempre
29.5.14
Linguagem de Programação
Tenho certeza que ele existiu. Seu nome constava na frequência dos professores e, apesar de não haver registros fotográficos, pois era avesso a qualquer ato da coletividade, Bertran não foi uma figura derivada de passagens oníricas do ensino médio.
De fato, não há registros nas redes sociais, nem consigo encontrá-lo nos sítios de busca e muito menos vê-lo em lugares públicos. O fato é que ele pouco conversava nos intervalos, nunca foi visto nos pontos de ônibus e aquela marca misteriosa causava furor entre as garotas que a todo tempo fingiam desejo, apenas para enquadrar mais um da turma na lista dos intransponíveis.
Lembro dele nas aulas de Eletricidade Básica. Elogiadíssimo pelo temido e carrancudo professor, graças a um trabalho de magnetismo realizado em seu laboratório particular instalado em sua própria residência.
Adorava linguagem de programação e dominava, como ninguém, o natimorto Basic, além de Clipper, Pascal e Fortran.
Claro, eureca, Bertran deve ter sido uma variação do Fortran, alguma criação de um gênio que construía hologramas a partir das finadas linguagens de programação. Tudo aquilo era virtual e durou o tempo exato de três anos correspondentes ao ensino médio.
Betran C+ deveria ser o pseudônimo de uma figura randômica e efêmera, o projeto de algum cientista do século XX laureado pelo Nobel das Ciências Exatas.
Sei que ele não foi o único abduzido daquela turma do curso de eletrônica da Escola Técnica, mas, enquanto não houver vestígios do sujeito manterei esta tese como irrefutável.
19.5.14
Cartaxo não somos capachos
Concordo que a mudança brusca de professor pode acarretar problemas pedagógicos. Os alunos sentem os impactos quando isto ocorre. Mas, quando a educação é prioridade não se espera o "melhor momento pedagógico" para se colocar professores efetivos em sala de aula, faz-se este momento com a transição gradual dos prestadores em sala de aula juntamente com os novos efetivos, um mês ou dois garantindo que a qualquer tempo e hora professores possam ser nomeados.
Para que isto possa acontecer é preciso um gestor sério, comprometido com a educação e não mais um politiqueiro, daqueles que estamos cansados de ver, que num dia fala uma coisa, noutro dia fala outra, que mente sem o menor o pudor e transforma um concurso público da educação numa peça de marketing, com o objetivo de, inclusive, colocar no parlamento sua própria casta e se perpetuar no poder.
11.5.14
Dia das Mães
10.5.14
Mais uma vez parto
Eu sabia que partiria cedo
Por isso queria dar cabo de tudo
Num tempo diminuto
Queria transformar tudo
Por onde eu passava
Em milésimos de segundo
Nunca esperei dar gosto
A fruta verde da realidade
Por isso encurtei meu tempo
Envelheci com cabelos negros
Pois nem dei tempo aos grisalhos
E se hoje parto
É porque mais uma vez fracassei
Na minha agonia cesariana
Onde tudo-nada pode ser normal
Que louca mania de estuprar o tempo
Reverter doces deleites
Em pretéritos menos perfeitos
É por isso que esse parto
É apenas mais um aborto
É a procura do porto
[Seguro que não irei encontrar]
4.5.14
Carreira Docente
(Para Eduardo Coutinho)
Aos vinte e cinco anos
Descobri o significado da carreira docente
Acordava às cinco e meia
Engolia um pão amanhecido
Reservado com manteiga na noite anterior
Tomava uma ducha fria
Que despertava até os ossos
Da esquina de casa para o ponto de ônibus
Quinhentos metros longínquos
Uma carreira desenfreada para não perder a lotação
Hora e meia de viagem
Sete em ponto na escola
Recorde mundial estabelecido na carreira
Sem direito a progressão
Na terra de João Pedro Teixeira
Só enxergava os olhos tristes dos meus alunos
Cabras marcados para viver
29.4.14
Livraria
O que nos livraria de todo mal, amém?
Uma livraria em cada esquina
Nos livraria de toda estupidez?
Mas uma livraria
Sem tanto curry
Sem tanto Cury
Com tudo possível que nos cure
Livrarias, tu
Sem tanta culinária
Sem tanta auto-ajuda
Sem tanto bestseller
Livrarias, tu
Com tantos clássicos
Com tantos escritos pensantes
Que nos livraria de tanta insensatez
Ao ler nas livrarias
Tu te livrarias?
23.4.14
Flacidez
Pela simples falta de exercícios
Pela insistência da posição horizontal
Pelo excesso de programas banais de TV
A flacidez tomou conta dos meus pensamentos
15.4.14
Penitência
Com a Lei de Acesso à Informação é possível verificar os salários de servidores públicos. Para que possamos nos indignar e lutar por melhorias salariais, repasso a remuneração de alguns "Agentes de Protocolo e Tramitação" que requer, segundo o Plano de Carreiras, nível fundamental completo do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, com 6 horas diárias de trabalho (30 horas semanais). Coloquei apenas as iniciais dos nomes, mas no portal é possível ver o nome completo:
E. A. de S.
Agente de Protocolo e Tramitação - III
Total Bruto R$3.351,64
F. N. B.
Agente de Protocolo e Tramitação - XVII
Total Bruto R$6.235,02
M.G.B.
Agente de Protocolo e Tramitação - XVII
Total Bruto R$13.494,97 (com terço de férias)
E então povo, vamos lutar pelas melhorias salariais? Vamos lutar pela derrubada do artigo 20 do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração do magistério? Somos milhares de professores que podem estar organizados lutando por melhorias na escola pública que inclui a luta por salários dignos!!!! Temos o direito de trabalhar em apenas uma escola com Dedicação Exclusiva, condições de trabalho e salários dignos!
Cidade Acéfala
Interessante é que a página oficial do evento (http://wuf7.unhabitat.org/) informa que o período de realização do mesmo é de 05 a 11 de abril. Um jornal local informa ainda que a esposa do prefeito (que é senadora), o superintendente da SMTT e o chefe da Guarda Municipal farão parte da comitiva.
Quer dizer que o prefeito de Aracaju vai aproveitar o feriadão da Semana Santa para passear na Colômbia bancado pelos cofres públicos?
E mais, o Prefeito afirma, entre outras coisas, que irá avaliar um país que conseguiu "desmontar a guerrilha" e que vai "aprender e trazer grandes exemplos". Com a ida do chefe da Guarda Municipal e com esses propósitos "tão humanos", o tratamento que a Prefeitura vem dirigindo aos Movimentos Sociais deve ficar cada mais truculento, ou é apenas uma impressão?
Que tal recepcionarmos o Prefeito no aeroporto dia 22 de abril, exigindo que devolva aos cofres públicos os gastos com essa viagem de férias?
13.4.14
Um poema Arquimedes
Palavras surgem num rompante
[estonteante]
Ideias pululam malucas
Saltam rimas, metáforas e versos
A única alternativa é sair correndo do banho
Atrás de uma caneta e papel
Nu e gritando: poema, poema!
15 de abril
Sonhei que era um quinze de abril
Uma Lua Cheia esplêndida
Uma noite de luar
Digo, oficialmente acéfala
O prefeito e sua trupe
Foram discutir a paz dos túmulos
Na Colômbia reacionária de Uribe
Levaram o vice
A guarda municipal
O controlador de tráfego
[Eu disse tráfego]
A primeira dama e talvez mais alguns
Embaixo do viaduto e era do DIA
Noite dos poetas marginais
Dos encapuzados
Baile de rima dos revoltados
Os coquetéis saíram do papel
Rasgaram o transparente véu
Dessa democracia indecente
Putarias literárias
Orgasmos de prosas
Alamedas, bueiros alagados
O exército que até então exercitava a poética
Trocou penas e lápis por indignações na prática
De ética e legitimidade
Foi tomado por cordelistas em fúria
Pelo poder popular do Sarau de Baixo
A Guarda Municipal em choque
Nem conseguiu aquarelar
Ao ver aquela onda revolucionária passar
Comemorei em grande estilo
Fazendo tremular
Da sacada do prédio
A bandeira do Movimento Popular
8.4.14
Mais uma Quadrilha
Ricardo coração dilatado
28.3.14
Morte e Vida
Pior que a morte física
É a vida intensa das incongruências
A vida apenas aparente
Longe da essência
À guisa de cremação
A vida longe da política
Vida sem atos, passeatas
Ocupações de almas idílicas
Pior que a morte física
É a vida insossa
Trancafiada em prisões sem muro
Condomínios fechados
De casa ao trabalho duro
Morte prematura aos contaminados
Pelo vírus do consumo
Pelo corpo como insumo
Lesto, vigoroso, vitaminado
E quando o corpo pede a morte física
Nada resta se não o balanço
De uma vida tísica
27.3.14
Mais uma farra com dinheiro público
7.3.14
Kits Lanches para a Copa do Mundo 2014
Bom seria se o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome pudesse repassar os 2.000kg de castanha de caju, 7.000 kg de biscoito integral, 2.000kg de castanha do Brasil, 1.200kg de mel em sachê, 4.000kg de banana e abacaxi (frutas desidratadas), 1.000kg de barra de cereal, 7.000kg de biscoito sequilho e 36.000 litros de suco para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), conhecido popularmente como Merenda Escolar.
21.2.14
Caos Centros
16.2.14
Deputar
O povo deputou um deputado
Deputado, ex-prefeito
Inventou o verbo mais que perfeito
Com todo respeito àquelas que se deputaram
O deputado deputou o povo
Com colarinho branco
Contratou advogado,
Conseguiu voto
Para tudo que é lado
O povo deputado
Agora dá para todo deputado
Que lhe oferecer a cidade mais festeira
O petróleo mais sujo
Outrora tijolos e retroescavadeira
É preciso deturpar
O verbo deputar
Para mostrar ao povo
Que o nobre deputado
Roubou a cena da educação
Cometeu ilícitos na saúde
Pagou a gang de OAB
Com recursos do erário público
Deputar é ato antigo
Verbo novo, neologismo
Só para dizer que estamos cansados
De tanta violência com o povo
E tamanho fisiologismo
15.2.14
Passeata
Essa lógica de mundo estorvo
Com essas bombas alimentadas pela fome
E essa concorrência desenfreada
Pegue esse pedaço de pão, tome!
Alimente esse corvo
Em qualquer praça do meio do mundo
Já disse que não sou Raimundo
Sou esse sujeito fétido, imundo
"Que escarra na boca que beija"
E meio torpe, desarmado
Canto as sesmarias
Em qualquer lote desafinado
Mas, olhe ao lado
Sem carro, sem pão, nem mesmo pássaro
Para dar comida ou ser passado
Vou rogando por mudança
Esperando que qualquer passeata acabrunhada
Leve-me para as asas da esperança
13.2.14
"Speed Day" em Aracaju/SE
12.2.14
Violência
Mais um ato de violência e vandalismo chocou o Brasil. Sem exageros, a mídia mostrou a verdadeira face dos trogloditas que agem de maneira inescrupulosa e utilizam todo o tipo de artefatos para destruir a nossa democracia. Pessoas desse tipo devem ser submetidas ao rigor da lei, julgadas e presas contando com a celeridade da justiça desse país. Todos nós estamos estarrecidos com os últimos acontecimentos e a população não suporta delinquentes soltos pelas ruas. Temos que dar um basta nisso tudo! Quantas pessoas ainda irão morrer para que o poder público tome as rédeas e aja de forma contundente?
Não se confunda, estou falando de mais um prefeito que roubou verbas da Merenda Escolar e elegeu sua esposa como sucessora. Quantas crianças foram a óbito neste delito? Quantas adoeceram? Quantas foram prejudicadas no seu rendimento escolar? Quantos votos foram comprados? Quanto tempo a mídia reservou sobre este assunto?
Sempre bom lembrar o Brecht.
Muitos falam da violência dos rios, mas poucos citam as margens que o comprimem.
11.2.14
Carnaval
Para que serve o carnaval fora de época?
Para alimentar o gerente da urbe amada
E sua trupe alerquim
Para deixar o povo de cabeça oca
Delirando com essa política armada
E cheirando alfenim
9.2.14
31.1.14
28.1.14
Arqueologia
Após alguns anos de escavações intensas descobriu a felicidade fossilizada, carcomida pelo tempo.
16.1.14
Ipês
Recado do meu Avô
Que deve estar triste ao ver os Ipês
Servindo de sustentação para as bugigangas do natal
Que explicaria o porquê da floração tardia
Em meio a tantos autos
Carros, óleo diesel
Efeito estufa
Ainda assim, felizmente, no meu último dia na capital parahybana
Pude ver o tapete amarelo
Contrastando com o cinza-corrupção
Da Assembleia Legislativa
11.1.14
Revivendo 1989
25 anos depois o emblemático 1989 continua vivo. Ano da primeira eleição direta para Presidente da República após a ditadura civil-militar, vinte e poucos candidatos representavam as mais diversas correntes de pensamento. De coisas risíveis, como a natimorta candidatura de Sílvio Santos, ao sonho da esquerda subir ao poder pela via eleitoral. O que os caciques da política não esperavam é que um salvador da pátria, travestido de caçador de marajás, então desconhecido do grande público, pudesse superar nomes como Ulisses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. O desfecho dessa história todos nós conhecemos. 35 milhões de votos elegeram Collor de Melo-Itamar Franco e outros 32 milhões choraram a derrota de Lula-Bisol.
Pelo "Vocênotubo" é possível relembrar passagens marcantes daquele ano memorável. É possível assistir o programa eleitoral dos chamados nanicos, como Marronzinho e Enéas, e os extremos políticos como o então comunista Roberto Freire (PCB), apoiado pelo cantor Lobão, até figuras nefastas como Aureliano Chaves (PFL) e o candidato ruralista, Ronaldo Caiado (PSD).
Os jingles das campanhas contagiaram multidões, alguns mais pelo apelo sonoro do que pelos programas de governo. Afif, representante dos industriais, angariou votos graças ao "Juntos chegaremos lá, fé no Brasil" e até mesmo o "Bote fé no velhinho, que o velhinho é demais", do Dr. Ulisses,conseguiu comover muita gente. O "Lá, Lá, Lá Brizola" e o "Lula-lá", viraram clássicos e devem estar, ainda hoje, na memória de muita gente. Este último principalmente porque contou com um coral de artistas e intelectuais.
Lembranças idílicas da época fazem parte do meu imaginário, pois era um momento pleno do desabrochar da adolescência, tempo inclusive do primeiro amor. Infelizmente a crônica da vida real foi mais dura com o povo brasileiro e a inesperada vitória de Collor ainda carece de análises pormenorizadas. Como milhões de dólares surgiram para financiar a campanha? Quem foram os aliados nas eleições de 1990 privilegiados com as chamadas sobras de campanha? Quem assassinou PC Farias?
Durante a campanha, nos bastidores, escutava-se que os brasileiros perderiam seus aparelhos de TV, teriam restrições alimentares e teriam a poupança confiscada, caso o candidato barbudo vencesse a eleição. De fato a poupança foi confiscada e o saque nas contas restrito. Collor explica o fato como uma estratégia para barrar a inflação, depois de ouvir o Simossen, e diz que o Mercadante afirma que o PT utilizaria o mesmo artifício. Sarcasmos colloridos à parte, milhões de brasileiros foram assaltados e a verdadeira face de um projeto emergiu de maneira dramática para os pequenos poupadores.
Ficam mais perguntas. Como um ilustre desconhecido, filiado a um partido nanico (Partido da Reconstrução Nacional) conseguiu tamanha projeção? Como Collor de Melo conseguiu derrotar, no segundo turno, uma aliança de candidatos de tamanha expressividade (Lula, Brizola, Covas, Ulisses)? Por que um jovem, de apenas 40 anos, foi escolhido pelas elites para ser seu representante para derrotar a ameaça petista?
A história do afastamento de Collor por empáfia e corrupção todos nós já sabemos, mesmo que de maneira incompleta e sem vermos os larápios na cadeia. Como esse fenômeno surgiu é que procuro explicações.
A metralhadora poética
O poeta metralha
Gira sua poética
Aponta, engatilha
Mira com métrica
Metralha seu poeta
Metralha
Atira sua poética
Neste sistema canalha
10.1.14
Doutor [2]
- A célula do corpo humano que não tem núcleo é a hemácia. Tchau, boa sorte.
Não tive tempo nem de reagir àquela assertiva inesperada. Os portões estariam fechados em pouco tempo e só consegui devolver o boa sorte.
Quando vi a questão na prova de biologia é que compreendi o recado. Durante anos essa frase ruminou nos meus pensamentos. Alguns anos depois explodiram os escândalos. Professores de cursinho denunciados, presidente da entidade organizadora do certame afirmando a necessidade de diminuir as fraudes e outros assuntos correlatos que encheram as pautas dos tablóides por algum tempo.
Mas, a força política de quem vendia e, em especial, de quem comprava questões logo fez esvaziar as pautas e calar o noticiário. O tempo se ocupou do resto. Alunos que curtiam a vida em festas e baladas foram aprovados no curso de Direito, o preferido das fraudes.
Filho de Doutor, Doutorzinho é! E assim surgiram Desembargadores, Promotores e Juízes com o propósito de perpertuar as ideias da classe dominante.
E assim vivemos numa sociedade como as hemácias, sem um núcleo concreto que possa referendar as ações dos grupos dominantes. Ações forjadas, desde a sua origem, sob a égide da fraude e do escárnio.
7.1.14
Empobrecer
Resolvi empobrecer
Deixar de lado o letramento
Ler a Folha de São Paulo
Sem enxergar o verdadeiro pensamento
Sem ver, nem Veja
Obscuros textos que irão me convencer
Que Nova Iorque é o paraíso
E com meu trabalho conseguirei vencer
Resolvi compactuar com o povo
Comprar tudo em infinitas prestações
Casa, carro, pão com ovo
Créditos sem limitações
Resolvi andar de ônibus
Sentir o aperto do trem
Comer Prato Feito
Que só o Mercado Central tem
Desisti do emprego público
E da segurança previdenciária
Pois vi que parte do povo
Passa o domingo na visita presidiária
Cansei de almoços dominicais
Shopping Center, baladas culturais
Das prostitutas do cais
Cansei de exame biométrico
Desse ritual patético
Que diz para votar e ser ético
Vou anular meu voto
E quem sabe um dia eu volto
Para este mar revolto
Que derrubará as pedras
Roladas a mais
P[B]xP[E]
Prefiro a província
E o Porto do Capim
Prefiro ficar sem time
Mas com a companhia
Dos amigos do Belo
Prefiro não colar a bandeira
[no Auto]
Prefiro não ter [e]sport[e]
Prefiro não chiar no ésse
Prefiro este lugar pacato
Sem emprego digno
Sem riquezas de imediato
E cheio de modéstias
E muito menos moléstias
Prefiro as Muriçocas no carnaval
E a terra sem canavial
Prefiro o verde-branco
Não vou negar
Que prefiro a volta do [hy]
E que um dia a capital mude esse nome
18.12.13
Doutor
Eu não quero ser ninguém
Enquanto um outrem
Não souber nem assinar o nome
Eu não quero ser doutor
Enquanto houver submundo de dor
E crianças fora da creche sem pronome
Eu não quero ser burguês
Enquanto meio mundo é freguês
Da estação sem codinome
Eu não quero ser mais um pária
Nesse país sem pátria
Com essa angústia que me consome
Eu não quero ser isso ou aquilo
Taxado, vendido a quilo
Esquartejado, meu corpo some
Eu só quero ser a alegria
De uma noite tardia
De um coletivo que tudo come
[sem fome]
LP
Quero ouvir o Lado A
E depois o Lado B
Quero ouvir as teclas surrando o papel
Sem precisar corrigir meus erros de português
Quero de volta o Long Play
E a maletinha portátil
A agulha
E a fita
Não é nostalgia
É vida plena
Não descartável
Deserta de tecnologia
Sarau
Extra! Extra! Extra!
De costas para o palco as letras garrafais
Anunciam o que devemos comer
E quanto devemos pagar
Mesmo que o tempero esteja salgado e sujo
Debaixo do concreto a poesia abstrata
Faz surgir galhos libertários
Que brotam do asfalto denegrido
Sarau de Baixo anuncia em letras maiores
Que a poesia marginal vive
Ante as atrocidades mesquinhas dos sem poemas
16.12.13
Vitrola
Trocou a TV de plasma, presente indesejado de nãoseiquantaspolegadas, por uma vitrola que toca LP's antigos. Agora dorme ao som do Drummond recitando "Os ombros suportam o mundo", pois insuportável mesmo era o ruído do plim plim e congêneres.
12.12.13
Viu?
[Para Pedrão, a metralhadora poética]
Nós queremos celeridade
Sim, eu disse celeridade
Sei que essa justiça porca, anda lenta como tarturuga
Mas este rosto cheio de ruga
Não quer mais esperar um ano
Para que o suplente de deputado
Eleito com dinheiro vil
Dinheiro roubado do povo
Que até o juiz viu
Viu seu juiz, viu?
Suplente que virou deputado
Depois que um outro deputado comovido com tanto cascalho
Adoeceu para poder livrar o nobre salafrário
Da condenação do juiz que viu
Viu seu juiz, viu?
Condeno o réu a ressarcir integral os danos
Suspendo os direitos políticos por seis anos
E perda da função pública no momento da execução da sentença
Oh seu juiz, será que a gente não pensa?
O sujeito rouba o erário
Faz a gente de otário
Você diz que o sujeito é bandido culpado
E não pode fazer nada porque virou deputado?
Vamos esperar as férias do legislativo?
Quarenta dias de salário ativo
Dinheiro do povo para alimentar gatuno
E depois vamos esperar sentados
O momento que um outro juiz oportuno
Irá sentenciar mais uma vez o tratante
Sujeito de ação horripilante
E se o outro juiz não ver?
Mas o povo viu
E se prepare seu deputado réu
Mesmo sem cabelo e mesmo que não possa
Vamos tirá-lo a força
Dessa cadeira cheirando a fel
Zé da Penha
Vixe, hoje eu lembrei do menino Zé da Penha
Que vinha lá das cincos bocas de Mandacaru
Era daquele tipo, cheio da resenha
Jogava bola com a gente, entre o lixo e o urubu
Naquele campinho cheio de pedra vizinho a EMLUR
De um lado o cemitério, do outro a Zona Sul
Vinham todas as tribos, todos os meninos descalços,
Repletos de panos brancos, jogavam nos nossos encalços
José da Penha, era mais um menino sem bola
E jogava no nosso time de camisa sem gola
Sua mãe deveria trabalhar nas casas da vizinhança tonta
E a noite dançava no Pé de Ouro, depois da janta ficar pronta
Eu menino burguês, dono da bola, de escola, kichute e cartilha
Nada entendia como podia jogar tão bem quem não lia
Às vezes achava que aquilo tudo era uma ilha
E que no fundo tudo acabaria em poesia
Vixe era mais um Zé lá na Paraíba que parecia um nordestinado
Menino esperto, jogador de pé esfolado
Que vi muitas vezes esfomeado
Querendo engolir quem dissesse que tudo isso era predestinado
29.11.13
Condenação
Foi dado o veredito
Condenado em última instância
O juiz ao final assertivo: tenho dito
Pena máxima ao réu
Prisão perpétua
No máximo poder ver o céu
Prisão estadual
Sem direito à apelação
Na zona urbana ou rural
Nunca mais mergulhos rotineiros
Em mares bravos ensolarados
Nunca mais passeios em barcos pesqueiros
Nunca mais verde planta
Respirar ares puros
Nunca mais escutar a palavra que canta
Nunca mais amigos antigos
Jornais ao fim de semana
Escrever serenos artigos
Resoluto aceito a condenação
Pagar as penas das minhas ações
E esperar um dia que caia do céu a minha ordenação
Barba
Não vou ficar imberbe
Quero barba rala
Para mostrar ao tempo
Que já envelheci
Quero barba longa
Rosto ensebado, pelos brancos
Para mostrar ao tempo
Que já envelheci
Não perca tempo comigo
Tempo
Não te darei o gosto de me ver oxidar
Tempo
Não perca tempo comigo
Coloco minha barba de molho todo dia
E embarco no primeiro trem
Rumo à Estação Finlândia
[não quero ver o inverno chegar]
27.11.13
Lua
Olhei no calendário
Este ano a lua cheia
Constará no meu aniversário
Espero que venha sorrindo
Reflita com o mar
Ideias tinindo
Os espaços vazios e as beiras
Espero que preencha
E siga faceira
Espero que a lua cheia
Lembre que é meu aniversário
E me convide para a ceia
Faremos amor
No seu lado escuro
Para não gerar rumor
Partiremos minguantes
Novas e crescentes
E seremos eternos amantes
26.11.13
Parahyba
Neste verão quero tomar um banho de Parahyba
Às margens do Rio Sanhauá
Ver o Porto do Capim
Do frontispício do Hotel Globo
E tomar uma Dore guaraná
Quero andar solto pelo Ponto Cem Réis
Visitar a Oca de Piá
Pichar os muros da assembleia
Gritar o nome dos corruptos em altos decibéis
Lá em Reginaldo vou ler jornal
Ouvir a Boca Maldita
Visitar Augusto, Caixa D'água, Livardo Alves
Ver o sol dormir no Beco do Malagrida
Vou seguir as recomendações de meu Avô
Pisar macio no tapete amarelo dos Ipês
E não esquecer de apreciar a arquitetura das antigas casas
Do tempo que passou
Para não perder o costume
Vou chorar às margens do Cabo Branco
Ouvir a sinfonia marítima
Jogar vôlei nas areias finas
Trazer a lume
A alegria de brincar com meu filho
Vou me deleitar na maré zero zero
Ver os corais do Bessa
Visitar os canyons de Coqueirinhos
Os antepassados da Arapuca
E andar por Tambaba sem essa
Nada me impedirá de respirar
O ar dos teus jardins
De enxergar a cor das tuas orquídeas
Da Bica à Ponta dos Seixas
Da barreira destruída para outros fins
Vou participar de todas as manifestações
Pintar de verde-branco forte
Todas as lamentações varonis
Ajudar a escrever teu verdadeiro nome em letras garrafais:
Parahyba do Norte
25.11.13
Oco
Cidades vazias
Não preenchem o meu oco
Plêiades artificiais
De uma urbe tosca
Regam o chão com uréia
[destilada]
Cidades [deliberadamente] vazias
Tocam sinfonias bêbadas
No pior destilo musical
Cidades vazias
São como casamentos por conveniência
Heranças malditas herdadas do sangue público
O povo sangra
Assina papéis com o polegar
Solta fogos em comemoração
Cidades esvaziadas
Por larápios com crachá e diploma na assembleia
Reduto de gatunos profissionais
Povo esvaziado
13 milhões de analfabetos
Catam lixo
Enchem urnas
Entrementes
Troçam os diplomados
Responsáveis fiéis pela cidade vazia
13.11.13
Escridor
Resolvi que um dia serei escridor. Colocar para fora as estranhas entranhas que não me deixam dormir. Escridor é aquele que sente as agruras do mundo. Que sai porta afora e vê crianças catando lixo, creches cerradas e opacas como se fossem presídios anunciando o futuro. Escridor é aquele que sente o cheiro do esgoto que parece um carteiro entregando nas casas amebas domesticadas. É aquele que enxerga a origem desse mal, mas não consegue compartilhar essa visão com o vizinho antenado na TV ao lado. Escridor é aquele que chora em silêncio, que sabe que vai embora porque não aguenta mais ficar ao lado do prefeito corrupto que virou deputado com os votos dos amigos de quarto. Escridor é o sujeito chato, que reclama de tudo, que não é cooptado pelas benesses dos cargos, que se desvencilhou do vil metal. É aquele que não tem preço e por isso morre ao ver o amigo vendendo o que há de mais precioso. Ser escridor não é fácil, como é difícil escrever a dor.
Apenas uma sessão
Foi com a turminha de adolescentes para o cinema que ficava no centro da cidade e hoje, transformado em igreja, padece dessas esporádicas lembranças dos anos 1990.
Naquela época não importava o filme, o diretor ou o enredo. Mais valia sair com os amigos do ensino médio, então segundo grau, para curtir uma tarde e quem sabe arrancar o primeiro beijo.
Não estava confiante que o filme do Batman pudesse atrair um clima animador para desvirginar os lábios, mas só o fato de estar em boa companhia já superava as expectativas. Naquela época não havia cadeiras numeradas, nem várias telas com uma diversidade de filmes, muito menos era preciso sair da sessão caso você optasse por ver o mesmo filme a tarde inteira.
Um combinado tácito também era comum. Alternância de meninos e meninas nas cadeiras, pois com a ajuda do escurinho do cinema era mais fácil vencer a timidez e quem sabe emplacar um namoro. Da mesma forma como o filme era indiferente, naquela seca brava de contatos íntimos, tanto fazia a garota que sentasse ao teu lado. Mas, quando você dava a sorte de sentar ao lado de uma garota linda, não era prudente desperdiçar a oportunidade.
As mãos suadas denunciavam o quanto era preciso ignorar o preço do ingresso e tentar ao menos estimular uma resposta positiva. Sorrateiramente e com muito cuidado, os dedos avançavam, encostavam quase sem querer a outra mão desejada. A reação inopinada de contato recíproco fazia o coração bater mais forte e encorajava o avanço com muita cautela e medida, nada que os anos 1990 pudesse achar libidinoso.
A primeira reação é como se estivesse estiolado, que aliado ao escuro da sessão todo o ar tivesse sido sulgado porta afora. Era preciso vencer a si mesmo. Passar das mãos às bochechas macias e rosadas, sentir o dengo desejar mais carinho. As mãos delicadas daquele que nunca precisou pegar num cabo de enxada, ajudavam a tornar aquela experiência tão simples e inocente numa aventura sentimental indescritível.
Desejava que aquele fosse o longa mais longo de Hollywood, para que as mãos doces pudessem cumprir plenamente a função que seria mais complexa ao acender das luzes. Acabou não dando espaço aos lábios virgens, deixou que as mãos se amassem até a vitória do homem morcego. Não queria correr riscos caso tentasse um beijo naquela posição oblíqua, imprópria para os amantes cinéfilos. Afinal, frente a frente já parecia ser um trabalho hercúleo para um neófito, imagine tendo que torcer o pescoço em noventa graus.
Luzes acessas e um pequeno percurso até o ponto de ônibus. Diminiu o passo, deixou a turma seguir e deu prosseguimento ao encontro caloroso das mãos. E agora? Teria que parar? Falar algo para então contrair o beijo? Desajeitado e sem construir algo idílio, soltou sem pensar:
- Acho que agora não precisamos de um manual de instruções.
Como um raio que parte uma casa ao meio, as mãos descolaram-se instantaneamente. Não viu nem o rastro do ônibus que levou embora aquele sonho que durou apenas uma sessão.
11.11.13
Escritos
Estes escritos não geram mais-valia
Não são propriedade privada
Não derrubam árvores
Não bebem celulose
Não possuem direito autoral
Não auferem renda
Apenas ajudam a me salvar do mal do tempo
Em dias chuvosos de verão
Copa
A criança sem creche
Olha atenta a mãe nua
Que sem emprego se mexe
Não há solidão maior que o deserto
De uma alma nua
Sem emprego certo
Corre solta a bola na grama
Nos insalubres andaimes da Copa
E perto dali escorre a trama
Sem creche, a mãe é só lassitude
Mas o estádio apinhado
Diz que é preciso ter atitude
A explicação teleológica
De um gol aos noventos minutos
É muito mais lógica
Faltam creches, empregos
Sobram craques, gols
Empresas, contratos, egos
A mãe na copa
Raspa a lata de leite, atenta ao gol
Do craque que segue para a europa
Na Copa estão comendo fast-food
O Tio Sam vai conhecer a nossa batucada
E filmar essa orgia em Hollywood
Não há dissensões
Somos todos verde-amarelo
Em melancólicas crispações
O corpo exala o odor
Estremece de fome
Afugenta a dor
É gol, sublime
Não há mais faltas
Apenas a felicidade imprime
Não levo mais chibatadas no couro
Não preciso mais de creches
Pois tenho um gol de ouro
7.11.13
Calo
Faz tempo que não riu
Que não vou ao Rio
Que certas águas do rio
Não desembocam no mar
Faz tempo que cumpro pena
Dá pena só de pensar no comprimento
Estreito da pena
Que não posso comprar
Faz tempo que tento sobreviver
Sobre viver não tenho mais nada a dizer
Só calo
Nos meus pés
Alados
Como escrever poemas
Fustigado pela história, passou a escrever poemas
Viciado nas idiossincracias alheias
Injetava doses cavalares de aflições
Nas veias abertas [da América Latina]
Cheirava o pó dos antepassados cremados
Pela ganância implacável dos colonizadores
Tomava barbitúricos alucinógenos para reviver a escravidão nada afável
Escrevia seus poemas
Sob o efeito deste coquetel inflamável
Sentido
Não encontrou sentido
Naquela dor sentida
Naquela prisão sem grades
Naquele homicídio culposo
Naquele ato doloso
Corriqueiro dos que não amam
Não encontrou sentido
No sentido detido
Naquele vidro fosco
Temperado a sangue, suor e lágrimas
Não encontrou sentido
Naquela placa de contramão
Naqueles homens correndo sem direção
Não encontrou sentido
Naquele corrimão desapegado
No grito de gol da esquina ao lado
Não encontrou sentido
Em tantos holofotes
Em tantos desapegos fortes
Não encontrou sentido
Naquilo que estava sentindo
6.11.13
Melanina
Uma canção me disse certa vez
Que os sonhos não envelhecem
Faltou combinar com a escassez de melanina
E com os cabelos brancos que já apontam
Um certo poema falava dos meus ombros
Do quanto eles suportavam o mundo
Hoje não suportam o tempo envelhecido
E contam regressivamente a euforia ofuscada
Certos sonhos, certas canções
Duram o quanto tempo mole
Esparrama céu afora
Anoitece todo dia
O estribilho ressoou desafinado
Na tocata do balaústre
Na serenata do poeta
Na noite que se quedou: fim