Páginas

11.12.07

MAPA MUNDI


Visitor Map
Create your own visitor map!

Rapel negativo no município da Borborema/PB

Quando você se dispõe a fazer um rapel nunca imagina qual o grau de dificuldade. Geralmente nem é bom perguntar ao instrutor o que de fato nos espera. Mas este rapel na Borborema foi realmente inopinado. Só soube que era um rapel negativo depois de iniciá-lo e aí meu amigo, não tem mais volta! Adrenalina pura!

minha metade anda calada, sem rima nem foto, nem arte nem gosto - a outra metade continua escutando:


Oswaldo Montenegro

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.
E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

22.11.07

Parafraseando Darcy Ribeiro

Detestaria estar no lugar de quem me venceu

15.11.07

Propostas do Prof. Walney - Candidato a Direção do CEFETRN (Uned Mossoró-RN)

WALNEY DIRETOR
(CEFETRN - Uned de Mossoró)
"SAUDAÇÕES A QUEM TEM CORAGEM!"

Apresentação do Plano de Ação 2008-2011
Visitem, deixem suas opiniões e participem dos fóruns e das enquetes!

Gestão Democrática e Transparente
- Criação de Fóruns Democráticos, com reuniões bimestrais, envolvendo servidores e alunos, com o objetivo de discutir a dinâmica institucional;
- Orçamento Participativo, com a definição de prioridades nos Fóruns Democráticos;
- Transparência na utilização dos recursos, tornando público o orçamento bimestralmente (via internet, mural e Fóruns Democráticos);
- Criação de Comissões Descentralizadas, com o intuito de discutir e estabelecer critérios na escolha de servidores para participar de Coordenadorias, Projetos, Disciplinas em cursos esporádicos e de especialização, etc.;
- Criação de Comissão de Capacitação, com o intuito de discutir e estabelecer critérios para liberação de servidores para cursos de pós-graduação;
- Eleição direta para Chefes de Departamentos, com paridade nos votos (alunos e servidores);
- Consulta para escolha dos Coordenadores de setores específicos da administração, por parte dos servidores vinculados aos respectivos setores;
- Definição das políticas de Ensino, Pesquisa e Extensão por princípios democráticos;
- Estímulo e incentivo a criação do Diretório Acadêmico e DCE e reestruturação do Grêmio Estudantil Livre;
- Discussão coletiva na escolha das áreas de seleção e concurso para servidores efetivos e substitutos.


Valorização dos Profissionais da Educação (Professores, Administrativos e Pessoal Terceirizado).

· Maior integração dos servidores da casa;
· Recepção a Servidores Novatos;
· Programa de Formação Continuada para profissionais da Educação Profissional;
· Definição das políticas de capacitação com transparência e democracia;
· Curso de educação básica e qualificação profissional para pessoal prestador de serviço terceirizado em serviços gerais do CEFETRN;
· Estímulo e incentivo a práticas pedagógicas inovadoras;
· Estímulo e incentivo ao atendimento e prestação de serviço público de qualidade;
· Estímulo e incentivo a formação de grupos de estudo e pesquisa;
· Apoio institucional para ingresso em Programas de pós-graduação;
· Valorização dos Servidores Administrativos no Desempenho de Cargos e Funções Técnicas;
Igualdade de condições para o acesso e permanência na Escola

· Permanência e aperfeiçoamento do Curso Preparatório Gratuito ao Processo Seletivo para CEFET-RN (Candidatos com Baixa Renda);
· Ampliação do número de vagas para alunos de Escola Pública;
· Curso de educação básica e qualificação profissional para pessoal prestador de serviço terceirizado em serviços gerais do CEFETRN.
· Laboratórios com equipamento e suprimentos adequados;
· Busca da ampliação da oferta de transportes urbanos em parceria com as Universidades, Associações Comunitárias, DCE das Universidades e Grêmios Estudantis; Luta pelo Passe Livre;
· Curso de qualificação para atendimento a portadores de necessidades especiais;
· Implementação do Programa de Qualidade de Vida (PQV) do CEFETRN
· Horta Comunitária e Segurança Alimentar e Nutricional para alunos e servidores (alimentação saudável e balanceada);
· Ampliação das ações de assistência estudantil e apoio ao estudante da zona rural
Ingresso no Mundo do Trabalho

· Programa de Relações Empresariais
· Melhor acompanhamento dos Estágios
· Convênios com empresas públicas e privadas
· Parcerias com empresas públicas e privadas
· Intercâmbio Institucional
· Banco de oportunidades de Empregos
· Incentivo a criação de Empresa/Cooperativa de Serviços
· Programa de empresas incubadoras
· Definição da oferta de cursos e currículos por critérios que considerem o contexto social, a vocação local e a demanda ocupacional empresarial e econômica.
Ações Gerais

· Arborização e urbanização do CEFETRN (plantio de árvores frutíferas e ipês amarelos);
· Implementar a Rádio Escola;
· Maior apoio à SEMADEC;
· Redimensionamento da EXPOTEC;
· Processo de desburocratização do CEFETRN;
· Comissão Interna de Prevenção de Acidentes;
· Instalação da tecnologia VOIP, reduzindo custos com a telefonia convencional.

13.11.07

um pit bull em minha casa







Uns quinze dias atrás fui surpreendido com um cão da raça pit bull em minha casa. Tratava-se de um dos cães do vizinho, que pulou o muro, atravessou a área e já estava quase na sala. Colocou a cabeça para dentro, fitou-me e voltou para a área. Levei um grande susto e consegui correr para trancar a porta. Gritamos pelo outro vizinho, que alertou o "dono" do indigesto animal do ocorrido. Dia seguinte, fui reclamar com o "dono" da fera, já que o mesmo nem apareceu para pedir desculpas. Prometeu-me levantar o muro. Hoje pela manhã o já esperado aconteceu de novo. Evidentemente que o vizinho não levantou o muro, conforme prometera. O cão apareceu novamente e fiquei em casa preso, esperando o vizinho perceber o fato. Entrementes, liguei para a polícia. O policial-atendente disse-me apenas que neste caso só haviam duas soluções. A primeira, inopinada, seria matar o animal (insinuando que eu poderia, neste caso, atirar no cão já que o mesmo havia invadido propriedade alheia). A segunda ligar para o Centro de Zoonoses (para tanto era só discar 102). Realmente num país de descaso e miséria, seria muita boa vontade alguma "autoridade" acudir um apavorado cidadão, por causa de um cãozinho na sua própria casa. Restou clamar pelo outro vizinho novamente. À noite conversei com o "dono" da fera. Sorridente contou-me histórias sobre seus medos já superados com cães. Mostrou-me marcas (para mim invisíveis) de mordidas na perna e prometeu levantar o muro, pasmem, daqui a um mês. Ainda bem que não sou uma pessoa intempestiva, pois se fosse, malgrado o sorriso cínico do vizinho, teria-lhe acertado um cruzado de direita. Deixo as fotos do ocorrido, esperando que a próxima notícia que vocês tenham de mim não seja dilacerado pela boca violenta desse cão com fama de assassino e criado por pessoas de um mau gosto terrível.

6.11.07

Perseguições, baixarias e muxoxos – uma pequena história sobre processos eleitorais

Esta é a semana para inscrição de candidatos para Diretor Geral do CEFETRN e Diretor das Uned´s. Nesses últimos oito anos de funcionalismo público participei de processos eleitorais para Reitor na UESB e na UERN. As duas experiências foram repletas de "fortes" emoções, que eu espero não assistir nesse processo do CEFETRN. O diferencial é que nas duas universidades, trabalhei em Campi Avançados e não existia o processo de escolha de "Reitor" geral e "Reitor" local, o que, de certo modo, retirava a tensão peculiar do processo eleitoral que ficava concentrada no Campus Central. O processo eleitoral na UESB foi muito tenso. Existiam três candidaturas: uma de situação ligada ao PT/PCdoB, outra de oposição ligada ao carlismo e uma terceira de oposição às duas (mais à esquerda). O interessante naquele processo era a possibilidade do voto "camarão", ou seja, podíamos votar no Reitor de uma chapa e no vice-reitor de outra. Havia um acordo, entre os candidatos, para que a paridade dos votos prevalecesse como escolha decisória da consulta, mas seriam apurados os votos em todas as modalidades possíveis: proporcionalidade, paridade e voto universal.
Com a campanha na rua, os ataques, as blasfêmias e todo tipo de artifícios eram utilizados pelos candidatos e seus adeptos, afinal estava no páreo uma luta histórica contra o carlismo e, invariavelmente, os candidatos vencedores seriam os futuros deputados estaduais da região (o que se confirmaria posteriormente). Como optei pelo voto camarão, gerei uma celeuma dentro do grupo de trabalho que eu pertencia. Acreditei nas propostas da candidata a reitora mais à esquerda e, naquela época, ainda estava vinculado ideologicamente ao PCdoB, gerando uma relação quase institucional com a candidata à vice-reitora na outra chapa. Tempos difíceis... Essa atitude deixou-me desconfortável nos dois flancos, pois qualquer agremiação, num processo eleitoral altamente politizado como aquele, necessitava de apoios incondicionais. Porém, tentei manter a coerência política e isto me custou a amizade de bons profissionais, que não conseguiam distinguir o processo eleitoral (e suas incongruências) das relações no ambiente de trabalho.
Não sei se a última dor é a que sempre dói mais. A eleição para Reitor da UERN foi um processo muito desgastante. Quem conhece um pouco da história da instituição sabe dos problemas institucionais que ela carrega, e o antigo reitor era figura ímpar nos quadros reacionários de uma universidade que precisa muito aprender os conceitos de democracia e liberdade. Fazer oposição na UERN é quase como ser compreendido como um inimigo mortal dos mandatários do poder. Sendo oposição e perdendo as eleições, serás para sempre desapropriado de qualquer possibilidade de crescimento profissional. Mas, os riscos existem para serem corridos e não podemos abdicar de nossos ideais, mesmo que para isso exista o preço da perseguição política. Atirei-me ao processo eleitoral e juntei-me ao grupo de oposição. Debatemos propostas, escrevemos textos – exposição ao máximo. As urnas falaram o já esperado e o candidato de situação foi eleito, prometendo não perseguir ninguém, oferecendo inclusive uma Pró-Reitoria para os “derrotados”, o que para mim foi uma incoerência sem tamanho do grupo de oposição.
Nesses dois processos vi de tudo. As tentativas de candidaturas “laranjas”, expostas apenas para filtrar os votos da oposição. Uma atitude inescrupulosa e sem princípios éticos que deve ser abominada por aqueles que se dizem democráticos; A cooptação de discentes, utilizados inclusive como “bucha de canhão”, metralhadoras ambulantes a serviço de um dado candidato; A eterna confusão entre discutir idéias e querer “tomar” o cargo de outrem, nivelando o debate por baixo e afastando, da ordem do dia, a necessidade imperiosa de discutir projetos institucionais; A prática maniqueísta que “endeusa” uma candidatura e transforma a outra numa seção especial do diabo na terra, tornando a discussão do projeto institucional algo secundário; O velho e arraigo discurso de que “se você não votar em mim, perderá as benesses ou cargos que ocupa”, transformando o processo eleitoral em moeda de troca e afundando de vez as possibilidades de um debate profícuo.
Espero que dessa vez não seja preciso passar por tudo isso. Que possamos vivenciar um processo eleitoral com idéias maduras, atitudes coerentes e vinculadas a um projeto institucional. Tanto na UERN, quanto na UESB, geograficamente era muito difícil passar por um dos candidatos nos corredores das instituições. No CEFETRN (Uned Mossoró), isso é um fato cotidiano, o que não permite que a discrepância ideológica seja motivo de muxoxos e perseguições políticas envidadas de ódio e rancor – para o bem da Instituição Escolar.
Lauro Pires Xavier Neto
Professor do CEFETRN (Uned Mossoró)

10.10.07

HASTA SIEMPRE, COMANDANTE!

Os ataques da "revista" veja à Che Guevara podem demonstrar o medo que suas idéias causam ao imperialismo. Passados 40 anos de seu assassinato na Bolívia (leia-se CIA), Che Guevara é antônimo da sociedade capitalista: egoísta, consumista, mesquinha e indiviadualista. O sentimento altruísta de Che é a marca indelével de sua vida e explica o porquê de sua luta em favor dos povos. Soldadinho boliviano, você matou apenas um HOMEM!
Hasta La Victoria Comandante CHE GUEVARA!

2.10.07

Os Ipês Amarelos da Lagoa - João Pessoa - PB

















Lembranças da infância!!!

Os ipês amarelos de João Pessoa - PB


Quando adolescente frequentava a "Lagoa" de João Pessoa e ficava sentando nos bancos esperando as folhas dos Ipês caírem. Muitas vezes sozinho, pensando na vida. Depois li um texto do meu avô recomendando à visita ao tapete amarelo deixado pelas árvores. Ano passado registrei os Ipês e, para além da beleza deixada pelas folhas caídas, captei o excluído, indiferente àquela paisagem, apenas deitado, com a barriga vazia, com o sonho do próximo alimento e o véu amarelo encobrindo seu corpo.

10.8.07

Ytalo Mota, amigo da época da ETFPB, depois do curso de educação física - grande poeta (Reflexões Poéticas, 2007)

Cidade estranha II (Ytalo Mota)


“Ao ler cidade estranha de Lauro Neto não me contive”


Ontem à procura da praia
Aonde?

Internet : informal e companheira

E eu, poeta, que gosto de gente
professor que gosta de gente

Ainda não sei andar por ali,
Por aqui também não

Às vezes, lugares novos, pessoas novas
Frio na multidão

Em retas e morros, vejo-me
Andando em círculos

Escravo de quê?
Dono de nada

Entrego-me a um copo d´água
Inodoro, insípido

Mas, ainda tenho cor,
Mimético para me enxergar aqui
Sem perder o traço original de personalidade

Os livros me rodeiam, pergunto-lhes...

Objetivos e sonhos não me largam
Sustentam-me, colocam-me no chão

Ainda estou por descobrí-la,
Cidade estranha...

31.7.07

Zico, Nunes e Mozer em 1986


Estive uma única vez no Rio de Janeiro-RJ, em 1986. Ainda criança não poderia deixar de assistir um jogo beneficente de futsal, com a presença dos melhores jogadores de futebol da época. Lembro do momento mágico quando consegui pegar os autógrafos de Nunes e Mozer. Especial, então, foi quando, esticando o braço ao extremo entre ferros e dores, consegui que ZICO me concedesse um minuto de êxtase. Coloquei fita adesiva nessas preciosidades que já duram 21 anos!

29.7.07

ops, esqueci de tirar o zoom!

se estou triste, me curo com o mar, sem tesão, idem, sem perspectivas, também - viva o mar!



acho que faltava uma flor nesse blog... (Assentamento Boa Fé - RN) A camponesa, apesar da falta d´água, cultiva suas flores




água é na cisterna (enquanto dure)

A COPA DE 82 - o mundo não acabou

Tenho guardado em mim a dor de um menino de oito anos que viu conscientemente, pela primeira vez, o futebol brasileiro perder uma Copa do Mundo. Tenho guardada em minha memória aquele escrete, do goalquíper ao, digamos, ponta esquerda (quem não lembra do: "bota ponta Telê"?) e não recordo de quase nenhum jogador (?) da última Copa. Tenho em mim aquele desejo peremptório de ver Zico, Oscar e Leandro jogando (naquela época meus ídolos). Tenho guardada a lágrima que percorreu minha face, quando o árbitro encerrou a partida e saímos de campo perdedores. Lembro minha mãe dizendo, já em 86, que não deixaria eu assistir a próxima Copa, caso eu continuasse "daquele jeito triste"... Pois é, aquele jogo nunca terminou, mas como Drummond já dizia, o mundo continua girando e ainda estamos no meio do ano!!!

Tive acesso a esse texto do grande Poeta com 25 anos de atraso, mas vale para qualquer época ou qualquer derrota...

Carlos Drumoond de Andrade, Jornal do Brasil, 21 de junho de 1982

Vi gente chorando na rua, quando o juiz apitou o final do jogo perdido; vi homens e mulheres pisando com ódio os plásticos verde-amarelos que até minutos antes eram sagrados; vi bêbados inconsoláveis que já não sabiam por que não achavam consolo na bebida; vi rapazes e moças festejando a derrota para não deixarem de festejar qualquer coisa, pois seus corações estavam programados para a alegria; vi o técnico incansável e teimoso da Seleção xingado de bandido e queimado vivo sob a aparência de um boneco, enquanto o jogador que errara muitas vezes ao chutar em gol era declarado o último dos traidores da pátria; vi a notícia do suicida do Ceará e dos mortos do coração por motivo do fracasso esportivo; vi a dor dissolvida em uísque escocês da classe média alta e o surdo clamor de desespero dos pequeninos, pela mesma causa; vi o garotão mudar o gênero das palavras, acusando a mina de pé-fria; vi a decepção controlada do presidente, que se preparava, como torcedor número um do país, para viver o seu grande momento de euforia pessoal e nacional, depois de curtir tantas desilusões de governo; vi os candidatos do partido da situação aturdidos por um malogro que lhes roubava um trunfo poderoso para a campanha eleitoral; vi as oposições divididas, unificadas na mesma perplexidade diante da catástrofe que levará talvez o povo a se desencantar de tudo, inclusive das eleições; vi a aflição dos produtores e vendedores de bandeirinhas, flâmulas e símbolos diversos do esperado e exigido título de campeões do mundo pela quarta vez, e já agora destinados à ironia do lixo; vi a tristeza dos varredores da limpeza pública e dos faxineiros de edifícios, removendo os destroços da esperança; vi tanta coisa, senti tanta coisa nas almas...
Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo. Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos: começar de novo.
Certamente, fizemos tudo para ganhar esta caprichosa Copa do Mundo. Mas será suficiente fazer tudo, e exigir da sorte um resultado infalível? Não é mais sensato atribuir ao acaso, ao imponderável, até mesmo ao absurdo, um poder de transformação das coisas, capaz de anular os cálculos mais científicos? Se a Seleção fosse à Espanha, terra de castelos míticos, apenas para pegar o caneco e trazê-lo na mala, como propriedade exclusiva e inalienável do Brasil, que mérito haveria nisso? Na realidade, nós fomos lá pelo gosto do incerto, do difícil, da fantasia e do risco, e não para recolher um objeto roubado. A verdade é que não voltamos de mãos vazias porque não trouxemos a taça. Trouxemos alguma coisa boa e palpável, conquista do espírito de competição. Suplantamos quatro seleções igualmente ambiciosas e perdemos para a quinta. A Itália não tinha obrigação de perder para o nosso gênio futebolístico. Em peleja de igual para igual, a sorte não nos contemplou. Paciência, não vamos transformar em desastre nacional o que foi apenas uma experiência, como tantas outras, da volubilidade das coisas.
Perdendo, após o emocionalismo das lágrimas, readquirimos ou adquirimos, na maioria das cabeças, o senso da moderação, do real contraditório, mas rico de possibilidades, a verdadeira dimensão da vida. Não somos invencíveis. Também não somos uns pobres diabos que jamais atingirão a grandeza, este valor tão relativo, com tendência a evaporar-se. Eu gostaria de passar a mão na cabeça de Telê Santana e de seus jogadores, reservas e reservas de reservas, como Roberto Dinamite, o viajante não utilizado, e dizer-lhes, com esse gesto, o que em palavras seria enfático e meio bobo. Mas o gesto vale por tudo, e bem o compreendemos em sua doçura solidária. Ora, o Telê! Ora, os atletas! Ora, a sorte! A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos.
E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?

Nascer do sol em São José de Touros - RN

"mini" catavento em Macau-RN

como pode? Em pleno mar, trabalhadores escanteados pelo sistema, com tanta fartura por aí?

São Miguel do Gostoso - RN

26.7.07

Eu desisti

Eu desisti de tentar sonhar
De acreditar em transformar
Um meio mundo de pessoas
Que não enxergam meio palmo

Eu desisti de achar que posso ser feliz
Cercado de meio mundo que só pensa em si
De consciências que mal valem o peso do acreditar
Em sonhos que um dia acreditei ter

Trocados por dois tostões
Desejos se dilaceram
Vontades adormecem
Crianças choram ao meu lado
E nada mais posso fazer

Por que a desistência é infinita
No tempo e no desejo
Mas pode durar dez minutos
E ser tão contraditória quanto meu desejo
De não querer desistir

A arrogância me adormece
No ranço dos estúpidos que vomitam sua falsa superioridade

O desejo inexiste
A vontade de desistir impera
Sobre os escombros insiste em calar a doce voz

Mas, por enquanto, desistirei dos mais belos sonhos
E quando acordar, saberei se foi apenas uma fase da lua
Ou a destruição completa do planeta.

21.7.07

Já vai tarde...

Já vai tarde...

Estou lendo “Batismo de Sangue” de Frei Betto, um relato minucioso dos execráveis tempos da ditadura militar no país, com ênfase na luta do guerrilheiro popular Carlos Marighella e sua ligação com os Freis Dominicanos. Ênio Silveira escreve na contracapa do livro o sentimento que traz sobre um dos Dominicanos, Frei Tito (preso e torturado pela ditadura) e sobre o abominável Sérgio Fleury (articulador maior das torturas). O primeiro, para Silveira, representou, simbolicamente, o “limite máximo de grandeza” e o segundo o “limite máximo da miséria da condição humana”. O livro de Frei Betto, assim como o filme, está na ordem do dia de um país que não deve esquecer quem esteve (e está) ao lado do povo e quem são as figuras que mataram, espancaram, perseguiram e estupraram uma geração inteira de brasileiros que sonharam com a liberdade.
Neste momento, da morte de um algoz da liberdade humana, é importante relembrar o quanto certas pessoas contribuíram para o retrocesso das forças populares no Brasil. Toinho Malvadeza representou, ao longo da história, o que é de mais desprezível na figura de um ser humano. Alguns jornais, ao fazerem sua retrospectiva, mostram o escândalo do painel do senado como algo de mais grave na histórica do político baiano. Esquecem, deliberadamente, das ações truculentas e anti-povo promovidas e articuladas pela mente nefasta de Toinho. Os tablóides mostram a relação de Malvadeza com a ARENA, UDN e a ditadura militar de maneira idílica, sem estabelecer laços concretos com a tortura, a perseguição política, a troca de favores e a manutenção do sistema capitalista.
Estive frente a frente com Toinho Malvadeza apenas uma vez, o suficiente para crer que todas as assertivas contra o coronel eram verdadeiras. Em outubro de 2001, eu era professor recém contrato (através de concurso público) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em Jequié. Em poucos meses de trabalho na Universidade, senti o descaso por parte do governo estadual com o ensino público. Verifiquei na Bahia altos índices de exclusão social, principalmente nas cidades do interior. Ao mesmo tempo senti um clima de indignação, por parte de diversos setores, com os rumos políticos tomados durante anos pelo grupo de Malvadeza, principalmente por parte dos estudantes.
Em 25 de outubro de 2001, em Jequié, seria inaugurada uma avenida, que levava o nome de um dos bajuladores políticos do infame político carreirista. Ficava imaginando como seria possível dar o nome de uma avenida a um político ainda vivo e contar na sua inauguração com o próprio dito cujo – comenda irrepreensível para encher o ego do próprio e macular na mente da população o nome do ‘gracioso’ e ‘trabalhador’ cidadão. De pronto, lançamos a campanha para nomear, paralelamente, o nome da artéria viária de Avenida da Paz, na tentativa de desviar o interesse político da obra.
Evidentemente que Toinho Malvadeza não iria perder a grande festa de inauguração da avenida. Dotado de jatinho particular, evitando as estradas esburacadas que faziam o percurso Salvador-Jequié, aterrissou em solo jequieense para a grande festa. Evidente também, que não poderíamos perder a oportunidade para demonstrar nosso descontentamento com a política sinistra daquele governo.
Os alunos do Diretório Central dos Estudantes da UESB começaram a pensar nos preparativos para o ato político. Recebemos o reforço de Augusto, então estudante de direito da Católica de Salvador. O clima era tenso e muitos estavam preocupados com a quantidade de policiais militares na cidade, principalmente com a chamada P2, que eram os policiais à paisana que poderiam estar infiltrados na multidão. Lembrando os tempos da ditadura militar, montamos uma estrutura de reuniões secretas para articular como seria nossa ação.
Augusto, mais experiente, repassava as estratégias e de comum acordo aceitamos não realizar nenhum ato provocativo, para evitar represálias. Acordamos que utilizaríamos apenas faixas com frases clamando pela melhoria da universidade estadual.
No dia da inauguração nos encontramos nas proximidades da UESB. Fizemos as divisões por grupos, distribuímos as faixas e tomamos caminhos diferentes evitando a abordagem dos policiais e o possível seqüestro das faixas.
A multidão esperava o político do proselitismo, que havia montado uma superestrutura, com direito a som e palanque. Fizemos o reconhecimento da área e ficamos aguardando a fala de Toinho, dispersos entre a multidão e tentando esconder, inutilmente, as faixas.
No início do discurso de Malvadeza, levantamos simultaneamente as faixas, criando uma barreira entre o coronel e ‘seu’ povo. Breve pausa. Meu coração batia forte, as mãos frias mostravam a ansiedade e esperavam pelo pior. Do alto do palanque, pausadamente, Toinho Malvadeza desferiu o código: “Abaixem as faixas”.
Olhei para a aluna da UESB, na qual segurava a faixa comigo, e tudo estava em paz. Olhei para os lados e senti falta de uma das faixas, justamente a que Augusto portava. Senti a confusão no meio da multidão e vi uma correria de policiais. O caos estava armado. Depois da senha desferida pelo coronel, um P2 agrediu Augusto e outros policiais correram para prendê-lo, acusando o jovem estudante de direito, pasmem, de furtar um dos transeuntes. Tudo programado pelo cérebro estúpido do portador da miséria da condição humana.
Larguei a faixa e corri em direção ao ocorrido. Encontrei Augusto ferido, abatido e sendo carregado por dois policiais para a viatura. Instintivamente comecei a gritar com os policiais e a perguntar o que havia acontecido. Interessante é que aqueles policiais pareciam não entender o que estava acontecendo e diziam ter recebido “ordens superiores”. Do local do palanque até a viatura foi uma eternidade. Cheguei a entoar Vandré no ouvido dos policiais, mas fui reprimido por Augusto que temia pelo pior. Ao ser colocado na viatura, Augusto seguiu com o Promotor Público da cidade e com o Reitor da UESB para a delegacia, prestar depoimento.
Na delegacia Augusto prestou depoimento, foi liberado e sem seguida pediu a realização do exame de corpo delito, que só pôde ser feito no dia seguinte, pois havia ‘ordem superior’ de não realizá-lo. Terminamos o dia na calçada de delegacia, realizando uma ‘assembléia’ e avaliando o ato político.
Este é um pequeno relato de uma das atrocidades de Toinho Malvadeza. Imaginemos do que foi capaz esse algoz do povo brasileiro durante a ditadura militar, quantas pessoas agredidas, difamadas, dilaceradas, reprimidas, torturadas e talvez assassinadas pela miséria da condição humana. Pena que não houve tempo histórico para o seu julgamento popular.
Resta-nos grafar em sua lápide uma homenagem ao povo brasileiro: JÁ VAI TARDE!

Lauro Pires Xavier Neto
Professor do CEFETRN (Uned Mossoró-RN)





Pedimos que você leia esse ato de covardia do Governo da Bahia (Brasil) e repasse para o maior numero de pessoas. Um atentado contra a democracia e a livre expressão. O cidadão Antônio Carlos Magalhães (PFL/BA), durante a comemoração do dia do Município de Jequié BA (Brasil), em pleno palanque, ordena, em forma de código, que a PM (velada) agrida estudantes que, portando faixas, manifestavam melhores condições para as Universidades Estaduais. Esse fato ocorreu dia 25/10/01 às 17:00h.
Veja o que é capaz o cidadão Antônio Carlos Magalhães:


EXMO. SR.
DEPUTADO YULO OITICICA
M.D. PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS
DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DA BAHIA
SALVADOR – BAHIA


Prezado Senhor,


Pelo presente, denunciamos à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa da Bahia, as agressões físicas e a prisão arbitrária e truculenta sofridas pelo estudante do Curso de Direito da Universidade Católica do Salvador- UCSAL e Vice-Presidente Regional da UNE - União Nacional dos Estudantes, Augusto Sergio Vasconcelos de Oliveira, praticadas pela policia militar a mando do cidadão Antônio Carlos Magalhães, que desferiu ordem aos policiais, no momento em que discursava, para “abaixar as faixas”, carregadas pelos estudantes universitários, quando da inauguração de uma Avenida no município de Jequié, Estado da Bahia/Brasil, referente à comemoração do Aniversário da Cidade, em 25 de outubro de 2001.
Inconformados pelo descaso com que o Governo do Estado vem tratando o ensino superior, em especial a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB, os estudantes universitários fizeram um protesto silencioso, pacífico e ordeiro, apenas portando faixas cujo conteúdo solicitava melhores condições de ensino e mais verbas para as Universidades Estaduais. Foi o suficiente para que a Policia Militar e seguranças, investissem contra os estudantes distribuindo socos e pontapés, tentando coibir a manifestação estudantil, que culminou com a prisão arbitrária e truculenta do estudante Augusto de Oliveira, o qual foi acusado de furto numa tentava grotesca de difamar o citado estudante de Direito da UCSAL e desmoralizar o movimento. Não sendo apresentado nenhum objeto furtado e nem vítima, o Diretor da UNE Augusto de Oliveira foi liberado posteriormente, sendo acompanhado pela representante da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, Vereadora Rita Rodrigues, do Reitor da UESB - Prof. Waldenor Pereira Filho e pelo Promotor Público, Dr. Mauricio Cavalcante, os quais interviram a seu favor, afirmando ser o mesmo pessoa de boa conduta. Devido às agressões sofridas pelo estudante praticadas pela Policia Militar, foi solicitado a guia para exame pericial, sendo a mesma negada pela Delegada plantonista, Drª Joselita de Paula Pinto. A referida guia foi concedida posteriormente graças à intervenção do Coordenador da Policia Civil, Dr. Átila Brandão .

Assim, diante das arbitrariedades praticadas pela PM, as agressões sofridas pelos estudantes que exerciam seu livre direito de manifestação e suas justas reivindicações, solicitamos da Comissão de Direitos Humanos que seja registrado nos anais da Assembléia Legislativa, bem como o empenho nos encaminhamentos que serão tomados, diante do fato acima exposto.

Assinam,


DCE - Diretório Central dos Estudantes - UESB
UNE - União Nacional dos Estudantes
Vereadora Rita Rodrigues – Membro Titular da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal – Jequié/BA
APLB Sindicato
UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
UJS – União da Juventude Socialista
Sindicato dos Bancários - Jequié e Região
PCdoB - Partido Comunista do Brasil / Diretório Municipal
PT – Partido dos Trabalhadores / Diretório Municipal
SINDPAN – Sindicato dos Panificadores de Jequié/BA
PV – Partido Verde / Diretório Municipal
ADUSB – Associação dos Docentes da Universidade do Sudoeste da Bahia / UESB

9.7.07



Depois da brincadeira que fiz com a Heloisa Helena (de filmar sem ela saber, achando que seria uma foto), ela pediu para que eu filmasse de novo... a vingança


Mostrei a máquina para Heloisa Helena e perguntei: posso? Ela disse que sim, achando que eu bateria uma foto. Fiz aquela brincadeira do Serginho Groismann, de fingir que iria bater uma foto e passei a filmar - e ela esperando... Depois do beijo falei no seu ouvido: -tá filmando! Isso aconteceu em 05 de julho de 2007, no audiório José Marques (CEFETPB), durante o Congresso Extraordinário do SINTEFPB.

12.6.07

boeing 737

Fotos da terra e o sol aparecendo
Amigos caindo, escrevendo de longe
Cabeça confusa, esquerda perdida
A juventude canta em coro:
Tudo é imutável
O jovem da zona rural mal sabe o que é benefício
Uma fila no INSS e mais um é-vento na cabeça
O egoísmo, a maldade e a soberba
A TV nada nos diz
Operações da PF falam mais nos noticiários
Até que derrubem mais um boeing 737
Amigos caindo, a distância sufoca
Muitas ruas, muitos rumos, distâncias completas
Jovens fora da escola
E eles querem que o futebol
Livre-nos de todas das drogas
Juventude pobre, comendo osso e arrotando filé
Não militam, esperam, escutam o mp3
Nadam livres, em cabeças desossadas
Pobres vidas, esperando o sol apagar
Noite fria em colchão de cetim
O locutor na rádio anuncia:
É mais uma final de campeonato
Não posso perder o Alonso bater
Não posso gritar – a vida em um ato
O sino da escola bateu
E ainda falta responder a última questão da prova

3.6.07

CULTURA POPULAR

Em alguma praia do RN: um rádio antigo, uma bruxinha de vassoura, aguardente Gato Preto, um litro de Campari, uma barraquinha de taipa - sinônimos da cultura desse povo nordestino

o petróleo e o sofá

"Com tanta riqueza por aí...















...onde é que está? Cadê sua fração?"




O carroceiro fitava-me enquanto eu tentava registrar esse momento. Do meu lado, um rapaz pedindo dinheiro para aquela passagem de ida não-sei-para-onde. No boné do carroceiro está grafado "Grito dos/as Excluídos/as"... ao me ver diminuiu "a marcha" - talvez achando estranho o fotógrafo amador alterando sua rotina... o rapaz pedinte perguntava o óbvio: tirando foto, é?

JEM´S 2007

Equipe de Futsal Juvenil CEFETRN

14.5.07

Se houve algo marcante na minha vida, foi este passeio de bicicleta - saudades do som do mar


AS PORTAS

Quando abro as portas da solidão
Vejo que os sonhos continuam enterrados
E já não encontro mais quais eram os sonhos que sonhei
Tudo em vão?

Tua boca perfeita, teu sorriso branco
Igual lua prateada
Confunde os dedos dos meus pés

Deixa-me tonto, arrepiado
Amordaçado,
Sem conseguir fechar os olhos

Nesse filme, não sei mais o que é ficção
Ou obra lendária que insiste em me consumir

O garoto ao lado rosna, fede, pede uma esmola
Será que esqueci dos meninos famintos?
Será que minha força se foi com o meu desejo de não ficar tão só?

Tua camisa molhada, mostrando teu corpo
Desejo cego e solitário
Desejo que some por meses
E aparece como vulcão que me consome

Espero que a chuva caía e traga novos frutos
E a tinta fresca dos bancos seque antes do pôr-do-sol
Antes de dormir feche as portas
Pois a meia noite te encontro
Lugar-distante, vou te dizer
Bem longe e caminho sem volta
Caminho perdido – na esperança de te encontrar

13.5.07

Cidade Estranha

Ando solto pela cidade, em busca de alguma esquina
Mas, não quero encontrar o garoto taciturno
Que deixei abandonado em invernos passados

Um buraco, um solavanco
Tropeço em pernas tortas

E agora, na idade de Cristo
Sou um adolescente vagando em cidade estranha
A procura de uma fuga
E já sentindo a saudade do futuro incerto

Alquebrado me redimo
A resignação é maior que qualquer rua desconhecida
Cidade Estranha, não me encontro

E os amigos partiram - na busca incessante de estar vivo

Ligo a TV, escuto sons nefastos
Na rádio, músicas que não interessam
Plugado: sítios, paragens - reflexos do dia de ontem

Desconectado das baladas noturnas
Apenas o sono é companheiro fiel

Entre os erros, as esquinas e os becos
Ficam as feridas mal curadas
A Cidade Estranha irá me dizer

Quanto tempo mais?

12.5.07

Discurso na formatura do Curso Técnico em Manutenção de Equipamentos Hospitalares – ETFPB (1995)

“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recria-las”, já dizia Paulo Freire.
Fizemos parte, por dois anos, de uma turma dita técnica e para lembrar conceitos, acabamos recebendo informações (estímulo) e apresentamos respostas adequadas, bem ao tom da pedagogia tecnicista. Fomos criados com a idéia sustentadora de servir a um sistema e nos adestrarmos à profissionalização, servindo de mão-de-obra. Os métodos apresentados resgataram o professor-instrutor, uma máquina de ensino, “educando” seus alunos incontestáveis.
Pobre de nós, inertes criaturas de nenhum poder interrogador, que nem a tamanha importância do nosso papel foi revelada. Um profissional responsável pela manutenção da vida e que um equívoco momentâneo poderá agudizar a dor e levar a morte, não merecia tamanho descaso. Não iremos invocar culpados ou testemunhar contra fulanos. Infelizmente, é a nossa cara manchada pela imensidão da hipocrisia para com a saúde que gerou tamanha decepção. Hoje encontramos doentes enfileirados esperando horas até o momento final, crianças em becos cheirando cola, velhos mendigos “celebrando a aberração da nossa falta de bom senso”. Não seríamos nós os privilegiados por um novo começo ou a fundação do alicerce da consciência humana – ficamos somados ao imenso abismo do câncer do pensamento capitalista.
A maior dor é perceber tantas vozes caladas e tantas luzes apagadas, baixando a cabeça e se submetendo aos encalços de verdades traiçoeiras. Tantos colegas serviçais ao sistema escravizador que nos separa e obriga a livre concorrência – o mais forte é aquele estúpido que vence. Esses preceitos geram guerra e desarmonia, e o pior, cega olhos que muito nos têm a dizer e ensinar. Somos frutos da natureza e a ela devemos compartilhar atributos de vida e serenidade, em um só refrão.
Nesse derradeiro momento, já cimentadas todas as pedras dos nossos objetivos, gostaria de merecer de vocês um instante apenas de reflexão sobre os desejos insólitos de formação profissional, esperando que não sejamos submissos a poderes que escravizam e alienam, e sim, nos tornemos vontades próprias de poder viver!

11.5.07

o inverno tibetano

neste instante de dor, desejo estar congelado
geleira do Himalaia
adormecida pelo tempo

apenas teu sopro é o calor
do degelo

pelo menos assim,
sinto menos dor
apesar do frio em minha alma

desse modo, não sinto dor
adormecido, congelado, resfriado

pena que o Himalaia
está muito distante
muitos pés a caminhar

tão longe assim
meu coração não suportaria

pisaria em falso chão
quebraria o fino gelo
despencaria em brancas nuvens

melhor mesmo é aquecer-me em falsas verdades
ficar quieto e postar minhas angústias
mandá-las para bem longe

para depois reencontrá-las em mim mesmo

Fortaleza – 03/08/1995

Roubaram meu relógio. Um garoto em plena festa – FORTAL – em plena praia do Futuro (?). O imperceptível e impensável é saber quem gerou estranho ser, faminto, odioso, perecível, odiável. Viva a festa, Micareta, o circo ao nosso povo que não possui nem ao menos pão. Recebe o apoio da Prefeitura, do Estado, garantindo não só mais em fevereiro a comemoração de um povo idiota, que faz mês a mês do nosso país um eterno carnaval. Voltemos ao nosso garoto, escarrado da sociedade e andando em bandos, vivendo ao relento, fazendo da festa seu ganha pão, descobrindo chaves que possam abrir outras portas – diferentes daquelas que um dia foram fechadas. O mais interessante é a praia: do FUTURO. A praia dos sonhos do nosso garoto que não vive - vegeta. Viajar no passado desse garoto que um dia foi criança, resultado provável de uma necessidade fisiológica, é ter a certeza de não escolher os caminhos, pois jogaram na sua cara os ríspidos rumos de quem é marginalizado pelo sistema. Enquanto isso, megasons escorrem pelos ouvidos de milhares de foliões que pulam, brincam, dançam sem ódio de verdade. O verdadeiro folião está na moda, se embriaga no prazer do álcool. Nosso garoto é transformado, simplesmente, na embriaguez, no vômito, na ressaca, no câncer social, com direito a confetes e ypiocas – um gole antes de morrer. Não imagino vida em olhos que não amam, muito menos em não amados, só consigo ver sua angústia de apenas sobreviver, matando necessidades de furtos e drogas.
Leva o relógio, meu agora garoto-amigo. Mata tua sede de pão neste circo armado, esgota tua vontade de poder um dia ser feliz nessas redes traiçoeiras de “gente” e sistema que criam eternas festas, que empobrecem e alienam aos milhares.

(Sem título) ainda resquícios dos anos 90

Teu sorriso vem como folhas
Que quando se sentem amarelas
Despencam de abismos infinitos
Em formas ocultas, distintas do ser

Com que palavras explicarei
A rapidez e a beleza da chuva que cai
Sem ao menos tocar este corpo
Um abalo tortuoso insano da mente
Transforma-se entre linhas
- Entre nossos olhos

Transforme o ódio, rasque as cobertas
Que encobrem nossas vidas, deixe à vista
Esse nosso pequeno mundo

Sem perdão e sem promessas
Esqueça as desculpas repetidas
Pois o assoalho frio está cansado
De ter-me como companhia

Venceremos essa dor
Com as nossas espadas despidas de corte
E a minha prisão será apenas meu vulnerável corpo

(Sem título) ou em algum lugar dos anos 90

Estou de volta para casa
De braços abertos
Descanso em paz
Consegui descobrir
O que o silêncio da tua voz
Queria me dizer
Só que neste verão
Eu irei fugir
Só um amigo
Só uma canção
E eu achei que não iria existir
Mais o gosto de se apaixonar
Com o coração aprisionado
E o dom de sempre sorrir

Mostre-me onde irei ver a lua
Com o som de brigadeiro
Ensina-me a acreditar na mentira
Da gente sempre querer
Se encontrar nos dias de chuva

Concurso de redação da ETFPB (1992). Tema: SEMADEC (Semana Artística, Desportiva e Cultural)

Estávamos todos entregues aos livros e limitados aos professores, conhecíamos apenas o caminho já traçado pelos mudos corredores, era como se a inércia dos nossos corpos se materializasse em nossas almas. De repente bradaram no corredor: confirmaram a SEMADEC!
Algo diferente invadiu o meu eu, o coração começou a bater com mais impaciência: é a SEMADEC, ora! Jogos, dança, cultura, sorriso, vida! Só de pensar no “Show de Calouros”, regido pelo prof. Geraldo, faz a alma inerte transbordar de emoção. A festa de abertura, que até estar pronta, nos tira muitas noites de sono pela ansiedade do começo. O acompanhamento dos sorteios das chaves dos esportes até o resultado final dos jogos com a comemoração explosiva da vitória. Não posso esquecer da maior festa da SEMADEC: Maratona Cultural, que faz delirar até o mais calmo dos alunos.
Não é possível descrever em tinta e papel o que é a SEMADEC, pois ela é simplesmente o friozinho da barriga nos momentos emocionantes. Venha, participe e quando ela terminar não teime em evitar a lágrima que insiste em roçar nossa pele bárbara.

Pernambuco - escrito pelo grande amigo Manoel Gomes

Nietzsche disse que a vida não tem sentido algum, mas quando ouço pássaros cantando, a imagem ao lado mostrando parte da vegetação, parte do mar na Paraíba, uma noite de lua cheia repleta de estrelas tendo a desacreditar no filósofo, será que vimos aqui para nada? "Existimos a que será que se destina...", diria o músico baiano, essa talvez seja a grande angústia humana! Viver apenas para morrer? Digo isso, porque ao longo da vida vamos fazendo amigos e, por estranha ironia, também os perdendo! Conheci um camarada, pensei que fosse paraibano, mas não é que o cabra é pernambucano? Professor, Legionário, Revolucionário e além de tudo isso, que não é pouco, SOLIDÁRIO...um amigo, desses que não encontramos em qualquer lugar...tivemos discussões homéricas, espantamos muitos abutres, que ele prefere chamar de urubus, mas os abutres continuam sua sanha, mas nós não nos dobramos ao "canto" dessas aves. Lauro Xavier Pires Neto, vou te contar um segredo, meu camarada, muitas das vezes em que estou meio que alquebrado, lembro das conversas que tivemos, da sua força e fé em acreditar que a revolução virá, aí me renovo, rearrumo os meus ossos e volto ao front; um som distante anuncia: "o mundo começa agora, apenas começamos!", não é, Pernambucano?!

o terceiro período pede sustento (1995)

Não é necessário muito esforço para se notar os olhos perdidos dos nossos colegas
Refletidos naqueles que há muito se foram, voltando de onde partiram.
De longe ecoam vozes: Teresina, Natal, Cajazeiras e até de não tão distante,
Se foram mais rápido que qualquer um de nós,
E nos tornamos cada vez mais perto, frutos da desilusão.
Exupery dizia que os adultos adoram números
Não precisamos mais deles,
Queremos vozes que nos retirem do abismo.
Sr. Schindler nos socorra, mesmo que seja necessário milhares morrerem
Deixem ao menos as migalhas
Restos inanimados que servirão de oradores às gerações futuras.
Olhem para nós, precisamos de vocês
"Não precisamos de máquinas", nem de grandes homens
Estamos cheios
Acabamos tolos, como o meio:
O homem do sorvete, o poeta, a menina dos olhos claros, o pessoal do interior, gente de Mangabeira, do pequeno carro, da musculação
Todos perdidos, clamando por vida
Tentando encontrar qualquer fuga
Que os livre deste triste fim
Todos unidos pela dor do amalgamar de sonhos com pesares
Não somos polacos, muito menos damas ou vagabundos
Somos olhos tristes
Sonhando com a liberdade