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17.6.21

Contas a pagar

 De repente descobri que a crise dos mísseis

foi apenas um devaneio do meu interior cubano


Que a pinta do Gorbachev

era apenas as marcas das lições diárias


Descobri que Chernobyl e o Cesio 137 são tormentas minhas pois ainda chove e chove e chove


As bombas do Bush, do Clinton e do Obama representam bem mais que o Nobel da Paz


Que pra mim não faz sentido, nem aqui na Praça dos Bancários nem na Praça Celestial


A Guerra dos mil anos, Malês, Mascates, Balaiada, sabe nada...


Nada disso posso ver, a revolução não bateu à minha porta


IrãIraqueAfeganistãoKuait só me interessa chegar ao fim do dia e alimentar meus filhos e o cão que late


Metanarrativa é o Galvão narrando o gol do Neymar


Não é o petróleo, o aumento das commodities, a Revolução Russa ou morto mar


Só sei que no fim do mês tenho contas a pagar

9.6.21

ho4as

Quatro horas é o meu horário favorito

Tem cheiro de menino moleque jogando bola

de tarefa de casa terminada


A brisa do oceano chega com toda força

Anuncia o lado lúdico da vida

Quatro horas tem cheiro de mar

que dá para sentir no sertão


É a hora que encho meus pulmões de ar


Quatro horas é o meu horário preferido

É o meu pronome possessivo temporal

É o cheiro de pão quente, bola rolando, pipa voando


Quatro horas é mais que uma convenção

Não há rotação ou translação que explique

É quando me descubro vivo


(Conta-me em segredo, às quatro, se teu horário existe e eu te direi quem és...)

Alimento

Vou passar o dia alimentando meu lado Buda

Para te mostrar a paz de espírito que carrego em mim


Vou passar o dia alimentando meu lado Marx

Para te mostrar o quanto quero ver um novo mundo pela janela


Vou passar o dia alimentando meu lado Frida

Para te mostrar a liberdade que transpira


Vou passar o dia alimentando meu lado "passarinho"

Para te mostrar minha poesia


Enquanto houver tempo eles não "passarão"


Mas não há tempo, não há mais poetas de sete faces


Apenas encruzilhadas em tabuleiros de xadrez

Thank you

Quando Hiroshima explodir na minha porta

Quando rufarem os tambores da selva

Quando a chuva ácida molhar o meu tapete


Não me procure em qualquer caixa postal

Estarei limpando minha relva

Tomando banho numa piscina cheia de ratos

Escrevendo canções de amor


E mesmo que o cogumelo atômico anuncie que é o fim de tudo

Vou continuar apaixonado como Dido cantando Thank You


E assim, por todo sempre, amanhecerei contigo,

em gestos, palavras e omissões


E assim, por todo sempre,

serei sopro, velas e orações...



"E esta é uma canção de amor...

E esta é uma canção de amor...

E esta é uma canção de amor..."


https://youtu.be/1TO48Cnl66w