Páginas

29.8.16

Heroína

Heroína

(para Janis)

Nunca usei heroína
Nunca quis ser herói
Ou cowboy
Neste filme sem mocinho
que a vida predestina

Paguei a conta com o preço alto da coerência
Em meio a tanta displicência
Daqueles que um dia juraram lealdade

Os meninos da rua continuam com baleadeiras
Mesmo que já não tenham mais idade
para tanto

Subi e desci ladeiras
Às vezes sóbrio
Às vezes reu
Nunca montado em pedestal de ouro
Sem pés alados a caminho do céu

Nunca usei heroína
Nunca corri o risco de não amanhecer
Aos vinte e sete
Num quarto triste de hotel

Nunca gritei para me mostrar
Ou desafinar
Meu grito era em dó maior
Era o grito do meu tempo
Para sustar os agentes laranjas
Colhidos nos pés podres de barro

Vai Janis
Atira para todos os lados

Tua voz e teus gritos
São balas de anis
Só perfuram carnes amargas
cheias de ardis

Nenhum comentário: