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7.5.13

Juntos chegaremos lá...


Quem viveu o histórico 1989 deve lembrar das músicas de campanha para Presidência da República, com mais de 20 candidatos de todas as estirpes que participaram do processo de votação "direta" depois de mais de 25 anos.

Algumas músicas são inesquecíveis. "Bote fé no Velhinho, que o Velhinho é demais" da fracassada campanha de Ulisses Guimarães (vencido nas urnas até pelo então desconhecido Enéas, e só para recordar do bordão: "Meu nome é Enéas"), ou do "Lá Lá Lá Lá Brizola", ou "Lula Lá valeu a espera...".

Um dos candidatos conquistou a simpatia de parte do eleitorado com o slogan "Juntos chegaremos lá" utilizando um artifício com as mãos e o dedo indicador apontando para o "Lá" (seja ele o que for). Guilherme Afif Domingos, candidato do Partido Liberal, filiado aos grandes empresários (sempre bom lembrar que o Agronegócio também elegeu seu candidato, o nefasto Ronaldo Caiado) obteve um votação significativa.

Na época, ainda no começo da adolescência, brinquei muito com meus colegas do "Juntos chegaremos lá", sem saber o que aquilo significava. 24 anos depois acabo de descobrir. Afif assumirá uma pasta de Secretário, com status de Ministério, no Governo Dilma "da Silva". O projeto neoliberal chegou lá, junto com ele chegaram José Alencar, Henrique Meirelles, César Borges, Afif Domingos e todos aqueles que  combatemos ao longo da vida.

Lembro que quando trabalhei em Jequié/BA organizamos um ato político reivindicando mais verbas para a Universidade Pública durante a inauguração da Av. César Borges, que teimávamos chamar de Av. da Paz. Toninho Malvadeza no palanque com Paulo Souto (então governador) e o próprio César Borges (vivinho, apesar de dar nome à avenida). As faixas de protesto eram nosso único ruído naquele momento. Ao som de "abaixo as faixas" proferido do alto do palanque, Toninho Malvadeza deu o sinal para a Polícia bater e prender Augusto, então estudantes de Direito da UCSAL, que segurava uma das faixas bem ao meu lado. Augusto foi espancado e levado preso. À noite conseguimos "libertar" o preso político, acusado pela polícia de, pasmem, assalto! Depois de muita procura conseguimos um Delegado (não aliado à malvadeza) para fazer o corpo de delito em Augusto.

Essa é uma breve história entre tantas. Quantos militantes de esquerda não passaram por uma situação desta? Arriscaram sua vida pela causa?

E o resultado disso: "Juntos chegaram lá!", só não sabíamos que o projeto neoliberal teria tantos aliados.

Lauro Pires Xavier Neto
Doutorando em Educação / UFS

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