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14.5.07

Se houve algo marcante na minha vida, foi este passeio de bicicleta - saudades do som do mar


AS PORTAS

Quando abro as portas da solidão
Vejo que os sonhos continuam enterrados
E já não encontro mais quais eram os sonhos que sonhei
Tudo em vão?

Tua boca perfeita, teu sorriso branco
Igual lua prateada
Confunde os dedos dos meus pés

Deixa-me tonto, arrepiado
Amordaçado,
Sem conseguir fechar os olhos

Nesse filme, não sei mais o que é ficção
Ou obra lendária que insiste em me consumir

O garoto ao lado rosna, fede, pede uma esmola
Será que esqueci dos meninos famintos?
Será que minha força se foi com o meu desejo de não ficar tão só?

Tua camisa molhada, mostrando teu corpo
Desejo cego e solitário
Desejo que some por meses
E aparece como vulcão que me consome

Espero que a chuva caía e traga novos frutos
E a tinta fresca dos bancos seque antes do pôr-do-sol
Antes de dormir feche as portas
Pois a meia noite te encontro
Lugar-distante, vou te dizer
Bem longe e caminho sem volta
Caminho perdido – na esperança de te encontrar

13.5.07

Cidade Estranha

Ando solto pela cidade, em busca de alguma esquina
Mas, não quero encontrar o garoto taciturno
Que deixei abandonado em invernos passados

Um buraco, um solavanco
Tropeço em pernas tortas

E agora, na idade de Cristo
Sou um adolescente vagando em cidade estranha
A procura de uma fuga
E já sentindo a saudade do futuro incerto

Alquebrado me redimo
A resignação é maior que qualquer rua desconhecida
Cidade Estranha, não me encontro

E os amigos partiram - na busca incessante de estar vivo

Ligo a TV, escuto sons nefastos
Na rádio, músicas que não interessam
Plugado: sítios, paragens - reflexos do dia de ontem

Desconectado das baladas noturnas
Apenas o sono é companheiro fiel

Entre os erros, as esquinas e os becos
Ficam as feridas mal curadas
A Cidade Estranha irá me dizer

Quanto tempo mais?

12.5.07

Discurso na formatura do Curso Técnico em Manutenção de Equipamentos Hospitalares – ETFPB (1995)

“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recria-las”, já dizia Paulo Freire.
Fizemos parte, por dois anos, de uma turma dita técnica e para lembrar conceitos, acabamos recebendo informações (estímulo) e apresentamos respostas adequadas, bem ao tom da pedagogia tecnicista. Fomos criados com a idéia sustentadora de servir a um sistema e nos adestrarmos à profissionalização, servindo de mão-de-obra. Os métodos apresentados resgataram o professor-instrutor, uma máquina de ensino, “educando” seus alunos incontestáveis.
Pobre de nós, inertes criaturas de nenhum poder interrogador, que nem a tamanha importância do nosso papel foi revelada. Um profissional responsável pela manutenção da vida e que um equívoco momentâneo poderá agudizar a dor e levar a morte, não merecia tamanho descaso. Não iremos invocar culpados ou testemunhar contra fulanos. Infelizmente, é a nossa cara manchada pela imensidão da hipocrisia para com a saúde que gerou tamanha decepção. Hoje encontramos doentes enfileirados esperando horas até o momento final, crianças em becos cheirando cola, velhos mendigos “celebrando a aberração da nossa falta de bom senso”. Não seríamos nós os privilegiados por um novo começo ou a fundação do alicerce da consciência humana – ficamos somados ao imenso abismo do câncer do pensamento capitalista.
A maior dor é perceber tantas vozes caladas e tantas luzes apagadas, baixando a cabeça e se submetendo aos encalços de verdades traiçoeiras. Tantos colegas serviçais ao sistema escravizador que nos separa e obriga a livre concorrência – o mais forte é aquele estúpido que vence. Esses preceitos geram guerra e desarmonia, e o pior, cega olhos que muito nos têm a dizer e ensinar. Somos frutos da natureza e a ela devemos compartilhar atributos de vida e serenidade, em um só refrão.
Nesse derradeiro momento, já cimentadas todas as pedras dos nossos objetivos, gostaria de merecer de vocês um instante apenas de reflexão sobre os desejos insólitos de formação profissional, esperando que não sejamos submissos a poderes que escravizam e alienam, e sim, nos tornemos vontades próprias de poder viver!

11.5.07

o inverno tibetano

neste instante de dor, desejo estar congelado
geleira do Himalaia
adormecida pelo tempo

apenas teu sopro é o calor
do degelo

pelo menos assim,
sinto menos dor
apesar do frio em minha alma

desse modo, não sinto dor
adormecido, congelado, resfriado

pena que o Himalaia
está muito distante
muitos pés a caminhar

tão longe assim
meu coração não suportaria

pisaria em falso chão
quebraria o fino gelo
despencaria em brancas nuvens

melhor mesmo é aquecer-me em falsas verdades
ficar quieto e postar minhas angústias
mandá-las para bem longe

para depois reencontrá-las em mim mesmo

Fortaleza – 03/08/1995

Roubaram meu relógio. Um garoto em plena festa – FORTAL – em plena praia do Futuro (?). O imperceptível e impensável é saber quem gerou estranho ser, faminto, odioso, perecível, odiável. Viva a festa, Micareta, o circo ao nosso povo que não possui nem ao menos pão. Recebe o apoio da Prefeitura, do Estado, garantindo não só mais em fevereiro a comemoração de um povo idiota, que faz mês a mês do nosso país um eterno carnaval. Voltemos ao nosso garoto, escarrado da sociedade e andando em bandos, vivendo ao relento, fazendo da festa seu ganha pão, descobrindo chaves que possam abrir outras portas – diferentes daquelas que um dia foram fechadas. O mais interessante é a praia: do FUTURO. A praia dos sonhos do nosso garoto que não vive - vegeta. Viajar no passado desse garoto que um dia foi criança, resultado provável de uma necessidade fisiológica, é ter a certeza de não escolher os caminhos, pois jogaram na sua cara os ríspidos rumos de quem é marginalizado pelo sistema. Enquanto isso, megasons escorrem pelos ouvidos de milhares de foliões que pulam, brincam, dançam sem ódio de verdade. O verdadeiro folião está na moda, se embriaga no prazer do álcool. Nosso garoto é transformado, simplesmente, na embriaguez, no vômito, na ressaca, no câncer social, com direito a confetes e ypiocas – um gole antes de morrer. Não imagino vida em olhos que não amam, muito menos em não amados, só consigo ver sua angústia de apenas sobreviver, matando necessidades de furtos e drogas.
Leva o relógio, meu agora garoto-amigo. Mata tua sede de pão neste circo armado, esgota tua vontade de poder um dia ser feliz nessas redes traiçoeiras de “gente” e sistema que criam eternas festas, que empobrecem e alienam aos milhares.

(Sem título) ainda resquícios dos anos 90

Teu sorriso vem como folhas
Que quando se sentem amarelas
Despencam de abismos infinitos
Em formas ocultas, distintas do ser

Com que palavras explicarei
A rapidez e a beleza da chuva que cai
Sem ao menos tocar este corpo
Um abalo tortuoso insano da mente
Transforma-se entre linhas
- Entre nossos olhos

Transforme o ódio, rasque as cobertas
Que encobrem nossas vidas, deixe à vista
Esse nosso pequeno mundo

Sem perdão e sem promessas
Esqueça as desculpas repetidas
Pois o assoalho frio está cansado
De ter-me como companhia

Venceremos essa dor
Com as nossas espadas despidas de corte
E a minha prisão será apenas meu vulnerável corpo

(Sem título) ou em algum lugar dos anos 90

Estou de volta para casa
De braços abertos
Descanso em paz
Consegui descobrir
O que o silêncio da tua voz
Queria me dizer
Só que neste verão
Eu irei fugir
Só um amigo
Só uma canção
E eu achei que não iria existir
Mais o gosto de se apaixonar
Com o coração aprisionado
E o dom de sempre sorrir

Mostre-me onde irei ver a lua
Com o som de brigadeiro
Ensina-me a acreditar na mentira
Da gente sempre querer
Se encontrar nos dias de chuva

Concurso de redação da ETFPB (1992). Tema: SEMADEC (Semana Artística, Desportiva e Cultural)

Estávamos todos entregues aos livros e limitados aos professores, conhecíamos apenas o caminho já traçado pelos mudos corredores, era como se a inércia dos nossos corpos se materializasse em nossas almas. De repente bradaram no corredor: confirmaram a SEMADEC!
Algo diferente invadiu o meu eu, o coração começou a bater com mais impaciência: é a SEMADEC, ora! Jogos, dança, cultura, sorriso, vida! Só de pensar no “Show de Calouros”, regido pelo prof. Geraldo, faz a alma inerte transbordar de emoção. A festa de abertura, que até estar pronta, nos tira muitas noites de sono pela ansiedade do começo. O acompanhamento dos sorteios das chaves dos esportes até o resultado final dos jogos com a comemoração explosiva da vitória. Não posso esquecer da maior festa da SEMADEC: Maratona Cultural, que faz delirar até o mais calmo dos alunos.
Não é possível descrever em tinta e papel o que é a SEMADEC, pois ela é simplesmente o friozinho da barriga nos momentos emocionantes. Venha, participe e quando ela terminar não teime em evitar a lágrima que insiste em roçar nossa pele bárbara.

Pernambuco - escrito pelo grande amigo Manoel Gomes

Nietzsche disse que a vida não tem sentido algum, mas quando ouço pássaros cantando, a imagem ao lado mostrando parte da vegetação, parte do mar na Paraíba, uma noite de lua cheia repleta de estrelas tendo a desacreditar no filósofo, será que vimos aqui para nada? "Existimos a que será que se destina...", diria o músico baiano, essa talvez seja a grande angústia humana! Viver apenas para morrer? Digo isso, porque ao longo da vida vamos fazendo amigos e, por estranha ironia, também os perdendo! Conheci um camarada, pensei que fosse paraibano, mas não é que o cabra é pernambucano? Professor, Legionário, Revolucionário e além de tudo isso, que não é pouco, SOLIDÁRIO...um amigo, desses que não encontramos em qualquer lugar...tivemos discussões homéricas, espantamos muitos abutres, que ele prefere chamar de urubus, mas os abutres continuam sua sanha, mas nós não nos dobramos ao "canto" dessas aves. Lauro Xavier Pires Neto, vou te contar um segredo, meu camarada, muitas das vezes em que estou meio que alquebrado, lembro das conversas que tivemos, da sua força e fé em acreditar que a revolução virá, aí me renovo, rearrumo os meus ossos e volto ao front; um som distante anuncia: "o mundo começa agora, apenas começamos!", não é, Pernambucano?!

o terceiro período pede sustento (1995)

Não é necessário muito esforço para se notar os olhos perdidos dos nossos colegas
Refletidos naqueles que há muito se foram, voltando de onde partiram.
De longe ecoam vozes: Teresina, Natal, Cajazeiras e até de não tão distante,
Se foram mais rápido que qualquer um de nós,
E nos tornamos cada vez mais perto, frutos da desilusão.
Exupery dizia que os adultos adoram números
Não precisamos mais deles,
Queremos vozes que nos retirem do abismo.
Sr. Schindler nos socorra, mesmo que seja necessário milhares morrerem
Deixem ao menos as migalhas
Restos inanimados que servirão de oradores às gerações futuras.
Olhem para nós, precisamos de vocês
"Não precisamos de máquinas", nem de grandes homens
Estamos cheios
Acabamos tolos, como o meio:
O homem do sorvete, o poeta, a menina dos olhos claros, o pessoal do interior, gente de Mangabeira, do pequeno carro, da musculação
Todos perdidos, clamando por vida
Tentando encontrar qualquer fuga
Que os livre deste triste fim
Todos unidos pela dor do amalgamar de sonhos com pesares
Não somos polacos, muito menos damas ou vagabundos
Somos olhos tristes
Sonhando com a liberdade

4.2.07

passeio pelo mangue


Depois da travessia de canoa, paramos para tomar algo. Procuramos uma pousada e às 14h30min estávamos procurando lugar para almoçar (o prato individual na pousada era R$ 20,00). Encontramos, através de indicações, Dona Moça, uma senhora que servia refeições. Naquele horário já havia terminado o expediente dela e saímos desesperados à caça de um prato de comido. Arlindo e Zé chegaram a pedir um prato de arroz e feijão a um menino que passava pela rua. Segui com Diego para o restaurante/pousada da "Mãe Santa", finalmente encontramos uma refeição. Comemos peixe frito (cavala), com arroz, feijão e rúcula e pagamos R$ 7,00 por pessoa. Lá fomos servidos por Lúcia, uma garotinha de 11 anos que nos contou um pouco de sua história. Havia sido reprovada em matemática e naquele momento fugia do PETI, pois o professor não estava fazendo nada, "apenas olhando para os alunos". O sonho de Lúcia era fazer Direito ou Medicina. Depois do almoço fizemos o passeio pelo mangue. Estava muito cansado.

travessia de Barra de Camaratuba


E essa visão de pau-de-arara-aquático?


O canoeiro, eu, Diego e as duas bicicletas, numa canoa que mal cabia duas pessoas! Ainda sobrou espaço para bater uma foto, se equilibrar e segurar as bicicletas!

"E esse teu sotaque nordestino

E essa tua visão de pau-de-arara

Restos de retalhos de bandeiras

Desfraldadas"

Bandeira Desfraldada - Vital Farias

mais uma canoa, mais um canoeiro - a fome, o cansaço e o desejo de chegar numa pousada não permitiu a conversa


esse foi o morro que subimos para podermos chegar em Barra de Camaratuba e pegarmos outra canoa


estão me vendo? Lá longe pedalando. Essa foi a nossa estrada em 80% do trajeto!


um paraíso nos esperava


e ainda faltava o morro


Depois de vencer a maré alta, o calor, os rochedos, pensávamos que Barra de Camaratuba nos esperava. Faltava ainda subir um morro e seguir uma trilha. Lá do alto reconhecemos Arlindo deitado em "berço esplêndido" já curtindo o rio e aos berros orientando o nosso trajeto pelo morro.

Pra que serve o sofrer?


Finalmente estávamos próximos de Barra de Camaratuba, mas ainda faltava vencer os rochedos, que incomodaram bastante em vários trechos da viagem.

Pra que serve o sofrer?

Pra quem tem solidão

Pra que serve a paixão?

Pra viver apaixonado...

(Mourão voltado em questões - Zé Ramalho)

chegamos em Baía da Traição


Esse foi o pior trecho da viagem. Arlindo resolveu procurar um posto médico para fazer um curativo no pé e Zé foi procurar algum lugar para tomar café. Eu e Diego ficamos esperando numa barraquinha na praia com vista para o farol, tomando água de côco. Havíamos combinado ir por uma trilha e não pela orla, mas eu e Diego discordamos da idéia. Arlindo e Zé demoraram quase duas horas para voltar e a maré encheu. Mesmo assim arriscamos seguir pela orla. Arlindo disparou (talvez chateado pela mudança de planos) e seguimos atrás num terreno impróprio para as bicicletas. Num certo momento tivemos que descer e sair andando empurrando a bicicleta na areia fofa, num sol escaldante de meio-dia.

filosofia de canoa


Nessa travessia aproveitamos para conversar com os dois pescadores que fizeram os papéis de remadores. Lá em Dona Aparecida já sabíamos que a água da localidade era péssima, com Júnior e Edivaldo confirmamos o descaso com os habitantes locais. Ficamos filosofando sobre as possibilidades de mudança, ou não, da vida naquela localidade. Arlindo achava que aquilo era um paraíso, vida pacata e mansa era o suficiente. Perguntei se aqueles jovens estudavam. Júnior falou que estava cursando o terceiro ano do ensino médio, que por muitas vezes acordou às 4h30min da matina para poder pegar o transporte da Prefeitura e poder estudar na "cidade", quando o ônibus quebrava (fato freqüente) voltavam andando. Disse que tem professor que passa até um mês sem aparecer. A merenda, quando tem, é servida também para o ensino médio (o pessoal lá dá um jeitinho). A travessia é longa, requer um trabalho braçal intenso. Lembrei da placa publicitária do governodoestado (sic) que cedia R$ 25.000,00 para a Comunidade de Barra de Mamanguape para implementar um projeto de artesanato. Detalhe: o dinheiro era empréstimo ao Banco Mundial (projeto cooperar). Será que o governo não possui autonomia financeira para bancar vinte e cinco mil? Para "ajudar" a esposa do deputado Ruy Carneiro a fazer uma cirurgia bucal o governou "doou" quase essa quantia. Será mesmo uma vida feliz?

finalmente no barquinho atravessando o Rio Mamanguape

A travessia mais longa do percurso!

3.2.07

vou dar uma espiada na pescaria


Chego para conversar com os pescadores. Pergunto o nome dos peixes, o que eles fazem com a pescaria, como ganham a vida. Um pescador diz que nem sempre é fartura assim, às vezes não pesca nada. O papo é curto e não me deram muita atenção. Perguntei pelos "peixe-boi", já que estávamos numa área de preservação. Existem poucos e de vez em quando aparecem. Dois deles estavam em cativeiro, mas era preciso pagar R$ 5,00 pelo passeio.

vida de pescador


O que fazer com tanta fartura? De repente vem o povo, cada um com sua sacolinha e apanha um pouco do peixe. - Não vende para fora não? Perguntei. A resposta é lacônica e direta: - não! E aí passamos a analisar a vida dos pescadores, compreender o sentido daquilo, a rotina do trabalho e as perspectivas de uma outra vida. A análise fica para a próxima foto, já que foi uma demorada travessia de canoa.

a primeira pousada (chalé)


Chegamos em Barra de Mamanguape sem saber se encontraríamos local para dormir. Felizmente uma senhora alugava um chalé por R$ 20,00 e tomamos o primeiro banho do dia. Achamos um restaurante e Dona Aparecida nos recebeu. Zé pediu para cozinhar o inhame e o jirimum e a gentil senhora ainda complementou com arroz, feijão e uma salada. Dona Aparecida, muito simpática, falou sobre sua vida. Como nordestina seguiu para o Rio com 17 anos deixando sua filha com parentes. Lá trabalhou, deu duro e voltou alguns anos depois para cuidar da mãe. Disse que em Barra de Mamanguape as pessoas vivem da pesca ou da "prefeitura" e que a cidade não oferece muitas possibilidades, além de não acreditar mais nos políticos que "são todos iguais". No outro dia pela manhã tomamos café com ela. Arlindo perguntou se não haveria uma tapioca e Dona Aparecida, na sua calma e descanso, respondeu: - ah! se tivesse eu também queria!!!!
"Salto no escuro de meter medo nos olhos
De meter medo a quem medo nunca sentiu
Tentar a sorte no Rio de Janeiro
São Paulo, no mundo aceito o desafio..."
Hino Nordestino - Moraes

daqui prá frente, quase escurecendo, apenas a sinfonia do mar

Depois desse trecho seguidos pela orla até Ponta de Campina, chegamos depois das 18h e famintos. Corri para a padaria e comprei os últimos quatro pães. Na cidade não encontramos pousadas e numa mercearia lanchamos. Zé comprou inhame e jirimum para cozinhar (ninguém sabia onde!!!!). Nos indicaram que em Barra de Mamanguape acharíamos uma pousada. Saímos pela primeira vez da orla e seguimos por uma trilha de uns 4 km. A lanterna de Zé, acoplada à bicicleta, nos salvou!

rapadura é doce mas é dura


vem vamos embora que esperar não é saber!



Depois de quase voltarmos para o local de origem e tentar uma trilha ou desistirmos (graças ao corte de Arlindo) seguimos adiante, pé-ante-pé enfrentando o mar com a bicicleta nas costas e água na cintura. Notem Arlindo e Zé (que mal aparece) com água até a cintura.

desbravando o caminho


Como fui o único que teve coragem de atravessar a correnteza e verificar o caminho possível pela maré, cheguei sozinho do outro lado. O rochedo e o automático da máquina ajudaram-me a registrar o momento da chegada.

"A mais cruel armadilha

Encruzilhada dos fins

E os alicerces das ilhas

Roído pelos cupins..."

Fuba - Braúlio Tavares

Arlindo sangrando quase desiste da viagem


Arlindo corta o pé numa ostra e ainda estávamos no marco zero da viagem!!!!


"Se cada passo dado é um consolo

É um choro de garrote ferindo o luar

No pico desse morro não finca bandeira

A brincadeira é outra para contar

Fugindo de casa, girando no mundo

Nesse poço profundo

Pesco desejos na beira-mar"

Zé Ramalho

primeiro obstáculo - maré cheia e sem conseguir passar




"Seu moço, eu venho de longe


Não sei onde vou chegar


Não tenho medo de seguir


Mas tenho medo de voltar..."


João do Vale e Libório

a intimidade já no começo do percurso


no cemitério da Guia


Encontrei Francisco Limera, que por coincidência (ou não) havia falecido no mesmo dia, mês e ano que nasci - por isso, e com todo o respeito pela família que nem conheço, pedi a Zé Barbosa que registrasse o fato inusitado.

a viagem mal começou e a primeira parada...


... infelizmente antes da Igreja da Guia em Lucena a primeira ladeira...

Chegada em Costinha-PB


Eu, Arlindo, Diego e Zé Barbosa (os três primeiros professores do CEFET-RN UNED Mossoró), desembarcamos em Costinha-PB e começamos um projeto que muitos chamaram de maluco e Pedro Osmar e Jaiel de Assis diriam:

"Beijo por beijo não vale a pena dar

Morte por Morte é uma loucura só

Eu e o amigo que se desespera

Dentro da cerca de uma prisão

Sabemos, ainda é cedo

Pra pisar na lama

Mas um vôo longo

Pode ser tentado

Enfrentando balas

E outras ações

Feitas por encomenda

Pra te afastar dos teus

Que como mendigos

Andam sem pátria tatuados pelo temor!"

dentro da balsa para Costinha-PB


"Quando me lembro dos meninos do sertão

Vejo Hiroshima nos olhares infantis

Vejo a essência da desigualdade humana

Num verdadeiro calabouço dos guris

Meu coração bate calado enquanto choro

Tirai a canga do pescoço dessa gente

Que só precisa de amor, trabalho e pão"

Petrúcio Amorim - Maciel Melo

Saída na Balsa de Cabedelo-Costinha-PB 29-01-07


"Quem viu a terra gemer

Nos dentes brancos do mar

E a laje fria da espuma

A sete palmos do olhar..."

Fuba-Braúlio Tavares

Intróito à Nação

Depois de quatro dias pedalando com três amigos de Costinha-PB à Pium-RN (125km) aprendi muita coisa. Conheci melhor o Nordeste e o povo que vive à margem do Oceano Atlântico. Vou me valer do magnífico CD de Zé Ramalho (Nação Nordestina, 2000) para expressar tudo que passamos.
"É uma nação
Dentro de um grande país
Um grande povo
Dentro de outro maior
E esse nó
Não desata nem destina
Que essa Nação Nordestina
O Brasil é o melhor" Zé Ramalho