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24.7.14

Circular 1500

A namorada morava muito distante. Quase sempre pegava o último transporte público estatal (acreditem, um dia ele existiu), naquelas noites escuras de postes com as luzes queimadas.

Vencido pelo cansaço do dia e pelas horas intensas de namoro, fazia o trajeto de volta para casa dormindo. Impressionava como sempre acordava perto da parada de casa e nunca ultrapassava os limites do sono.

Dormia sentado, olhos cerrados, coluna ereta pois sabia que o encosto do banco da frente seria mais um circular pela cidade. E assim se chamava a lotação, Circular 1500.

Uma hora e tantos minutos de viagem, vários bairros, várias comunidades e muitas histórias. A mais trágica foi no dia que acordou assustado após ter sido acertado por um objeto estranho.

Ainda anestesiado conferiu a boca, os dentes, os olhos e sentiu uma lama escura e espessa espalhada no rosto. No chão, ao lado, um sapo cururu enorme, também desconfiado, não sabia como havia se transformado em artefato de guerra e alegria dos moleques de boa mira.

Um comentário:

Unknown disse...

massa!se fosse comigo acho q nem levantava mais...FOBIA