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18.9.11

Escaras contraditórias


Não tenho a pretensão de criar escaras
Nem sei do que elas se alimentam
Não sei se gostam do pus
Que goteja quando espremo
Meus sentimentos

Mas sei que quando escarro
Este ar verdejante
Tento transformar essa paisagem
[cinza]
Em momentos de paz

Culinária para um domingo sombrio


Receita de coração duro

Um quilo e meio de coração transplantado
Previamente esfolado em chão duro
Regado com um bom vinho seco
Acolhido por papel laminado
E tostado no forno a altas temperaturas

Acompanha todas as mazelas do mundo
Sirva quente num dia frio e calculista

19 brumário, face a face nasceu!


Na efusão de tantos sentimentos
A paz e a tranquilidade chegam perto
Quando me descubro sem espelhos
E olho atentamente a tua face

Olhos nos olhos, percebo a vida
Germinando
E compreendo que apenas reflito em tua íris

Sei que tu és parte
Indivisível dos meus sonhos
Movimento inquebrantável
E transição dialética
Materializada na categoria irrefutável
Da síntese: o novo supera o velho

O que não consigo compreender com exatidão
É o porquê de tanta dor
Quando estou longe de ti

15.9.11

Subjetividade


Peço vênia ao Karl
(e a todos aqueles que acreditam na organização coletiva)
Mas minha força política
Esvaziou-se frente aos meus dramas pessoais

13.9.11

Tempo eufórico


Lembro do tempo eufórico da militância política
Dos afazeres cotidianos
Das palestras sobre a dívida externa,
Reforma agrária e ALCA

Lembro do Chávez e do Evo
E recordo da pobreza aqui no Sul
Meu norte desejado

Agora me alcunham de anacrônico
Tempo parado
Finda militância
Tempo findo
Enterrado ao som fúnebre
Com direito à lápide grafada com letras garrafais:
“Aqui jaz, mas volto...”

3.9.11

Cria


Eu queria ser cria da Tribo
Éthnos
Eu queria ser cria da efusão musical do
Jaguaribe Carne
Eu queria ser cria da luta política
[Contra o Aumento das Passagens]
Eu queria ser cria da punheta
Batida no palco
Dos cânticos revolucionários dinâmicos
E estáticos

Eu apenas queria ser cria de quem eu quisesse
Sem amarras mordazes,
Sentinelas da descompaixão

Excrementos sonoros


Hediondos goles de excrementos alheios
Bifurcados em ares travestidos de sons puritanos
Confessam a sórdida volúpia de sermos inacabados
Entre ruídos e dores acéfalas
Respiro o gotejar pulsante do teu sangue rasteiro
Afogado entre sêmens, malgrado consórcio de querer desesperadamente
Romper hímens imaculados de orações bazófias e dogmáticas

Fritei minha carne nas guerrilhas sonoras
Onde a onça bebe água
E morri afogado no tempo histórico impaciente