O silêncio é meu dom, meu tudo
Meu melhor amigo
Conheci o silêncio nas longas tardes
Da infância e juventude
Em todas as segundas, terças, quartas e quintas
Silencioso alaúde
O silêncio apresentou-se em formas de livros
De mudos discos
De sonhos colossais
Com o silêncio aprendi a sonhar
A amar, a ver o mar
O silêncio das ondas num verão
Num madrugar
No silêncio escuto meu choro
Ouço clamores
Ouço rufar tambores
Ouço a Palestina em coro
Certa vez o silêncio confessou-me
Que entre frestas e janelas
Farpas e cobertores
É preciso ficar mudo
Para ser ouvido
Mudo meus ares
Mudo o mundo
Mundo mudo
No silêncio de Antares
O silêncio na boca
Da Pedra da Boca
Faz rolar chorinhos
Ribanceira abaixo
E neste dilúvio de barulhos
Mesquinhos
Só o silêncio poderá dizer:
Melhor do que arrogâncias mil
Só eu mesmo para poder remendar
Desejo tão vil
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