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28.7.10

Não mais pertenço - "despertenço"

despertenço a esse lugar inóspito

chamado de universidade

crivado de seres ignóbeis

mal amados

criaturas infames

crivados de cifrões

por todos os lados

vaidosos e impertinentes


seres fechados ao debate

aos livros raros

à bela poesia

ao bom desfecho


seres infeccionados

pelos vírus purulento

da discórdia

plantam ódio, mentiras

infâmias

enquanto aplaudidos

pelos bajuladores de plantão


os abutres venceram -

não mais pertenço a esse ambiente

hostil


pois, rogo um dia

flores despetaladas

bombardearem todos os campi

inundarem de orvalho

todo o campo dos doutos

produtores de gases lacrimogêneos

24.7.10

HORÁRIO POLÍTICO 2010

Candidatos empertigados

+

Discursos monocórdios

+

Verborragias que tilintam

+

Idiossincrasias eletivas

+

Ignomínias aos montes

____________________

= Horário Político 2010

21.7.10

O Silêncio, fiel companheiro

O silêncio é meu dom, meu tudo

Meu melhor amigo

Conheci o silêncio nas longas tardes

Da infância e juventude

Em todas as segundas, terças, quartas e quintas

Silencioso alaúde



O silêncio apresentou-se em formas de livros

De mudos discos

De sonhos colossais



Com o silêncio aprendi a sonhar

A amar, a ver o mar

O silêncio das ondas num verão

Num madrugar



No silêncio escuto meu choro

Ouço clamores

Ouço rufar tambores

Ouço a Palestina em coro



Certa vez o silêncio confessou-me

Que entre frestas e janelas

Farpas e cobertores

É preciso ficar mudo

Para ser ouvido



Mudo meus ares

Mudo o mundo

Mundo mudo

No silêncio de Antares



O silêncio na boca

Da Pedra da Boca

Faz rolar chorinhos

Ribanceira abaixo



E neste dilúvio de barulhos

Mesquinhos

Só o silêncio poderá dizer:

Melhor do que arrogâncias mil

Só eu mesmo para poder remendar

Desejo tão vil

11.7.10

Este domingo poderia ter sido diferente

Fim da Copa. Com uma atuação fantástica dos craques brasileiros conseguimos conquistar o hexacampeonato mundial. A vitória sobre a Argentina foi incontestável, apesar de los hermanos mostrarem um futebol de alto nível. Nossos jogadores desfilaram no campo e finalmente o futebol arte vingou o desastre de 1982 (apesar de termos vencido a Argentina naquele triangular classificatório para as semifinais, o futebol poesia perdeu para a Itália na catástrofe do Sariá). Uma final sul-americana, no primeiro campeonato no continente africano, afirma que um futebol bem jogado merece também resultados positivos.

Um 3x2 inesquecível com jogadas magistrais e uma atuação impecável dos goleiros, apesar do placar elástico para os tempos atuais. Os meninos da Vila Belmiro, leves e soltos, deslumbraram o mundo com jogadas geniais e souberam ouvir um técnico experiente, ofensivo, estudioso do futebol e que como um grande companheiro conseguiu retomar os ares idílicos de um esporte que merece ser lembrado pelas grandes jogadas e não por resultados frios.

A Argentina não perdeu o jogo. Todos nós sabíamos que o resultado seria inesperado. Nada mais exuberante que uma final de Copa do Mundo com dois times ofensivos, com dois técnicos experientes e amantes do futebol. Estes fatores só afirmam um outro futuro para esporte. Mudanças também vão acontecer na FIFA já que os técnicos das equipes vencedoras, bem como os jogadores, já iniciaram uma campanha de moralização da entidade que está envolvida em várias denúncias de corrupção e tráfico de influências. As federações brasileiras também serão atingidas por esta campanha e tudo indica que teremos uma reorganização completa destas estruturas falidas e vinculadas aos interesses dos poderosos de plantão. As primeiras medidas indicam que a Adidas, Puma e principalmente a Nike, acusadas de usar mão de obra escrava nos países asiáticos, não mais interferirão nos resultados dos jogos e na organização dos Mundiais.

Empresas que produzem lixo alimentar, como a Coca-Cola e o McDonald´s, que viciam e adoecem a população mundial, em especial às crianças, serão banidas de todas as competições oficiais de futebol. Os grandes conglomerados de TV também serão punidos com novas normas. As imagens serão abertas para qualquer transmissora que desejar repassar o sinal da Copa, em especial as TV´s comunitárias e àqueles que postam vídeos na internet.

Com essas medidas o futebol tem tudo para voltar a ser um excelente mecanismo de divulgação cultural e uma das marcas indeléveis da identidade de um povo.

Não podemos deixar de aproveitar este momento de euforia para escrever sobre a grande festa que toma conta do país do futebol. Estive na praia e solidarizei-me às milhares de pessoas que estavam na orla da cidade, embriagadas com a vitória da seleção canarinho. Acostei-me aos gritos de “É campeão!” e por um momento esqueci que amanhã é segunda-feira. Na volta para casa fui abordado por um garoto, no máximo 10 anos de idade, que me perguntou com uma voz tímida e precedida do pedido de esmola. “Ei, o Brasil ganhou um jogo, foi?”.

Realmente, este domingo poderia ter sido diferente.

Ficha Suja

Ficha suja

Do reitor, do prefeito, do secretário

Ficha suja

Aos montes no poder



Ficha suja,

Hoje limpa, esperando na fila

Para poder gozar dessa prerrogativa



Aclamados pelas urnas imundas

Ficha suja escárnio vitorioso

Escarram poder, recorrem aos plantões

Da justiça



Prova inconteste

Da fábula eleitoral

Do poder que não emana do povo

Dos corruptos construtores da sociedade

Suja



Ficha suja, compra tudo

No atacado e no varejo

Limpa todas as notas

Dó, ré, mi, fá, sol

Lá em casa, tijolo

No carro, gasolina

No emprego, consciências

Na coluna do jornal, elogios



Cargos, comissões, pressões, coação, poder



Ficha suja é status

Delinquência e verdade

Ficha suja num país imundo

É qualidade, adjetivo da obviedade

Menos no sítio do Seu Raimundo

Entranhas

Não quero me sentir anestesiado

Pelos cânticos, pelos florais

Pela palavra terapêutica



Não quero gotas de orvalho

Para aplacar minha indignação



Quero vozes ativas

Ver o suor dos corpos

Agitando esse silêncio ímpio



Quero poder contagiar

Contaminar meio mundo

Com o vírus da indignação



Em todas as paragens

Todas as pastagens

Todo gado marcado

Vítimas da sublevação



Todo povo longe

Dos templos corroídos



Que essa força essa estranha

Reverbere mundo afora

E consuma todas as entranhas

4.7.10

Paixão orgânica

Quantos pés maduros irão florir esta manhã?

Maduros corações amadurecendo em meio

Ao turbilhão



Corações verdes, amantes patentes

Batentes que ameaçam jorrar

O néctar incansável que teima

Em brotar



Terra profícua de desejos

Semeando plantações inteiras

Despojando arte, amor, alimento



Quem dera poder brotar

Sem os borrifos nefastos

Sem os tóxicos artificiais



Quem dera poder viver

Um grande amor

Sem agrotóxicos



Café da manhã

Com beijinho orgânico

Risadas diuturnas

Sem conservantes

Sexo sem látex

Feridas fechadas

Salivas alcalinas

pH estável

Sugar leite materno

Sem soja transgênica



Quem dera poder amar

Sem estabilizantes

Sem umectantes

Sem corantes

artificiais

3.7.10

Pretérito e Futuro

Chorinho que rega emoções

Mal consigo te ouvir

Envolvido que estás,

num recanto de proteção



Como é teu rostinho, teu soluço,

Teu carinho?



Que vontade de poder te acolher

Lançar um beijo que atravesse todo o horizonte,

Fazer um denguinho

Fazer um beicinho

Cantar as canções que fiz pra ninar



Com que perna chutarás a bola?

Com que mão escreverás poemas?

Que livros formarão teu caráter?

Quantas notas terão teu refrão?

E teu olhar crítico, será apurado?



Quantos beijos sublimes,

Quantas palavras de amor

Regarão teu crescer?



Teu cheirinho de bebê,

Tua puberdade,

Os primeiros amores

Passos largos, um homem



Quantas vezes sairemos

De mãos dadas, abraçados,

Conversando sobre a vida?



Quantos sonhos,

Quantos choros,

Quantos desejos,

Em comum



Beijo bebê,

Flores plantadas no pretérito

Germinarão em campos futuros

Insculpirão imagens eternas