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27.11.14

Pieguice

Desculpem a pieguice
Se ainda choro
Pela morte do leiteiro

Desculpem a pieguice
Se ainda brado
Por camaradas imprescindíveis

Desculpem
Eu não sabia que violetas não se plantam
Que elas duram apenas três dias

Desculpem
Pensei que plantações de gente
Durassem a vida inteira

23.11.14

Violetas

Não há mais flor de mandacaru
Não há mais a menina que enjoa da boneca
As violetas não brotam mais
Plantaram sangue no chão da escola

Tudo seco, sem cheiro de flor
Tudo é dor neste pasto seco

Margaridas, Violetas, não violentas
Lutadoras, poetas, meninas
Sonhos que se foram

[Violentamente]

E mais que nunca precisamos plantar
Violetamente!

21.11.14

Moradias



Moradias?

Parecem caixões sem alças, torrando solenemente ao sabor do sol
Um mato rasteiro sobressai frente as agruras da vida daqueles que terão que se sujeitar a viver num lugar tão inóspito

Moradias?

Quede a praça, os banquinhos, os balanços, a rebeldia?
Quede o cheiro verde, as árvores, a escola, a infância?

Os caixões perfilados, opacos, sem flores, silenciam o lugar insalubre
Mais parece um enterro coletivo de gente soterrada pela exclusão

Aqui jaz a dignidade humana


20.11.14

Órbita

Na semana que num meteoro pousou um robô
Não consegui pousar em mim mesmo
Até parece que alguém me robou
Bateu minha carteira num planeta esmo

E meus vizinhos continuam brigando por migalhas
Enquanto 40 milhões de verde-amarelos planejam pousar em órbitas fora da fome
Orbitam sob o signo desconexo das metralhas
Olham para o céu com a cara de quem consome

E a tecnologia alcançou um meteoro, na mesa o cheiro de agrotóxicos, em algumas barrigas o cheiro da fome, nas urnas o engodo, nos esgostos políticos saltam aos olhos. Qual será o próximo planeta a ser descoberto?  

11.11.14

A(r)me

Arme-se contra o machismo
Arme-se no marxismo
Ame-se no existencialismo
Ame o comunismo
Ame o sismo
o abalo
o tiro
a ira
o id

Ame
ou
Arme

Mas não se esqueça de odiar o idiota capitalista

26.10.14

Domingo

Um leito viscoso corre sobre minha sombra denegrida. Encobre paisagens e desfruta do horror matinal.

Amanhã é domingo e este pasto seco deixado pelas larvas amorfas demorará a se reconstituir. Não há bom sujeito que dure sem ser tomado pelo ódio tenobroso desse rio imundo que deságua em mares infindos.

Os jornais e revistas desencontrados em bancas, antes explodidas pelos verdugos da morte, dilaceram a opinião coletiva. Não escuto ressoar o canto lírico do bem-te-vi, quedou mudo no pasto seco.

Meus olhos ardem, o horizonte ficou mais distante. Ainda não sei como irei transpor esse domingo pedregoso, mas há uma certeza dizendo que é preciso [...].

Mas não adianta. Carreatas, comícios e discursos, com volume acima da média, ensurdeceram a plateia. É preciso esperar a segunda-feira raiar.      

24.10.14

Guarida

E se eu for dar guarida a todos esses sentimentos que rasgam minha veste, seguirei nu, visivelmente tonto, esquálido e sem bússola. E se todas as propagandas fossem a pura verdade, se todas as eleições respeitassem a moral e se essa luta do bem contra o mal fosse a última fronteira norte-sul, eu estaria exilado do outro lado, bem distante desse maniqueísmo artificial, plantado justamente para crescer como folhas hidropônicas distantes da terra e sem o sabor gostoso daquele que veio da amálgama do húmus com a indignação verdejante.

22.10.14

Inerme

O sol esta manhã iluminou mais uma encruzilhada histórica
Releio notícias velhas tão novas que causam espanto
Inerme procuro nos autos mais e mais argumentos

Gente séria [e não tão séria] define o tom do debate
As ruas vazias estão cheias de santinhos que voam sem compromisso
As ruas vazias calam frente ao berro das urnas

Mais uma vez o santo demônio desintegra quem não crê no céu e no inferno
Milhões sangram e não são considerados válidos
Milhões estão em abstinência, são brancos, negros insatisfeitos, nulos pelo sistema

A ordem mundial segue [quase] incólume
Os bombardeios prosseguem, os trabalhadores explorados continuam cabisbaixos, a missa é pontual como sempre

O céu e o inferno definem como devemos agir
O outubro vermelho desbota-se num botão verde [encarnado de verdade]
Poemas sujos estão tão limpos que dão nojo

Jovens desconhecem os broches com a imagem de Vladimir
Tecem longos comentários
Afirmam ter tv, casa própria, iogurte
Chamam qualquer teoria de ortodoxa
E continuam gerando mais-valor de 8h às 18h

Chamam de sem fronteiras o ideário ianque
Os universitários sentados em privadas, reafirmam o pensamento dominante
As alianças espúrias, os velhos lobos no poder
Ladainhas do dia-a-dia

Mas amanhã vou para a rua, varrer santinhos do pau oco
Ovacionar a classe [deliberadamente] adormecida, combater a tragédia desse vazio eleitoral

Mesmo que o sol se ponha silencioso e recomece a cantilena noutro dia

15.10.14

Ímpeto

Portas entreabertas, bocas fechadas
Frestas de passagem, faces ocultas
E os desejos cálidos como um pôr do sol
Nublados por um dia eterno de chuva torrente

E este dilúvio arrasta tudo que está pela frente
Troncos, correntes, vontades, matilha
[coletivos]

Ficam entulhos, individualidades, fedor
Pensamentos obtusos e robustos
Ímpetos desajeitados, direita, ruas sem saída

E um maniqueísmo inveterado
Assiste o féretro passar
Dos sonhos que serão maculados
[e jogados em covas abertas]

13.10.14

Dobradiças

E o meu silêncio virou noite
Silêncio de uma casa inteira
Silêncio que fala mais que uma novela

Silêncio dos túmulos
Na calada da noite fria
Silêncio de uma sinfonia inacabada

De repente um ruído
Um prurido
Um tiro no escuro
Centenas de vezes gritei
Um grito mudo
Acuado, diuturno

Centenas de vezes decorei a fala
Do monólogo apresentado a mim mesmo
Num silêncio sepulcral

Centenas de vezes desconfiei
Que aquele silêncio era um eco
O ressoar de palavras [mudas]
A partida
O tilintar de algum recado
Que lavrei em papel alheio

Apupos secos, silenciosos
Proclamam, pelo menos hoje,
que parti

Parti em silêncio, sem abrir nem fechar portas
Para evitar o ranger e o gemido das dobradiças

[ ]

Depois de uma multidão
Preciso mesmo é do quarto vazio
Do silêncio dos meus pensamentos
Sem a interferência da antena de TV

Chama silêncio que não arde
[cala] balde d'água
Entope o barulho ensurdecedor
Das mazelas diárias

[silêncio]
[silênci]
[silênc]
[silên]
[silê]
[sil^]
[sil]
[si]
[s]
[]
.

27.9.14

Paraibano

Sou paraibano, nascido em Recife
[por engano]
Batizado às margens do Rio Sanhauá
Alimentado pelo refrigerante homônimo
E pelo Dore Guaraná

Nascido na Várzea
[repito, por engano]
Foi a várzea quem me criou
Correndo pelos campos de terra e pedra
Junto com os moleques de Mandacaru

Jogava bola com Zé da Penha
E outros tantos Zés-Pés-Descalços
Com tantos calos que denunciam
Que hoje não brotam mais nas Cinco Bocas
As flores do mandacaru

Nunca mais vi Zé da Penha
Nem os campinhos de várzea
Nunca mais tomei banho às margens
de qualquer rio
A cidade ficou poliglota?
Ou será que a idade se transformou num vazio?

Onde estão os meninos de pés calejados
que um dia tomariam esta terra de assalto?
Foram todos engolidos por este ignóbil asfalto?
Onde estão os indignados, cujo os pais bailavam no Pé de Ouro?
Foram todos suprimidos pelas urnas de outubro?
Ou foram vítimas do calibre do três-oitão?

Sou paraibano, repito
[apesar de nascido em terra alheia]
Escuto todos os dias as vozes da infância
Dos meninos da zona norte

É preciso reencontrá-los, dizer que ainda é possível
Deixar outro legado

16.9.14

O verme

[Microconto]

Era fruto de uma vida tão solitária, mas tão solitária, que a própria solitária que vivia feliz em suas entranhas morreu de solidão.

Plúmbeo

A cidade ferve... é provável que esta semana tenhamos mais gente na rua... insatisfeitos com essa forma tosca de tocar a "política"... desabrigados de reuniões desmarcadas, pessoas sem teto, sem emprego, sem projetos, cansadas desse oco, dessa cantilena que afirma, não despretensiosamente, que estamos em descenso. Estamos correndo ladeira acima, com o sangue fervilhando, cobrando, mirando em todo ser obtuso, que mente por esporte, por não ter nada melhor que fazer... cansamos de claquete, de gente paga para aplaudir (ou nos vaiar), de paletós e microfones... não há mundo virtual que nos cale, que nos sufoque, que deixe nossos glúteos sentados eternamente... essas correntes que nos aprisionam deixarão de ser nosso algoz e participarão da grande festa, da comemoração da liberdade, muito além de algum confirme numa passagem nebulosa de outubro... as correntes contarão cada aflição que passamos, cada humilhação que sofremos e exalarão o sabor plúmbeo desse amálgama ferroso do suor do povo lutando por seus direitos.

14.9.14

Vazio

Amanheci no Ponto Cem Réis vazio
Num domingo que poderia ter a cara do lazer
Eu, meu filho e a bicicleta
Dando voltas, imaginando aquele espaço
Repleto de acrobatas, palhaços e piruetas

Pensei em vários esportes
Patins, ciclismo, futebol, vôlei e basquete
Pensei nas crianças das ocupações
Pintando rostos, comendo algodão doce
Os pais nas oficinas de formação política

Mas a desgraça corria solta
A Lagoa tomada por buzinas, óleo diesel
Carreata, políticos, adesivos, sujeira

E o domingo correu vazio

13.9.14

Alô Alô Ivo



(Para Ivo Herzog)
 
Alô Alô Ivo
Mande notícias de Compostela
Pois aqui até Adão quer comer a costela
Do pobre menino negro
Enfiado no camburão
Com cara de navio negreiro*

Alô Alô Ivo
Acelere o caminho
Pois aqui tem desesperado
Com uma fome animal
Querendo inclusive diminuir
A maioridade penal

E os mortos e desaparecidos
Continuarão a empilhar
Os anais da história
Com o aval do estado mau

Alô Alô Ivo
Volta logo camarada
Hora de rever conceitos
Pensar no lixo da história
E evitar que nossa juventude
Faça o caminho sem volta

* “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro” (O Rappa)

7.9.14

Para Joselúcia

No nosso último encontro em terras baianas você comentou como eu estava magrinho. Sigo magrinho, feinho, feito Fabiano, em Vidas Secas, que ao contar os trocados recebidos do patrão constatou que a exploração era tão cruel quanto o engodo da democracia neste sistema. Os cambitos combinam com os parcos recursos da educação, finos e incrustados nesta tênue linha entre a miséria e a insensibilidade patente dos gestores. Sigo catando restos de vida, tentando apaixonar gente para a luta e me indignando dia após dia. Talvez por isso dez quilos esvaíram porta afora, sem pedir licença. Na feira encontrei dois amigos de longa data, igualmente macérrimos, contando doenças e descasos. Por isso, resolvi correr contra o tempo e assim não deixar para amanhã as batalhas de hoje. Sigo saudoso das terras do velho Jorge, mas, apimentado que sou, enraizei-me em terras paraibanas que, antes de comerem meus olhos, sentirão todo ardor que poderei exalar enquanto eu sentir o cheiro do vilipêndio atroz desses gestores desumanos.

Agradeço o teu olhar puro que ainda enxerga a beleza neste rosto uva-passa,

saudades,

Lauro

6.9.14

O IDEB na capital paraibana

Acaba de ser divulgado o resultado do IDEB 2013. Apesar das limites e das incongruências do índice da educação básica, gestores alardeiam aos quatro cantos que a educação vem melhorando, apesar das notas e projeções estarem sempre aquém do mínimo esperado, e mesmo assim comemoram notas inferiores a 5,0.

De maneira superficial, as notas do IDEB podem apontar os problemas das redes de ensino e nos ajudar a compreender quais são os gargalos da educação nos municípios.

No caso do município de João Pessoa/PB o resultado foi pior ainda. A nota final do 5o ano da rede pública municipal de ensino foi 4,5 abaixo do resultado de 2011 (4,6). A nota do 9o ano, acreditem, foi 3,7 abaixo dos 3,9 alcançados em 2011.

E por que as notas do IDEB da cidade de João Pessoa/PB despencaram?

Um dos elementos para consolidação de um rede de ensino de qualidade está relacionado com a CARREIRA DOCENTE.

Infelizmente, a rede pública municipal da capital paraibana tem em seus quadros mais de 60% de prestadores de serviço (dados do SAGRES/TCE/PB), que são trabalhadores da educação sem vínculo, sem estabilidade, sem direito a uma carreira profissional, que recebem bem abaixo da média salarial e estão suceptíveis a todo o tipo de coerções (para não dizer uso da máquina pública em períodos eleitorais).

Se havia alguma esperança que a atual gestão pudesse mudar esse quadro, a prática tem sido outra. Forçado pela necessidade legal de realizar concurso para a área de educação (o último foi realizado em 2007!) o atual gestor brinca de fazer concurso e não convoca os aprovados, em detrimento a mais de 6.500 prestadores estarem sendo pagos com a rubrica magistério FUNDEB (SAGRES/TCE/PB).

Mesmo com a previsão legal da nomeação garantida pela LDO 2014, com o excesso de arrecadação do FUNDEB (segundo o Semanário Oficial da PMJP mais de R$ 6 milhões no primeiro semestre), com recursos extras injetados em 2014 pelo reajuste do FUNDEB 2013 e pela Complementação do Piso por parte da União, o prefeito de João Pessoa/PB teima em não convocar os aprovados no concurso público.

E os índices educacionais na capital paraibana, infelizmente, seguem ladeira abaixo.

3.9.14

Incisivos

Quando lembro que um Veloso Borges
Atirou para matar no João Pedro Teixeira
E como sexto suplente
Tornou-se deputado, livre e solto

Quando lembro que um filho de governador
[aquele mesmo que atirou para matar, virou deputado e renunciou para não ser julgado, livre e solto]
Segue líder nas pesquisas "eleitorais"
Vejo que o tiro causou a morte
e a morte
Da Lei da Ficha Limpa

Quando vejo um policial à paisana
Mostrar a arma para um trabalhador
Dar voz de prisão
Por portar pneus em seu carro
Pneus usados pelo trabalhador para lutar por moradia digna
Vejo a morte prematura da dignidade

Quando vejo um bebê de colo
Chorar na porta da delegacia
Esperar a soltura do pai preso
Pela ação arbitrária de uma polícia lacaia
Debruçada numa acusação infame

Imagino que não devemos esperar pelo amanhã
Que não devemos encher urnas
Que não podemos viver calados
Que precisamos construir nossas armas
E partir para a ofensiva
Nem que seja com os nossos incisivos
Nem que seja de maneira incisiva

30.8.14

Sono

E assim na caminha a humanidade

24.8.14

Verdugo



O verdugo da educação
Decapita alfabetizadores
Alija futuros escritores
Sonhos de uma outra nação

Arruína carreiras
Imprime moléstias
Esmaga o presente
Troca professores por votos vis

O verdugo da educação é tão pusilânime
Que teme o povo letrado
Consciente, irado
Entoando a voz que rime

Que cante canções, proteste
Frente ao descaso inconteste
Transforme todo o giz
Em metralhadoras para além do festim

O verdugo da educação mascarado
Nunca mais será ovacionado
Quando o povo formado
Acabará com todo esse circo armado

E escreverá sob a lápide do último carrasco
Em letras garrafais:
Agora vive em paz a EDUCAÇÃO
Aqui jaz o verdugo para nunca mais

24.7.14

Circular 1500

A namorada morava muito distante. Quase sempre pegava o último transporte público estatal (acreditem, um dia ele existiu), naquelas noites escuras de postes com as luzes queimadas.

Vencido pelo cansaço do dia e pelas horas intensas de namoro, fazia o trajeto de volta para casa dormindo. Impressionava como sempre acordava perto da parada de casa e nunca ultrapassava os limites do sono.

Dormia sentado, olhos cerrados, coluna ereta pois sabia que o encosto do banco da frente seria mais um circular pela cidade. E assim se chamava a lotação, Circular 1500.

Uma hora e tantos minutos de viagem, vários bairros, várias comunidades e muitas histórias. A mais trágica foi no dia que acordou assustado após ter sido acertado por um objeto estranho.

Ainda anestesiado conferiu a boca, os dentes, os olhos e sentiu uma lama escura e espessa espalhada no rosto. No chão, ao lado, um sapo cururu enorme, também desconfiado, não sabia como havia se transformado em artefato de guerra e alegria dos moleques de boa mira.

23.7.14

Doutor Honoris Lixus

Não vou arredar pé
Ficarei circunscrito a esse espaço
Provinciano
Limitado pelo desejo
E por minha falta de fé

"Não comerei da alface a verde pétala"
Nem provarei esse gosto amargo de fel
Não farei inscrições indevidas
Metade de mim não será consciência rala

Farei greve de fome
Tocarei fogo em meu corpo
Mutilações mil
Mas não serei mais um homem

Que enterrará seus princípios
Meios e fins
Com caminhos não justificados
Jogados em precipícios

Não vou abrir mão
Dos meus braços, antebraços
Pés de barro
Cabelos, unhas e corrimão

Quero minha ficha corrida
Parada de amolações
Dias claros, tardes quentes
E uma noite bem dormida

Não darei bandeira
Posso até ser confundido
Com aquele homem no lixo
Meu deus, que nojeira

Mas não serei ficha suja
No meio da imundície do pátio
Posso catar lixo, com o título na mão
Doutor honoris causa
Desta vida dita cuja

20.7.14

É fuzil?

Efusivo dilúvio tempestivo de um sistema gerador de sujeitos empertigados

É possível?
É fuzil alguma solução
Fusível
Neste mar vermelho
Plasmado por esta paz dos túmulos?

Por esta justiça que arrebanha gados
Açoitados para o abate
Como a primeira coluna, esquartejada, no dia D

Dia de todos os mortos
Das carnes repletas de bolor
Mofadas pelo ritual nefasto
E pelos gritos de horror

Sentimentos comprados a prazo
Consciências com cheques pré-datados
Taxas especulativas sobre o livre pensar
Aluguéis, pensões, ações em bolsas sem estética
Nessa éticapatética que nos leva a crer nos comentários vazios das noites de domingo

É fuzil? É violência a música que toca no rádio da polícia?
É fuzil? É verdade a saia justa do político na voz do Brasil?
É fuzil? Covardes adormecidos em berço esplêndido, da nossa pátria mãe gentil?
É fuzil? Neste oco da intelectualidade que navega em mar arredio?

É fuzil alguma solução?

15.7.14

Doação

Conduzido por La Poderosa (magrela, camelo ou simplesmente bicicleta) segui com uma bolsa pesada, cheia de livros, em direção ao IFPB (nenhuma ciclovia no percurso, só para constar).

Trouxe livros para doação, e já comecei a retirá-los da bolsa.

Não estamos aceitando doações, a biblioteca está cheia, disparou o servidor.

Boca aberta, catatonia vespertina, olhar marejado, silêncio.

Agradecemos [ponto]

(Deixei os livros na Coordenação do Curso de Licenciatura em Química, para o proveito de quem desejar, pelo menos lá pude doá-los)

[ponto]

9.7.14

Biblioteca

Desde ontem procuro uma biblioteca no centro da capital parahybana.

A biblioteca da Faculdade de Direito da UFPB foi desativada esta semana. O diretor da Academia do Comércio falou que a biblioteca só pode ser usada pelos alunos da instituição.

Na biblioteca do Ministério do Trabalho não pude ligar o computador, as tomadas só podem ser utilizadas pelos servidores. O servidor da Assembleia Legislativa não soube informar onde ficava a biblioteca.

Por último visitei a biblioteca pública do estado. Prédio histórico, convidativo e acolhedor, mas com as janelas abertas ao lado de uma rua movimentada, com as buzinas e arrancadas dos carros desviando a concentração. Quatro computadores para todo público e o wi-fi? "Não liberamos a senha, pois a internet é de apenas 3 giga", disse-me a servidora.

Pelo menos consegui ler o Jornal A União (único disponível) e doar alguns livros.

"Pode ser o país do futebol, mas não é com certeza o meu país".

Assalto em Alagoas

No dia 08 de junho de 2014 estava fazendo uma viagem de carro de Sergipe para a Paraíba. Em Alagoas fui parado pela Polícia Militar, numa daquelas fiscalizações corriqueiras.

Parei o carro, apresentei os documentos e aguardei o policial sem sair do veículo. Como de praxe o PM foi conferir os documentos com a placa traseira, retornou e me fez o convite para descer.

Este carro já sofreu alguma batida traseira? Perguntou. Sim, por duas vezes, respondi. Pois o lacre está rompido, asseverou. Apontei para o lacre branco da placa, intacto. O PM colocou a mão na parte interna da placa e pediu para que eu fizesse o mesmo. Está rompido aqui na parte traseira, vou ter que apreender seu documento e você terá cinco dias para retirá-lo em Maceió. Mas vamos ali conversar com o Coronel (?).

Qual a sua profissão? (fico imaginando o interesse na pergunta). Ainda não multei o senhor, saia do sol, venha pra cá. (Silêncio). O senhor quer me dizer alguma coisa? Não, respondi. (Silêncio). Fique à vontade senhor. (Silêncio). Olhe, o talão de multas está na pasta aqui na viatura, eu ainda não multei o senhor, fique à vontade. (Silêncio).

Fui em direção ao carro ver meu filho que dormia e suava bastante devido o calor das 15h. Fui chamado de volta. Constrangido e com o princípio peremptório de não macular essa ação sinistra, continuei em silêncio. (Mais silêncio).

O senhor quer me dizer alguma coisa? (Silêncio). Tudo bem senhor, aqui estão os seus documentos.

Dei as costas e ouvi o derradeiro recado em tom sarcástico: a multa vai chegar na sua residência.

Hoje, 09 de julho, recebo a notificação da "infração": conduzir o veículo com o lacre de identificação violado/falsificado. Classificação Gravíssima. 7 pontos.

6.7.14

Não mais que vinte

E faltam apenas vinte
Anos de solidão
Para poder cumprir qualquer tarefa
Qualquer meio de chão

Para poder fazer mais amigos
Desprezar qualquer quina
Ou milhão

Fiz as contas
Não mais que vinte
Futuro certo
Filho criado
Destino revide
Solo fértil
Da mãe gentil

Não mais que vinte
Anos de contemplação
Caberão quantos assaltos
Quantas ocupações
Quantos escritos
Saídos do forno
Bem quentinhos
Passados na manteiga
Na contramão

Não mais que vinte
Subir e descer
A antiga Palmeira
Passar no Cem Réis
Cortejar Livardo Alves
O busto de Augusto
O Caixa D'Água

Não mais que vinte
Não mais que pinte
Tinta guache em meio muro
Não preciso de mais

7.6.14

O círculo sujo da Ficha Suja na Paraíba

A ficha suja Cozete (PT) foi aliada de Cássio (PMDB/PSDB) que foi aliado de Ricardo (PT/PSB) que foi aliado de Maranhão (PMDB) que foi aliado de Cássio ficha suja.

6.6.14

De volta ao começo II

Depois de tanta estrada, tanto sertão, tanta saudade
Vou enfim rever os amigos
Viver na casa que Vovô morou
Cuidar do pé de amora
da mangueira
Andar no centro toda hora

Plantar desejos, hortaliças
Fazer política, derrubar mourões
Brotar lembranças e cultivar ventanias
Combater pragas e ameaças

Ocupar prédios, desobstruir artérias
Amedrontar os lenhadores da Beira-Rio
Plantar esperanças e orquídeas vermelhas

Encravado, enraizado, exasperado
Prometo dormir pouco
Varar madrugadas
Curtir a vida ao seu lado
Desatar seus nós

Paraíba do Norte, Parahyba capital
"Terrinha querida do meu coração"
Coloque mais água no feijão
Que chego já com tempero forte:
Enfim sós!

1.6.14

Hasta Siempre

Fui aprovado no concurso para professor da Educação Básica da Prefeitura de João Pessoa e devo retornar a capital paraibana dia 08 de junho, devido a previsão de nomeação para o começo do próximo mês.
Continuo minha pesquisa sobre financiamento da educação aqui em Sergipe e reitero manter os compromissos com o GEPEL/UFS e com a minha orientadora Professora Solange Lacks, além de já ter estabelecido contato com o Professor Fernando Cunha com o intuito de retorno à LEPELPB. Neste sentido, sempre que possível e necessário estarei em Aracaju para tratar dos assuntos relativos à tese e às demandas do Grupo.

Gostaria de agradecer aos membros do GEPEL pelos momentos preciosos de aprendizagem e luta diária e saúdo todos em nome da Professora Solange Lacks, na qual tenho um respeito por sua história. Sei que é lugar-comum, mas não correrei o risco de citar nomes específicos daqueles que compartilhei momentos de intensa amizade, para não incorrer em lapsos.

Sei que poderia ter feito e realizado mais e mais, sei que cometi excessos, sei que deveria ter me engajado mais, porém as minhas limitações estiveram expostas em demasia durante este curto período. Continuarei fazendo autocrítica e verificando onde posso me tornar uma pessoa mais humana e combativa.
Espero ter contribuído minimamente com o coletivo, com o Movimento Não Pago (uma grande escola), com o Movimento Estudantil (na tentativa natimorta de criar a APG, no Colegiado do PPGED e no CONSEPE), com o NETE (na qual agradeço a Professora Sonia Meire e ao Coletivo as oportunidades de aprendizado), ao Sarau de Baixo e aos partidos de esquerda de Sergipe (em especial ao PSOL e ao PCB) - a todas as pessoas e entidades meu muito obrigado.

Estabeleço o compromisso de continuar a luta pela Educação Básica, no qual iniciei a minha vida profissional em 1999 no município de Sapé/PB, e afirmo que desejo me fixar na capital paraibana, lugar onde me encontro como ser humano e que estive afastado desde 2000 percorrendo os sertões e cidades nordestinas, aprendendo com as lições do povo,

Hasta Siempre

29.5.14

Linguagem de Programação

Tenho certeza que ele existiu. Seu nome constava na frequência dos professores e, apesar de não haver registros fotográficos, pois era avesso a qualquer ato da coletividade, Bertran não foi uma figura derivada de passagens oníricas do ensino médio.

De fato, não há registros nas redes sociais, nem consigo encontrá-lo nos sítios de busca e muito menos vê-lo em lugares públicos. O fato é que ele pouco conversava nos intervalos, nunca foi visto nos pontos de ônibus e aquela marca misteriosa causava furor entre as garotas que a todo tempo fingiam desejo, apenas para enquadrar mais um da turma na lista dos intransponíveis.

Lembro dele nas aulas de Eletricidade Básica. Elogiadíssimo pelo temido e carrancudo professor, graças a um trabalho de magnetismo realizado em seu laboratório particular instalado em sua própria residência.

Adorava linguagem de programação e dominava, como ninguém, o natimorto Basic, além de Clipper, Pascal e Fortran.

Claro, eureca, Bertran deve ter sido uma variação do Fortran, alguma criação de um gênio que construía hologramas a partir das finadas linguagens de programação. Tudo aquilo era virtual e durou o tempo exato de três anos correspondentes ao ensino médio.

Betran C+ deveria ser o pseudônimo de uma figura randômica e efêmera, o projeto de algum cientista do século XX laureado pelo Nobel das Ciências Exatas.

Sei que ele não foi o único abduzido daquela turma do curso de eletrônica da Escola Técnica, mas, enquanto não houver vestígios do sujeito manterei esta tese como irrefutável.

19.5.14

Cartaxo não somos capachos

Concordo que a mudança brusca de professor pode acarretar problemas pedagógicos. Os alunos sentem os impactos quando isto ocorre. Mas, quando a educação é prioridade não se espera o "melhor momento pedagógico" para se colocar professores efetivos em sala de aula, faz-se este momento com a transição gradual dos prestadores em sala de aula juntamente com os novos efetivos, um mês ou dois garantindo que a qualquer tempo e hora professores possam ser nomeados.

Para que isto possa acontecer é preciso um gestor sério, comprometido com a educação e não mais um politiqueiro, daqueles que estamos cansados de ver, que num dia fala uma coisa, noutro dia fala outra, que mente sem o menor o pudor e transforma um concurso público da educação numa peça de marketing, com o objetivo de, inclusive, colocar no parlamento sua própria casta e se perpetuar no poder.

11.5.14

Dia das Mães



Frederico Linho

Na verdade eu nunca entendi o porquê de ter que forrar a cama todas as manhãs. Nem mesmo colocar a mesa para o café, depois tirar tudo e refazer o serviço para o almoço e jantar. Eu me sentia o próprio Sísifo, na sua rotina intermitente. Eu nunca entendi porque a casa tinha que estar sempre arrumada e nenhum papel poderia estar fora do lugar. Que o diga aquele encarte da Legião V, aclamado por mim durante horas e que depois tomou assento no lixo de casa, por não estar em seu devido lugar. Nem sei o que senti quando o vi sôfrego, amassado e jogado junto às cascas de banana. "É a sua mãe e te carregou por nove meses", lembrava um amigo que escutava minhas lamúrias frente ao encarte fétido. E enxugar os pratos? Por qual motivo, se a inteligência humana havia projetado o escorredor? E aquelas bermudas da hora que pouco combinavam com aquele tênis fashion? Como negar presentes de tão bom grado? Naqueles trajes de primavera havaiana era difícil encarar os chatos das aulinhas de inglês. Lembro que certa vez me recusei a calçar um daqueles 'última moda em Paris' e foi pior, pois todos os meus amigos que iam me visitar eram chamados para avaliar a beleza daquele tênis marrom-dourado. Duro mesmo era abrir a lancheira na frente dos amiguinhos, pois aquele cheiro de pão com ovo irradiava pela escola inteira e me deixava rubro de vergonha. Mas, como dizer para minha avó, que é mãe duas vezes, não colocar aquele estrelado e substituí-lo por uma singela muçarela? E aquelas estratégias sórdidas de expor o colchão mijado na varanda do apartamento ou chamar pela rua inteira quando era a hora de servir a mamadeira? Tudo bem que aos dez anos de idade já estava mais do que na hora de parar de encher o colchão de uréia e de comer papinha, mas havia outras maneiras, menos traumáticas, de me fazer amadurecer. E quando cheguei da escola com um hematoma na bochecha? Até hoje acho que fui considerado a vergonha da família por ter apanhado de um menino mais novo. E aquelas costuras, na base dos joelhos, nas minhas calças? Próprias de um jogador fadado ao fracasso e que ficavam parecendo as roupas do Sítio do Pica Pau Amarelo, mas, pelo menos, eu comemorava o São João o ano inteiro.

Desculpe-me Mãe, mas eu não quis que este dia fosse comemorado com mais uma crônica piegas e desbotada, repleto de presentes mercantis.

10.5.14

Mais uma vez parto

Eu sabia que partiria cedo
Por isso queria dar cabo de tudo
Num tempo diminuto

Queria transformar tudo
Por onde eu passava
Em milésimos de segundo

Nunca esperei dar gosto
A fruta verde da realidade
Por isso encurtei meu tempo
Envelheci com cabelos negros
Pois nem dei tempo aos grisalhos

E se hoje parto
É porque mais uma vez fracassei
Na minha agonia cesariana
Onde tudo-nada pode ser normal

Que louca mania de estuprar o tempo
Reverter doces deleites
Em pretéritos menos perfeitos

É por isso que esse parto
É apenas mais um aborto
É a procura do porto
[Seguro que não irei encontrar]

4.5.14

Carreira Docente

(Para Eduardo Coutinho)

Aos vinte e cinco anos
Descobri o significado da carreira docente

Acordava às cinco e meia
Engolia um pão amanhecido
Reservado com manteiga na noite anterior

Tomava uma ducha fria
Que despertava até os ossos

Da esquina de casa para o ponto de ônibus
Quinhentos metros longínquos
Uma carreira desenfreada para não perder a lotação

Hora e meia de viagem
Sete em ponto na escola
Recorde mundial estabelecido na carreira
Sem direito a progressão

Na terra de João Pedro Teixeira
Só enxergava os olhos tristes dos meus alunos
Cabras marcados para viver 

29.4.14

Livraria

O que nos livraria de todo mal, amém?
Uma livraria em cada esquina
Nos livraria de toda estupidez?

Mas uma livraria
Sem tanto curry
Sem tanto Cury
Com tudo possível que nos cure

Livrarias, tu
Sem tanta culinária
Sem tanta auto-ajuda
Sem tanto bestseller

Livrarias, tu
Com tantos clássicos
Com tantos escritos pensantes
Que nos livraria de tanta insensatez

Ao ler nas livrarias
Tu te livrarias?

23.4.14

Flacidez

Pela simples falta de exercícios
Pela insistência da posição horizontal
Pelo excesso de programas banais de TV

A flacidez tomou conta dos meus pensamentos

15.4.14

Penitência

Um professor doutor, mestre ou especialista, aprovado no concurso da Prefeitura Municipal de João Pessoa/PB, vai receber R$ 2.433,36 (salário bruto) durante três anos graças a um artigo do Plano de Carreira que prevê, como penitência, a impossibilidade de progressão funcional durante o estágio probatório. Neste caso a lei é para ser cumprida, pois prejudica o professor, massacra a sua dignidade e joga na lata do lixo o tempo que se dedicou aos estudos. Esta é a maneira como o professor é tratado pelo poder público no Brasil.

Com a Lei de Acesso à Informação é possível verificar os salários de servidores públicos. Para que possamos nos indignar e lutar por melhorias salariais, repasso a remuneração de alguns "Agentes de Protocolo e Tramitação" que requer, segundo o Plano de Carreiras, nível fundamental completo do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, com 6 horas diárias de trabalho (30 horas semanais). Coloquei apenas as iniciais dos nomes, mas no portal é possível ver o nome completo:

E. A. de S.
Agente de Protocolo e Tramitação - III
Total Bruto R$3.351,64

F. N. B.
Agente de Protocolo e Tramitação - XVII
Total Bruto R$6.235,02

M.G.B.
Agente de Protocolo e Tramitação - XVII
Total Bruto R$13.494,97 (com terço de férias)

E então povo, vamos lutar pelas melhorias salariais? Vamos lutar pela derrubada do artigo 20 do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração do magistério? Somos milhares de professores que podem estar organizados lutando por melhorias na escola pública que inclui a luta por salários dignos!!!! Temos o direito de trabalhar em apenas uma escola com Dedicação Exclusiva, condições de trabalho e salários dignos!

Cidade Acéfala

O Portal da Prefeitura de Aracaju/SE anuncia que: "O Presidente da Câmara de Vereadores de Aracaju, Vinícius Porto, tomou posse na manhã de hoje, 11, no Palácio Prefeito Aloísio Campos, como Prefeito de Aracaju em substituição a João Alves Filho, que estará até o dia 22 de abril em viagem oficial para Colômbia juntamente com o vice-prefeito José Carlos Machado. Nas cidades de Bogotá e Medellín, os gestores municipais participarão do 7º Fórum Urbano Mundial da ONU".

Interessante é que a página oficial do evento (http://wuf7.unhabitat.org/) informa que o período de realização do mesmo é de 05 a 11 de abril. Um jornal local informa ainda que a esposa do prefeito (que é senadora), o superintendente da SMTT e o chefe da Guarda Municipal farão parte da comitiva.

Quer dizer que o prefeito de Aracaju vai aproveitar o feriadão da Semana Santa para passear na Colômbia bancado pelos cofres públicos?

E mais, o Prefeito afirma, entre outras coisas, que irá avaliar um país que conseguiu "desmontar a guerrilha" e que vai "aprender e trazer grandes exemplos". Com a ida do chefe da Guarda Municipal e com esses propósitos "tão humanos", o tratamento que a Prefeitura vem dirigindo aos Movimentos Sociais deve ficar cada mais truculento, ou é apenas uma impressão?

Que tal recepcionarmos o Prefeito no aeroporto dia 22 de abril, exigindo que devolva aos cofres públicos os gastos com essa viagem de férias?

13.4.14

Um poema Arquimedes

De repente brota algo do nada
Palavras surgem num rompante
[estonteante]
Ideias pululam malucas
Saltam rimas, metáforas e versos
A única alternativa é sair correndo do banho
Atrás de uma caneta e papel
Nu e gritando: poema, poema!

15 de abril



Hoje eu tive um sonho
Sonhei que era um quinze de abril
Uma Lua Cheia esplêndida
Uma noite de luar

A cidade estava acéfala
Digo, oficialmente acéfala
O prefeito e sua trupe
Foram discutir a paz dos túmulos
Na Colômbia reacionária de Uribe

Foram com dinheiro público
Levaram o vice
A guarda municipal
O controlador de tráfego
[Eu disse tráfego]
A primeira dama e talvez mais alguns

Era noite de Sarau Debaixo
Embaixo do viaduto e era do DIA
Noite dos poetas marginais
Dos encapuzados
Baile de rima dos revoltados

E nessa noite pungente
Os coquetéis saíram do papel
Rasgaram o transparente véu
Dessa democracia indecente

Após poemas sujos
Putarias literárias
Orgasmos de prosas

A multidão incontida ocupou ruas
Alamedas, bueiros alagados
O exército que até então exercitava a poética
Trocou penas e lápis por indignações na prática

O Paço Municipal vazio
De ética e legitimidade
Foi tomado por cordelistas em fúria

A Câmara cerrada
 Pichada de cima a baixo
Pelo poder popular do Sarau de Baixo

A Guarda Municipal em choque
Nem conseguiu aquarelar
Ao ver aquela onda revolucionária passar

Era a noite dos meus quarenta anos
Comemorei em grande estilo
Fazendo tremular
Da sacada do prédio
A bandeira do Movimento Popular

8.4.14

Mais uma Quadrilha



Ricardo coração dilatado
Amava o PT
Amava a Nadja do PSB
Amava o Maranhão do PMDB
Amava o Cássio do PSDB

O PT, transfigurado, aliou-se com o projeto neoliberal
Nadja, trânsfuga, seguiu fileiras até no PSL de aluguel
Maranhão aliado do pai do meninão, foi seguir carreira solo
Cássio Cassado nada acanhado, rompeu com todos os bobos da corte

E o povo que ainda não entrou na história,
continua a acreditar nas eleições da carochinha

28.3.14

Morte e Vida

Pior que a morte física
É a vida intensa das incongruências
A vida apenas aparente
Longe da essência

À guisa de cremação
A vida longe da política
Vida sem atos, passeatas
Ocupações de almas idílicas

Pior que a morte física
É a vida insossa
Trancafiada em prisões sem muro
Condomínios fechados
De casa ao trabalho duro

Morte prematura aos contaminados
Pelo vírus do consumo
Pelo corpo como insumo
Lesto, vigoroso, vitaminado

E quando o corpo pede a morte física
Nada resta se não o balanço
De uma vida tísica

27.3.14

Mais uma farra com dinheiro público


De 21 a 24 de março de 2014 quatro vereadores e sete assessores da Câmara Municipal de Aracaju/SE participaram do 3º Encontro Nacional do Poder Legislativo Municipal, na cidade de Maceió/AL. A Câmara Municipal pagou as inscrições perfazendo um total de R$ 4.345,00 (R$ 395,00 cada inscrição “incluindo material de apoio, certificado e coffee break (sic) no segundo dia de palestra”), além disso, os vereadores e assessores receberam três diárias cada um no valor de R$ 500,00 (totalizando R$ 1.500,00 por pessoa e uma sangria nos cofres públicos de R$ 16.500,00).

Nada demais que vereadores e assessores participem de palestras e eventos, apenas pelo fato de, segundo a página oficial do evento (http://www.falcaocentrodecapacitacao.com.br), o primeiro dia é apenas para inscrição e credenciamento e o último dia para entrega de certificados e documentação da empresa. Os “dias úteis” do evento, 22 e 23 de março, haverá palestra a partir das 09h e só! De sexta a segunda, vereadores e assessores da Câmara Municipal de Aracaju/SE estiveram na Praia de Ponta Verde (local oficial do evento), com tudo pago pelo povo para assistir a dois dias de palestras, apenas em um turno.

Fica evidente o dano ao erário público, já que o evento poderia acontecer em apenas um dia (manhã e tarde) com o credenciamento e entrega do certificado concomitante com a palestra.

7.3.14

Kits Lanches para a Copa do Mundo 2014



O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome lançou a Chamada Pública 01/2014 com o intuito de aquisição de “kits lanches” que serão distribuídos entre os 20.000 voluntários da Copa do Mundo no Brasil. Este é mais um gasto público da Copa do Mundo difícil de contabilizar para aqueles que estão fazendo este levantamento.

Bom seria se o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome pudesse repassar os 2.000kg de castanha de caju, 7.000 kg de biscoito integral, 2.000kg de castanha do Brasil, 1.200kg de mel em sachê, 4.000kg de banana e abacaxi (frutas desidratadas), 1.000kg de barra de cereal, 7.000kg de biscoito sequilho e 36.000 litros de suco para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), conhecido popularmente como Merenda Escolar.
Como se pode ver os voluntários da Copa estarão bem alimentados com recursos públicos, mas será que as nossas crianças, matriculadas em escolas públicas, iniciaram o ano letivo com uma merenda desta qualidade? Quantos municípios deixaram de ofertar a merenda escolar no dia de hoje, alegando todo tipo de problema, desde licitações canceladas até a suspeita desculpa da falta de recursos?
O PNAE é um programa suplementar e o Governo Federal repassa diretamente para os estados e municípios um valor/aluno de acordo com as matrículas do Censo Escolar da Educação Básica. Para o ensino fundamental, médio e educação de jovens e adultos o Governo Federal repassa R$ 0,30 por dia por aluno, para alunos que frequentam a pré-escola este valor é de R$ 0,50 e para alunos de escolas indígenas e quilombolas o valor chega a R$ 0,60.
O Governo Federal estima que serão 20.000 voluntários trabalhando nas cidades que irão sediar a Copa do Mundo, e como a Chamada Pública dos “kits lanches” está na ordem de R$ 1.238.104,00, isso representa R$ 61,90 por voluntário que deverá trabalhar no máximo em sete jogos (apenas Brasília e Rio de Janeiro comportarão esta quantidade máxima de jogos durante todo o evento, segundo o próprio edital da Chamada Pública), o que representa R$ 8,84 por dia por voluntário – valor bem acima dos R$ 0,30 repassado a um aluno do ensino fundamental.
Este é mais um legado da Copa do Mundo de 2014.

21.2.14

Caos Centros




O prefeito ri ao cortar a faixa de inauguração
Bajuladores de plantão batem palmas
Agitam os jovens “colaboradores”
Agora confinados, seis, sete horas por dia
Um salário mínimo, um prato de almoço para dois

O prefeito vibra, a empresa comemora
Isenção fiscal, redução de impostos
Salário mínimo, todo tipo de repressão
Como posso chamar, se até mesmo o emprego
É dominado pelo idioma dominante?
Caos Centros?

Centro de que?
Senzala moderna, para menores de 21
Células prisionais
Prisão domiciliar
Explorado pela manhã
Arrasado a noite, só pensa em dormir
Outro cubículo

“Melhor que estar roubando”
Deve ter sido o discurso ao cortar a faixa
Ao implementar a exploração oficial

Jovens agora vão aprender a mentir
Usar estratégias pérfidas
Enrolar o consumidor
Para poder manter o seu suado primeiro emprego
E auferir mais lucros para a bondosa empresa

16.2.14

O orvalho de olho no roseiral

Deputar

O povo deputou um deputado
Deputado, ex-prefeito
Inventou o verbo mais que perfeito

Com todo respeito àquelas que se deputaram
O deputado deputou o povo
Com colarinho branco

Contratou advogado,
Conseguiu voto
Para tudo que é lado

O povo deputado
Agora dá para todo deputado
Que lhe oferecer a cidade mais festeira
O petróleo mais sujo
Outrora tijolos e retroescavadeira

É preciso deturpar
O verbo deputar
Para mostrar ao povo
Que o nobre deputado
Roubou a cena da educação
Cometeu ilícitos na saúde
Pagou a gang de OAB
Com recursos do erário público

Deputar é ato antigo
Verbo novo, neologismo
Só para dizer que estamos cansados
De tanta violência com o povo
E tamanho fisiologismo

15.2.14

Passeata

Essa lógica de mundo estorvo
Com essas bombas alimentadas pela fome
E essa concorrência desenfreada

Pegue esse pedaço de pão, tome!
Alimente esse corvo
Em qualquer praça do meio do mundo

Já disse que não sou Raimundo
Sou esse sujeito fétido, imundo
"Que escarra na boca que beija"

E meio torpe, desarmado
Canto as sesmarias
Em qualquer lote desafinado

Mas, olhe ao lado
Sem carro, sem pão, nem mesmo pássaro
Para dar comida ou ser passado

Vou rogando por mudança
Esperando que qualquer passeata acabrunhada
Leve-me para as asas da esperança

13.2.14

"Speed Day" em Aracaju/SE

Dia 08 de fevereiro ficará na memória do Aracajuano, ou pelo menos será inesquecível para os contribuintes da cidade. Alardeado como o “evento” que abriu o Projeto Verão 2014, o “Speed Day” não conseguiu escapar nem mesmo da dependência cultural norte-americana no ato de seu batismo, fenômeno corriqueiro nos projetos da Prefeitura Municipal de Aracaju, em especial da Secretaria de Educação (o Mind Group e Join Street são as vedetes da educação no município).

Bancado pelas Secretarias de Juventude & Esporte e pela Fundação Cultural (FUNCAJU) o evento sugou dos cofres públicos, segundo dados oficiais e despesas diretas, R$ 81.575,00 e um único empenho da FUNCAJU relativo a “shows artísticos” custou a bagatela de R$ 50.000,00 pagos a empresa Fama Eventos. Tudo isso com a velha justificativa “legal” de inexigibilidade ou dispensa de licitação.

Segundo informações da página da Prefeitura, o “evento” contemplou as “modalidades” de jet ski, stand up padle, remo, barcos de competição e quadriciclo. “Esportes” bem distantes da realidade da maioria da população brasileira, apesar dos recursos da Secretaria de Juventude & Esporte serem oriundos da rubrica “Desporto Comunitário” e serviram para fornecimento de lanches e alimentação. Ao total R$ 4.695,00 que devem ter enchido a pança de autoridades e convidados ilustres.

O Grupamento Tático Operacional (GTO) da Prefeitura também esteve presente, abrilhantando o “evento”, salvaguardando a vida da população que mais precisa, recebendo diárias e amplexos do poder constituído.
Alguém pode dizer que oitenta e poucos mil não representam nada frente a um orçamento da FUNCAJU de R$ 16.826.898,00, e que o Prefeito precisa de segurança e alimentação servidos como banquete para ostentar sua popularidade em eventos como este. Infelizmente o contribuinte que mais precisa de cultura e esporte não anda de jet ski e não precisa de atividades ignóbeis dessa natureza que fazem a festa da burguesia da cidade.

A Prefeitura de Aracaju, representada pelo partido Democratas, já anuncia como será o ano de 2014 no tocante à cultura e ao esporte. Estamos reféns de secretários desse naipe, que dormem para ter sonhos miraculosos e acordam para transformar a vida dos contribuintes em pesadelos como este.

12.2.14

Violência

Mais um ato de violência e vandalismo chocou o Brasil. Sem exageros, a mídia mostrou a verdadeira face dos trogloditas que agem de maneira inescrupulosa e utilizam todo o tipo de artefatos para destruir a nossa democracia. Pessoas desse tipo devem ser submetidas ao rigor da lei, julgadas e presas contando com a celeridade da justiça desse país. Todos nós estamos estarrecidos com os últimos acontecimentos e a população não suporta delinquentes soltos pelas ruas. Temos que dar um basta nisso tudo! Quantas pessoas ainda irão morrer para que o poder público tome as rédeas e aja de forma contundente?

Não se confunda, estou falando de mais um prefeito que roubou verbas da Merenda Escolar e elegeu sua esposa como sucessora. Quantas crianças foram a óbito neste delito? Quantas adoeceram? Quantas foram prejudicadas no seu rendimento escolar? Quantos votos foram comprados? Quanto tempo  a mídia reservou sobre este assunto?

Sempre bom lembrar o Brecht.
Muitos falam da violência dos rios, mas poucos citam as margens que o comprimem.

11.2.14

Carnaval

Para que serve o carnaval fora de época?
Para alimentar o gerente da urbe amada
E sua trupe alerquim

Para deixar o povo de cabeça oca
Delirando com essa política armada
E cheirando alfenim

9.2.14

E

Teu primeiro E
Escrito na areia da praia

Teu sonoro nome dito com orgulho
Aquele que combate

Também ri
Corre
Brinca
Chora

Teu primeiro E
Feito com a ajuda de um singelo gravetinho
Numa areia branquinha
Plasmada de luz

Vovô

Pai,

vem brincar de Vovô com meu filho...



28.1.14

Arqueologia

Após alguns anos de escavações intensas descobriu a felicidade fossilizada, carcomida pelo tempo.

16.1.14

Ipês

- Não deixe a Parahyba sem antes ver a floração dos Ipês!
Recado do meu Avô
Que deve estar triste ao ver os Ipês
Servindo de sustentação para as bugigangas do natal
Que explicaria o porquê da floração tardia
Em meio a tantos autos
Carros, óleo diesel
Efeito estufa
Ainda assim, felizmente, no meu último dia na capital parahybana
Pude ver o tapete amarelo
Contrastando com o cinza-corrupção
Da Assembleia Legislativa

11.1.14

Revivendo 1989

25 anos depois o emblemático 1989 continua vivo. Ano da primeira eleição direta para Presidente da República após a ditadura civil-militar, vinte e poucos candidatos representavam as mais diversas correntes de pensamento. De coisas risíveis, como a natimorta candidatura de Sílvio Santos, ao sonho da esquerda subir ao poder pela via eleitoral. O que os caciques da política não esperavam é que um salvador da pátria, travestido de caçador de marajás, então desconhecido do grande público, pudesse superar nomes como Ulisses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. O desfecho dessa história todos nós conhecemos. 35 milhões de votos elegeram Collor de Melo-Itamar Franco e outros 32 milhões choraram a derrota de Lula-Bisol.

Pelo "Vocênotubo" é possível relembrar passagens marcantes daquele ano memorável. É possível assistir o programa eleitoral dos chamados nanicos, como Marronzinho e Enéas, e os extremos políticos como o então comunista Roberto Freire (PCB), apoiado pelo cantor Lobão, até figuras nefastas como Aureliano Chaves (PFL) e o candidato ruralista, Ronaldo Caiado (PSD).
Os jingles das campanhas contagiaram multidões, alguns mais pelo apelo sonoro do que pelos programas de governo. Afif, representante dos industriais, angariou votos graças ao "Juntos chegaremos lá, fé no Brasil" e até mesmo o "Bote fé no velhinho, que o velhinho é demais", do Dr. Ulisses,conseguiu comover muita gente. O "Lá, Lá, Lá Brizola" e o "Lula-lá", viraram clássicos e devem estar, ainda hoje, na memória de muita gente. Este último principalmente porque contou com um coral de artistas e intelectuais.

Lembranças idílicas da época fazem parte do meu imaginário, pois era um momento pleno do desabrochar da adolescência, tempo inclusive do primeiro amor. Infelizmente a crônica da vida real foi mais dura com o povo brasileiro e a inesperada vitória de Collor ainda carece de análises pormenorizadas. Como milhões de dólares surgiram para financiar a campanha? Quem foram os aliados nas eleições de 1990 privilegiados com as chamadas sobras de campanha? Quem assassinou PC Farias?

Durante a campanha, nos bastidores, escutava-se que os brasileiros perderiam seus aparelhos de TV, teriam restrições alimentares e teriam a poupança confiscada, caso o candidato barbudo vencesse a eleição. De fato a poupança foi confiscada e o saque nas contas restrito. Collor explica o fato como uma estratégia para barrar a inflação, depois de ouvir o Simossen, e diz que o Mercadante afirma que o PT utilizaria o mesmo artifício. Sarcasmos colloridos à parte, milhões de brasileiros foram assaltados e a verdadeira face de um projeto emergiu de maneira dramática para os pequenos poupadores.

Ficam mais perguntas. Como um ilustre desconhecido, filiado a um partido nanico (Partido da Reconstrução Nacional) conseguiu tamanha projeção? Como Collor de Melo conseguiu derrotar, no segundo turno, uma aliança de candidatos de tamanha expressividade (Lula, Brizola, Covas, Ulisses)? Por que um jovem, de apenas 40 anos, foi escolhido pelas elites para ser seu representante para derrotar a ameaça petista?

A história do afastamento de Collor por empáfia e corrupção todos nós já sabemos, mesmo que de maneira incompleta e sem vermos os larápios na cadeia. Como esse fenômeno surgiu é que procuro explicações.

A metralhadora poética

O poeta metralha
Gira sua poética
Aponta, engatilha
Mira com métrica

Metralha seu poeta
Metralha

Atira sua poética
Neste sistema canalha

10.1.14

Doutor [2]

- A célula do corpo humano que não tem núcleo é a hemácia. Tchau, boa sorte.

Não tive tempo nem de reagir àquela assertiva inesperada. Os portões estariam fechados em pouco tempo e só consegui devolver o boa sorte.

Quando vi a questão na prova de biologia é que compreendi o recado. Durante anos essa frase ruminou nos meus pensamentos. Alguns anos depois explodiram os escândalos. Professores de cursinho denunciados, presidente da entidade organizadora do certame afirmando a necessidade de diminuir as fraudes e outros assuntos correlatos que encheram as pautas dos tablóides por algum tempo.

Mas, a força política de quem vendia e, em especial, de quem comprava questões logo fez esvaziar as pautas e calar o noticiário. O tempo se ocupou do resto. Alunos que curtiam a vida em festas e baladas foram aprovados no curso de Direito, o preferido das fraudes.

Filho de Doutor, Doutorzinho é! E assim surgiram Desembargadores, Promotores e Juízes  com o propósito de perpertuar as ideias da classe dominante.

E assim vivemos numa sociedade como as hemácias, sem um núcleo concreto que possa referendar as ações dos grupos dominantes. Ações forjadas, desde a sua origem, sob a égide da fraude e do escárnio.