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11.5.07

Fortaleza – 03/08/1995

Roubaram meu relógio. Um garoto em plena festa – FORTAL – em plena praia do Futuro (?). O imperceptível e impensável é saber quem gerou estranho ser, faminto, odioso, perecível, odiável. Viva a festa, Micareta, o circo ao nosso povo que não possui nem ao menos pão. Recebe o apoio da Prefeitura, do Estado, garantindo não só mais em fevereiro a comemoração de um povo idiota, que faz mês a mês do nosso país um eterno carnaval. Voltemos ao nosso garoto, escarrado da sociedade e andando em bandos, vivendo ao relento, fazendo da festa seu ganha pão, descobrindo chaves que possam abrir outras portas – diferentes daquelas que um dia foram fechadas. O mais interessante é a praia: do FUTURO. A praia dos sonhos do nosso garoto que não vive - vegeta. Viajar no passado desse garoto que um dia foi criança, resultado provável de uma necessidade fisiológica, é ter a certeza de não escolher os caminhos, pois jogaram na sua cara os ríspidos rumos de quem é marginalizado pelo sistema. Enquanto isso, megasons escorrem pelos ouvidos de milhares de foliões que pulam, brincam, dançam sem ódio de verdade. O verdadeiro folião está na moda, se embriaga no prazer do álcool. Nosso garoto é transformado, simplesmente, na embriaguez, no vômito, na ressaca, no câncer social, com direito a confetes e ypiocas – um gole antes de morrer. Não imagino vida em olhos que não amam, muito menos em não amados, só consigo ver sua angústia de apenas sobreviver, matando necessidades de furtos e drogas.
Leva o relógio, meu agora garoto-amigo. Mata tua sede de pão neste circo armado, esgota tua vontade de poder um dia ser feliz nessas redes traiçoeiras de “gente” e sistema que criam eternas festas, que empobrecem e alienam aos milhares.

Um comentário:

Manoel Gomes disse...

opa, aqui a coisa foi feia, relógio roubado, condições humanas das piores, circo carnavalesco...onde foi parar a poesia? Eles roubaram o nosso direito...