Ontem uma criança de seis anos me pediu dinheiro no sinal
Ontem vi a oferta de uma carro por trezentos mil
A criança não soube me dizer o nome da escola que estudava
Eu não sei dizer a marca do carro
Isso foi ontem, apenas ontem...
Ontem uma criança de seis anos me pediu dinheiro no sinal
Ontem vi a oferta de uma carro por trezentos mil
A criança não soube me dizer o nome da escola que estudava
Eu não sei dizer a marca do carro
Isso foi ontem, apenas ontem...
Sessenta mil mortos
Crianças, mulheres, idosos, civis
Sessenta mil mortos
Nunca esqueceremos
Sessenta mil mortos
Seis de agosto de 1945
Sessenta mil mortos
Bebês no colo, alguns amamentando
Sessenta mil mortos
Trabalhadores, assalariados, pessoas comuns
Sessenta mil mortos
Incinerados num raio de quinhentos metros
Sessenta mil mortos
Alguém venceu esta guerra?
Sessenta mil mortos
O Tio Sam te envia condolências tardias...
Sessenta mil mortos
Minha inspiração poética é fruto do desprezo das paixões
São as cartas de amor que escrevi e logo tombaram nos tambores de lixo
Minha inspiração poética é fruto da febre do rato que roeu as cartas de amor
É a febre de 40 nos verões dos anos 90'
Minha inspiraçã poética é a melancolia do Drummond
É o homem que também chora do Gonzaga Júnior
É o drama do pequeno burguês da idade da razão do Jean-Paul Sartre
Minha inspiração poética é o ônibus que quase-me-atirei numa desilusão amorosa
É a placa de pare dizendo: não morra
É o cigarro que nunca fumei
É a canção que nunca escrevi
São os poemas que nunca foram lidos
E aguardam a crítica roedora dos ratos
De repente descobri que a crise dos mísseis
foi apenas um devaneio do meu interior cubano
Que a pinta do Gorbachev
era apenas as marcas das lições diárias
Descobri que Chernobyl e o Cesio 137 são tormentas minhas pois ainda chove e chove e chove
As bombas do Bush, do Clinton e do Obama representam bem mais que o Nobel da Paz
Que pra mim não faz sentido, nem aqui na Praça dos Bancários nem na Praça Celestial
A Guerra dos mil anos, Malês, Mascates, Balaiada, sabe nada...
Nada disso posso ver, a revolução não bateu à minha porta
IrãIraqueAfeganistãoKuait só me interessa chegar ao fim do dia e alimentar meus filhos e o cão que late
Metanarrativa é o Galvão narrando o gol do Neymar
Não é o petróleo, o aumento das commodities, a Revolução Russa ou morto mar
Só sei que no fim do mês tenho contas a pagar
Quatro horas é o meu horário favorito
Tem cheiro de menino moleque jogando bola
de tarefa de casa terminada
A brisa do oceano chega com toda força
Anuncia o lado lúdico da vida
Quatro horas tem cheiro de mar
que dá para sentir no sertão
É a hora que encho meus pulmões de ar
Quatro horas é o meu horário preferido
É o meu pronome possessivo temporal
É o cheiro de pão quente, bola rolando, pipa voando
Quatro horas é mais que uma convenção
Não há rotação ou translação que explique
É quando me descubro vivo
(Conta-me em segredo, às quatro, se teu horário existe e eu te direi quem és...)
Vou passar o dia alimentando meu lado Buda
Para te mostrar a paz de espírito que carrego em mim
Vou passar o dia alimentando meu lado Marx
Para te mostrar o quanto quero ver um novo mundo pela janela
Vou passar o dia alimentando meu lado Frida
Para te mostrar a liberdade que transpira
Vou passar o dia alimentando meu lado "passarinho"
Para te mostrar minha poesia
Enquanto houver tempo eles não "passarão"
Mas não há tempo, não há mais poetas de sete faces
Apenas encruzilhadas em tabuleiros de xadrez
Quando Hiroshima explodir na minha porta
Quando rufarem os tambores da selva
Quando a chuva ácida molhar o meu tapete
Não me procure em qualquer caixa postal
Estarei limpando minha relva
Tomando banho numa piscina cheia de ratos
Escrevendo canções de amor
E mesmo que o cogumelo atômico anuncie que é o fim de tudo
Vou continuar apaixonado como Dido cantando Thank You
E assim, por todo sempre, amanhecerei contigo,
em gestos, palavras e omissões
E assim, por todo sempre,
serei sopro, velas e orações...
"E esta é uma canção de amor...
E esta é uma canção de amor...
E esta é uma canção de amor..."
https://youtu.be/1TO48Cnl66w
Não vamos esperar secar o sangue quente das vidas despedaçadas
Vamos justiçar cada lágrima rolada
Vamos guilhotinar cada déspota não esclarecido
Vamos vingar cada partida precoce
Quatrocentos, quinhentos mil?
Não são números
Ely, Assis, Milton,
Seus algozes serão julgados
Queremos a cabeça do rei Ubu
Antes que o sangue quente seque
Queremos guilhotinas na Praça da Paz
Asseclas, assessores, defensores
Não queremos a paz dos túmulos
Queremos a cabeça jaz
Repouso eterno para quem me ensinou os primeiros acordes
Repouso para quem me ensinou Vandré
Para quem cortava minhas unhas numa atitude paterna de ser
Para quem brincou comigo nas horas vagas
Para quem me ajudou na atividade de casa
com a maestria dos seus traços perfeitos
Era mais que uma clave de sol
era uma obra de arte
Era mais que um professor dedicado de violão
Era nossa diversão duas vezes por semana
Era mais que um músico
era um ser humano sonoro
Pra não dizer que não falei do Assis
Não houve espera para o amigo
Houve quem não soube fazer acontecer
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ASSIS: UM SER HUMANO SONORO
Bartyra Soares
Assis "era mais que uma clave de sol".
Era o próprio sol das claras manhãs,
quando seu violão trinava nas suas mãos
e mesmo quando surgiam dias nublados
a chuva não embargava sua voz.
Sim, Assis era mais que uma "clave de sol".
Era a correnteza de um rio de águas
cantantes, afinadas, de rumo certo.
Levava nos tons canções de tantos versos
de paz, de amor, de sonhos, da vida.
Sim, Assis "era mais que uma clave de sol".
Hoje seu violão é uma estrela a mais
a tocar no espaço,
talvez sobre o mar,
porque ele sempre será "um ser humano sonoro.".
Não é por cento e poucos reais... é por dignidade
*Frederico Linho
Dignidade, “qualidade moral que infunde respeito, consciência do próprio valor”. Não há dúvida que os professores neste país procuram tornar a palavra dignidade em algo concreto, labutam diariamente pela formação de gerações na esperança de dias melhores. Não há caminho sem a presença dos professores, não há caminho sem professores de cabeça erguida, dignos do seu trabalho.
Há quem pense que a labuta é apenas em sala de aula, porém, a luta diária por dignidade ultrapassa o espaço escolar e se configura numa batalha encarniçada por melhores condições de trabalho. Parece uma cantilena, uma narrativa monótona, deliberadamente repetida com o intuito de adormecer os trabalhadores em educação. Mas não há cansaço quando a luta é por dignidade.
É indigno desprezar o trabalho de formação de um professor, é indigno rebaixar sua formação à patamares inferiores aos anos de estudos e dedicação. Sim, acreditem, professores passam anos na universidade, assim como médicos, engenheiros e advogados. Não à toa o Plano Nacional de Educação, em sua Meta 17, precisou gritar: “valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as) demais profissionais com escolaridade equivalente”.
É inimaginável pensar que um professor formado em nível superior seja enquadrado numa carreira inferior à sua formação. É inimaginável pensar que um professor com pós-graduação tenha que amargar três anos sem poder receber proventos equivalentes a seus esforços acadêmicos. Esta última maldade está referendada em vários Planos de Carreira, a primeira maldade está sendo articulada em algumas redes municipais de ensino sem respaldo jurídico.
A tal propalada valorização do magistério não pode ser uma frase bonita num Plano de Carreira, tem que ser ação efetiva, mesmo que isso garanta cento e poucos reais a mais no bolso do professor. Cento e poucos reais é o que separa um professor formado em nível médio (Magistério) de um professor formado em nível superior. Mas não é, apenas, por cento e poucos reais, é por dignidade. Dignidade para ser valorizado enquanto professor, enquanto sujeito histórico que passou anos estudando e que não merece ser humilhado e rebaixado por ações equivocadas de gestores de plantão.
Não é por cento e poucos reais, é por dignidade.
(para João Cabral de Melo Neto)
O silêncio da não-poesia
me devora
Palavras não chegam
ao contrário
c o r r e m
Fogem de mim
Em vão suplico
oro
presto atenção nas músicas
leio poemas
masturbo livros
Não há gozo
só o silêncio vazio da não-poesia