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12.5.07

Discurso na formatura do Curso Técnico em Manutenção de Equipamentos Hospitalares – ETFPB (1995)

“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recria-las”, já dizia Paulo Freire.
Fizemos parte, por dois anos, de uma turma dita técnica e para lembrar conceitos, acabamos recebendo informações (estímulo) e apresentamos respostas adequadas, bem ao tom da pedagogia tecnicista. Fomos criados com a idéia sustentadora de servir a um sistema e nos adestrarmos à profissionalização, servindo de mão-de-obra. Os métodos apresentados resgataram o professor-instrutor, uma máquina de ensino, “educando” seus alunos incontestáveis.
Pobre de nós, inertes criaturas de nenhum poder interrogador, que nem a tamanha importância do nosso papel foi revelada. Um profissional responsável pela manutenção da vida e que um equívoco momentâneo poderá agudizar a dor e levar a morte, não merecia tamanho descaso. Não iremos invocar culpados ou testemunhar contra fulanos. Infelizmente, é a nossa cara manchada pela imensidão da hipocrisia para com a saúde que gerou tamanha decepção. Hoje encontramos doentes enfileirados esperando horas até o momento final, crianças em becos cheirando cola, velhos mendigos “celebrando a aberração da nossa falta de bom senso”. Não seríamos nós os privilegiados por um novo começo ou a fundação do alicerce da consciência humana – ficamos somados ao imenso abismo do câncer do pensamento capitalista.
A maior dor é perceber tantas vozes caladas e tantas luzes apagadas, baixando a cabeça e se submetendo aos encalços de verdades traiçoeiras. Tantos colegas serviçais ao sistema escravizador que nos separa e obriga a livre concorrência – o mais forte é aquele estúpido que vence. Esses preceitos geram guerra e desarmonia, e o pior, cega olhos que muito nos têm a dizer e ensinar. Somos frutos da natureza e a ela devemos compartilhar atributos de vida e serenidade, em um só refrão.
Nesse derradeiro momento, já cimentadas todas as pedras dos nossos objetivos, gostaria de merecer de vocês um instante apenas de reflexão sobre os desejos insólitos de formação profissional, esperando que não sejamos submissos a poderes que escravizam e alienam, e sim, nos tornemos vontades próprias de poder viver!

Um comentário:

Manoel Gomes disse...

e por aqui também...