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25.6.15

40

Sempre corri contra o tempo
Desejei mil revoluções por minuto
Pois sabia que um dia faria quarenta

Hoje, velho e cansado, leio o jornal de pantufas
Cada página do tabloide escorre sangue da violência doméstica
que domestica lares e enclausura sujeitos

Mesmo soterrado pelo alzheimer
Não esqueço do quanto era bom
imaginar a bancarrota do sistema

Hoje sou um resto do nada
Uma crônica do sucesso às avessas
O sonho de um pobreza desvairada
Um descontrole inepto das sinapses nervosas

Às vezes surto, acordo revolucionário
Basta anoitecer para as estrelas iluminarem as limitações
Não mais verei transformações radicais

Às vezes surto, acredito piamente nas multidões
Basta amanhecer para acordar isolado
triste, desolado

Nem o chuveiro elétrico dou conta
muito menos James Joyce
Cada página que leio, um vazio
Cada página da vida, revirada

O medo da morte transfigura-se
Torna-se doce deleite
A vida apenas um tempo
passado

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