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20.12.06

Nós não vamos pagar nada

No início da década de 90 eu estudava eletrônica na Escola Técnica Federal da Paraíba e morava no Bairro dos Estados. A única opção viável para minha locomoção era o SETUSA 1001, que circulava Mandacaru-Jardim Planalto. Nada mais eficiente e justo que um estudante de ensino médio pudesse tomar apenas uma condução e não pagar nada por ela. Nós estudantes, entrávamos pela porta da frente. A SETUSA, e os SETUSÃO, fizeram parte da história da cidade, viraram música e ganharam até uma Melô (do SETUSA!). Para além da extraordinária ação gratuita, as novas linhas ligavam a cidade inteira e faziam os percursos que os ônibus dos empresários não queriam fazer. Além disso, ligavam sonhos, pois no meu caso, utilizava a linha 1001 para visitar uma grande amiga no Jardim Planalto. De posse de meu toca-fita-cassete (de pilha) e uma meia dúzia de fitas da Legião Urbana, pegava o 1001 em frente de casa e saltava em frente a casa dela e passávamos horas brincando, conversando e vivendo a adolescência. Para nós a SETUSA era mais que um sistema de transporte público, era a possibilidade de realizarmos nossos sonhos de deslocamento na cidade, pelos encontros com os amigos e pela nossa assiduidade na Escola Técnica (às vezes íamos três vezes ao dia).

Mas, o sistema capitalista é implacável. O descontentamento do empresariado foi acabando aos poucos com os sonhos. Os ônibus começaram a quebrar intermitentemente, os motoristas não paravam mais para os estudantes e idosos e toda uma articulação foi montada para que a população começasse a acreditar que o sistema só trazia dor de cabeça. Eu mesmo fui expulso duas vezes de um SETUSA. Na primeira vez em plena Vasco da Gama. Ao tentar tomar o 1001, ao meio dia e faminto, o motorista simplesmente disse-me que eu não entraria do ônibus e fui posto da porta para fora. A segunda vez foi no 1500. Eu estava fazendo o estágio curricular obrigatório da Escola Técnica no Hospital Universitário, estava fardado e com a carteira de estudante. Ao subir no SETUSÃO o motorista, incauto, falou que ali não era minha escola e que eu não poderia seguir viagem. Dessa vez resisti e entrei no ônibus. O já articulado motorista (talvez com os empresários, que deveriam ter prometido mundos e fundos para a categoria) desligou o motor, desceu do ônibus e disse que não seguiria viagem enquanto eu estivesse dentro do coletivo. Naquele instante fiz o mínimo que poderia ter feito. Reuni todos os passageiros expliquei o que estava acontecendo e fizemos uma assembléia. Debatemos as intenções do governo, dos empresários e quais eram os planos para acabar com o sistema. Tentei controlar minha ira e após deliberação coletiva, desci do ônibus, pois o motorista, irredutível, não iria seguir viagem e eu estava prejudicando a maioria dos passageiros que já estavam atrasados.

Até hoje analiso nossa desarticulação. Não lembro de termos feito uma passeata, uma manifestação em favor do SETUSA e contra o Governo Maranhão-Cunha Lima (é bom não esquecer que eles são aliados e inventaram um rompimento para fazer alternância de poder) que “sucateou” o sistema deliberadamente e com a articulação dos empresários.

Fica a agora o mote para reativar o SETUSA e quem sabe lutar por ainda mais. Fazer todo o sistema de transporte estatal gratuito e de qualidade para tod@s. Mandar para o exílio todos os empresários de transporte, confiscar o nosso dinheiro que está na mão deles e construir uma nova sociedade. Podemos lutar para termos, como diria Milton Nascimento, "os Meninos e o Povo no poder!!!".

Fim das empresas particulares de transporte!!!!

Pela estatização do sistema de transporte!!!

Os Meninos e o Povo no poder!!!!


"Quando o extraordinário se tornar cotidiano, fizemos a Revolução" - Che Guevara

Saudações,

Lauro

-----Original Message-----
From: Ivaldo Gomes
To: parayba_pb@grupos.com.br
Date: Mon, 27 Nov 2006 13:48:31 -0300
Subject: [parayba_pb] Nós não vamos pagar NADA!!!


>>"NÓS
NÃO VAMOS PAGAR NADA!!!"
>>
>>Mais uma vez nos deparamos com um aumento abusivo e inconstitucional


>>(acima da inflação) aprovado pelo nosso nada democrático Conselho
>>Tarifário. Mais uma vez os estudantes se encontram surpresos com um
>>aumento "em cima da hora", sem nenhuma articulação pronta, sem
faixas,
>>cartazes ou carros de som prontos para ir às ruas. Mais uma vez
iremos nos
>>deparar com depoimentos de algumas donas-de-casa que, segundo
jornais de
>>ética duvidosa, acreditam que: "essas manifestações dos estudantes
não
>>levam a NADA".
>>
>>NADA porém, será o valor máximo aceito pelos estudantes enquanto
houverem
>>sucessivos aumentos nas tarifas do Transporte Coletivo da cidade,
pois
>>NADA, é o que uma mãe pode fazer quando procura moedas nos bolsos e
não
>>encontra a possibilidade do filho ir, normalmente, mais um dia para
a
>>escola. Nada também é o que nós estamos vendo ser feito pelos
Governos
>>Municipais, Câmaras e pela Assembléia Legislativa do nosso Estado
para
>>resolver o grave problema do Transporte Coletivo.
>>
>>O direito ao transporte, significa a possibilidade de um estudante
acordar
>>pela manhã, pegar um ônibus para a escola e assistir às suas aulas
>>normais; com seu direito garantido ele poderia voltar para casa,
almoçar,
>>e voltar à escola para usar o laboratório de informática, a
biblioteca, a
>>quadra, se reunir com os amigos. Significa para sua família a
>>possibilidade de investir, aquilo que investia em transporte, em
saúde,
>>educação, lazer e cultura; significa mais dinheiro circulando no
mercado
>>local, mais gente nos teatros, cinemas e parques da cidade. E isso
não é
>>querer demais!
>>
>>Sem contar com os inúmeros exemplos de mobilizações e conquistas
reais do
>>Movimento Estudantil pelo país, na luta pela redução do custo do
>>transporte na renda familiar, temos na Paraíba, alternativas já
>>concretizadas em nossa história para resolver o problema do
Transporte
>>Público no Estado. Em 1º de setembro de 1988, era sancionada a Lei

>>5.081, pelo então Governador Tarcísio de Miranda Burity, autorizando

o
>>Poder Executivo a criar o Serviço Estadual de Transportes Urbanos
S/A
>>(SETUSA), uma empresa de ônibus estadual. Seu artigo 6º dizia:
>>
>>"Art 6º - Fica o Poder Executivo autorizado a:
>>
>> I - subsidiar, em até 100% (cem por cento), na forma que
dispuser em
>> decreto, o valor de passagem dos estudantes, crianças e idosos,
Policiais
>> Civis e Militares, Ex-Combatentes, Oficiais de Justiça e outras
>> categorias funcionais que dependem da utilização de transporte
coletivo
>> para o cumprimento de suas funções" (ver "Leis Estaduais" em
>>
www.al.pb.gov.br
)
>>
>>Os trabalhadores pagavam preço de custo para manutenção do sistema.
>>E porque não existe mais? Foi sucateado nos governos seguintes em
>>benefício das empresas privadas, e aprovada a sua liquidação em 1996

pelo
>>então Governador José Targino Maranhão.
>>
>>O que fazer??? Temos nas mãos a possibilidade concreta de reativar
um
>>serviço ainda mais revolucionário que a famosa (e pouco divulgada)
"Lei do
>>PASSE LIVRE" aprovada em 2004 em Florianópolis garantindo livre
acesso a
>>TODOS os estudantes no Transporte Coletivo da cidade, eu disse TODOS


>>porque para os estudantes das escolas públicas estaduais e
municipais esse
>>direito já é garantido pelos artigos 208 da Constituição Federal e
artigos
>>10 e 11 da LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional), e é
>>executado em várias cidades como Rio de Janeiro, Florianópolis e
Curitiba.
>>
>>Em Florianópolis o subsídio necessário para garantir o transporte
dos
>>estudantes girava em torno de R$ 15.000.000,00 (quinze milhões de
reais).
>>Achou caro??? Pois leia abaixo um trecho do discurso do Prefeito
Ricardo
>>Coutinho proclamado na Câmara Municipal em fevereiro deste ano:
>>
>>"O rígido controle do dinheiro, pela Secretaria de Finanças, também
>>permitiu que, além de obras e serviços, fossem quitados débitos
históricos
>>com fornecedores, indenizações e precatórios no montante de R$
>>33.211.000,00 (trinta e três milhões, duzentos e onze mil reais).
Hoje, a
>>Prefeitura não deve mais nenhum precatório trabalhista." (Prefeito
Ricardo
>>Coutinho em 21/02/2006)
>>
>>Tudo que foi dito acima tem o objetivo de deixar claro que a nossa
luta
>>agora não é por um simples bloqueio de mais um reajuste
inconstitucional,
>>nem pela simples redução dessa tarifa absurda para uma cidade como
João
>>Pessoa. Para garantir o sucesso, a nossa luta deve estar diretamente


>>ligada a um objetivo claro de reforma profunda no atual sistema de
>>Transporte Coletivo onde seja destacado o caráter PÚBLICO deste
benefício.
>>
>>Nossa única obrigação é fazer com que os governantes cumpram suas
leis e
>>as exigências do povo. Nada mais!
>>
>>Diego Nobre
>>Centro Acadêmico de História
>>Movimento Levante UFPB
>>Comitê Estudantil de Lutas