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6.12.11

Chuva de Verão


Esta chuva de verão inundou meu paladar
Afogou desejos de mudança
Inundou a vontade de ver neste ano
Um mundo brotar diferente

Esta chuva de verão inundou
Tantos amigos que agora eles pensam
“Que o melhor lugar do mundo é aqui e agora”

Esta chuva de verão
Inundou a Controladoria-Geral
E seus parcos funcionários
Fez correr solta a corrupção neste país

Esta chuva de verão inundou
As promessas feitas em janeiro
E encharcadas foram deixadas
Para janeiro próximo

Esta chuva de verão inundou
O olhar de muitos
Por isso nem todos verão
O raiar da liberdade

Esta chuva de verão inundou
Minha íris, fez lacrimejar
Meu olhos, gerou espasmos temporários
E fez a surtar a madrugada

31.10.11

Imperfeição filosófica


Para ela o mundo nasce na cabeça e vai para a realidade
Para ele o mundo nasce na realidade e vai para cabeça
Ela hegeliana
Ele marxista
Ela subjetiva
Ele objetivo
Ela condicionante
Ele determinante
Ela metafísica
Ele materialista
Ela perde tudo
Ele procura tudo
Ela pós-modernista
Ele modernista
E nesta luta dos contrários
Não há novidades teóricas conciliáveis

26.10.11

Trombose


Limpei os ácidos culturais graxos
As gorduras ideológicas saturadas
Cuspi a bílis da imposição
Vomitei os horrores da guerra
E os ataques radioativos [e cardíacos]
E ainda sofro com a trombose venosa profunda
Que entope meus desejos

13.10.11

Tempo vazio


Tentei encontrá-la no tempo vazio das palavras, mas os dias continuam cada vez mais distantes.

Assalto


Inerme ao assalto deixou que levassem sua identidade, desejos e amores.

Mobília


Ao término da mudança, depois que arrumou toda a mobília, percebeu que não havia mais espaço para os sonhos.

12.10.11

TV


Rompi definitivamente contigo
Não quero escutar tanta baboseira
Não quero saber dos teus ataques
Das vítimas desta manhã cinzenta

Não quero saber dos desfiles de moda
Ou da culinária atual
Não quero tanta informação vazia
Tanto discurso filtrado

Preciso desse silêncio, mudo
Preciso que nada fales
Melhor do que escutar
A posição de poucos

Não quero me desumanizar
Não quero ver a pilhagem dos mouros
Dourada por cenas românticas
Não quero ver os EUA dominar o mundo

Quero paz nesta manhã
O silêncio reflexivo
O bom livro matinal
O beijo do bem-te-vi sonoro

Quero você muda
Calada, encostada
Num canto frio de parede
De castigo eterno

Feliz Dia das Crianças?

Gurupá/PA

MicroConto da Vida


Ávida (pela) vida (entrou) (num) (beco) (sem) saída

18.9.11

Escaras contraditórias


Não tenho a pretensão de criar escaras
Nem sei do que elas se alimentam
Não sei se gostam do pus
Que goteja quando espremo
Meus sentimentos

Mas sei que quando escarro
Este ar verdejante
Tento transformar essa paisagem
[cinza]
Em momentos de paz

Culinária para um domingo sombrio


Receita de coração duro

Um quilo e meio de coração transplantado
Previamente esfolado em chão duro
Regado com um bom vinho seco
Acolhido por papel laminado
E tostado no forno a altas temperaturas

Acompanha todas as mazelas do mundo
Sirva quente num dia frio e calculista

19 brumário, face a face nasceu!


Na efusão de tantos sentimentos
A paz e a tranquilidade chegam perto
Quando me descubro sem espelhos
E olho atentamente a tua face

Olhos nos olhos, percebo a vida
Germinando
E compreendo que apenas reflito em tua íris

Sei que tu és parte
Indivisível dos meus sonhos
Movimento inquebrantável
E transição dialética
Materializada na categoria irrefutável
Da síntese: o novo supera o velho

O que não consigo compreender com exatidão
É o porquê de tanta dor
Quando estou longe de ti

15.9.11

Subjetividade


Peço vênia ao Karl
(e a todos aqueles que acreditam na organização coletiva)
Mas minha força política
Esvaziou-se frente aos meus dramas pessoais

13.9.11

Tempo eufórico


Lembro do tempo eufórico da militância política
Dos afazeres cotidianos
Das palestras sobre a dívida externa,
Reforma agrária e ALCA

Lembro do Chávez e do Evo
E recordo da pobreza aqui no Sul
Meu norte desejado

Agora me alcunham de anacrônico
Tempo parado
Finda militância
Tempo findo
Enterrado ao som fúnebre
Com direito à lápide grafada com letras garrafais:
“Aqui jaz, mas volto...”

3.9.11

Cria


Eu queria ser cria da Tribo
Éthnos
Eu queria ser cria da efusão musical do
Jaguaribe Carne
Eu queria ser cria da luta política
[Contra o Aumento das Passagens]
Eu queria ser cria da punheta
Batida no palco
Dos cânticos revolucionários dinâmicos
E estáticos

Eu apenas queria ser cria de quem eu quisesse
Sem amarras mordazes,
Sentinelas da descompaixão

Excrementos sonoros


Hediondos goles de excrementos alheios
Bifurcados em ares travestidos de sons puritanos
Confessam a sórdida volúpia de sermos inacabados
Entre ruídos e dores acéfalas
Respiro o gotejar pulsante do teu sangue rasteiro
Afogado entre sêmens, malgrado consórcio de querer desesperadamente
Romper hímens imaculados de orações bazófias e dogmáticas

Fritei minha carne nas guerrilhas sonoras
Onde a onça bebe água
E morri afogado no tempo histórico impaciente

30.8.11

Putrefação

E nas escavações realizadas durante a biópsia sentimental foram encontrados diversos corpos dilacerados em avançado estado de putrefação.

21.8.11

Campanha 10% do PIB para educação JÁ!!! Professora Amanda Gurgel - Parte 02

Campanha 10% do PIB para educação JÁ! Auditório da Reitoria da UFPB (16 agosto de 2011) Parte 01

Gerações


Entre tantas e poucas
Restaram-me mensagens telegráficas
Difíceis de entender

Terás que entrar em mim
e isso requer tempo,
desejo e paciência

Num conflito histórico
De gerações que se abraçam,
Beijam e adormecem sozinhas

Notícias


Trancou a porta batida de vento
Saiu sem rumo,
Procurando bancas
Jornais, revistas
Notícias alvissareiras
Que pudessem, ao menos,
Transformar sua vida

Encontrou cacos,
Pedintes, bolos de nata
E a manchete do domingo
Estampando o estopim
Do domingo oco

18.8.11

Vontade

Já não sei mais lidar com toda essa vontade

Com esse desejo insalubre de abrir outros horizontes nesta mata selvagem

Que mata seres de fome



Já não sei mais lidar com esse desejo

Sedento de matar a sede com copos vazios



Cheios de ar

17.8.11

O rato

(Em homenagem a uma dor de cabeça intermitente ou Uma metáfora da dor alheia)

O rato roeu a minha inspiração
Roubou minha dose de desejo
E a vontade de morar numa nação

A minha inspiração roída
Feito carne moída
Triturada pela fome da África
Retorcida pela maldade da Europa e da América
Rica

Assolou minha capacidade de rabiscar
Escritos
De amolar as críticas
E libertar proscritos

E só...
Por enquanto.

Campanha 10% do PIB para educação JÁ! Auditório da Reitoria da UFPB (16 agosto de 2011)

Professora Amanda Gurgel (RN)


6.8.11

Che não está mais

Che não está mais no Congo
Enquanto isso uma mãe somali afaga um montículo de terra
Rega com suas lágrimas seu bebê enterrado pela fome
Junto com ele 29 mil crianças padeceram nos últimos três meses

Che não está mais na Bolívia
Em Puerto Quijarro uma mãe carrega seu filho, recém nascido
Segue para La Paz com a alma triste e consciente que só um milagre
Salva a criança da altitude arrogante de um sistema excludente

Fidel não presenteia mais um fuzil para o Salvador no Chile
Enquanto isso um conservador reedita as leis enterradas do sinistro Pinochet
E estudantes são presos e alvejados pelo iMPerialismo
De nova farda

Meu bebê dorme sereno, mas sigo madrugada afora
Regando desejos para poder mudar este quadro imperfeito

29.7.11

Refém

Refém de um impulso
De seus próprios erros
Refém por amar demais
Por se entregar demais
Refém daquilo que já nem sei

Sem resgate, sem fronteiras
Sem poder gozar no final
Sem um pingo de amargura

Amigos

Perde-se uma batalha
Recobra-se a luta
Ergue-se a cabeça
E segue em frente

Perde-se um amigo
Lamento eterno
Dor profunda
Irreparável

Dor necessária
Para aprender
Que amigos vão e vem
Sem parar

Silêncio Total

Silêncio total
Na antessala desarrumada
Nas redes sociais devastadoras
Da privacidade

Silêncio total
Nos desentendimentos colossais
Das amizades superficiais

Silêncio total
Na luta inglória
Da desorganização política
Nas subjetividades destruidoras
Dos sonhos coletivos

Silêncio total
Na construção dos sentidos poéticos
Frente a irremediável situação de caos
[Político-econômico]

Silêncio total
Com febre de quarenta graus
Que aquartela desejos de continuar escrevendo
... sobre a vida

20.6.11

Morto e sepultado

O autor destes escritos está morto
Assim permito ao leitor vagar, divagar
E reescrevê-los

Permito ao leitor sempre pensar que escrevo para ele
E quase sempre escrevo pensando em alguém
Mas, de maneira recorrente, este alguém
Sou eu mesmo:
Morto e sepultado!

Batismo de mar


Não posso prever quantos mares iremos aventurar
E se um dia, eu já um vetusto senhor,
Poderei compartilhar conselhos

Imagens críveis
Só aquelas por hoje registradas
E nada mais posso desejar

Uma semana pode representar
Uma vida por completo
Dias brancos, noites belas
Quantos sonos em meu peito
Quantas sestas tranquilas ao meu lado?

Não posso me dar o luxo de especular o futuro
Resta-me apenas contabilizar as horas
E espremer cada segundo que tenho contigo
Para que ele se torne
Um dia eterno

Vida

Em meio ao Vesúvio
Desta lida inglória
Retenho-me intimorato
Aos contra tempos desta passagem
Chamada vida

Bulimia sexual

Encetado por caminhos
Inexplicavelmente inusitados
Rebelou-se contra a tradição
[Família-Propriedade]
Escalou montanhas insólitas
E deparou-se com a rapidez das atitudes

Antes processos de longa data
Vazão histórica e consuetudinária
Agora ações imediatas
Sem a mínima necessidade
Das essenciais preliminares

Deparou-se com a beleza mórbida
Da burguesia
E suas excrescências
Desligou-se das vestes do puritanismo
E atirou-se lépido aos ditames da nova ordem

Deparou-se nu, esquálido
Rente a si mesmo
E vomitou vertiginosamente
Como num ataque grosseiro
De bulimia sexual

16.6.11

Papel sem pauta

Minha vida virou um papel sem pauta
De sentimentos depurados
Imiscuídos num vazio transgressor
Da lógica cartesiana de uma dita igreja

Não distingo mais imposição cultural
Com o desejo de liberdade aparente
Não assisto mais TV
E compreendo melhor o mundo
E o sentimento alheio

31.5.11

Suplantar / Plantar

Suplantar este ódio aparente
Plantando entre crostas de azedume
É tarefa cotidiana daqueles que sonham
Unir uma classe trabalhadora
Impregnada pelos dissabores constantes
Da inconstância azeda do individualismo

Plantar sementes escassas de altruísmo
Em terrenos áridos e ardilosos
Neste pântano cinzento
É desejar suplantar essa carapaça
Artificial
Revestida por máscaras
Indevidamente colocadas em nossas faces
Que encobrem a beleza fulgurante
Da palavra liberdade!

26.5.11

Clandestinidade

Depois de tantas decepções amorosas resolveu alistar-se ao exército rebelde e lutar clandestinamente pelo universo beligerante da solidão.

25.5.11

Em forma de "C"


Seis meses e meu tronco transformou-se num “C”
Envergadura sintomática do desejo peremptório
De te abraçar por completo

Encostado em meu peito
Sinto a planura do teu carinho
Reverberar feito ondas intermitentes
Que geram sentimentos
Nunca antes aflorados

Em “C” acolho teu rosto em meu peito
Com a certeza que escutas as batidas
Do meu coração
Expressando, repetidamente,
- te amo, te amo, te amo...

23.5.11

Ficção


Depois de nossa conversar observo para onde vais. Fixo meus olhos nas esquinas, corro para não te perder de vista e percebo que fazes parte do meu universo ficcional.

16.5.11

Cacos de vida

Desceu a alameda num dia chuvoso à procura dos cacos de vida estraçalhados, juntando os pedaços do seu futuro e remoendo preces.
(Microconto para o twitter)

Rabiscos Marginais

Um reboco mal feito em casa, "um pincel na mão, uma ideia na cabeça"

15.5.11

Uga-uga ou exoneração

Finalmente o sonho concretizado. Anos de estudo, dedicação e aprimoramento para enfim conseguir um lugar na academia. Ao chegar, cheio de sonhos e desejos, soube logo que lá habitava um povo bárbaro que há alguns anos atormentavam todos aqueles que não seguissem as suas designas. Recomendaram andar nos trilhos e não caminhar pela aridez dos pântanos cinzentos evitando contradizer os bárbaros de olfato apurado – todos os seus movimentos estariam a partir daquela data rastreados.

Inicialmente uma catatonia tomou conta do seu semblante, mas prosseguiu a caminhada na instituição, afinal o desejo peremptório de ministrar aulas, pesquisar e compartilhar saberes com a comunidade era algo já amadurecido e presente na sua carreira profissional.

Aos poucos as denúncias se avolumavam e as ações concretas dos lacaios vinculados aos bárbaros apontavam que aquele ambiente, antes idílico, apresentava-se inóspito e repleto de veleidades.
Todo dia acordava incomodado com um ar de indignação que tomava seu fôlego frente às inúmeras injustiças e ações de proselitismo que encharcavam seu ambiente de trabalho. Resolveu, portanto, desafiar os bárbaros!

Percorreu inúmeras vielas, ruelas, caminhos estreitos, muitas vezes sozinho, outras vezes acompanhado. Correu inúmeros riscos, mas sempre com a altivez e perseverança dotadas de um calor teórico que construiu ao longo de muitos anos de estudo de um tal velho barbudo.

Num dessas andanças deparou-se com uma tribo de bárbaros. Foi cercado, amordaçado e questionado: “uga-uga ou exoneração?”. Sem excitar, apesar do desconhecimento do teor da primeira opção, respondeu: “uga-uga”.

Os bárbaros, com anos de experiência maléfica, torturam, assediaram, vilipendiaram e soltaram o professor. Achavam que depois desta ação de opção maniqueísta, haviam liquidado mais um opositor que se negava a ser cooptado ou reduzido ao silêncio.

Mesmo fragilizado após a onda de tortura, continuou a caminhada, pois sua posição ideológica berrava mais forte, convicta e espelhada no sangue e no suor de tantos outros companheiros de luta.

A partir de então, todas as noites, seus algozes apareciam como redemoinhos devastadores em seus sonhos; Entrementes todas as imagens de injustiça e aberrações bradavam ao seu lado diuturnamente, implicando com o senso de liberdade que pedia solenemente que não desistisse da empreitada.

Seguiu as ordens da sua consciência. Continuou caminhando naquele terreno árido e perverso. Por vezes sentia a compreensão de alguns, por outro lado, a solidão da coerência adormecida de muitos.
Certo dia, numa dessas aventuras quase quixotesca, foi mais uma vez capturado pelos bárbaros. Temia pela pergunta, inexoravelmente vociferada pela alcateia: “uga-uga ou exoneração?”.

Agora já sabedor do significado de tão estranha expressão e suprimido de qualquer condição psicológica de enfrentar (com aquelas armas, tão desiguais) o inimigo, respondeu: “exoneração”.

Os bárbaros perplexos com a resposta fitaram o líder maior, até então blindado pelo grupo. A ordem do chauvinista, repleta de sadismo, reflete o nível de maldade do dito poder encarnado e mofado nas entranhas da instituição há mais de uma década:

- Uga-uga primeiro!