Páginas

22.12.05

Considerações preliminares sobre os elementos da Sociologia do Futebol

Considerações preliminares sobre os elementos da Sociologia do Futebol
Lauro Pires Xavier Neto

A Sociologia do Futebol é um ramo da sociologia que trata especificamente de temas sociais, que estão inseridos dentro da prática do esporte mais popular do mundo. Pela magnitude do futebol, estudos sociológicos são essenciais para a compreensão deste elemento da cultura corporal, inserido num contexto de sociedade, avaliando o seu papel e verificando o nível de sua atuação social.
Este texto fará uma análise do futebol, enquanto desporto coletivo, à luz da sociedade capitalista, baseado na obra Marxista. Não se trata de um estudo acabado, e sim, uma síntese acerca de alguns elementos preliminares para a elaboração de um pensamento mais criterioso de como o futebol é (mal)tratado na nossa sociedade de classes.
Num contexto mundial, é possível verificar a grandeza do futebol através da comparação entre a Organização das Nações Unidas (ONU), que congrega 189 membros e sua fundação data de 1945, e a Federation Internacional de Futebol Association (FIFA), que possui 198 filiados, fundada em 1904. Além disso, o nome Pelé (maior jogador de futebol de todos os tempos) é nome mais conhecido do mundo inteiro, ficando a frente da Coca-Cola e do Papa (pesquisa realizada pela ONU). Em termos financeiros, o futebol movimenta 255 bilhões de dólares, enquanto que a General Motors, 170 bilhões (Murad, 1996).
No Brasil o futebol é uma realidade, que consiste em vários campinhos de pelada e que profissionalmente congrega 12 877 clubes e 600 000 jogadores, sustentáculos da paixão nacional. Paixão essa que levou e leva escritores, poetas, músicos e artísticas a declararem em seus trabalhos elementos sobre o futebol, retratando o caráter cultural do fenômeno. Podemos citar José Lins do Rego, Vinícius de Moraes, Pixinguinha, entre tantos outros.
Porém o futebol, não faz parte apenas da nossa elite cultural, ao contrário, se entranha nos lares das classes menos favorecidas materialmente, ilimitando-se na estratosfera das camadas sociais. E é nesse ponto sem limites, que o futebol deixa de ser apenas um jogo de 22 pessoas e uma bola, tornando-se um elemento da nossa estrutura social, podendo estar a favor ou não dos interesses da classe dominante. Exemplo claro desse fenômeno esportivo foi a campanha “prá frente Brasil”, utilizada pela regime militar na Copa de 70.
Como num drible seco e astuto, aproveitamos o momento para teorizar sobre a sociedade capitalista, para que possamos entender melhor sobre as nossas vidas e sobre o futebol.
Segundo Marx e Engels (1848), escrevendo sobre a classe burguesa, afirmam: “a burguesia não pose existir sem revolucionar os instrumentos de produção, e com isso todas as relações sociais”. Nesse sentido entendemos que o futebol não é um monstro a serviço da classe dominante, alienando a classe trabalhadora, e sim vítima do modelo capitalista, que apodera-se de todas as relações sociais, a custa do suor da grande massa.
Já podemos amarrar, nesse meio campo, um bate bola a respeito das temáticas sociais, numa visão marxista, explicitando como os capitalistas se apropiam dos valores da cultura do futebol. Vamos aos exemplos: excessiva mercantilização do futebol, os baixos salários da maioria dos jogadores de futebol em detrimento a alguns poucos ‘astros’ que recebem milhões, a imposição de contratos por parte dos dirigentes.
A relação salarial é um dos pontos mais críticos e severos da relação comercial do futebol. Para se ter uma idéia 50,8% dos jogadores profissionais do nosso país ganham até 1 salário mínimo mensal (sem falar que muitos jogadores trabalham de graça para os seus clubes, esperando serem reconhecidos!). Entre 1 e 2 salários mínimos mensais este número chega a 30,2%, ou seja, mais de 80% dos jogadores brasileiros não recebem mais de 2 salários mínimos (dados Folha de São Paulo, 1997). Nesse mundo ilusório, os jovens e adolescentes largam seus estudos em busca de um sonho, forjado pelo sistema, de um dia serem grandes jogadores.
Dessa feita, o futebol perde o seu brilho e torna-se um aríete dos interesses da classe dominante, que exploram uma grande maioria em favor do interesse de poucos. O Manifesto Comunista trata sobre essa relação: “A burguesia, onde conquistou o poder, destruiu todas as relações, ..., não deixou entre homem e homem outro vínculo que não o do frio interesse, o do insensível pagamento em dinheiro, ..., fez da dignidade pessoal um simples valor de troca, no valor de um sem número de liberdades legítimas e duramente conquistadas, colocando a liberdade única, sem escrúcpulos, do comércio.”(Marx e Engels, 1848)
Entendemos que é inaceitável tantas diferenças que o sistema capitalista nos traz como verdades absolutas, e que normalmente recebemos como valores reais. Não podemos acreditar que é justo e honesto um Ronaldinho da vida receber milhões, enquanto que jogadores profissionais da cidade de João Pessoa – PB não recebem salários durante vários meses e normalmente trabalham outro expediente, em outra profissão. Não podemos aceitar essa sociedade capitalista, que fomenta a miséria, a prostituição, a seca, o descaso com milhares de nossos irmãos, não podemos calar e permitir esse desmonte de nossas vidas por empresários, agiotas, banqueiros e especuladores. Famintos, artistas, homens progressistas, flagelados, jogadores de futebol, uni-vos!.

Nenhum comentário: