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2.1.09

Gabriel e Florentino (O amor nos tempos do cólera)

Conheci Gabriel da melhor maneira possível. Comecei por um livro menos denso e mais direto. Como não ler um livro chamado “Memória de minhas putas tristes”, de uma capa singela e de bom gosto? Sempre quis compreender o universo do autor e que aquele livro fininho, de título sugestivo, cumpriu a função. Uma obra deliciosa, abocanhada por uma mordida só, feito aquele sanduíche apetitoso, digerido rapidamente depois de uma longa tarde de fome. Daí, não parei mais, passei para o fantástico “Ninguém escreve ao coronel” e fiquei preso no clássico “Cem anos de solidão”, que requer uma ruminação maior. Infelizmente, ainda não cheguei até o fim e coloquei outros sabores no meu cardápio. Traí o Gabriel e enveredei-me por “Ensaio sobre a cegueira”, desejando pagar minha dívida com o Saramago. No mesmo lastro, misturei feijão com camarão e sigo lendo, pela segunda vez, “Germinal” de Émile Zola, juntamente com “Histórias de Presidentes” – café, almoço e jantar ao mesmo tempo, mas este é preço da ociosidade das férias e a cabeça não pode parar como diria Rauzito.
De consciência pesada fui assistir “O amor nos tempos do cólera”, pois havia prometido que só adquiria esta obra após o término de “Cem anos...”. Mais uma vez fiquei encantado com o Gabriel. Se o filme conseguiu transmitir as intenções poéticas do autor é, de fato, uma obra magistral. Refletir sobre o que é o amor e o quanto ele pode durar é um trabalho sentimental fantástico, especialmente nestes tempos de amor supérfluo e descartável, exatamente como deseja o capitalismo para seus produtos.
51 anos, 9 meses e 4 dias foi o tempo esperado por Florentino, para poder ficar eternamente com sua amada. Em moeda de hoje quatro dias seriam suficientes para amar, transar, ter um filho e partir para outra. Filmes como este instiga uma reflexão profunda sobre os nossos valores, sobre as nossas relações diárias e sobre a subjetividade do ser humano. Não tenho dúvidas que a realidade concreta forja o ser humano, no sentido Marxista, e mais que nunca percebo que as relações comerciais capitalistas destroçam sentimentos e forjam o ser humano egoísta. Certamente Gabriel não discorreu diretamente sobre esse assunto, mas, as idiossincrasias de Florentino fizeram-me mais humano.

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