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22.12.05

Todas as coisas do mundo

Todas as coisas do mundo

Desculpe-me pelos ataques rochosos de blasfêmia
e podridão que corrói o meu ego,
Pelas minhas faltas, pelos meus sonhos atolados nos meus limites
Por todos aqueles que magoei, sem pedir perdão
Perdoe-me por ter sofrido e deixado para trás tudo que sempre carreguei de bom
Sinta falta daquele ser, construído pelo ardor das múltiplas cascatas de amor
E agora dilacerado em negras vestes de cetim, corrompido e ardente
Não tocarei no assunto amor, enquanto ele for faca que atravessa teu peito,
Fogo que queima tua carne, escarro que empodrece tua boca
Falarei da vida cabisbaixo, contando os azulejos
que me levam à escada da morte
E quando finalmente avistar, recordarei aquele que um dia sonhei ser:
Prudente, honesto, concreto em meus atos e ações, e teria em fim descoberto a lisura do homem,
A compaixão do perdão e a vida em conjunto
Mas não mais inundarei o piso de lágrimas, seguirei rente ao solo – meus olhos
Em busca do destino que sempre temi
Terei a honra e o prazer de gozar o último suspiro, como se fosse o primeiro
Como se fosse o eterno, como se fosse você a roçar na minha pele bárbara
Só me resta de pedir: me salve, me alui desse destino que ronda o meu penar
Mas, não tenho mais força, não consigo
te fazer entender minha dor e meu instinto,
Pois a sua sofreguidão desassola a mim mesmo
Não tenho mais força, céus – onde está o céu?
onde está a escadaria da eterna aliança?
Sinto seu cheiro, uma mistura de enxofre e alfazema
Um odor que dilacera meu coração, me parte em pedaços vãos
Entrementes te encontro a beira da escadaria, é o cheiro do orvalho
O ópio que sustenta meu viver e conseguirá me desvirtuar do sofrimento...
E agora, o que fazer? Continuar cabisbaixo e retalhado,
cumprindo o doloroso destino
Ou te fazer parte dessa história – enxofre-alfazema-enxofre – no egoísmo dos meus limites?
Crato, 27 de Abril de 2001

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