Páginas

13.10.14

Dobradiças

E o meu silêncio virou noite
Silêncio de uma casa inteira
Silêncio que fala mais que uma novela

Silêncio dos túmulos
Na calada da noite fria
Silêncio de uma sinfonia inacabada

De repente um ruído
Um prurido
Um tiro no escuro
Centenas de vezes gritei
Um grito mudo
Acuado, diuturno

Centenas de vezes decorei a fala
Do monólogo apresentado a mim mesmo
Num silêncio sepulcral

Centenas de vezes desconfiei
Que aquele silêncio era um eco
O ressoar de palavras [mudas]
A partida
O tilintar de algum recado
Que lavrei em papel alheio

Apupos secos, silenciosos
Proclamam, pelo menos hoje,
que parti

Parti em silêncio, sem abrir nem fechar portas
Para evitar o ranger e o gemido das dobradiças

Nenhum comentário: