Páginas

9.7.14

Assalto em Alagoas

No dia 08 de junho de 2014 estava fazendo uma viagem de carro de Sergipe para a Paraíba. Em Alagoas fui parado pela Polícia Militar, numa daquelas fiscalizações corriqueiras.

Parei o carro, apresentei os documentos e aguardei o policial sem sair do veículo. Como de praxe o PM foi conferir os documentos com a placa traseira, retornou e me fez o convite para descer.

Este carro já sofreu alguma batida traseira? Perguntou. Sim, por duas vezes, respondi. Pois o lacre está rompido, asseverou. Apontei para o lacre branco da placa, intacto. O PM colocou a mão na parte interna da placa e pediu para que eu fizesse o mesmo. Está rompido aqui na parte traseira, vou ter que apreender seu documento e você terá cinco dias para retirá-lo em Maceió. Mas vamos ali conversar com o Coronel (?).

Qual a sua profissão? (fico imaginando o interesse na pergunta). Ainda não multei o senhor, saia do sol, venha pra cá. (Silêncio). O senhor quer me dizer alguma coisa? Não, respondi. (Silêncio). Fique à vontade senhor. (Silêncio). Olhe, o talão de multas está na pasta aqui na viatura, eu ainda não multei o senhor, fique à vontade. (Silêncio).

Fui em direção ao carro ver meu filho que dormia e suava bastante devido o calor das 15h. Fui chamado de volta. Constrangido e com o princípio peremptório de não macular essa ação sinistra, continuei em silêncio. (Mais silêncio).

O senhor quer me dizer alguma coisa? (Silêncio). Tudo bem senhor, aqui estão os seus documentos.

Dei as costas e ouvi o derradeiro recado em tom sarcástico: a multa vai chegar na sua residência.

Hoje, 09 de julho, recebo a notificação da "infração": conduzir o veículo com o lacre de identificação violado/falsificado. Classificação Gravíssima. 7 pontos.

6.7.14

Não mais que vinte

E faltam apenas vinte
Anos de solidão
Para poder cumprir qualquer tarefa
Qualquer meio de chão

Para poder fazer mais amigos
Desprezar qualquer quina
Ou milhão

Fiz as contas
Não mais que vinte
Futuro certo
Filho criado
Destino revide
Solo fértil
Da mãe gentil

Não mais que vinte
Anos de contemplação
Caberão quantos assaltos
Quantas ocupações
Quantos escritos
Saídos do forno
Bem quentinhos
Passados na manteiga
Na contramão

Não mais que vinte
Subir e descer
A antiga Palmeira
Passar no Cem Réis
Cortejar Livardo Alves
O busto de Augusto
O Caixa D'Água

Não mais que vinte
Não mais que pinte
Tinta guache em meio muro
Não preciso de mais

7.6.14

O círculo sujo da Ficha Suja na Paraíba

A ficha suja Cozete (PT) foi aliada de Cássio (PMDB/PSDB) que foi aliado de Ricardo (PT/PSB) que foi aliado de Maranhão (PMDB) que foi aliado de Cássio ficha suja.

6.6.14

De volta ao começo II

Depois de tanta estrada, tanto sertão, tanta saudade
Vou enfim rever os amigos
Viver na casa que Vovô morou
Cuidar do pé de amora
da mangueira
Andar no centro toda hora

Plantar desejos, hortaliças
Fazer política, derrubar mourões
Brotar lembranças e cultivar ventanias
Combater pragas e ameaças

Ocupar prédios, desobstruir artérias
Amedrontar os lenhadores da Beira-Rio
Plantar esperanças e orquídeas vermelhas

Encravado, enraizado, exasperado
Prometo dormir pouco
Varar madrugadas
Curtir a vida ao seu lado
Desatar seus nós

Paraíba do Norte, Parahyba capital
"Terrinha querida do meu coração"
Coloque mais água no feijão
Que chego já com tempero forte:
Enfim sós!

1.6.14

Hasta Siempre

Fui aprovado no concurso para professor da Educação Básica da Prefeitura de João Pessoa e devo retornar a capital paraibana dia 08 de junho, devido a previsão de nomeação para o começo do próximo mês.
Continuo minha pesquisa sobre financiamento da educação aqui em Sergipe e reitero manter os compromissos com o GEPEL/UFS e com a minha orientadora Professora Solange Lacks, além de já ter estabelecido contato com o Professor Fernando Cunha com o intuito de retorno à LEPELPB. Neste sentido, sempre que possível e necessário estarei em Aracaju para tratar dos assuntos relativos à tese e às demandas do Grupo.

Gostaria de agradecer aos membros do GEPEL pelos momentos preciosos de aprendizagem e luta diária e saúdo todos em nome da Professora Solange Lacks, na qual tenho um respeito por sua história. Sei que é lugar-comum, mas não correrei o risco de citar nomes específicos daqueles que compartilhei momentos de intensa amizade, para não incorrer em lapsos.

Sei que poderia ter feito e realizado mais e mais, sei que cometi excessos, sei que deveria ter me engajado mais, porém as minhas limitações estiveram expostas em demasia durante este curto período. Continuarei fazendo autocrítica e verificando onde posso me tornar uma pessoa mais humana e combativa.
Espero ter contribuído minimamente com o coletivo, com o Movimento Não Pago (uma grande escola), com o Movimento Estudantil (na tentativa natimorta de criar a APG, no Colegiado do PPGED e no CONSEPE), com o NETE (na qual agradeço a Professora Sonia Meire e ao Coletivo as oportunidades de aprendizado), ao Sarau de Baixo e aos partidos de esquerda de Sergipe (em especial ao PSOL e ao PCB) - a todas as pessoas e entidades meu muito obrigado.

Estabeleço o compromisso de continuar a luta pela Educação Básica, no qual iniciei a minha vida profissional em 1999 no município de Sapé/PB, e afirmo que desejo me fixar na capital paraibana, lugar onde me encontro como ser humano e que estive afastado desde 2000 percorrendo os sertões e cidades nordestinas, aprendendo com as lições do povo,

Hasta Siempre

29.5.14

Linguagem de Programação

Tenho certeza que ele existiu. Seu nome constava na frequência dos professores e, apesar de não haver registros fotográficos, pois era avesso a qualquer ato da coletividade, Bertran não foi uma figura derivada de passagens oníricas do ensino médio.

De fato, não há registros nas redes sociais, nem consigo encontrá-lo nos sítios de busca e muito menos vê-lo em lugares públicos. O fato é que ele pouco conversava nos intervalos, nunca foi visto nos pontos de ônibus e aquela marca misteriosa causava furor entre as garotas que a todo tempo fingiam desejo, apenas para enquadrar mais um da turma na lista dos intransponíveis.

Lembro dele nas aulas de Eletricidade Básica. Elogiadíssimo pelo temido e carrancudo professor, graças a um trabalho de magnetismo realizado em seu laboratório particular instalado em sua própria residência.

Adorava linguagem de programação e dominava, como ninguém, o natimorto Basic, além de Clipper, Pascal e Fortran.

Claro, eureca, Bertran deve ter sido uma variação do Fortran, alguma criação de um gênio que construía hologramas a partir das finadas linguagens de programação. Tudo aquilo era virtual e durou o tempo exato de três anos correspondentes ao ensino médio.

Betran C+ deveria ser o pseudônimo de uma figura randômica e efêmera, o projeto de algum cientista do século XX laureado pelo Nobel das Ciências Exatas.

Sei que ele não foi o único abduzido daquela turma do curso de eletrônica da Escola Técnica, mas, enquanto não houver vestígios do sujeito manterei esta tese como irrefutável.

19.5.14

Cartaxo não somos capachos

Concordo que a mudança brusca de professor pode acarretar problemas pedagógicos. Os alunos sentem os impactos quando isto ocorre. Mas, quando a educação é prioridade não se espera o "melhor momento pedagógico" para se colocar professores efetivos em sala de aula, faz-se este momento com a transição gradual dos prestadores em sala de aula juntamente com os novos efetivos, um mês ou dois garantindo que a qualquer tempo e hora professores possam ser nomeados.

Para que isto possa acontecer é preciso um gestor sério, comprometido com a educação e não mais um politiqueiro, daqueles que estamos cansados de ver, que num dia fala uma coisa, noutro dia fala outra, que mente sem o menor o pudor e transforma um concurso público da educação numa peça de marketing, com o objetivo de, inclusive, colocar no parlamento sua própria casta e se perpetuar no poder.

11.5.14

Dia das Mães



Frederico Linho

Na verdade eu nunca entendi o porquê de ter que forrar a cama todas as manhãs. Nem mesmo colocar a mesa para o café, depois tirar tudo e refazer o serviço para o almoço e jantar. Eu me sentia o próprio Sísifo, na sua rotina intermitente. Eu nunca entendi porque a casa tinha que estar sempre arrumada e nenhum papel poderia estar fora do lugar. Que o diga aquele encarte da Legião V, aclamado por mim durante horas e que depois tomou assento no lixo de casa, por não estar em seu devido lugar. Nem sei o que senti quando o vi sôfrego, amassado e jogado junto às cascas de banana. "É a sua mãe e te carregou por nove meses", lembrava um amigo que escutava minhas lamúrias frente ao encarte fétido. E enxugar os pratos? Por qual motivo, se a inteligência humana havia projetado o escorredor? E aquelas bermudas da hora que pouco combinavam com aquele tênis fashion? Como negar presentes de tão bom grado? Naqueles trajes de primavera havaiana era difícil encarar os chatos das aulinhas de inglês. Lembro que certa vez me recusei a calçar um daqueles 'última moda em Paris' e foi pior, pois todos os meus amigos que iam me visitar eram chamados para avaliar a beleza daquele tênis marrom-dourado. Duro mesmo era abrir a lancheira na frente dos amiguinhos, pois aquele cheiro de pão com ovo irradiava pela escola inteira e me deixava rubro de vergonha. Mas, como dizer para minha avó, que é mãe duas vezes, não colocar aquele estrelado e substituí-lo por uma singela muçarela? E aquelas estratégias sórdidas de expor o colchão mijado na varanda do apartamento ou chamar pela rua inteira quando era a hora de servir a mamadeira? Tudo bem que aos dez anos de idade já estava mais do que na hora de parar de encher o colchão de uréia e de comer papinha, mas havia outras maneiras, menos traumáticas, de me fazer amadurecer. E quando cheguei da escola com um hematoma na bochecha? Até hoje acho que fui considerado a vergonha da família por ter apanhado de um menino mais novo. E aquelas costuras, na base dos joelhos, nas minhas calças? Próprias de um jogador fadado ao fracasso e que ficavam parecendo as roupas do Sítio do Pica Pau Amarelo, mas, pelo menos, eu comemorava o São João o ano inteiro.

Desculpe-me Mãe, mas eu não quis que este dia fosse comemorado com mais uma crônica piegas e desbotada, repleto de presentes mercantis.

10.5.14

Mais uma vez parto

Eu sabia que partiria cedo
Por isso queria dar cabo de tudo
Num tempo diminuto

Queria transformar tudo
Por onde eu passava
Em milésimos de segundo

Nunca esperei dar gosto
A fruta verde da realidade
Por isso encurtei meu tempo
Envelheci com cabelos negros
Pois nem dei tempo aos grisalhos

E se hoje parto
É porque mais uma vez fracassei
Na minha agonia cesariana
Onde tudo-nada pode ser normal

Que louca mania de estuprar o tempo
Reverter doces deleites
Em pretéritos menos perfeitos

É por isso que esse parto
É apenas mais um aborto
É a procura do porto
[Seguro que não irei encontrar]

4.5.14

Carreira Docente

(Para Eduardo Coutinho)

Aos vinte e cinco anos
Descobri o significado da carreira docente

Acordava às cinco e meia
Engolia um pão amanhecido
Reservado com manteiga na noite anterior

Tomava uma ducha fria
Que despertava até os ossos

Da esquina de casa para o ponto de ônibus
Quinhentos metros longínquos
Uma carreira desenfreada para não perder a lotação

Hora e meia de viagem
Sete em ponto na escola
Recorde mundial estabelecido na carreira
Sem direito a progressão

Na terra de João Pedro Teixeira
Só enxergava os olhos tristes dos meus alunos
Cabras marcados para viver 

29.4.14

Livraria

O que nos livraria de todo mal, amém?
Uma livraria em cada esquina
Nos livraria de toda estupidez?

Mas uma livraria
Sem tanto curry
Sem tanto Cury
Com tudo possível que nos cure

Livrarias, tu
Sem tanta culinária
Sem tanta auto-ajuda
Sem tanto bestseller

Livrarias, tu
Com tantos clássicos
Com tantos escritos pensantes
Que nos livraria de tanta insensatez

Ao ler nas livrarias
Tu te livrarias?

23.4.14

Flacidez

Pela simples falta de exercícios
Pela insistência da posição horizontal
Pelo excesso de programas banais de TV

A flacidez tomou conta dos meus pensamentos

15.4.14

Penitência

Um professor doutor, mestre ou especialista, aprovado no concurso da Prefeitura Municipal de João Pessoa/PB, vai receber R$ 2.433,36 (salário bruto) durante três anos graças a um artigo do Plano de Carreira que prevê, como penitência, a impossibilidade de progressão funcional durante o estágio probatório. Neste caso a lei é para ser cumprida, pois prejudica o professor, massacra a sua dignidade e joga na lata do lixo o tempo que se dedicou aos estudos. Esta é a maneira como o professor é tratado pelo poder público no Brasil.

Com a Lei de Acesso à Informação é possível verificar os salários de servidores públicos. Para que possamos nos indignar e lutar por melhorias salariais, repasso a remuneração de alguns "Agentes de Protocolo e Tramitação" que requer, segundo o Plano de Carreiras, nível fundamental completo do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, com 6 horas diárias de trabalho (30 horas semanais). Coloquei apenas as iniciais dos nomes, mas no portal é possível ver o nome completo:

E. A. de S.
Agente de Protocolo e Tramitação - III
Total Bruto R$3.351,64

F. N. B.
Agente de Protocolo e Tramitação - XVII
Total Bruto R$6.235,02

M.G.B.
Agente de Protocolo e Tramitação - XVII
Total Bruto R$13.494,97 (com terço de férias)

E então povo, vamos lutar pelas melhorias salariais? Vamos lutar pela derrubada do artigo 20 do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração do magistério? Somos milhares de professores que podem estar organizados lutando por melhorias na escola pública que inclui a luta por salários dignos!!!! Temos o direito de trabalhar em apenas uma escola com Dedicação Exclusiva, condições de trabalho e salários dignos!

Cidade Acéfala

O Portal da Prefeitura de Aracaju/SE anuncia que: "O Presidente da Câmara de Vereadores de Aracaju, Vinícius Porto, tomou posse na manhã de hoje, 11, no Palácio Prefeito Aloísio Campos, como Prefeito de Aracaju em substituição a João Alves Filho, que estará até o dia 22 de abril em viagem oficial para Colômbia juntamente com o vice-prefeito José Carlos Machado. Nas cidades de Bogotá e Medellín, os gestores municipais participarão do 7º Fórum Urbano Mundial da ONU".

Interessante é que a página oficial do evento (http://wuf7.unhabitat.org/) informa que o período de realização do mesmo é de 05 a 11 de abril. Um jornal local informa ainda que a esposa do prefeito (que é senadora), o superintendente da SMTT e o chefe da Guarda Municipal farão parte da comitiva.

Quer dizer que o prefeito de Aracaju vai aproveitar o feriadão da Semana Santa para passear na Colômbia bancado pelos cofres públicos?

E mais, o Prefeito afirma, entre outras coisas, que irá avaliar um país que conseguiu "desmontar a guerrilha" e que vai "aprender e trazer grandes exemplos". Com a ida do chefe da Guarda Municipal e com esses propósitos "tão humanos", o tratamento que a Prefeitura vem dirigindo aos Movimentos Sociais deve ficar cada mais truculento, ou é apenas uma impressão?

Que tal recepcionarmos o Prefeito no aeroporto dia 22 de abril, exigindo que devolva aos cofres públicos os gastos com essa viagem de férias?

13.4.14

Um poema Arquimedes

De repente brota algo do nada
Palavras surgem num rompante
[estonteante]
Ideias pululam malucas
Saltam rimas, metáforas e versos
A única alternativa é sair correndo do banho
Atrás de uma caneta e papel
Nu e gritando: poema, poema!

15 de abril



Hoje eu tive um sonho
Sonhei que era um quinze de abril
Uma Lua Cheia esplêndida
Uma noite de luar

A cidade estava acéfala
Digo, oficialmente acéfala
O prefeito e sua trupe
Foram discutir a paz dos túmulos
Na Colômbia reacionária de Uribe

Foram com dinheiro público
Levaram o vice
A guarda municipal
O controlador de tráfego
[Eu disse tráfego]
A primeira dama e talvez mais alguns

Era noite de Sarau Debaixo
Embaixo do viaduto e era do DIA
Noite dos poetas marginais
Dos encapuzados
Baile de rima dos revoltados

E nessa noite pungente
Os coquetéis saíram do papel
Rasgaram o transparente véu
Dessa democracia indecente

Após poemas sujos
Putarias literárias
Orgasmos de prosas

A multidão incontida ocupou ruas
Alamedas, bueiros alagados
O exército que até então exercitava a poética
Trocou penas e lápis por indignações na prática

O Paço Municipal vazio
De ética e legitimidade
Foi tomado por cordelistas em fúria

A Câmara cerrada
 Pichada de cima a baixo
Pelo poder popular do Sarau de Baixo

A Guarda Municipal em choque
Nem conseguiu aquarelar
Ao ver aquela onda revolucionária passar

Era a noite dos meus quarenta anos
Comemorei em grande estilo
Fazendo tremular
Da sacada do prédio
A bandeira do Movimento Popular

8.4.14

Mais uma Quadrilha



Ricardo coração dilatado
Amava o PT
Amava a Nadja do PSB
Amava o Maranhão do PMDB
Amava o Cássio do PSDB

O PT, transfigurado, aliou-se com o projeto neoliberal
Nadja, trânsfuga, seguiu fileiras até no PSL de aluguel
Maranhão aliado do pai do meninão, foi seguir carreira solo
Cássio Cassado nada acanhado, rompeu com todos os bobos da corte

E o povo que ainda não entrou na história,
continua a acreditar nas eleições da carochinha

28.3.14

Morte e Vida

Pior que a morte física
É a vida intensa das incongruências
A vida apenas aparente
Longe da essência

À guisa de cremação
A vida longe da política
Vida sem atos, passeatas
Ocupações de almas idílicas

Pior que a morte física
É a vida insossa
Trancafiada em prisões sem muro
Condomínios fechados
De casa ao trabalho duro

Morte prematura aos contaminados
Pelo vírus do consumo
Pelo corpo como insumo
Lesto, vigoroso, vitaminado

E quando o corpo pede a morte física
Nada resta se não o balanço
De uma vida tísica

27.3.14

Mais uma farra com dinheiro público


De 21 a 24 de março de 2014 quatro vereadores e sete assessores da Câmara Municipal de Aracaju/SE participaram do 3º Encontro Nacional do Poder Legislativo Municipal, na cidade de Maceió/AL. A Câmara Municipal pagou as inscrições perfazendo um total de R$ 4.345,00 (R$ 395,00 cada inscrição “incluindo material de apoio, certificado e coffee break (sic) no segundo dia de palestra”), além disso, os vereadores e assessores receberam três diárias cada um no valor de R$ 500,00 (totalizando R$ 1.500,00 por pessoa e uma sangria nos cofres públicos de R$ 16.500,00).

Nada demais que vereadores e assessores participem de palestras e eventos, apenas pelo fato de, segundo a página oficial do evento (http://www.falcaocentrodecapacitacao.com.br), o primeiro dia é apenas para inscrição e credenciamento e o último dia para entrega de certificados e documentação da empresa. Os “dias úteis” do evento, 22 e 23 de março, haverá palestra a partir das 09h e só! De sexta a segunda, vereadores e assessores da Câmara Municipal de Aracaju/SE estiveram na Praia de Ponta Verde (local oficial do evento), com tudo pago pelo povo para assistir a dois dias de palestras, apenas em um turno.

Fica evidente o dano ao erário público, já que o evento poderia acontecer em apenas um dia (manhã e tarde) com o credenciamento e entrega do certificado concomitante com a palestra.

7.3.14

Kits Lanches para a Copa do Mundo 2014



O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome lançou a Chamada Pública 01/2014 com o intuito de aquisição de “kits lanches” que serão distribuídos entre os 20.000 voluntários da Copa do Mundo no Brasil. Este é mais um gasto público da Copa do Mundo difícil de contabilizar para aqueles que estão fazendo este levantamento.

Bom seria se o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome pudesse repassar os 2.000kg de castanha de caju, 7.000 kg de biscoito integral, 2.000kg de castanha do Brasil, 1.200kg de mel em sachê, 4.000kg de banana e abacaxi (frutas desidratadas), 1.000kg de barra de cereal, 7.000kg de biscoito sequilho e 36.000 litros de suco para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), conhecido popularmente como Merenda Escolar.
Como se pode ver os voluntários da Copa estarão bem alimentados com recursos públicos, mas será que as nossas crianças, matriculadas em escolas públicas, iniciaram o ano letivo com uma merenda desta qualidade? Quantos municípios deixaram de ofertar a merenda escolar no dia de hoje, alegando todo tipo de problema, desde licitações canceladas até a suspeita desculpa da falta de recursos?
O PNAE é um programa suplementar e o Governo Federal repassa diretamente para os estados e municípios um valor/aluno de acordo com as matrículas do Censo Escolar da Educação Básica. Para o ensino fundamental, médio e educação de jovens e adultos o Governo Federal repassa R$ 0,30 por dia por aluno, para alunos que frequentam a pré-escola este valor é de R$ 0,50 e para alunos de escolas indígenas e quilombolas o valor chega a R$ 0,60.
O Governo Federal estima que serão 20.000 voluntários trabalhando nas cidades que irão sediar a Copa do Mundo, e como a Chamada Pública dos “kits lanches” está na ordem de R$ 1.238.104,00, isso representa R$ 61,90 por voluntário que deverá trabalhar no máximo em sete jogos (apenas Brasília e Rio de Janeiro comportarão esta quantidade máxima de jogos durante todo o evento, segundo o próprio edital da Chamada Pública), o que representa R$ 8,84 por dia por voluntário – valor bem acima dos R$ 0,30 repassado a um aluno do ensino fundamental.
Este é mais um legado da Copa do Mundo de 2014.

21.2.14

Caos Centros




O prefeito ri ao cortar a faixa de inauguração
Bajuladores de plantão batem palmas
Agitam os jovens “colaboradores”
Agora confinados, seis, sete horas por dia
Um salário mínimo, um prato de almoço para dois

O prefeito vibra, a empresa comemora
Isenção fiscal, redução de impostos
Salário mínimo, todo tipo de repressão
Como posso chamar, se até mesmo o emprego
É dominado pelo idioma dominante?
Caos Centros?

Centro de que?
Senzala moderna, para menores de 21
Células prisionais
Prisão domiciliar
Explorado pela manhã
Arrasado a noite, só pensa em dormir
Outro cubículo

“Melhor que estar roubando”
Deve ter sido o discurso ao cortar a faixa
Ao implementar a exploração oficial

Jovens agora vão aprender a mentir
Usar estratégias pérfidas
Enrolar o consumidor
Para poder manter o seu suado primeiro emprego
E auferir mais lucros para a bondosa empresa

16.2.14

O orvalho de olho no roseiral

Deputar

O povo deputou um deputado
Deputado, ex-prefeito
Inventou o verbo mais que perfeito

Com todo respeito àquelas que se deputaram
O deputado deputou o povo
Com colarinho branco

Contratou advogado,
Conseguiu voto
Para tudo que é lado

O povo deputado
Agora dá para todo deputado
Que lhe oferecer a cidade mais festeira
O petróleo mais sujo
Outrora tijolos e retroescavadeira

É preciso deturpar
O verbo deputar
Para mostrar ao povo
Que o nobre deputado
Roubou a cena da educação
Cometeu ilícitos na saúde
Pagou a gang de OAB
Com recursos do erário público

Deputar é ato antigo
Verbo novo, neologismo
Só para dizer que estamos cansados
De tanta violência com o povo
E tamanho fisiologismo

15.2.14

Passeata

Essa lógica de mundo estorvo
Com essas bombas alimentadas pela fome
E essa concorrência desenfreada

Pegue esse pedaço de pão, tome!
Alimente esse corvo
Em qualquer praça do meio do mundo

Já disse que não sou Raimundo
Sou esse sujeito fétido, imundo
"Que escarra na boca que beija"

E meio torpe, desarmado
Canto as sesmarias
Em qualquer lote desafinado

Mas, olhe ao lado
Sem carro, sem pão, nem mesmo pássaro
Para dar comida ou ser passado

Vou rogando por mudança
Esperando que qualquer passeata acabrunhada
Leve-me para as asas da esperança

13.2.14

"Speed Day" em Aracaju/SE

Dia 08 de fevereiro ficará na memória do Aracajuano, ou pelo menos será inesquecível para os contribuintes da cidade. Alardeado como o “evento” que abriu o Projeto Verão 2014, o “Speed Day” não conseguiu escapar nem mesmo da dependência cultural norte-americana no ato de seu batismo, fenômeno corriqueiro nos projetos da Prefeitura Municipal de Aracaju, em especial da Secretaria de Educação (o Mind Group e Join Street são as vedetes da educação no município).

Bancado pelas Secretarias de Juventude & Esporte e pela Fundação Cultural (FUNCAJU) o evento sugou dos cofres públicos, segundo dados oficiais e despesas diretas, R$ 81.575,00 e um único empenho da FUNCAJU relativo a “shows artísticos” custou a bagatela de R$ 50.000,00 pagos a empresa Fama Eventos. Tudo isso com a velha justificativa “legal” de inexigibilidade ou dispensa de licitação.

Segundo informações da página da Prefeitura, o “evento” contemplou as “modalidades” de jet ski, stand up padle, remo, barcos de competição e quadriciclo. “Esportes” bem distantes da realidade da maioria da população brasileira, apesar dos recursos da Secretaria de Juventude & Esporte serem oriundos da rubrica “Desporto Comunitário” e serviram para fornecimento de lanches e alimentação. Ao total R$ 4.695,00 que devem ter enchido a pança de autoridades e convidados ilustres.

O Grupamento Tático Operacional (GTO) da Prefeitura também esteve presente, abrilhantando o “evento”, salvaguardando a vida da população que mais precisa, recebendo diárias e amplexos do poder constituído.
Alguém pode dizer que oitenta e poucos mil não representam nada frente a um orçamento da FUNCAJU de R$ 16.826.898,00, e que o Prefeito precisa de segurança e alimentação servidos como banquete para ostentar sua popularidade em eventos como este. Infelizmente o contribuinte que mais precisa de cultura e esporte não anda de jet ski e não precisa de atividades ignóbeis dessa natureza que fazem a festa da burguesia da cidade.

A Prefeitura de Aracaju, representada pelo partido Democratas, já anuncia como será o ano de 2014 no tocante à cultura e ao esporte. Estamos reféns de secretários desse naipe, que dormem para ter sonhos miraculosos e acordam para transformar a vida dos contribuintes em pesadelos como este.

12.2.14

Violência

Mais um ato de violência e vandalismo chocou o Brasil. Sem exageros, a mídia mostrou a verdadeira face dos trogloditas que agem de maneira inescrupulosa e utilizam todo o tipo de artefatos para destruir a nossa democracia. Pessoas desse tipo devem ser submetidas ao rigor da lei, julgadas e presas contando com a celeridade da justiça desse país. Todos nós estamos estarrecidos com os últimos acontecimentos e a população não suporta delinquentes soltos pelas ruas. Temos que dar um basta nisso tudo! Quantas pessoas ainda irão morrer para que o poder público tome as rédeas e aja de forma contundente?

Não se confunda, estou falando de mais um prefeito que roubou verbas da Merenda Escolar e elegeu sua esposa como sucessora. Quantas crianças foram a óbito neste delito? Quantas adoeceram? Quantas foram prejudicadas no seu rendimento escolar? Quantos votos foram comprados? Quanto tempo  a mídia reservou sobre este assunto?

Sempre bom lembrar o Brecht.
Muitos falam da violência dos rios, mas poucos citam as margens que o comprimem.

11.2.14

Carnaval

Para que serve o carnaval fora de época?
Para alimentar o gerente da urbe amada
E sua trupe alerquim

Para deixar o povo de cabeça oca
Delirando com essa política armada
E cheirando alfenim

9.2.14

E

Teu primeiro E
Escrito na areia da praia

Teu sonoro nome dito com orgulho
Aquele que combate

Também ri
Corre
Brinca
Chora

Teu primeiro E
Feito com a ajuda de um singelo gravetinho
Numa areia branquinha
Plasmada de luz

Vovô

Pai,

vem brincar de Vovô com meu filho...



28.1.14

Arqueologia

Após alguns anos de escavações intensas descobriu a felicidade fossilizada, carcomida pelo tempo.

16.1.14

Ipês

- Não deixe a Parahyba sem antes ver a floração dos Ipês!
Recado do meu Avô
Que deve estar triste ao ver os Ipês
Servindo de sustentação para as bugigangas do natal
Que explicaria o porquê da floração tardia
Em meio a tantos autos
Carros, óleo diesel
Efeito estufa
Ainda assim, felizmente, no meu último dia na capital parahybana
Pude ver o tapete amarelo
Contrastando com o cinza-corrupção
Da Assembleia Legislativa

11.1.14

Revivendo 1989

25 anos depois o emblemático 1989 continua vivo. Ano da primeira eleição direta para Presidente da República após a ditadura civil-militar, vinte e poucos candidatos representavam as mais diversas correntes de pensamento. De coisas risíveis, como a natimorta candidatura de Sílvio Santos, ao sonho da esquerda subir ao poder pela via eleitoral. O que os caciques da política não esperavam é que um salvador da pátria, travestido de caçador de marajás, então desconhecido do grande público, pudesse superar nomes como Ulisses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. O desfecho dessa história todos nós conhecemos. 35 milhões de votos elegeram Collor de Melo-Itamar Franco e outros 32 milhões choraram a derrota de Lula-Bisol.

Pelo "Vocênotubo" é possível relembrar passagens marcantes daquele ano memorável. É possível assistir o programa eleitoral dos chamados nanicos, como Marronzinho e Enéas, e os extremos políticos como o então comunista Roberto Freire (PCB), apoiado pelo cantor Lobão, até figuras nefastas como Aureliano Chaves (PFL) e o candidato ruralista, Ronaldo Caiado (PSD).
Os jingles das campanhas contagiaram multidões, alguns mais pelo apelo sonoro do que pelos programas de governo. Afif, representante dos industriais, angariou votos graças ao "Juntos chegaremos lá, fé no Brasil" e até mesmo o "Bote fé no velhinho, que o velhinho é demais", do Dr. Ulisses,conseguiu comover muita gente. O "Lá, Lá, Lá Brizola" e o "Lula-lá", viraram clássicos e devem estar, ainda hoje, na memória de muita gente. Este último principalmente porque contou com um coral de artistas e intelectuais.

Lembranças idílicas da época fazem parte do meu imaginário, pois era um momento pleno do desabrochar da adolescência, tempo inclusive do primeiro amor. Infelizmente a crônica da vida real foi mais dura com o povo brasileiro e a inesperada vitória de Collor ainda carece de análises pormenorizadas. Como milhões de dólares surgiram para financiar a campanha? Quem foram os aliados nas eleições de 1990 privilegiados com as chamadas sobras de campanha? Quem assassinou PC Farias?

Durante a campanha, nos bastidores, escutava-se que os brasileiros perderiam seus aparelhos de TV, teriam restrições alimentares e teriam a poupança confiscada, caso o candidato barbudo vencesse a eleição. De fato a poupança foi confiscada e o saque nas contas restrito. Collor explica o fato como uma estratégia para barrar a inflação, depois de ouvir o Simossen, e diz que o Mercadante afirma que o PT utilizaria o mesmo artifício. Sarcasmos colloridos à parte, milhões de brasileiros foram assaltados e a verdadeira face de um projeto emergiu de maneira dramática para os pequenos poupadores.

Ficam mais perguntas. Como um ilustre desconhecido, filiado a um partido nanico (Partido da Reconstrução Nacional) conseguiu tamanha projeção? Como Collor de Melo conseguiu derrotar, no segundo turno, uma aliança de candidatos de tamanha expressividade (Lula, Brizola, Covas, Ulisses)? Por que um jovem, de apenas 40 anos, foi escolhido pelas elites para ser seu representante para derrotar a ameaça petista?

A história do afastamento de Collor por empáfia e corrupção todos nós já sabemos, mesmo que de maneira incompleta e sem vermos os larápios na cadeia. Como esse fenômeno surgiu é que procuro explicações.

A metralhadora poética

O poeta metralha
Gira sua poética
Aponta, engatilha
Mira com métrica

Metralha seu poeta
Metralha

Atira sua poética
Neste sistema canalha

10.1.14

Doutor [2]

- A célula do corpo humano que não tem núcleo é a hemácia. Tchau, boa sorte.

Não tive tempo nem de reagir àquela assertiva inesperada. Os portões estariam fechados em pouco tempo e só consegui devolver o boa sorte.

Quando vi a questão na prova de biologia é que compreendi o recado. Durante anos essa frase ruminou nos meus pensamentos. Alguns anos depois explodiram os escândalos. Professores de cursinho denunciados, presidente da entidade organizadora do certame afirmando a necessidade de diminuir as fraudes e outros assuntos correlatos que encheram as pautas dos tablóides por algum tempo.

Mas, a força política de quem vendia e, em especial, de quem comprava questões logo fez esvaziar as pautas e calar o noticiário. O tempo se ocupou do resto. Alunos que curtiam a vida em festas e baladas foram aprovados no curso de Direito, o preferido das fraudes.

Filho de Doutor, Doutorzinho é! E assim surgiram Desembargadores, Promotores e Juízes  com o propósito de perpertuar as ideias da classe dominante.

E assim vivemos numa sociedade como as hemácias, sem um núcleo concreto que possa referendar as ações dos grupos dominantes. Ações forjadas, desde a sua origem, sob a égide da fraude e do escárnio.

7.1.14

Empobrecer

Resolvi empobrecer
Deixar de lado o letramento
Ler a Folha de São Paulo
Sem enxergar o verdadeiro pensamento

Sem ver, nem Veja
Obscuros textos que irão me convencer
Que Nova Iorque é o paraíso
E com meu trabalho conseguirei vencer

Resolvi compactuar com o povo
Comprar tudo em infinitas prestações
Casa, carro, pão com ovo
Créditos sem limitações

Resolvi andar de ônibus
Sentir o aperto do trem
Comer Prato Feito
Que só o Mercado Central tem

Desisti do emprego público
E da segurança previdenciária
Pois vi que parte do povo
Passa o domingo na visita presidiária

Cansei de almoços dominicais
Shopping Center, baladas culturais
Das prostitutas do cais

Cansei de exame biométrico
Desse ritual patético
Que diz para votar e ser ético

Vou anular meu voto
E quem sabe um dia eu volto
Para este mar revolto
Que derrubará as pedras
Roladas a mais

P[B]xP[E]

Prefiro a província
E o Porto do Capim
Prefiro ficar sem time
Mas com a companhia
Dos amigos do Belo
Prefiro não colar a bandeira
[no Auto]
Prefiro não ter [e]sport[e]
Prefiro não chiar no ésse

Prefiro este lugar pacato
Sem emprego digno
Sem riquezas de imediato
E cheio de modéstias
E muito menos moléstias

Prefiro as Muriçocas no carnaval
E a terra sem canavial
Prefiro o verde-branco
Não vou negar
Que prefiro a volta do [hy]
E que um dia a capital mude esse nome

18.12.13

Doutor

Eu não quero ser ninguém
Enquanto um outrem
Não souber nem assinar o nome

Eu não quero ser doutor
Enquanto houver submundo de dor
E crianças fora da creche sem pronome

Eu não quero ser burguês
Enquanto meio mundo é freguês
Da estação sem codinome

Eu não quero ser mais um pária
Nesse país sem pátria
Com essa angústia que me consome

Eu não quero ser isso ou aquilo
Taxado, vendido a quilo
Esquartejado, meu corpo some

Eu só quero ser a alegria
De uma noite tardia
De um coletivo que tudo come
[sem fome]

LP

Quero ouvir o Lado A
E depois o Lado B

Quero ouvir as teclas surrando o papel
Sem precisar corrigir meus erros de português

Quero de volta o Long Play
E a maletinha portátil

A agulha
E a fita

Não é nostalgia
É vida plena

Não descartável
Deserta de tecnologia

Sarau

Extra! Extra! Extra!

De costas para o palco as letras garrafais
Anunciam o que devemos comer
E quanto devemos pagar
Mesmo que o tempero esteja salgado e sujo

Debaixo do concreto a poesia abstrata
Faz surgir galhos libertários
Que brotam do asfalto denegrido

Sarau de Baixo anuncia em letras maiores
Que a poesia marginal vive
Ante as atrocidades mesquinhas dos sem poemas

16.12.13

Vitrola

Trocou a TV de plasma, presente indesejado de nãoseiquantaspolegadas, por uma vitrola que toca LP's antigos. Agora dorme ao som do Drummond recitando "Os ombros suportam o mundo", pois insuportável mesmo era o ruído do plim plim e congêneres.

12.12.13

Viu?

[Para Pedrão, a metralhadora poética]

Nós queremos celeridade
Sim, eu disse celeridade

Sei que essa justiça porca, anda lenta como tarturuga
Mas este rosto cheio de ruga
Não quer mais esperar um ano
Para que o suplente de deputado
Eleito com dinheiro vil
Dinheiro roubado do povo
Que até o juiz viu
Viu seu juiz, viu?

Suplente que virou deputado
Depois que um outro deputado comovido com tanto cascalho
Adoeceu para poder livrar o nobre salafrário
Da condenação do juiz que viu
Viu seu juiz, viu?

Condeno o réu a ressarcir integral os danos
Suspendo os direitos políticos por seis anos
E perda da função pública no momento da execução da sentença

Oh seu juiz, será que a gente não pensa?
O sujeito rouba o erário
Faz a gente de otário
Você diz que o sujeito é bandido culpado
E não pode fazer nada porque virou deputado?

Vamos esperar as férias do legislativo?
Quarenta dias de salário ativo
Dinheiro do povo para alimentar gatuno
E depois vamos esperar sentados
O momento que um outro juiz oportuno
Irá sentenciar mais uma vez o tratante
Sujeito de ação horripilante

E se o outro juiz não ver?
Mas o povo viu

E se prepare seu deputado réu
Mesmo sem cabelo e mesmo que não possa
Vamos tirá-lo a força
Dessa cadeira cheirando a fel

Zé da Penha

Vixe, hoje eu lembrei do menino Zé da Penha
Que vinha lá das cincos bocas de Mandacaru
Era daquele tipo, cheio da resenha
Jogava bola com a gente, entre o lixo e o urubu

Naquele campinho cheio de pedra vizinho a EMLUR
De um lado o cemitério, do outro a Zona Sul
Vinham todas as tribos, todos os meninos descalços,
Repletos de panos brancos, jogavam nos nossos encalços

José da Penha, era mais um menino sem bola
E jogava no nosso time de camisa sem gola
Sua mãe deveria trabalhar nas casas da vizinhança tonta
E a noite dançava no Pé de Ouro, depois da janta ficar pronta

Eu menino burguês, dono da bola, de escola, kichute e cartilha
Nada entendia como podia jogar tão bem quem não lia
Às vezes achava que aquilo tudo era uma ilha
E que no fundo tudo acabaria em poesia

Vixe era mais um Zé lá na Paraíba que parecia um nordestinado
Menino esperto, jogador de pé esfolado
Que vi muitas vezes esfomeado
Querendo engolir quem dissesse que tudo isso era predestinado

29.11.13

Condenação

Foi dado o veredito
Condenado em última instância
O juiz ao final assertivo: tenho dito

Pena máxima ao réu
Prisão perpétua
No máximo poder ver o céu

Prisão estadual
Sem direito à apelação
Na zona urbana ou rural

Nunca mais mergulhos rotineiros
Em mares bravos ensolarados
Nunca mais passeios em barcos pesqueiros

Nunca mais verde planta
Respirar ares puros
Nunca mais escutar a palavra que canta

Nunca mais amigos antigos
Jornais ao fim de semana
Escrever serenos artigos

Resoluto aceito a condenação
Pagar as penas das minhas ações
E esperar um dia que caia do céu a minha ordenação

Barba

Não vou ficar imberbe
Quero barba rala
Para mostrar ao tempo
Que já envelheci

Quero barba longa
Rosto ensebado, pelos brancos
Para mostrar ao tempo
Que já envelheci

Não perca tempo comigo
Tempo
Não te darei o gosto de me ver oxidar

Tempo
Não perca tempo comigo
Coloco minha barba de molho todo dia

E embarco no primeiro trem
Rumo à Estação Finlândia
[não quero ver o inverno chegar]

27.11.13

Lua

Olhei no calendário
Este ano a lua cheia
Constará no meu aniversário

Espero que venha sorrindo
Reflita com o mar
Ideias tinindo

Os espaços vazios e as beiras
Espero que preencha
E siga faceira

Espero que a lua cheia
Lembre que é meu aniversário
E me convide para a ceia

Faremos amor
No seu lado escuro
Para não gerar rumor

Partiremos minguantes
Novas e crescentes
E seremos eternos amantes

26.11.13

Parahyba

Neste verão quero tomar um banho de Parahyba
Às margens do Rio Sanhauá
Ver o Porto do Capim
Do frontispício do Hotel Globo
E tomar uma Dore guaraná

Quero andar solto pelo Ponto Cem Réis
Visitar a Oca de Piá
Pichar os muros da assembleia
Gritar o nome dos corruptos em altos decibéis

Lá em Reginaldo vou ler jornal
Ouvir a Boca Maldita
Visitar Augusto, Caixa D'água, Livardo Alves
Ver o sol dormir no Beco do Malagrida

Vou seguir as recomendações de meu Avô
Pisar macio no tapete amarelo dos Ipês
E não esquecer de apreciar a arquitetura das antigas casas
Do tempo que passou

Para não perder o costume
Vou chorar às margens do Cabo Branco
Ouvir a sinfonia marítima
Jogar vôlei nas areias finas
Trazer a lume
A alegria de brincar com meu filho

Vou me deleitar na maré zero zero
Ver os corais do Bessa
Visitar os canyons de Coqueirinhos
Os antepassados da Arapuca
E andar por Tambaba sem essa

Nada me impedirá de respirar
O ar dos teus jardins
De enxergar a cor das tuas orquídeas
Da Bica à Ponta dos Seixas
Da barreira destruída para outros fins

Vou participar de todas as manifestações
Pintar de verde-branco forte
Todas as lamentações varonis
Ajudar a escrever teu verdadeiro nome em letras garrafais:
Parahyba do Norte

25.11.13

Oco

Cidades vazias
Não preenchem o meu oco
Plêiades artificiais
De uma urbe tosca
Regam o chão com uréia
[destilada]

Cidades [deliberadamente] vazias
Tocam sinfonias bêbadas
No pior destilo musical

Cidades vazias
São como casamentos por conveniência
Heranças malditas herdadas do sangue público

O povo sangra
Assina papéis com o polegar
Solta fogos em comemoração

Cidades esvaziadas
Por larápios com crachá e diploma na assembleia
Reduto de gatunos profissionais

Povo esvaziado
13 milhões de analfabetos
Catam lixo
Enchem urnas

Entrementes
Troçam os diplomados
Responsáveis fiéis pela cidade vazia

13.11.13

Escridor

Resolvi que um dia serei escridor. Colocar para fora as estranhas entranhas que não me deixam dormir. Escridor é aquele que sente as agruras do mundo. Que sai porta afora e vê crianças catando lixo, creches cerradas e opacas como se fossem presídios anunciando o futuro. Escridor é aquele que sente o cheiro do esgoto que parece um carteiro entregando nas casas amebas domesticadas. É aquele que enxerga a origem desse mal, mas não consegue compartilhar essa visão com o vizinho antenado na TV ao lado. Escridor é aquele que chora em silêncio, que sabe que vai embora porque não aguenta mais ficar ao lado do prefeito corrupto que virou deputado com os votos dos amigos de quarto. Escridor é o sujeito chato, que reclama de tudo, que não é cooptado pelas benesses dos cargos, que se desvencilhou do vil metal. É aquele que não tem preço e por isso morre ao ver o amigo vendendo o que há de mais precioso. Ser escridor não é fácil, como é difícil escrever a dor.

Apenas uma sessão

Foi com a turminha de adolescentes para o cinema que ficava no centro da cidade e hoje, transformado em igreja, padece dessas esporádicas lembranças dos anos 1990.

Naquela época não importava o filme, o diretor ou o enredo. Mais valia sair com os amigos do ensino médio, então segundo grau, para curtir uma tarde e quem sabe arrancar o primeiro beijo.

Não estava confiante que o filme do Batman pudesse atrair um clima animador para desvirginar os lábios, mas só o fato de estar em boa companhia já superava as expectativas. Naquela época não havia cadeiras numeradas, nem várias telas com uma diversidade de filmes, muito menos era preciso sair da sessão caso você optasse por ver o mesmo filme a tarde inteira.

Um combinado tácito também era comum. Alternância de meninos e meninas nas cadeiras, pois com a ajuda do escurinho do cinema era mais fácil vencer a timidez e quem sabe emplacar um namoro. Da mesma forma como o filme era indiferente, naquela seca brava de contatos íntimos, tanto fazia a garota que sentasse ao teu lado. Mas, quando você dava a sorte de sentar ao lado de uma garota linda, não era prudente desperdiçar a oportunidade.

As mãos suadas denunciavam o quanto era preciso ignorar o preço do ingresso e tentar ao menos estimular uma resposta positiva. Sorrateiramente e com muito cuidado, os dedos avançavam, encostavam quase sem querer a outra mão desejada. A reação inopinada de contato recíproco fazia o coração bater mais forte e encorajava o avanço com muita cautela e medida, nada que os anos 1990 pudesse achar libidinoso.
A primeira reação é como se estivesse estiolado, que aliado ao escuro da sessão todo o ar tivesse sido sulgado porta afora. Era preciso vencer a si mesmo. Passar das mãos às bochechas macias e rosadas, sentir o dengo desejar mais carinho. As mãos delicadas daquele que nunca precisou pegar num cabo de enxada, ajudavam a tornar aquela experiência tão simples e inocente numa aventura sentimental indescritível.

Desejava que aquele fosse o longa mais longo de Hollywood, para que as mãos doces pudessem cumprir plenamente a função que seria mais complexa ao acender das luzes. Acabou não dando espaço aos lábios virgens, deixou que as mãos se amassem até a vitória do homem morcego. Não queria correr riscos caso tentasse um beijo naquela posição oblíqua, imprópria para os amantes cinéfilos. Afinal, frente a frente já parecia ser um trabalho hercúleo para um neófito, imagine tendo que torcer o pescoço em noventa graus.

Luzes acessas e um pequeno percurso até o ponto de ônibus. Diminiu o passo, deixou a turma seguir e deu prosseguimento ao encontro caloroso das mãos. E agora? Teria que parar? Falar algo para então contrair o beijo? Desajeitado e sem construir algo idílio, soltou sem pensar:

- Acho que agora não precisamos de um manual de instruções.

Como um raio que parte uma casa ao meio, as mãos descolaram-se instantaneamente. Não viu nem o rastro do ônibus que levou embora aquele sonho que durou apenas uma sessão.

11.11.13

Microconto

Vida

Acreditou piamente que seus poemas reencarnados lhe daria a vida eterna.

Escritos

Estes escritos não geram mais-valia
Não são propriedade privada
Não derrubam árvores
Não bebem celulose
Não possuem direito autoral
Não auferem renda
Apenas ajudam a me salvar do mal do tempo
Em dias chuvosos de verão

Copa

A criança sem creche
Olha atenta a mãe nua
Que sem emprego se mexe

Não há solidão maior que o deserto
De uma alma nua
Sem emprego certo

Corre solta a bola na grama
Nos insalubres andaimes da Copa
E perto dali escorre a trama

Sem creche, a mãe é só lassitude
Mas o estádio apinhado
Diz que é preciso ter atitude

A explicação teleológica
De um gol aos noventos minutos
É muito mais lógica

Faltam creches, empregos
Sobram craques, gols
Empresas, contratos, egos

A mãe na copa
Raspa a lata de leite, atenta ao gol
Do craque que segue para a europa

Na Copa estão comendo fast-food
O Tio Sam vai conhecer a nossa batucada
E filmar essa orgia em Hollywood

Não há dissensões
Somos todos verde-amarelo
Em melancólicas crispações

O corpo exala o odor
Estremece de fome
Afugenta a dor

É gol, sublime
Não há mais faltas
Apenas a felicidade imprime

Não levo mais chibatadas no couro
Não preciso mais de creches
Pois tenho um gol de ouro

7.11.13

Calo

Faz tempo que não riu
Que não vou ao Rio
Que certas águas do rio
Não desembocam no mar

Faz tempo que cumpro pena
Dá pena só de pensar no comprimento
Estreito da pena
Que não posso comprar

Faz tempo que tento sobreviver
Sobre viver não tenho mais nada a dizer

Só calo
Nos meus pés
Alados

Como escrever poemas

Fustigado pela história, passou a escrever poemas

Viciado nas idiossincracias alheias
Injetava doses cavalares de aflições
Nas veias abertas [da América Latina]

Cheirava o pó dos antepassados cremados
Pela ganância implacável dos colonizadores

Tomava barbitúricos alucinógenos para reviver a escravidão nada afável

Escrevia seus poemas
Sob o efeito deste coquetel inflamável

Sentido

Não encontrou sentido
Naquela dor sentida
Naquela prisão sem grades
Naquele homicídio culposo
Naquele ato doloso
Corriqueiro dos que não amam

Não encontrou sentido
No sentido detido
Naquele vidro fosco
Temperado a sangue, suor e lágrimas

Não encontrou sentido
Naquela placa de contramão
Naqueles homens correndo sem direção

Não encontrou sentido
Naquele corrimão desapegado
No grito de gol da esquina ao lado

Não encontrou sentido
Em tantos holofotes
Em tantos desapegos fortes

Não encontrou sentido
Naquilo que estava sentindo

6.11.13

Melanina

Uma canção me disse certa vez
Que os sonhos não envelhecem
Faltou combinar com a escassez de melanina
E com os cabelos brancos que já apontam

Um certo poema falava dos meus ombros
Do quanto eles suportavam o mundo
Hoje não suportam o tempo envelhecido
E contam regressivamente a euforia ofuscada

Certos sonhos, certas canções
Duram o quanto tempo mole
Esparrama céu afora
Anoitece todo dia

O estribilho ressoou desafinado
Na tocata do balaústre
Na serenata do poeta
Na noite que se quedou: fim

30.10.13

Bluetooth

Lembra de um verão em 2008
Quando tudo parecia tão estável
E imutável
Éramos mamutes congelados
No inquebrável transcurso do tempo

Uma vida sem anomalias
Regando rosas ao amanhacer
Tomando chá ao entardecer
E agradecendo por mais um dia sem anomias

Escutávamos o rock and roll da moda
Sem saber que as oitos rotações
Do Long Play
Um dia se transformariam em
Dentes azuis sem legiões

Hoje uma barriga te espera
Um pequeno ao meu lado pede colo
E não fazemos mais apostas
Antes do sol se por

13.10.13

Vandalismo [na Assembleia Legislativa da PB]

[Para Manuel Bandeira e para o povo do Curimataú]

Hoje eu vi um vândalo
Não estava de máscara
Nem de Molotov

Carregava na bolsa
O dinheiro da prefeitura
Do FUNDEF e da Atenção Básica

Carregava os votos comprados
Com o dinheiro da coisa pública
E andava de paletó e gravata

O vândalo
Não era um anarquista
Não era um Black Bloc
Nem mesmo um marxista

O vândalo, meu deus,
Era um deputado

12.10.13

Vandalismo

Hoje eu vi um vândalo
Não estava de máscara
Nem de Molotov

Carregava na bolsa
O dinheiro da prefeitura
Do FUNDEF e da Atenção Básica

Carregava os votos comprados
Com o dinheiro da coisa pública
E andava de paletó e gravata

O vândalo, meu deus,
Era um deputado
Cheio de bravata

11.10.13

Mostra Che
10 de outubro de 2013
Auditório da ADUFS / UFS
GEPEL / UFS




8.10.13

Pós-graduação

Microconto

Ao encontrar o restaurante universitário fechado, em pleno semestre letivo, resolveu entrar na fila do SUS para tentar a bariátrica.

1.10.13

Rogar

Ruminou a aurora do novo dia
Surdos decibéis
Vagaram sem eira nem beira

Cavalos selados desceram morro abaixo
E cada soldado em sua trincheira

A revolução passou incólume
Nem ao menos foi entoada
A cantata do meio dia

O estribilho da internacional
Virou pagode de fim de semana

E todos que sentaram à mesa
Da santa ceia
Hoje gozam de ouvidos de rogados

Escutam apenas o rouco tilintar dos sinos
Numa balada surda
Da festa inacabada da Babel
[revolucionária]

Xadrez

Filho,
hoje eu te apresentei o tabuleiro
e as peças do xadrez

Os peões e sua capacidade de organização
Um desejo enorme em não aceitar
A lógica do sistema
Convencer a maioria
Que é possível chegar ao posto de Rainha

A liberdade dos cavalos
Saltam muros
Andam em ele
Tripudiam dos obstáculos
Parecem bichos alados

A igreja sempre presente
Nas diagonais
Impõe seus ritos
Nem sempre sagrados
Muitas vezes, apenas mitos

Torres gêmeas anunciam o prelúdio
Pés de barro, ignóbeis
Acham que têm o mundo
E todos os contos de réis

O Rei é a prova cabal
Tão forte
Tão frágil
Anda qual um peão
E vive na espreita
Com medo do juízo final

Rogo aos céus que o mundo compreenda
Que o concreto real forja a consciência
E que esse mundo encantado
Do tabuleiro de xadrez
Seja apenas uma desculpa ética
Para passarmos horas a fio
Pensando em como viver
[plenamente]
A dialética

25.9.13

Roadie

(Para Renato Manfredini, pai)
Se um dia cantares letras doces coloridas
Feito algodão doce
Vou lembrar de uma banda
Anos '80
Mas sei que esta banda não terá como nome Anacrônico
Nem aparecerá em belas crônicas
No jornal de domingo
Será capa de revista vendida pelos porcos verde-oliva
Logo após o estádio nacional vir abaixo?
Será que a burguesia vai ficar histérica
E a classe média estarrecida
Com mais um Aborto Elétrico?
E eu que desejarei ser o roadie desse sonho,
Num misto de orgulho e preocupação
Pedirei humildemente:
"Muda o nome dessa banda, meu filho!" 

24.9.13

Lições da universidade

Lições de hoje:

Sobre a comida privatizada:

Coma repolho todos os dias
Ajuda na flatulência intelectual

(sonho que um dia aconteça A Revolta do Repolho)

Suco de goiaba faz mal à saúde
Por isso é proibido repetir
(o cartaz avisa: coma repolho à vontade)

Sobre a internet para os doutos:

Internet sem fio apenas para os professores
Do Programa de Pós-Graduação
(o cartaz avisa: limite-se a sua posição de estudante)

E por fim me cobram uma tese
E o meu desejo atual é transformar tudo isso no capítulo final de O Ateneu

23.9.13

Piso Salarial

Não sei mais se desejo ser professor
Com salário sub-solo
E lamúrios que não ecoam

Prefiro ser mochileiro
Ao invés de passageiro
Desse trem descarrilado

Prefiro morrer em oito de outubro
Do que esmagado
Por essa febre terçã

Não estou devidamente convencido
Mas luta inglória da sala de aula
Só findará com a vinda de outubro

Sangrando em pedaços
Feito contracheques vomitando o consumo
Da TV de plasma

11.9.13

Escape


Para Josué de Castro

Tantas vezes escutei:
- Que carro lindo

E eu só consigo enxergar o escapamento
O fetiche da mercadoria
A linha de produção

Poucas vezes, ou nunca,
Escutei:
- Que poema lindo

Ainda bem que tais pessoas
Continuam com suas portas trancadas
Com cadeados enormes
Escondendo-se daqueles que não comeram esta manhã
Tentando escapar da geografia da fome

Ato irresoluto, pois da fome não se escapa
Mesmo que dentro de uma BMW com dois canos
[de escape]

Carta para Ernesto

Amado filho,

No dia que você nasceu fui na banca de revistas, do centro da capital parahybana, e adquiri os jornais e as revistas da semana. Não abri nem li nada. Guardei tudo numa pasta azul enorme e enrolei com papel laminado. Aguardo um dia, num domingo preguiçoso e chuvoso (quem sabe em 2025), que possamos ler as matérias que rondavam no momento do teu nascimento e podermos curtir uma manhã gostosa de inverno como dois bons amigos,

Te amo,

Papai

4.9.13

Roto

Como eu estava magrinho
Menino roto
Comedor de barro
Pés tronchinhos de liberdade

Como eu era lombriguento
Amigos paupérrimos
Felizes
E na flor da idade

Na foto nada instantânea
Dois meses para revelar
Aquilo que seria o retrato
Da curta e pacata cidade

Como eu era feliz
Não votava, não laborava
Apenas chutava bolas
Entre os gols da mocidade

Agora enjaulado
Sem lombrigas, nem joelhos
Vivo circunstanciado
Entre o inferno e a universidade

2.9.13

Refúgio Sergipano

Todo [meu] refúgio tem que ter mar
Tem que ter água
Tem que ter pão
E peixe
Pescado por um menino doce
De um remanso sóbrio
Numa imensidão de rio
E uma saudade enorme de você