Vejo a unção dos enfermos da freira encapuzada
Junto ao mancebo
Enquanto um chapéu de couro atravessa a rua
Calçando alpercatas
Crianças no meio da rua, com suas fardas de escola pública
Parabólicas em frágeis telhados
Debruçadas em casa de pau a pique
Ou construídas por João de Barro
Silêncio total às seis da tarde
Pois a rádio poste recita Luiz Gonzaga
Chorando a Ave Maria
Não há cinema
Não há teatro
Não há Bolero de Ravel
Apenas o pôr-do-sol agonizante
Que queima a caatinga
Mas há pneus travestidos de traves
Que fazem a festa dos boleiros
Goleiros não há, apenas uma bola murcha
Chutada com o prazer de um gol em pleno Maracanã
Na manhã seguinte, segue o cortejo
Pois a unção dos enfermos
Era só para aliviar a alma dos que seguem
Sorrateiros atrás do seu destino
Sigo,
Cego,
Semi
nu,
[Quase não vejo felicidade]
Nesse deserto idiossincrático do resplandecer nordestino...