Finalmente o sonho concretizado. Anos de estudo, dedicação e aprimoramento para enfim conseguir um lugar na academia. Ao chegar, cheio de sonhos e desejos, soube logo que lá habitava um povo bárbaro que há alguns anos atormentavam todos aqueles que não seguissem as suas designas. Recomendaram andar nos trilhos e não caminhar pela aridez dos pântanos cinzentos evitando contradizer os bárbaros de olfato apurado – todos os seus movimentos estariam a partir daquela data rastreados.
Inicialmente uma catatonia tomou conta do seu semblante, mas prosseguiu a caminhada na instituição, afinal o desejo peremptório de ministrar aulas, pesquisar e compartilhar saberes com a comunidade era algo já amadurecido e presente na sua carreira profissional.
Aos poucos as denúncias se avolumavam e as ações concretas dos lacaios vinculados aos bárbaros apontavam que aquele ambiente, antes idílico, apresentava-se inóspito e repleto de veleidades.
Todo dia acordava incomodado com um ar de indignação que tomava seu fôlego frente às inúmeras injustiças e ações de proselitismo que encharcavam seu ambiente de trabalho. Resolveu, portanto, desafiar os bárbaros!
Percorreu inúmeras vielas, ruelas, caminhos estreitos, muitas vezes sozinho, outras vezes acompanhado. Correu inúmeros riscos, mas sempre com a altivez e perseverança dotadas de um calor teórico que construiu ao longo de muitos anos de estudo de um tal velho barbudo.
Num dessas andanças deparou-se com uma tribo de bárbaros. Foi cercado, amordaçado e questionado: “uga-uga ou exoneração?”. Sem excitar, apesar do desconhecimento do teor da primeira opção, respondeu: “uga-uga”.
Os bárbaros, com anos de experiência maléfica, torturam, assediaram, vilipendiaram e soltaram o professor. Achavam que depois desta ação de opção maniqueísta, haviam liquidado mais um opositor que se negava a ser cooptado ou reduzido ao silêncio.
Mesmo fragilizado após a onda de tortura, continuou a caminhada, pois sua posição ideológica berrava mais forte, convicta e espelhada no sangue e no suor de tantos outros companheiros de luta.
A partir de então, todas as noites, seus algozes apareciam como redemoinhos devastadores em seus sonhos; Entrementes todas as imagens de injustiça e aberrações bradavam ao seu lado diuturnamente, implicando com o senso de liberdade que pedia solenemente que não desistisse da empreitada.
Seguiu as ordens da sua consciência. Continuou caminhando naquele terreno árido e perverso. Por vezes sentia a compreensão de alguns, por outro lado, a solidão da coerência adormecida de muitos.
Certo dia, numa dessas aventuras quase quixotesca, foi mais uma vez capturado pelos bárbaros. Temia pela pergunta, inexoravelmente vociferada pela alcateia: “uga-uga ou exoneração?”.
Agora já sabedor do significado de tão estranha expressão e suprimido de qualquer condição psicológica de enfrentar (com aquelas armas, tão desiguais) o inimigo, respondeu: “exoneração”.
Os bárbaros perplexos com a resposta fitaram o líder maior, até então blindado pelo grupo. A ordem do chauvinista, repleta de sadismo, reflete o nível de maldade do dito poder encarnado e mofado nas entranhas da instituição há mais de uma década:
- Uga-uga primeiro!
Um comentário:
Só tenho a dizer que vá com Deus e deixe nosso povo viver em paz. Os sonhos de nosso povo ter um representante para fortalecer nosso município foram frustrado... Infelizmente.
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