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22.6.10

Aqui jaz

Uma história inteira construída a duras penas

Escapuliu por aí

Saltou barrancos

Saiu correndo

Nem deu sinal de vida



Morreu atropelada na primeira esquina

Marcou profundamente a sanha

De uma geração inteira



O sangue corrediço

Cravou a horda por inteiro

Pintou a face de qualquer cor

Insalubre



Desmistificou o caráter

Abriu crateras

Afundou navios



Corro demais a procura

De um cadáver insepulcro

De uma esmola derradeira

De uma luz artificial



Escrito em letras graúdas

Segue em coro o epitáfio:

Aqui jaz (um)a história

13.6.10

Sobre a Copa de 2010

O cineasta italiano Pasolini dividia o futebol em prosa e poesia, tendo como referëncia a final da Copa do México em 1970. Evidentemente que a seleção canarinho, com Pelé, Tostão, Rivelino, representava a poesia do futebol e aquele jogo burocrático europeu, a prosa. Infelizmente, em 1970, o país do futebol vivia sob a batuta de milicos burocratas, assassinos do povo brasileiro e que souberam utilizar o resultado da Copa do Mundo como propaganda ideológica em favor regime ditatorial. No jogo contra o Brasil os presos políticos da época chegaram a torcer pela Tchecoslováquia, representante do bloco comunista que tanto assustava a direita reacionária da América Latina. Euforia política, e com um tom exagerado, encerrada até o instante que Pelé, magistralmente, chutou do meio do campo tentando pegar de surpresa o goleiro do país comunista – lance antológico não convertido em gol.


Desde 1990 que o maior evento futebolístico se resume a prosa. Jogos enfadonhos, poucas revelações, poucos gols, poucas jogadas magistrais. Evidentemente que não somos saudosistas daquele 10 a 1 que a Hungria emplacou em El Salvador em 1982, que gerou protesto do time salvadorenho colocando a goleada como atitude antiesportiva da equipe húngara! Ou na mesma Copa aquele jogo entre Alemanha e Áustria no qual as duas equipes, já sabendo dos resultados anteriores do grupo, combinaram o placar para que pudessem se classificar para a segunda fase – face horrenda de uma Copa com problemas de organização.

A Copa de 2010 começa com a mesma prosa que marcou os últimos eventos. Quem teve a terrível sensação de assistir França e Suíça (0x0) em 2006 e ver o time francês chegar a final do certame e agora perder seu tempo, como eu perdi, assistindo França e Uruguai (0x0), pode perceber que a promessa de uma Copa do Mundo diferenciada, por ser, pela primeira vez, em Continente Africano, caiu por terra. A média de gols dos primeiros jogos é muito baixa, o nível técnico de algumas equipes é lastimável e as grandes promessas parecem ter deixado de lado a poesia futebolística – e ainda corremos o risco de times medíocres com o da França, mas com um futebol de resultado, possam chegar ä final.

Resta-nos assistir aos programas sobre o futebol tão comuns nesta época. Entre um jogo e outro, antes de cair no sono, recomendo mudar o canal e procurar excelentes documentários como um que passou na TV SESC (Futebol e Arte) durante o enfadonho Sérvia e Gana. Quando terminou o primeiro tempo corri para preencher na minha tabela aquele 0x0 parcial, ato falho, pois ainda transcorreria o segundo momento do jogo, que para mim não representava mais nada.

No referido documentário temos um dos convidados falando sobre a opinião de Bertold Brecht sobre o espetáculo futebolístico e sua relação com o teatro. Brecht desejava uma apresentação teatral com o público gritando, xingando, opinando, da mesma forma que os torcedores se comportam nos estádios. Ah, que cena fantástica a população nas câmaras de vereadores ou nas assembléias legislativas gerando atos de manifestação irada, diferente do torpor típico desses espaços.

Na verdade a história tem mostrado que a direita e os setores reacionários tem se privilegiado dos espetáculos esportivos, vide as Copas de 1970 e 1978, bem como a Olimpíada comandada por Hitler. No nosso pequeno-vasto mundo os noticiários de TV e os tablóides dão ênfase ao espetáculo em detrimento aos acontecimentos políticos que circulam no país e no mundo. Vários órgãos públicos em greve, parlamentares em “recesso branco” (quem quiser que acredite), fantasmas no Senado são esquecidos durante quase um mês. Em contrapartida a propagando ideológica segue se aproveitando do evento. Não deixam escapar que a Coréia do Norte é esquisita, é um país fechado que nada por lá presta e que são... comunistas (ainda bem que já não comem criancinhas). Até pensei em ir ao primeiro jogo do Brasil com uma camisa vermelha, provocativa, mas tenho certeza que eu não seria compreendido pelos meus alunos e os doutos professores, lembrando que a partida é em plena terça-feira, precedida por uma reunião departamental e logo em seguida, no período noturno, aula normal.

P.S. Enfim tive que corrigir a minha tabela da Copa, Gana marcou 1x0 na Sérvia gol de... pênalti – e tome prosa!

segue tempo...

Uma lágrima qualquer derramada todo instante

Um suspiro, um sussurro

Um achaque persistente



Fruto do ato contínuo

Do olhar repentino

Da janela que não abre



Esmurro portas,

Corro dos sortilégios

Evito passar por escadas

Sufoco minhas veleidades



Nada restou no HD formatado

Vítima de ataques contínuos

Nada restou neste meio ano

Apenas destroços a colar



O tempo frágil segue galopante

Correndo feito um louco

Cheio de sandices

Homens tortos, recheiam os pratos

Que ficam sujos, cheios de imundices



Segue tempo, mostra a verdade

Para construir ações coerentes,

Persistentes e determinadas

Segue tempo, dita hora

Segue tempo, não mata a história

uma carta

Campina Grande 1 de maio de 2010.

Caro professor Lauro, me chamo (identidade preservada)*, fui aluno a Universidade Federal de Campina Grande e conheço muito bem as “sistemáticas” do poder nesta instituição. Hoje estudo na Universidade Estadual da Paraíba, (...), e atualmente ocupo a presidência do Centro Acadêmico *.

Venho por meio desta me solidarizar com o companheiro, que estar sendo perseguido por ousar ter coragem e se contrapor a camarilha insidiosa que se arraiga cada vez mais no que ainda conseguimos manter como público.

Professor, estou muito feliz com o ressurgimento da ADUFCG como ferramenta de luta, (...). Aqui se manifesta um companheiro de idéias e de batalhas por uma sociedade emancipada, justa e livre.

Em tempo, encaminho a sugestão para homenagearmos o professor Wagner Batista Braga, um dos ícones da luta docente em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade.

Sempre a disposição...

(*) Vivemos num regime de exceção, caracterizado por perseguições, assédio moral, mordaças de todo tipo, por isso optamos por preservar a identidade do companheiro.