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7.10.06

Meu voto é...

Conversando ontem com um grande amigo, de longa data, conclui meu pensamento sobre o processo eleitoral. Disse-me que foi procurado por um candidato a deputado federal, que ofereceu R$ 100,00, em forma de vale combustível (num determinado posto de gasolina), para que pudesse sufragar seu voto em favor da troca monetária. Não irei analisar o ato do grande amigo que, sem pestanejar, aceitou o favorecimento, mas prometeu não votar no candidato (depois dessa, ele está mais convicto em anular o voto). O que nos interessa é ligar este fato com a máfia dos combustíveis em João Pessoa-PB. Quem não tem memória curta, lembra que a gasolina custava R$ 2,23 na capital paraibana, e que de repente subiu para R$ 2,74, mantendo este preço em quase todos os postos e só caindo para R$ 2,69 às vésperas da eleição. Sem dúvida os donos de postos ao fazer o cartel, estavam pensando no processo eleitoral, no intuito de abastecer o caixa dois para alguns candidatos ou de aumentar seus lucros graças à distribuição de vale-combustível (ou ambos).

O mais grave, neste caso, poderia ser a compra de votos, a sem-vergonhice do candidato – sem dúvida – mas o processo eleitoral, da maneira como se encontra, serve apenas para confirmar o monopartidarismo, a compra de votos e o uso da máquina estatal. No caso do cartel do combustível, os representantes dos órgãos de defesa do consumidor fazem pesquisas de preço e aparecem em entrevistas, apenas para figurar como baluartes. Na verdade, como poderiam defender o consumidor se já são orientados por seus mandatários, que se favorecem dessa prática abusiva? Se são estes mesmos mandatários que comissionam seus cargos, e caso percam o poder municipal seguirão para o poder estatal e tudo se configura como um jogo onde os empresários de postos de gasolina seguem dando as regras e enchendo os tanques com os vales?

E o que dizer daquele candidato a deputado que teve que desistir de sua candidatura por envolvimento na máfia das sanguessugas? Noutro dia saiu nas páginas dos jornais que seus votos nas cidades A, B e C seriam repassados para os candidatos X, Y e Z! Ou seja, não é o eleitor que decide seu voto, o curral eleitoral, numa dependência coronelista é quem o faz. Se na capital paraibana tem um candidato que paga R$ 100,00 em combustível, imagine como esse processo não se deu no interior, onde na madrugada de sábado para domingo todos os gatos são pardos e as cestas básicas, tijolos e telhas são distribuídas. Como pensar que o eleitor vai se comportar? O eleitor é um daqueles 43 milhões de brasileiros que passam fome e que dependem da máquina, principalmente nas prefeituras do interior, faz isso sabendo que só terá um empreguinho ou algumas regalias se o seu coronel-candidato vencer – lastimável.

Na Paraíba, como em qualquer outro estado do país, o processo eleitoral é uma mentira. O monopartidarismo é patente. Dois cordões disputam o poder, mas na verdade são aliados históricos, sempre estiveram juntos e inventaram uma briguinha (com direito a cachaça) para polarizar a eleição. Não há uma terceira proposta e portanto não há uma proposta popular, apenas grupinhos políticos que ao vencer irão ter que prestar contas com os donos de postos, empresários e empreiteiras. Para o senado existem duas opções: ou aquele que supostamente roubou a capital, favorecendo seus confrades, ou o outro que supostamente está envolvido com a máfia das sanguessugas. Digo supostamente porque vocês sabem de que lado está à justiça e corro o risco de assistir a liberdade dos ladrões na cadeia, apenas por dizer o que penso (isso é que é democracia!).

Então amigos, vocês já sabem que eu não irei votar, e não adianta dizer que se não irei às urnas os ladrões continuarão no poder – eles vão continuar mesmo. Antes do fechamento das urnas os jornais locais já diziam: para deputado federal estão eleitos X, Y, Z, etc... para deputado estadual estão eleitos K, W, I, etc...

Por mais que se fale em cidadania, não existe beleza na miséria, ou seja, no capitalismo. Só o povo organizado, em luta, conseguirá transformar essa estrutura que eles chamam de democracia. As eleições do dia de hoje são eleições da compra explícita de votos, do monopartidarismo, do arcebispo vendido ao governo, da máfia dos combustíveis e da sanguessuga, dos presidentes dos tribunais falando em democracia (com salários de R$ 20.000,00), do cinismo e da mentira. Meu voto é pela organização popular e pela derrubada dessa estrutura mofada.

Lauro Pires Xavier Neto



Segue matéria do portal: www.resistir.info


AS ELEIÇÕES BRASILEIRAS
As eleições presidenciais brasileiras serão no próximo domingo, 1 de Outubro. O candidato da direita assumida é o sr. Alckmin, indivíduo ligado à Opus Dei e apoiado pelo ex-presidente F. H. Cardoso. Não se lhe conhece obra significativa no governo do estado de S. Paulo. A própria mediocridade do personagem mostra as dificuldades da direita pura e dura em encontrar quadros capazes.
O candidato da direita não assumida é o sr. Lula, que actualmente faz o papel de presidente mas não exerce o governo real. Este é exercido pelos representantes dos credores do país, que nomearam um gerente inamovível para tomar conta do Banco Central, conduzir a sua política económica e pagar pontualmente o serviço da dívida externa. Nestas eleições o sr. Lula prepara-se para comprar votos com a ameaça da suspensão do programa assistencialista "Fome Zero", que distribui migalhas a 11 milhões de famílias marginalizadas . Trata-se de uma manobra perversa: o mesmo indivíduo que é conivente com a política económica que leva à exclusão social chantageia a massa dos excluídos com a ameaça de suspender a distribuição das migalhas. O sr. Lula é na verdade o candidato preferido dos directores do FMI, que querem manter as coisas sob controle e minimizar riscos de explosões.
Resta a terceira candidatura. Heloisa Helena é uma pessoa digna e o seu candidato a vice-presidente, César Benjamin, autor de A opção brasileira, é um homem intelectualmente bem preparado. A respectiva campanha eleitoral, no entanto, adopta um tom tímido e recuado, com laivos moralistas incidindo em questões acessórias como a corrupção (como se fosse possível haver um capitalismo sem corrupção). A campanha de H. Helena perde assim a oportunidade de exercer uma acção pedagógica e esclarecedora junto ao povo brasileiro pois omite-se ou é vacilante frente aos problemas fundamentais — como a necessidade da ruptura com o imperialismo, da Reforma Agrária, de reverter as privatizações selvagens efectuadas nas últimas décadas; de por em causa a dívida externa que escraviza o país, etc. Tais omissões geram entre as massas a ilusão de que os problemas de fundo poderiam vir a ser resolvidos apenas pela via eleitoral, sem mobilização e intervenção directa do povo a fim de alcançar a democracia económica, a democracia social e a democracia política, libertando-se do seu arremedo marquetizado.
Verifica-se que no Brasil nenhum partido de esquerda teve a coragem de adoptar a posição do Partido dos Comunistas Mexicanos, o qual nas presidenciais de 2006 se recusou a apoiar qualquer dos dois candidatos da classe dominante (Calderón e Lópes Obrador) e efectuou uma campanha paralela de esclarecimento e mobilização popular.

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