Sempre corri contra o tempo
Desejei mil revoluções por minuto
Pois sabia que um dia faria quarenta
Hoje, velho e cansado, leio o jornal de pantufas
Cada página do tabloide escorre sangue da violência doméstica
que domestica lares e enclausura sujeitos
Mesmo soterrado pelo alzheimer
Não esqueço do quanto era bom
imaginar a bancarrota do sistema
Hoje sou um resto do nada
Uma crônica do sucesso às avessas
O sonho de um pobreza desvairada
Um descontrole inepto das sinapses nervosas
Às vezes surto, acordo revolucionário
Basta anoitecer para as estrelas iluminarem as limitações
Não mais verei transformações radicais
Às vezes surto, acredito piamente nas multidões
Basta amanhecer para acordar isolado
triste, desolado
Nem o chuveiro elétrico dou conta
muito menos James Joyce
Cada página que leio, um vazio
Cada página da vida, revirada
O medo da morte transfigura-se
Torna-se doce deleite
A vida apenas um tempo
passado
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