A namorada morava muito distante. Quase sempre pegava o último transporte público estatal (acreditem, um dia ele existiu), naquelas noites escuras de postes com as luzes queimadas.
Vencido pelo cansaço do dia e pelas horas intensas de namoro, fazia o trajeto de volta para casa dormindo. Impressionava como sempre acordava perto da parada de casa e nunca ultrapassava os limites do sono.
Dormia sentado, olhos cerrados, coluna ereta pois sabia que o encosto do banco da frente seria mais um circular pela cidade. E assim se chamava a lotação, Circular 1500.
Uma hora e tantos minutos de viagem, vários bairros, várias comunidades e muitas histórias. A mais trágica foi no dia que acordou assustado após ter sido acertado por um objeto estranho.
Ainda anestesiado conferiu a boca, os dentes, os olhos e sentiu uma lama escura e espessa espalhada no rosto. No chão, ao lado, um sapo cururu enorme, também desconfiado, não sabia como havia se transformado em artefato de guerra e alegria dos moleques de boa mira.