A Lei de Acesso à Informação foi,
sem dúvida, um grande avanço da participação popular no controle social.
Infelizmente muitas prefeituras ainda não se adaptaram a nova legislação e
insistem em manter a velha tradição política, que evita a participação da população
nas questões de construção de políticas públicas e fiscalização dos recursos.
No âmbito federal, o Portal da
Transparência é um bom exemplo da tentativa dos órgãos de controle para
incentivar à população a participar ativamente da fiscalização dos recursos
públicos. Durante anos foi questionado se havia aparato legal publicar a
remuneração dos servidores públicos, se isso seria inclusive ético e seguro
para os servidores. Com a Lei de Acesso à Informação, o Portal da Transparência
passou a divulgar a remuneração dos servidores públicos federais, ou seja,
qualquer um de nós pode acompanhar os recursos recebidos por cada servidor
púbico, um avanço na participação popular no chamado controle social.
Mas, o que o cidadão comum pode fazer
com esses dados além de contemplá-los? Evidentemente que o TCU e a CGU
incentivam a população a encaminhar as denúncias, ou suspeitas de
irregularidades, aos órgãos competentes. Acredito que minimamente, e sem
precisar utilizar o recurso da denúncia, podemos também utilizar os dados para
iniciar um bom debate sobre como os recursos das universidades estão sendo
utilizados, mesmo estes sendo utilizados de forma legal – o que não garante que
estão sendo bem utilizados.
Por exemplo, no final da gestão
de um reitor de uma universidade, verificamos que alguns servidores receberam
quantias vinculadas a “Outras Remunerações Eventuais”. Certamente recursos
oriundos de muito suor e trabalho, especialmente daqueles sempre dedicados a
gerir a coisa pública e sem problema de ordem legal. O problema é que o
ex-reitor pode ter no seu currículo contas julgadas irregulares pelo TCU e um
histórico de enquadramento na Lei da Ficha Limpa (além de multas a pagar). Se
de repente o ex-reitor também foi beneficiado com recursos eventuais ele, como
pessoa pública e com os dados constando no Portal da Transparência, deveria vir
a público explicar o motivo dessa remuneração. Uma prática que deveria ser
comum entre aqueles que ocupam cargos públicos.
Um ponto merece uma análise mais
rebuscada. Se existem servidores que estão recebendo recursos que se acumularam
durante meses, ou anos, é porque o planejamento dentro da universidade
apresenta problemas. É evidente que é comum servidores receberem recursos da
progressão funcional, por exemplo, acumulado durante meses (que também podemos
caracterizar como uma certa inoperância da máquina administrativa), mas quando
esses valores superam a marca dos R$ 30.000,00, R$ 40.000,00, R$ 60.000, não é
difícil acreditar que algo não tramitou normalmente (pelo menos sob o aspecto
da chamada, adorada por alguns, “burocracia”). Nestes casos, de recebimento de
recursos acima da média, acreditamos que este dinheiro, se pago no tempo certo
e com organização, poderia ser utilizado para outros fins (mesmo sabendo que
existem rubricas específicas para pagamento de servidores, construção, compra
de equipamentos etc.), como por exemplo, contratar servidores para substituir
aqueles que poderiam estar fazendo pós-graduação. E são muitos servidores que
estão fazendo doutorado, trabalhando, ministrando aula, viajando distâncias que
superam os 300 quilômetros (verdadeiros herois).
Não custa nada a alguns
servidores vir a público dialogar sobre o recebimento de “Outras Remunerações
Eventuais” (no apagar das luzes de uma gestão). Boa parte dos nossos alunos é
de família carente e quando são informados que um servidor recebeu, por
exemplo, mais de 100 salários mínimos num único mês gera um desconforto. Num
país muito bem ranqueado no quesito corrupção e com reitores com contas
julgadas irregulares, nunca é demais mostrar transparência em nossas ações.
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