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31.3.11

Palavras

Adoro brincar com as palavras,
De vez em quando brincamos de esconde-esconde
Exatamente quando evitam eclodir seus significados

Às vezes brincamos de cabra-cega
Quando reitero, jocosamente, a licença poética
E faço festa com a sopa de letrinhas

No intervalo saboreio sem moderação
As novas descobertas
E termino o dia exausto
Contemplando o pôr-do-sol
De um novo repertório poético

30.3.11

Dinheiro da educação vai para o lixo


Uma prefeitura do Curimataú paraibano destinou em 20 de janeiro de 2011 a quantia de R$ 7.500,00 para aquisição de 20 carros coletores de lixo para as escolas municipais. Para tanto utilizou recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação e Valorização do Magistério (FUNDEB), especificamente os 40% que cabem à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino. Seguem as informações coletadas no sistema SAGRES do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE/PB).

“Valor que ora se empenha p/ atender despesa com aquisição de 20 carros coletores de lixo, destinados as escolas municipais, desta cidade”

Unidade Orçamentária: Sec. De Educação
Função: Educação
Sub-Função: Ensino Fundamental
Programa de Governo: Ensino Regular Modernizar As Condic Ação de Governo: Manutenção das Atividades De Ensino - FUNDEB 40%
Especificação da Despesa: Equipamentos e Material Permanente
Nº do Empenho: 0000534 Valor Empenho: R$ 7.500,00
Data Empenho: 20/01/2011

29.3.11

Livros

Saio deixando livros por toda parte
Como se fossem sementes
Esperando um dia germinarem

Observando quem aprecia suas folhas
Quem degusta seus sabores
No desejo de ver florir outras paragens
[mais humanas]

28.3.11

Sonhos

Reconstruir as paisagens oníricas
Destruídas pelos sismos sentimentais
É a tarefa hercúlea dos anos vindouros

Ação Educativa

Esta minha atividade de esquadrinhar
Fenômenos
Às vezes choca-se com uma relação espúria
Envolta em alguns fenômenos educativos

Por um lado forja o educador inerme
Por outro o lacaio do sistema

Alguns aríetes acreditam na educação
Enquanto panacéia de todos os males
[sociais]

Perseveramos na ação educativa
Encharcada da dialética
Constitutiva do ato pedagógico
Vinculado aos processos mais amplos
De transformação social

23.3.11

Resignação

Para Gilberto Gil


Hoje um aluno perguntou o que significa resignação

Parei por um instante
Busquei no âmago
Vasculhei meus sentimentos
E encontrei a resposta
Prostrada no vazio imenso
Do desiderato da luta inglória

E mesmo com todas as possibilidades de sucumbir
Resignados que estamos, quase todos
Respondi, sem conseguir me convencer [por completo]
Que continuamos atentos e fortes

12.3.11

Futuro

Vou empacotar meu futuro, postá-lo na primeira agência dos correios e esperá-lo chegar com Aviso de Recebimento (prévio).

10.3.11

Quarta-feira de cinzas

Nesta quarta-feira cheia de cinzas
Flores mortas
[De beleza mórbida]
Enfeitam os jardins dos torturadores
Fantasiados com armaduras lívidas
Desfilam por avenidas
Devastando corações
E transformando seres humanos
Em estruturas lânguidas

Dissolvem desejos
Em águas turvas
Transformam os prazos
Em tempos eternos
Suficientes momentos para intoxicar
Toda carne

9.3.11

Semiótica

Minha voz quase gutural
Silenciada pelo tempo
Não consegue vencer
Essa sua visão plenamente
Semiótica dos fatos

Entre as fotos retiradas da estante
Há mais sinais de vida
Do que a permanência lúgubre
De imagens retorcidas
Iluminadas pelos castiçais vazios

O tempo cuidou de carbonizar
Os nossos fósseis temporais
De natureza eterna

7.3.11

O homem que virou farinha

Para José Dumont

Sou mesmo um nordestino
Não aquele que virou suco
Mas do tipo que virou farinha
Triturado

Marcado em brasa
Passado em ferro

Moído como carne de cachorro quente
Por esta máquina indomável
Que torce e retorce

Não preciso ir para Sampa
Em Jampa mesmo
Viro comida para os bichos
[escrotos]

Meu olhar






Meu olhar... uma bananeira