A criança sem creche
Olha atenta a mãe nua
Que sem emprego se mexe
Não há solidão maior que o deserto
De uma alma nua
Sem emprego certo
Corre solta a bola na grama
Nos insalubres andaimes da Copa
E perto dali escorre a trama
Sem creche, a mãe é só lassitude
Mas o estádio apinhado
Diz que é preciso ter atitude
A explicação teleológica
De um gol aos noventos minutos
É muito mais lógica
Faltam creches, empregos
Sobram craques, gols
Empresas, contratos, egos
A mãe na copa
Raspa a lata de leite, atenta ao gol
Do craque que segue para a europa
Na Copa estão comendo fast-food
O Tio Sam vai conhecer a nossa batucada
E filmar essa orgia em Hollywood
Não há dissensões
Somos todos verde-amarelo
Em melancólicas crispações
O corpo exala o odor
Estremece de fome
Afugenta a dor
É gol, sublime
Não há mais faltas
Apenas a felicidade imprime
Não levo mais chibatadas no couro
Não preciso mais de creches
Pois tenho um gol de ouro
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