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27.9.14

Paraibano

Sou paraibano, nascido em Recife
[por engano]
Batizado às margens do Rio Sanhauá
Alimentado pelo refrigerante homônimo
E pelo Dore Guaraná

Nascido na Várzea
[repito, por engano]
Foi a várzea quem me criou
Correndo pelos campos de terra e pedra
Junto com os moleques de Mandacaru

Jogava bola com Zé da Penha
E outros tantos Zés-Pés-Descalços
Com tantos calos que denunciam
Que hoje não brotam mais nas Cinco Bocas
As flores do mandacaru

Nunca mais vi Zé da Penha
Nem os campinhos de várzea
Nunca mais tomei banho às margens
de qualquer rio
A cidade ficou poliglota?
Ou será que a idade se transformou num vazio?

Onde estão os meninos de pés calejados
que um dia tomariam esta terra de assalto?
Foram todos engolidos por este ignóbil asfalto?
Onde estão os indignados, cujo os pais bailavam no Pé de Ouro?
Foram todos suprimidos pelas urnas de outubro?
Ou foram vítimas do calibre do três-oitão?

Sou paraibano, repito
[apesar de nascido em terra alheia]
Escuto todos os dias as vozes da infância
Dos meninos da zona norte

É preciso reencontrá-los, dizer que ainda é possível
Deixar outro legado

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