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22.7.17

Porvir


Bebê 
Quase sete anos se passaram
Agora já sei qual pé chutas a bola

Admiro a espontaneidade do teu sorriso
E a fortaleza do teu caráter

Sei que ninguém te dará ordens aleatórias
Baterás o pé até conquistar o bom direito

Sei que posso contar contigo
Na luta contra o prefeito
Levantando faixas pela nomeação
No grito de ordem:
Fora Presidente

Já tens o hábito de  ocupar as ruas
Lutar por nossos direitos
Sabes que o presidente é um homem mau
Cercado de corruptos

Tuas perguntas políticas
Teu interesse pelos ocorridos
Revelam a dureza do cotidiano

Até a pelegagem do sindicato foi descortinada
Até o emprego que papai perdeu foi desvelado
Até a justiça desafinada foi revelada

Teu engajamento é inspiração
Nessa selva digital
Neste país que ainda está por vir

14.7.17

Sol


O sol nunca se vai
O sol nunca se esvai

O que há por trás do lado obscuro do Sol?

O que há por trás de nossas vidas obscuras?

O sol nunca se vai
E nossa vida passageira acasala
Tantos preconceitos
Tantos desabonos
Tantos mistérios na antesala

Eu trabalhador de sol a sol
Nunca vejo o poente
Sou um zero à direita
Nessa politica de tantos expoentes

O sol nunca se esvai
Nem a margem à esquerda
Enquanto houver sol...

Contradição

Renasço a cada dia
Apesar do ser morrinhento que mora dentro de mim

10.7.17

Revolto



Eu revolto
É proibido proibir
Domino as ondas
Num efeito dominó

Eu revolto
Subverto ordens
Encaro o mar como uma criança
Engulo o medo
Sou todo coragem

Eu revolto
Sou mais violento que a ressaca
Sou amargo, salgado
Com o desejo patente de revoltar

Mar revolto
Encaro de frente
Pois a revolta é meu caminho só de ida
Não tenho tempo para voltar

9.7.17

Solidão



A solidão é um pontinho branco
De costas para o mar

Domingo



Domingo é dia de futebol
Jogo pela manhã
A tarde, assistir pela tevê

E não me venha com o discurso
Do seu ministro da economia
Que eu não quero nem ver

Navegantes


Aviso aos navegantes

O mar não está para propina
Ventos fortes
Águas turvas
Delações premiadas
Aves de rapina

Aviso aos navegantes

Descobrimos suas falcatruas
Filmamos malas, acordos espúrios
Dinheiro contado
E vamos tomar as ruas


Aviso aos navegantes

Alerta de céu enegrecido
Ressaca da maré
Navios e rádios piratas
Rompem as amarras e bradam:
Todo poder a ralé

8.7.17

reserva

Um exército bate à porta
Um exército implacável que causa temor
Milhões de compatriotas alistados
involuntariamente

Medo Fome Desemprego

O exército de reserva avança
É um fantasma na cabeça do trabalhador
É o argumento do patrão usurpador

É o chicote
o limbo
a humilhação

É o poder da contrarreforma
É o avesso da liberdade
É a pura promiscuidade

É um exército surdo mudo inodoro
É o exército do fim do mundo

3.7.17

A vida que tremia

Hoje pensei em Hermes
Um amigo esquálido da época de infância
Ele morava em frente a uma fábrica de tecidos

O chão tremia vinte e quatro horas

Vinte e quatro horas
Vinte e quatro horas
Vinte e quatro horas
O chão tremia
Por todo o dia
Máquinas a todo vapor

Por Deus
Aquele chão tremia as casas
Tremia Hermes e sua família
Hermes tremia
Vinte e quatro horas por dia

Sístole e diástole estavam na frequência
da tecelagem
Não havia tempo para amores
Corações tremiam
A casa quase caía, diziam os rumores

A casa de Hermes tremia
tremia o pai
tremia a mãe
tremia a tia
tremia os ossos do magrelinho
tremia o corpo famélico
tremia até o cachorro que não mais latia

Como Hermes dormia?
Dentro de uma casa que tremia
Como Hermes comia?
Dentro de uma casa que não parecia
Como Hermes aprovaria?
Dentro de uma casa onde os estudos não cabiam

Não tenho mais notícia de Hermes
Nem da casa que tremia
Nem da família que tremia
Nem do bairro que tremia

Só espero continuar a tremer de indignação
Em nome daquela barriga vazia
que tanto tremia