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8.9.12

05 de setembro



Persegui aquele perfume por meses. Estava perdidamente apaixonado. Tomava a camisa dela de assalto e ficava cheirando por horas a fio, como se fosse um bálsamo. Ela nem me dava bola. Finalmente em 05 de setembro de 1992 fiz um convite irrecusável. Vamos invadir o hotel e curtir infinitamente o prazer da companhia da nossa banda de rock favorita. Entramos ilegalmente. Estivemos tão próximos do Dado, do Bonfá e dos músicos da banda. O Renato apareceu rapidamente na sacada. Passamos o dia brincando, cantando, arriscando a nossa pele em proezas juvenis. A adrenalina tomava corpo e aquele perfume, que até hoje permeia meus sonhos, estava tão próximo e palpável que seria impossível continuar apenas sentindo uma vontade gigantesca de beijar aqueles lábios desejados por meses. À noite, durante o show, estávamos rodeados por trinta mil pessoas. Cercados por um calor de gente acalentadora. Lembro da roupa branca, do cabelo preto liso, dos olhos de fogo. Lembro do show começar ao som de Love Song seguido de Metal Contra as Nuvens. Êxtase puro ao ser conduzido por aquelas mãos carinhosas para frente do palco. Bem distante daquelas trinta mil pessoas. Renato então anuncia que vai cantar o hino nacional... como assim? E começa: “Meu coração / não sei por que / bate feliz quando te vê...”. Como se nossos lábios estivem entoando a canção, esperamos chegar em “Vem, vem, vem / Vem sentir o calor dos lábios meus...” para enfim consumar um encontro inenarrável de línguas, sabores e salivas que procuro sinônimos ao longo da história. Quando o show terminou tivemos que descolar nossos corpos e seguir o rumo das paradas de ônibus. Eu estava inebriado, encantado, afônico, agradecido a Legião Urbana e, não mais perdido, completamente apaixonado.

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