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3.1.06

"NAÇÃO NORDESTINA"

“...só conhecimento liberta verdadeiramente as pessoas” José Martí
Aprendi no convívio familiar a verdadeira face das palavras "pai" e "mãe". Descobri que aquelas pessoas que criam e tomam a responsabilidade pelo filho, se tornam seus legítimos parentes, independente daqueles "pais" biológicos, que efetuaram o ato da geração. Gerar um filho é educá-lo, amá-lo, tê-lo como próprio sangue. Assim aprendi com o conceito de cidade natal. Tradicionalmente meu pai e meus avôs paternos criaram raízes em João Pessoa na Paraíba. Lá meu avô lutou, por toda sua vida, pelo verde e pela ecologia, ainda mesmo quando este termo não era corriqueiro na época. Estruturou sua história, construiu respeito através do conhecimento e da causa que semeou. Meu avô nasceu, se criou e batalhou coletivamente pela cidade, sendo assim verdadeiramente filho da terra. Ao contrário dessa história, nasci em terra "estrangeira", recifense de maternidade, local de nascimento de minha mãe e sua família. Lá passei os dois primeiros anos, apenas. Não me sinto pernambucano, até porque de lá começou uma saga de mudanças e histórias para contar. Tentem me acompanhar: dois anos em Brasília/DF, dois em Madrid/Espanha, dezenove em João Pessoa/PB, dois no Crato/CE, sem falar em Aracaju/SE onde residem meus pais atualmente e sem contar as idas à Natal/RN, Sapé/PB (onde trabalhei dois anos), Campina Grande/PB, Olinda/PE, Juazeiro do Norte/CE.
Foi no trabalho que desenvolvi em Sapé/PB e no Crato/CE que descobri a essência da terra natal. Esta terra é aquela pela qual nos dedicamos, por sua gente, seu povo e sua história. Em Sapé ajudei a desvendar a caixa preta do FUNDEF, depois de muitos desmandos daqueles que se diziam naturais da cidade. Vi homens desprezando seu povo, com um poder pífio nas mãos. Lá batalhamos pelos professores e pelas condições dignas das comunidades, chegando ao ponto de receber ameaças e ver um revólver perto do rosto. No Crato/CE não foi diferente, trabalhei numa Universidade de Coronéis, repleta de desvios e desmandos, arraigada por uma estrutura de poder injusta e inconsequente que visava aos ditos cearenses de berço. Nada disso me envaidece ou me torna melhor, nem pior que ninguém. Apenas senti que o local que estou merece meu respeito, e por isso posso me sentir adotado pela cidade. Quando cheguei a Jequié/BA descobri que nada era diferente. O mundo continua com sua atrocidades e seus algozes, estejam eles nos EUA (vide Bush), Israel (vide Sharon), ou Jequié, e aqui é só virar o rosto e encontrar o Governador do Estado, natural da cidade e sua trupe neoliberal, olhando de lado para sua gente. Vamos aos dados e os efeitos nefastos em Jequié. A Bahia é o campeão de analfabetos do Brasil (2.247.527 analfabetos), é o pior estado do país com relação a casas sem banheiro ou sanitários, e possui 1.215.309 residências sem coleta de lixo! (Fonte IBGE 2000). Jequié enfrenta problemas mil: fábricas escravizando pessoas, transporte coletivo desrespeitando idosos, projetos esportivos alienantes, muitas favelas e poucas opções de emprego e lazer. Esses dados representam, a cara de alguns "filhos" da cidade que relegam milhões à miséria e que apenas tem interesses particulares, relativos ao seu próprio bolso. Não consegui ficar parado diante desta cidade que me acolheu. Temos tentado articular um trabalho de base com as Associações, junto com os movimentos sociais e os excluídos da região. Amo Jequié, seu povo sofrido e empobrecido por aqueles movidos por interesses pessoais. Nasci aqui há 08 meses, e fico feliz pelo Róiz (Caros Amigos) ter me chamado de Jequieense, que neste contexto me faz ser filho da terra e da Nação Nordestina, como aqueles altruístas que lutam por um mundo socialista e por uma Universidade Popular, negra, índia, dos povos excluídos. Sim, e antes que me esqueça, aprendi também a debater as questões científicas nos fóruns privilegiados e não nos corredores, por isso, aqueles que por ventura desejem abrir um debate sobre "Esporte Mata" do Róiz, ou qualquer outro assunto pertinente e só dizer "a hora, o local e a razão".

“Pátria Livre, Venceremos!”

Lauro Xavier Neto
Recifense
Filho de Jequié
Nação Nordestina

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