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11.11.13

Copa

A criança sem creche
Olha atenta a mãe nua
Que sem emprego se mexe

Não há solidão maior que o deserto
De uma alma nua
Sem emprego certo

Corre solta a bola na grama
Nos insalubres andaimes da Copa
E perto dali escorre a trama

Sem creche, a mãe é só lassitude
Mas o estádio apinhado
Diz que é preciso ter atitude

A explicação teleológica
De um gol aos noventos minutos
É muito mais lógica

Faltam creches, empregos
Sobram craques, gols
Empresas, contratos, egos

A mãe na copa
Raspa a lata de leite, atenta ao gol
Do craque que segue para a europa

Na Copa estão comendo fast-food
O Tio Sam vai conhecer a nossa batucada
E filmar essa orgia em Hollywood

Não há dissensões
Somos todos verde-amarelo
Em melancólicas crispações

O corpo exala o odor
Estremece de fome
Afugenta a dor

É gol, sublime
Não há mais faltas
Apenas a felicidade imprime

Não levo mais chibatadas no couro
Não preciso mais de creches
Pois tenho um gol de ouro

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