Persegui aquele perfume por
meses. Estava perdidamente apaixonado. Tomava a camisa dela de assalto e ficava
cheirando por horas a fio, como se fosse um bálsamo. Ela nem me dava bola.
Finalmente em 05 de setembro de 1992 fiz um convite irrecusável. Vamos invadir
o hotel e curtir infinitamente o prazer da companhia da nossa banda de rock
favorita. Entramos ilegalmente. Estivemos tão próximos do Dado, do Bonfá e dos
músicos da banda. O Renato apareceu rapidamente na sacada. Passamos o dia
brincando, cantando, arriscando a nossa pele em proezas juvenis. A adrenalina
tomava corpo e aquele perfume, que até hoje permeia meus sonhos, estava tão
próximo e palpável que seria impossível continuar apenas sentindo uma vontade
gigantesca de beijar aqueles lábios desejados por meses. À noite, durante o
show, estávamos rodeados por trinta mil pessoas. Cercados por um calor de gente
acalentadora. Lembro da roupa branca, do cabelo preto liso, dos olhos de fogo.
Lembro do show começar ao som de Love Song seguido de Metal Contra as Nuvens.
Êxtase puro ao ser conduzido por aquelas mãos carinhosas para frente do palco. Bem
distante daquelas trinta mil pessoas. Renato então anuncia que vai cantar o
hino nacional... como assim? E começa: “Meu coração / não sei por que / bate
feliz quando te vê...”. Como se nossos lábios estivem entoando a canção,
esperamos chegar em “Vem, vem, vem / Vem sentir o calor dos lábios meus...”
para enfim consumar um encontro inenarrável de línguas, sabores e salivas que
procuro sinônimos ao longo da história. Quando o show terminou tivemos que
descolar nossos corpos e seguir o rumo das paradas de ônibus. Eu estava
inebriado, encantado, afônico, agradecido a Legião Urbana e, não mais perdido,
completamente apaixonado.
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