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29.12.10

Este ano nunca terminará


Este ano nunca terminará
Terá mais que longas noites
Será mais representativo
Que o livro que escrevi
Que as mangueiras que plantei
Que o filho surgido

Este ano nunca terminará
Encravado que está em meu coração
Palpitando todas as verdades
Que nunca ousei escutar

Este ano nunca terminará
Passará séculos apontando
Dedo em riste
A descoberta das minhas fraquezas
As minhas incongruências palpitantes
A minha história dilacerada

Este ano nunca terminará...

O sonho do Ernesto

Lendo o Gullar
Com toda minha gula
Resolvi denunciar

Numa cidadezinha
Do Curimataú
Mais de quarenta por cento
Não sabem ler nem escrever

São chamados analfabetos

Nesta mesma urbe
Um candidato inelegível
Logrou mais de quarenta por cento
dos votos

Barrado pela justiça
Quase vence pela injustiça
De ter o povo iletrado

São chamados votos de cabresto

Marcados pela ação deliberada
De manter o povo longe do sonho do Ernesto

Este ano

Este ano resolvi morrer

Pensei melhor

E decidi continuar escrevendo

Asilo


Vou pedir asilo político em qualquer quintal
Passar bem longe da embaixada

Vou deixar de viver ao lado do cabo da enxada

Não aguento mais esse sistema que engorda
Essa porca roda
Que gira sem tema
Que gera essa horda sem hora
De parar de comprar
Que vende seu suor
Manchado de sangue
Pelo preço do contumaz motivo
De ser achincalhado pelo objeto
De desejo

Preencho esse enorme vazio com a toda força dos erros que cometi

24.12.10

Rateio


Telegrafei minhas mensagens mais dolorosas
Do meu jeito prolixo de ser
Tentei te avisar que todas as rosas
murcharam
Que não quero mais te ver

Quando fui desprezado
Apaixonei-me pela vida boêmia
Pelo tom aprazado
De amar qualquer esquizofrenia
amorosa
Em meio a recados pouco inteligíveis
Grafei ares de solidão quando a magia
tornou-se fim
Em meio a tantos desejos dirigíveis
Restou-me estudar a escatologia
desta paixão

Só encontrei destroços de uma penada
Entregue a qualquer calçada
Remetida a qualquer relação
Emergida em qualquer ereção

Agora, antes cheio,
Sou vago, sem escrúpulos
Faço do amor um rateio
Daquelas que melhor der seus pulos

20.12.10

Quimera


Fui atropelado pela minha juventude tardia
Meu corpo dói até a última quimera

Palavras


Ah palavras inquietas
Que me tiram da cama
Rompem meus sonhos
Chacoalham meus desejos
Suprimem minhas formas
Rejeitam meu não
Invadem meu consciente
Forçam a escrita

Ah palavras vaidosas
Desejosas ao nascer
Apenas para dizer que estão aqui
Simulando ganhar vida
Para eternamente germinar
Em letreiros baldios

Tempo

Seguro na mão do tempo
Para que ele não siga
Alado levado pelo vento

Seguro na mão do tempo
Com o desejo de procrastinar
A imensidão retumbante
Dos deliciosos momentos

Seguro na mão do tempo
Atrasando os segundos
Avançando os prazeres
Retendo os rompantes
Tão escassos de torpor

Amarro o tempo
Com cordões retorcidos
Com nós inadiáveis
Com toda força das
amarras

Solto o tempo
Quando ele está incompreensível
Quando ele me afoga nas verdades
Quando ele cospe a cruel realidade

Solto o tempo
Nas ladeiras da vaidade
Guiado por carrinhos
De rolimã da tenra idade

Solto o tempo
Nas noites soturnas
De solidão apagada
Do teu cheiro distante
No clarão da madrugada

Mas o tempo de cara amarrada
De muxoxo febril
Não se deixa segurar

Mas o tempo de forte caráter
De decisões finalistas
Não se deixa soltar

Frangalhos

Demorei uma vida inteira
Para poder compreender
O que é o amor, o sexo
A solidão
E a paixão

Em apenas um ano
Consegui desconstruir
Todas as referências
Afundei todos os portos
Seguros
Naveguei em frangalhos
Até ficar à deriva

Se alguém conseguiu compreender este ano, manda uma carta para mim
Repassando todas as coordenadas, deste período vil

Suspirando

Levarei comigo o preço da coerência
A indignação que me faz tremer
A lembrança de todos aqueles
Que lutaram toda vida
A imagem derradeira
Daqueles que doaram sua vida
E toda força capaz de me fazer
Caminhar neste árido terreno
mesmo com todas as injustiças...

Nestes dias assisti "Salvador Puig Antich" revolucionário que nos seus últimos momentos perguntou como seria executado - o silêncio tomou conta da sala onde o carrasco providenciava a morte por estrangulamento. Este crime, especificamente, encerrou a utilização do "Garrote" na eliminação perversa durante a Guerra Civil espanhola. Salvador suspirou até o último momento, num desejo intenso de continuar sua luta.
Guardo todas as proporções, releio todas as mensagens de apoio que recebi, vou certo e direto a esta pergunta que antevê um final macabro, mas que em nenhum momento me fará baixar a guarda para este sistema inescrupuloso que gera uma horda de seres infames.
Não estarei marcado pela insígnia de ser pusilânime - independente de qualquer resultado estarei suspirando até o último momento!

Demais em menos

Nunca falei por demais
Pois o demais se tornou supérfluo
Só temia pelo amor
Que se transformou em de menos

Nunca falei em super-homem
Pois o homem poderoso
Transformou-se em tom ocioso
Naquele grito pasmem

Nunca falei em perder o demais
Esvazio-me destas impertinências
Nas tuas frases repletas de reticências
Que nada falam, repetem mais e mais

Sempre falei em amor eterno
Em juras secretas
Em gozos iconoclastas
Para tudo terminar neste verdadeiro
inferno...

14.12.10

Ausência nua


A fome rompe com todos os desejos patentes [e latentes] de expressão escrita
A fome grita meu nome no vazio esquálido do intestino grosso
A fome é irmã da violência, do egoísmo, do bom moço
A fome só é boa quando posta a mesa

Para poder saciar esse desejo incessante
De te amar na lisura da sala de jantar
De poder escrever, em tinta branca,
O jorro inconsequente dos meus poemas
Apaixonados pela tua pele alva

Que combina com meu sêmen transparente
Que alimenta tua ausência nua

De segunda pra terça


Adeus segunda-feira de palavras doídas
Que tanto machucam as pestanas
Que tanto forjaram as minhas idas
Ao calabouço apertado das anas

Venha terça-feira muda
De preces desajeitadas
Diga uma palavra surda
Que conserte estas almas depenadas

12.12.10

Arder em frio

Não suporto mais arder
Em meio a tantos frios
[ardis]

Ser poeta

Ser poeta na Parahyba é pau
É pedra, é um poço sozinho

Ser poeta na Parahyba é
Lau, Ró, Paulo, Pedro
É ser apóstolo no deserto
É ser poeta do satã

Ser poeta na Parahyba
É vestir o mesmo sutiã

É ser o bicho da maçã

Ser poeta na Parahyba
É declarar a rendição
É calar o grito do três oitão

É chupar sem fazer careta
Qualquer limão
E levar sorrindo um chute no cunhão

Ser poeta de verdade na Parahyba
É não ter privilégio

Não usar relógio
Casio ou Rolex
É viver em sacrilégio

Tem poeta na Parahyba
Que já foi oprimido
Hoje carrega o germe do opressor

Dai a César o que é de César
A Marx o que é de Marx
Ao povo o que é do povo
O ópio e a nota de pesar

No escurinho de outrora
A organização guerrilheira
A subversão e o ódio da porteira
A fome de cultura sem hora

Ser poeta na Parahyba é
E sempre foi
Fazer parte do grupo de elite
É ter fome exasperada
Em nome de qualquer deleite

Ser poeta na Parahyba
É morrer sem rima

(Frederico Linho)

11.12.10

Sabor de liberdade


Saboreio a liberdade
Prato quente para o povo
Indigesto para os reacionários
Causa cólica nos mordazes

Liberdade temperada com o sangue
Da história e da luta

Liberdade tão negada
Às vezes incompreendida
Às vezes negligenciada
Às vezes tão distante
Às vezes destemperada
Que o povo não sabe nem o sabor
E segue descontente,
descrente
E não consegue nem salivar

Liberdade plantada em terreno árido
Sofre para brotar
Reza para florir
Precisa de tempo para vicejar

Tempo escasso,
Indisponível para os desejosos
Do tempo imediato

Tempo necessário
Para colher a liberdade
E saboreá-la com requinte
De perpetuação

Leproso

Sabedora que és de minh´alma
Soltastes palavras cáusticas
Que inundaram meu ser

Ossos e dentes, corroídos
Todos os tecidos, desmoralizados
Todas as artérias, imoladas
Todos os sentimentos, dilapidados

Uma única frase

[Consequente de longos dez anos]

Tornou-me leproso
Esfacelou minha carne amiúde

7.12.10

Poeira


Você sumiu da minha vida. Desde então a poeira toma conta do nosso apartamento, preservando as tuas digitais impressas nos cantos de parede.

6.12.10

Alicate


Apenas alicate de dentista para arrancar a tristeza profunda dos meus olhos

4.12.10

Mergulho

Quando mergulho de cabeça na piscina rasa de minha vida, gero traumas irreversíveis na coluna dos meus sentimentos.

29.11.10

Sinto que é hora


Sirvo meu corpo ao banquete do escárnio
Das feridas abertas, purulentas e não cicatrizadas
Servem de alimento macabro aos donos do poder

Hoje brindam minha morte, seu deleite
Colam meu corpo, um copo de leite
Derramado entre frangalhos escrotos

Desumanos seres, sedentos de poder
Usam o chicote, a pressão
Querem me deixar em trajes rotos

Mas não desejo vil metal
Não desejo morrer por asfixia
Letal

Não desejo torna-me abjeto
Muito menos ab-rogar meu sonho predileto
Sinto cheiro da arrogância

Do arroto maroto
Da sutileza e da ganância
Dos mercenários de plantão

Sinto que é hora, mais uma vez
de começar do zero

26.11.10

Prumo

Perdi meu prumo de pedreiro. Minhas construções sentimentais estão edificadas com infiltrações irreparáveis, empenadas para todo sempre.

24.11.10

Dieta

Retirei a TV da minha dieta. Tento agora recuperar-me passivamente dos efeitos deletérios dos últimos trinta anos

Dieta II

Alimento-me apenas de músicas e livros orgânicos, cultivados sem agrotóxicos e regados com requintes de subversão

Dieta III

Tempero a minha dieta com ervas finas de indignação

15.11.10

Vazio


Amo o vazio deixado pelo rastro insolúvel da saudade

14.11.10

Hematoma Cardíaco


Meu coração verde-musgo
É um hematoma passado
Presente numa foto do retrovisor do carro
Teimando em olhar para trás
O futuro que não mais virá

Mas sempre estará vivo
Nas lembranças mortas
Dos santinhos de sétimo dia

Inspiro, expiro


Inspiro as dores do mundo
Encho os pulmões de ar
Não há regozijo festivo
Apenas um coração verde-musgo
Mostra deletéria dos edemas sintomáticos
Causadores do inchaço da alma

Expiro minha história
e minhas contradições
Baforo o vento sufocante que me asfixia

O ar cortante viaja por todos os órgãos
Ao encontrar o coração verde-musgo
Dilacerado
A dor triplica
Mas é calmamente posto pra fora

3.11.10

A metáfora da saúde


O sujeito ignóbil
Corta a carne com prazer
Energúmeno como um playmobil
Estilhaça suas ações por fazer

A carne vermelha dilacera
Seu coração
Metáfora a giz de cera
Deixa tudo inerte, sem ação

A ignorância maravilhada
Abre alas para a meninada
A inocência pueril
Esbarra na consciência com esmeril

Todos juntos coração, veia, artéria
Abrem alas para todas as matérias
Primas que são do caos
Natimorto, fenômeno construído no Laos

Rogo um dia em que carne, unha
E espinha dorsal
Saibam que minha alcunha
Saúde, não é para ser tratada mal

Cartas de despedida

Escrevi todas as cartas da nossa despedida com as lágrimas que rolaram pelo tinteiro afora.

31.10.10

O povo em maestria


Voto nulo em protesto às alianças espúrias
Ao não-debate eleitoral
Voto em protesto à farsa torrencial

Compra de votos em cada esquina
Meninos cheirando cola
E seu Chico continua acreditando na quina

Voto nulo mas não fico em casa
Vou às ruas, minha liberdade
Me dá asas

Luto em cada reduto
Corro em cada morro
Protesto por tudo que detesto

Formação política
Guerrilha cultural
Sem essa distância mística
Sem esse voto de curral

Voto zero zero
Pois não aguento mais
Esse lero lero

Eleição fajuta
Quem não vota
Paga multa

Eleição doméstica
hermética
sem ética
sem poética

Eleição sem prosa, nem rima
E os de baixo continuam
Submissos aos de cima

Eleição será um dia
Em que o povo em maestria
Ensinará às capitanias
Toda força de suas valias

27.10.10

Carne Trêmula

                                                                                   Para Almodóvar



Meu sentimento de amor
Revira-me ao avesso
Minhas entranhas ficam expostas
Ao avesso expresso, em demasia, minha carne trêmula

23.10.10

Mar em Mar

Pode chover a cântaros
Pode o vaso transbordar
Pode o pneu furar
Pode a maré vazar
Pode o amor brigar
Pode tudo, até mesmo
O céu raiar

Mas hoje o meu dia
Será de mar em mar

Sonhos de pastelaria


Nunca cometi tantas heresias
Nunca escrevi elegias
Tudo isso em plena luz do dia

Rompi com tudo, o máximo que podia
Desde a mais tenra infancia
Desde os tempos da capitania

Hoje sofro de arritmias
Tenho prolapsos de catatonia
Suspeito de esquizofrenia

Restaram-me minhas manias
Nas noites longas de insonias
Na ferrugem doce da maresia

Vertigem que corroia
Sonhos doces de pastelaria
Em meio a tantos ia

16.10.10

Sete Chaves


Hoje eu deveria ter acordado cedo
Saído logo de casa
Cortado o cabelo
Aguado o pé de caju
Que clama por uma gota d’água

Hoje eu deveria ter saído
Para adquirir uma tela
Para desenhar meu futuro
Escolher a cor azul bebê
Para enfeitar um quarto

Escrever um quadro
Rabiscar um poema
Dilatar sonhos
Em fórmulas químicas

Mas só restou a casa vazia
A porta trancada a sete chaves
A vulnerabilidade tocante
Da amiga solidão

Dramas


Esse desejo de liberdade que entorna minha voz
Esse copo que transborda desejos subliminares
Esses maltrapilhos seres que estorvam nossos desejos

Todos esses dramas cotidianos
Um dia serão apenas histórias de terror
Que contaremos aos nossos netos

Meus (silenciosos) gritos


Sou laico, sou largo, sou escuro
Sem maniqueísmo, sem palidez, sem amarras
Espaçoso, expansivo, desastrado

Sofro todo dia
Choro toda noite
Rogo todo instante

Sorrio vez em quando
Atraso quase nunca
Cobro-me cada segundo

Adoro a solidão
O silêncio
A expressão

Adoro bons livros
Bons amigos
Bondades mil

Desejo altruísmos
Ações concretas
Que reverberem em sismos

Abalos terrestres
Cavalgadas equestres
Beijos sem cismas

Acredito no mar
Nos poemas
Nas tuas pernas

Acredito que é possível apagar a luz e ver o mundo
Com o calor dos escritos
Com as mãos calejadas
Sem a mordaça que me aprisiona
Com o torpor dos meus inertes
gritos

"Imagine o Brasil ser dividido"

BRASIL DO NORTE, 
sem burguesia, 
sem exploração do trabalho, 
sem patrão, 
sem mais-valia, 
BRASIL SOCIALISTA
laico, 
sem corrupção, 
sem os escrotos desta nação!

14.10.10

sabores


Nos dias intermináveis converso com o silêncio. Ele me dá provas que é possível travar um diálogo intenso com todos os sabores que a vida pode proporcionar.

13.10.10

Arapuca (Litoral Sul - Parahyba)


Para escapar das armadilhas
Estive lá em Arapuca
Bem longe das Antilhas
Onde fui refrescar a cuca

Mergulho noturno
Ao som da sinfonia marítima
Tão afinada quanto Bach, Mozart ou Chopin

Fui ampliar as minhas anomias
Curar as idiossincrasias
Banhar-me despido
Das contradições de cupido

Apaixonado pelo mar berrante
Luto contra a correnteza
Na esfera silente
Na busca da certeza
De um diálogo com minha alma doente

A barreira multicor
Prova inconteste
De muito amor

Prova derradeira que as armas
As blindagens, as ofensas
Só existem nas cabeças artificiais
Daqueles que não amam

Sol e Lua enamoram
Geram estrelas e a certeza
Absoluta
Que o amor é a única maneira
Possível de vencer essa
Destemida luta

30.9.10

Eleições 2010

            Ontem, 29 de setembro de 2010, ao sair da universidade às 19h, resolvi utilizar o transporte alternativo tão comum nas cidades do interior. Pululam motos em todos os cantos, todas as esquinas - “mototáxi” são velhas conhecidas de quem precisa se deslocar nas cidades que não possuem sistema de transporte público. Em frente ao meu trabalho sempre existe um motoqueiro disponível para subir a ladeira que separa a universidade do centro urbano.

            O movimento é intenso, descendo e subindo a ladeira de terra batida os motoqueiros vão ganhando seus trocados com o agravante de surrar o veículo que apanha do acesso repleto de buracos e pedras. Apenas uma moto estava disponível ontem à noite, fato raro, pois a disputa é intensa em troca de R$ 1,50. Converso muito com os motoqueiros e quase sempre utilizo este serviço de transporte, às vezes prefiro subir ou descer a ladeira a pé (comendo poeira, como se diz por aqui), mas uma dor de cabeça atormentava-me. Estes trabalhadores passam o dia expostos ao sol, num trabalho estafante, sujeitados a todas as intempéries e riscos desta profissão.

            Quando subi na moto, um outro motoqueiro que descia a ladeira perguntou àquele que me prestava o serviço:

- Já pegou o petróleo?
- Não.

            Resposta seca, mas deixou-me com o desejo de colher maiores informações. Seguimos subindo a ladeira e em meio à poeira, solavancos e o capacete que dificultava a conversa, perguntei ao motoqueiro de que se tratava e ele respondeu:

            - O candidato está dando um dinheiro para gasolina, mas não vou atrás disso não, não vou me humilhar por cinco reais, é mixaria. Quando foi lá em Nova Floresta era mais, era R$ 10,00.

            - E a pessoas recebe em dinheiro mesmo?

            - Não, é vale combustível, tem que abastecer no posto de gasolina.

            - E pega o dinheiro em que local, na casa do candidato?

            - Não, o candidato tem o pessoal que trabalha para ele, na casa dele a justiça pode cair em cima, são quatro casas na cidade, vai lá e pega o vale.

            - E tem que deixar o número do título, a zona de votação?

            - Não, deixa só o nome. Quando foi lá em Nova Floresta um motoqueiro conseguiu juntar R$ 47,00, foi nas quatro casas e pegou o dinheiro em cada uma delas.

            Este é o retrato às vésperas das eleições,

24.9.10

Ficha Suja e o STF


Lamentável, porém previsível, tudo o que está acontecendo no "julgamento" do projeto de iniciativa popular da Ficha Limpa. Previsível, pois Marx já havia dito que "as ideias dominantes, são as ideias da classe dominante". Não há surpresa no fato do STF tencionar a "constitucionalidade" do projeto (escrevo já sabendo do empate de cinco a cinco). Lamentável, pois acreditamos que estaríamos perto de uma moralidade nesta política eleitoral suja e mesquinha que de fato é um arremedo (não é seu ministro?!?) de uma pseudodemocracia.

Entrei com recurso contra um candidato a deputado estadual pelo PSL, ex-prefeito de Cuité/PB, no TRE e apresentei contrarrazões no TSE. Fiz como cidadão, como servidor público federal, fiz pela moralidade, fiz sabendo que estou sendo diuturnamente observado no município e todo dia chegam as frases de intimidação. "Você é muito corajoso", "Você não sabe com quem está mexendo", "Cuidado que há conversas na cidade de pessoas querendo saber quem é o professor da universidade que impugnou o candidato da região", “Cuidado para não acordar com a boca cheia de formigas”.

Moro em Cuité há dois anos, tenho acompanhado a vida política da cidade e tenho trabalhado com meus alunos com a disciplina de Legislação da Educação Básica (além de outras) e temos feito um apanhado dos recursos vinculados à educação em toda região. Estamos colhendo dados do Portal da Transparência, do FUNDEB, do SAGRES (TCE/PB) e estamos dialogando diretamente com os professores das escolas públicas. Constatamos que os prefeitos ainda atuam como coronéis, como desestabilizadores dos Conselhos de Controle Social. O medo, a coação, o descaso com a coisa pública dão a tônica de uma administração perversa que domina gerando ódio e apartação.

Verifiquei que o atual candidato a deputado estadual pelo PSL foi prefeito de Cuité (sua esposa é a atual prefeita) e teve suas contas rejeitadas pelo TCE/PB em 2002 e 2004, isto me fez entrar com o pedido de impugnação de sua candidatura. Descobri que outros processos existem contra o ex-gestor, um deles no TCU outro no TRF 5º região.

No TRE/PB o pretenso candidato perdeu por 3 a 2 e recorreu ao TSE. Em decisão monocrática o ministro Versiani aponta que:

“Destaco, também, trecho do acórdão do TRF da 5ª Região, acerca dos fatos apurados na ação civil pública (fls. 119-120):
No caso concreto, a fiscalização acima concluiu que o apelante, na condição de prefeito, descumpriu o art. 7º da Lei 9.424/96, porquanto somente aplicou na remuneração e valorização do magistério o percentual de 38,20%, ao invés dos 60% reclamados legalmente.
Por sua vez, o apelante seja através de alegações, ou mediante outras provas, não demonstrou o contrário.
De notar também que tal foi realizado conscientemente, o que caracteriza o dolo, uma vez que o apelante, na condição de prefeito, estava em plenas condições de saber que não se encaixavam na remuneração e valorização do magistério dispêndios com gratificação a músicos de banda filarmônica, transporte de equipe de futebol, material esportivo, produção de filmes publicitários, refeições para atletas, dentre outras.”

E o ministro arremata:

“Vê-se, portanto, que o ato doloso de improbidade administrativa reconhecido em decisão colegiada do TRF da 5ª Região evidencia dano ao erário e enriquecimento ilícito.”

O mais dramático é que as contas rejeitadas pelo TCE/PB foram aprovados pela Câmara Municipal, na época inclusive que o pai do ex-prefeito era presidente da Câmara e também teve suas contas rejeitadas pelo TCE/PB, e o ministro acolheu esse recurso, dizendo que o órgão responsável pela aprovação das contas é a Câmara e não o TCE!

Todo esse trabalho pode ser jogado fora e várias de pessoas que lutam pela moralidade na política (e na construção de uma nova cultura política como afirma a CGU) serão desmoralizadas com a decisão do STF. Este escárnio promovido pelo Supremo mostra que o processo eleitoral nesta sociedade capitalista está vinculado aos interesses dos poderosos que enriquecem ilicitamente utilizando dinheiro e a máquina pública.

Mas temos que ver o lado positivo da coisa. Esse desdém da “justiça” com a moralidade política gera revolta do povo que não aguenta mais ser vilipendiado por esses políticos carreiristas. Este é o momento da organização popular, do protesto, do voto nulo, da ocupação dos espaços pela organização popular. Este é um momento ímpar de concentrarmos esforços para pensarmos numa outra forma de organização do Estado. O sistema capitalista carrega o germe da corrupção, do judiciário vende-pátria, da exploração, do ódio e da possibilidade revolta popular. Assim surgiram as FARC´s, o Sendero Luminoso, os Zapatistas e tantos outros criticados pela burguesia (e seus sistemas de comunicação) e tantas vezes descaracterizados deliberadamente, no intuito de escamotear de onde surge verdadeiramente a violência que assola nosso país, pois como diria Bertold Brecht, em seu poema “Sobre a violência”:

“A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito de rio que a contém
Ninguém chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as bétulas
É tida como violenta
E a tempestade que faz dobrar
Os dorsos dos operários na rua?”

Senhores ministros que votaram contra a Ficha Limpa, termino com a cantata popular dos Movimentos Sociais: “o risco que corre o pau, corre o machado, não há o que temer!”.

PS: infelizmente candidatos a deputado estadual como Nadja Palitot e Francisco Barreto estão no mesmo partido deste candidato que, segundo o ministro Versiani, enriqueceu ilicitamente e causou danos ao erário público. Portanto, acabam fazendo parte desta disputa viciada do processo eleitoral. Tanto Nadja, quanto Barreto, tem uma vida ilibada mas podem eleger um Ficha Suja pelo coeficiente eleitoral.

22.9.10

Réu primário


Não sou mais réu primário
Neste processo doloso de amar
Transitado em julgado
Assumi culpa, castigo e perdão

Como tenho nível superior
Nas demandas do coração,
Providenciarão cela especial
Carinhos, denguinhos, compaixão

Mas já fui alertado pelo supremo
Minhas contrarrazões não darão conta
De tamanho crime

No máximo irei conseguir
Prisão domiciliar
Pena inafiançável
Para maltrato
No trato com o coração

13.9.10

11 de setembro e o Comitê 40

11 de setembro, o dia em que mundo assistiu abismado a destruição de um sonho. O dia do ataque a um dos símbolos da liberdade humana, da construção coletiva, da vontade popular. Dia em que o Comitê 40, traidor e desumano, comemorou a queda de um dos ícones da democracia.

11 de setembro marca o dia em que um homem não abriu mão de suas convicções, não traiu seu povo e, independente do preço a ser pago, mostrou-se coerente até o último minuto.

O Comitê 40 é a marca da ave de rapina, traiçoeira e nefasta, símbolo daqueles que transformaram sonhos coletivos e desejos de mudança em discurso fácil, em agressão aos que pensam e tentaram matar a democracia.

O Comitê 40 de maneira sub-reptícia tramou, na surdina, a ocupação do Palácio a todo custo com alianças escrotas e violência velada, dissimulada e, a posteriori, franca e aberta.

Muitos sonhos e desejos foram aplacados, adormecidos, transferidos para outras gerações que não devem esquecer esta história. O desejo da transformação radical e a derrocada deste sistema imundo e cruel continuam na ordem do dia. Apesar da bancarrota de alguns ditos aliados e da ação covarde (ou vaidosa) de alguns desertores, muitos continuam entrincheirados, defendendo o coletivo que continua sonhando e construindo um outro mundo.

Apesar da coincidência, refiro-me ao 11 de setembro de 1973 e ao Comitê 40, órgão criado pelos EUA “para exercer controle político sobre as ações encobertas no exterior” (Verdugo, Chile 1973, Como os EUA derrubaram Allende, Ed. Revan, 2003).

Infelizmente outro 11 de setembro é mais lembrado, e outro Comitê 40 esfacelou-se por aí.

9.9.10

Debate com Pedro Osmar (Jaguaribe Carne)

Prezados/as,

infelizmente o debate está centrado no tema "ganhar uma eleição", bem aos moldes de todos aqueles que baixaram as armas (inclusive da Guerrilha Cultural) e seguem enganando o povo e apostando as fichas num processo eleitoral falido, sujo, corrompido e cheio de armadilhas. Ricardo Coutinho foi uma esperança de mudança do jogo político. Infelizmente este sonho enterrou-se e junto com ele foi-se o desejo de milhares de paraibanos que acreditavam em pessoas ditas sérias e de esquerda.

A aliança com a ARENA, e com o que há de mais podre no cenário político local, sentou a última pá de cal num sonho de reconstrução da Parahyba. O enorme estrago deixado por Ricardo Coutinho levará anos para ser superado no subjetivo da população, anos e anos de mobilização e organização política foram jogados no lixo, na cova rasa daqueles que um dia prestigiaram um candidato coerente que agora só quer saber de ser eleito a todo custo.

Seguimos coerentes e aprendizes de um Ricardo Coutinho (e tantos outros que se foram politicamente) que não existe mais e que, um dia, nos ensinou a pensar, a ter autonomia intelectual e coerência política.

A derrota acachapante que Ricardo Coutinho sofrerá apenas privilegiará os mesmos grupos políticos que, ao longo dos anos, afundam a Parahyba. Cabe ao ex-socialista pedir desculpas ao povo desta terra e voltar ao seu trabalho de farmacêutico na UFPB. Continuaremos plantando as sementes de um novo sistema político, socialista, com coerência e visão coletiva,

saudações,

Lauro Pires Xavier Neto


Em 5 de setembro de 2010 14:10, Julio Zinga Suzuki Lopes escreveu:

Texto de Pedro Osmar:

Ou a gente é capaz de olhar para a frente e vislumbrar o futuro com as proprias mãos,
ou estamos ferrados, com a continuidade do PMDB no governo do estado! Será que dá pra entender essa realidade? E que mudar esse contexto dentro do jogo democrático passa por atitudes corajosas como a das eleições 2010? 
 
Ricardo Coutinho é hoje uma boa saída para gestarmos o projeto político desse futuro imediato para o estado da Paraíba!
 
Ele se aliou com os lados errados? E o que seria o lado certo? Ele também esteve errado quando se aliou com Maranhão! Foi um dos primeiros equívocos de Ricardo na sua candidatura à prefeito! Mas a política é cheia de equívocos, infelizmente! Até chegar num momento em que somos obrigados a encarar de frente uma situação como essa, de ver Ricardo Coutinho aliado com Cássio (PSDB), Efraim (DEM), assim como já esteve com José Maranhão (que é outra derrota!) em 2004.  
 
Ricardo teria condições  de ganhar sozinho uma eleição para prefeito? E para governador? Bom seria que tivéssemos força suficiente para apoiar e reforçar uma candidatura popular com a dele, sem precisar estar junto desses enganadores, mas não é tão fácil assim. Nas eleições 2010 o nome de Ricardo Coutinho tem que ser visto com o uma saída dentro do jogo democrático, já que não há uma perspectiva mais radical que possamos abraçar, e defender.
 
Sempre estivemos ligados aos partidos de esquerda nas últimas décadas (PT, PC do B, PSTU, PCO, PCB etc), a tal ponto que eu diria que foram esgotadas as possibilidades de atuação com essas alianças, e aí cada um pôde seguir o seu caminho. Teríamos alternativas melhores que garantissem os avanços que as nossas ideologias entendem? O contexto político brasileiro criado pela vitória do PT com Lula na presidencia, mudou tudo nas relações de poder no país.  
 
Mudou tudo? Sim, mudou tudo, pois nunca estivemos tão perto de debater o projeto administrativo de um país como agora, com a experiencia de Lula presidente, com todas as bravatas que ele é capaz, mas também apontando um novo caminho para o país, que não é uma coisa tão fácil. O Brasil agora se compreende entre "antes" e "depois" de Lula. Claro que lula também é um cara equivocado, mas foi quem teve a capacidade de encarar de frente um projeto de governabilidade!
 
A vitória de Ricardo Coutinho é importante para a conquista de um novo plano de governo para o estado, em bases diferentes, partindo do pressuposto de que tentar tirar o estado da "masmorra" em que está, no contexto do jogo democrático permitido, possbilita inclusive que se tenha que se aliar com certos enganadores, estando num beco sem saída como ele ficou, com o "desapoio estratégico" de Maranhão (o que quer dizer que não se pode confiar mesmo nesse tipo de saída). 
 
Participo da campanha de "Ricardo Governador" como artista e como prestador de serviço da prefeitura (trabalhando na Funjope), por entender que todos devem procurar uma saída política para suas vidas, base na qual se apoiará a nossa capacidade propositiva de governar junto com ele, em caso de vitória. Eu não tenho dúvida, mesmo com as alianças equivocadas que ele tem feito ao longo dos anos de sua carreira política. Ele é ainda merecedor do voto popular, por um futuro político mais realista para o estado da Paraíba. 
 
Sem truques! E sem mistérios!
 
 abraços em todos.

8.9.10

Dado Villa-Lobos esperando a foto

Dado Villa-Lobos e Cristina Braga na Parahyba

Legião 1992 / Dado Villa-Lobos 2010

A maioridade da Legião Urbana na Parahyba!

Legião Urbana, 05 de setembro de 1992 (Hotel Tambaú)


Dado Villa-Lobos, 07 de setembro de 2010 (Museu São Francisco)

30.8.10

Antes Azul


Este mar baldeado do Cabo Branco
Representa com exatidão a turbidez
De meus sentimentos
Inebriados por solavancos
Causadores da queda inescrupulosa
Das barreiras

Mescla de barro, aforismos
E morbidez

Derrama-se minha derradeira lágrima
Composta de lama
Que denigre a água
Antes azul