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27.11.14

Pieguice

Desculpem a pieguice
Se ainda choro
Pela morte do leiteiro

Desculpem a pieguice
Se ainda brado
Por camaradas imprescindíveis

Desculpem
Eu não sabia que violetas não se plantam
Que elas duram apenas três dias

Desculpem
Pensei que plantações de gente
Durassem a vida inteira

23.11.14

Violetas

Não há mais flor de mandacaru
Não há mais a menina que enjoa da boneca
As violetas não brotam mais
Plantaram sangue no chão da escola

Tudo seco, sem cheiro de flor
Tudo é dor neste pasto seco

Margaridas, Violetas, não violentas
Lutadoras, poetas, meninas
Sonhos que se foram

[Violentamente]

E mais que nunca precisamos plantar
Violetamente!

21.11.14

Moradias



Moradias?

Parecem caixões sem alças, torrando solenemente ao sabor do sol
Um mato rasteiro sobressai frente as agruras da vida daqueles que terão que se sujeitar a viver num lugar tão inóspito

Moradias?

Quede a praça, os banquinhos, os balanços, a rebeldia?
Quede o cheiro verde, as árvores, a escola, a infância?

Os caixões perfilados, opacos, sem flores, silenciam o lugar insalubre
Mais parece um enterro coletivo de gente soterrada pela exclusão

Aqui jaz a dignidade humana


20.11.14

Órbita

Na semana que num meteoro pousou um robô
Não consegui pousar em mim mesmo
Até parece que alguém me robou
Bateu minha carteira num planeta esmo

E meus vizinhos continuam brigando por migalhas
Enquanto 40 milhões de verde-amarelos planejam pousar em órbitas fora da fome
Orbitam sob o signo desconexo das metralhas
Olham para o céu com a cara de quem consome

E a tecnologia alcançou um meteoro, na mesa o cheiro de agrotóxicos, em algumas barrigas o cheiro da fome, nas urnas o engodo, nos esgostos políticos saltam aos olhos. Qual será o próximo planeta a ser descoberto?  

11.11.14

A(r)me

Arme-se contra o machismo
Arme-se no marxismo
Ame-se no existencialismo
Ame o comunismo
Ame o sismo
o abalo
o tiro
a ira
o id

Ame
ou
Arme

Mas não se esqueça de odiar o idiota capitalista