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29.11.10

Sinto que é hora


Sirvo meu corpo ao banquete do escárnio
Das feridas abertas, purulentas e não cicatrizadas
Servem de alimento macabro aos donos do poder

Hoje brindam minha morte, seu deleite
Colam meu corpo, um copo de leite
Derramado entre frangalhos escrotos

Desumanos seres, sedentos de poder
Usam o chicote, a pressão
Querem me deixar em trajes rotos

Mas não desejo vil metal
Não desejo morrer por asfixia
Letal

Não desejo torna-me abjeto
Muito menos ab-rogar meu sonho predileto
Sinto cheiro da arrogância

Do arroto maroto
Da sutileza e da ganância
Dos mercenários de plantão

Sinto que é hora, mais uma vez
de começar do zero

26.11.10

Prumo

Perdi meu prumo de pedreiro. Minhas construções sentimentais estão edificadas com infiltrações irreparáveis, empenadas para todo sempre.

24.11.10

Dieta

Retirei a TV da minha dieta. Tento agora recuperar-me passivamente dos efeitos deletérios dos últimos trinta anos

Dieta II

Alimento-me apenas de músicas e livros orgânicos, cultivados sem agrotóxicos e regados com requintes de subversão

Dieta III

Tempero a minha dieta com ervas finas de indignação

15.11.10

Vazio


Amo o vazio deixado pelo rastro insolúvel da saudade

14.11.10

Hematoma Cardíaco


Meu coração verde-musgo
É um hematoma passado
Presente numa foto do retrovisor do carro
Teimando em olhar para trás
O futuro que não mais virá

Mas sempre estará vivo
Nas lembranças mortas
Dos santinhos de sétimo dia

Inspiro, expiro


Inspiro as dores do mundo
Encho os pulmões de ar
Não há regozijo festivo
Apenas um coração verde-musgo
Mostra deletéria dos edemas sintomáticos
Causadores do inchaço da alma

Expiro minha história
e minhas contradições
Baforo o vento sufocante que me asfixia

O ar cortante viaja por todos os órgãos
Ao encontrar o coração verde-musgo
Dilacerado
A dor triplica
Mas é calmamente posto pra fora

3.11.10

A metáfora da saúde


O sujeito ignóbil
Corta a carne com prazer
Energúmeno como um playmobil
Estilhaça suas ações por fazer

A carne vermelha dilacera
Seu coração
Metáfora a giz de cera
Deixa tudo inerte, sem ação

A ignorância maravilhada
Abre alas para a meninada
A inocência pueril
Esbarra na consciência com esmeril

Todos juntos coração, veia, artéria
Abrem alas para todas as matérias
Primas que são do caos
Natimorto, fenômeno construído no Laos

Rogo um dia em que carne, unha
E espinha dorsal
Saibam que minha alcunha
Saúde, não é para ser tratada mal

Cartas de despedida

Escrevi todas as cartas da nossa despedida com as lágrimas que rolaram pelo tinteiro afora.