SOPA DE LETRAS
“São só palavras: teço ensaio e cena”
Extratos
da Discografia da Legião Urbana
Monólogo
Cena
01 - Um quarto, uma cama, uma mulher acordando agarrada ao travesseiro,
sentindo o vazio da perda, procurando a pessoa amada que se foi – tateando a
cama com as mãos. Encontra a foto da amada, as lembranças pululam – acorda
pensando que ainda estão juntas.
Ato 01 – Reminiscências
- Ei, olha só o que eu achei: achei
um 3x4 teu e não quis acreditar que tinha sido há tanto tempo atrás. Um exemplo
de bondade e respeito, que o verdadeiro amor é capaz.
É sereno o nosso amor e santo
este lugar. Agora que temos nossa casa não precisamos dormir no chão, até que é
bom, mas a cama chegou na terça. Vem, meu amor, é hora de acordar está um dia
tão bonito lá fora e eu quero brincar.
Teu corpo é gostoso, teu corpo
alimenta meu espírito, teu espírito alegra minha mente, tua mente descansa meu
corpo, teu rosto é bonito. Trabalhei você em luz e sombra. E era sempre: Me fiz
em mil pedaços, pra você juntar. Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais,
faríamos florestas do deserto e diamantes de pedaços de vidro.
Quem modelou teu rosto? Quem viu
a tua alma entrando? Quem viu tua alma entrar? Qual o teu signo? Qual é o teu
arcano, tua pedra preciosa? Calculei seu ascendente num recibo de aluguel, acho
tocante acreditares nisso.
Será que você vai saber o quanto
penso em você com o meu coração? Por favor, amor me acredite, não há palavras
para explicar o que eu sinto - estar contigo é o bastante.
Não vá embora, fique um pouco
mais, ninguém sabe fazer o que você me faz. Quando não estás aqui sinto falta
de mim mesmo e sinto falta do meu corpo junto ao teu.
É saudade então, e mais uma vez
estou pensando em você, quero lhe ver. Você me veio como um sonho bom, eu não
esqueço a riqueza que nós temos ninguém consegue perceber. E quando chega o fim
do dia eu só penso em descansar e voltar pra casa, pros teus braços [pois] és o
que tenho de suave.
Quero que saibas que me lembro,
queria até que pudesses me ver, és parte ainda do que me faz forte – e, pra ser
honest(a), só um pouquinho infeliz.
Cena
02 – Percebe que o amor não está mais ao seu lado, tudo acabou. Vicissitudes da
relação: rotina, traições, falta de amor, de sexo.
Ato 02 – Revolta passional
E a rotina crescia como planta e
engolia metade do caminho e a mudança levou tempo por ser tão veloz e eu fiquei
completamente tont(a) procurando descobrir a verdade. Não entendo terrorismo,
falávamos de amizade. Tudo está perdido mas existem possibilidades... Será que
ninguém vê o caos em que vivemos?
Agora está tão longe vê, a linha
do horizonte me distrai: dos nossos planos é que tenho mais saudade, quando
olhávamos juntos na mesma direção. Mas percebo agora que o teu sorriso vem
diferente, quase parecendo te ferir.
Quando não há compaixão ou mesmo
um gesto de ajuda o que pensar da vida e daqueles que sabemos que amamos? Preste
atenção ao que eles dizem: ter esperança é hipocrisia. A felicidade é uma
mentira e a mentira é a salvação.
Se a paixão fosse realmente um
bálsamo o mundo não pareceria tão equivocado. Vai, se você precisa ir não quero
mais brigar essa noite nossas acusações infantis e palavras mordazes que
machucam tanto não vão levar a nada, como sempre.
Eu quis você e me perdi e me
mesmo assim você me abandonou. Você quis partir e agora estou sozinh(a) mas vou
me acostumar com o silêncio em casa, com um prato só na mesa. Não há por que
voltar, não penso em te seguir, não quero mais a tua insensatez.
E essa escravidão e essa dor - não
sei se isso termina logo e não há nada a fazer agora. Agora carrego em mim, uma
dor triste, um coração cicatrizado. Hoje a tristeza não é passageira, hoje
fiquei com febre a tarde inteira e quando chegar a noite cada estrela parecerá
uma lágrima...
Sei que ela terminou o que eu não
comecei, falamos o que não devia nunca ser dito por ninguém.
Não era isso que você queria
ouvir?
Ter carro do ano, TV a cores,
pagar imposto, ter pistolão, ter filho na escola, férias na Europa, conta
bancária, comprar feijão
Mas já disse que não tem e você
ainda quer mais. Por que você não me deixa em paz?
Estou cansando de ser
vilipendiado, incompreendido e descartado, quem diz que me entende nunca quis
saber. Já que não me entendes, não me julgues, não me tente!
Maria Lúcia, aquela menina falsa,
pra quem jurei o meu amor, que você não respeita, que é só um objeto, pra usar
e jogar fora, depois de ter prazer. Seu interesse é só traição e mentir é fácil
demais, tua indecência não serve mais - tão decadente e tanto faz!
Com o teu amor eu quero que sintas
dor, eu quero ver-te em sangue e ser teu credor. Veja bem quem eu sou, trouxe
flores mortas pra ti como um anjo caído. [E] fiz questão de esquecer que mentir
pra si mesmo é sempre a pior mentira. Não confunda ética com éter, [pois] quando
penso em você eu tenho febre.
Não penso em me vingar, não sou
assim, a tua insegurança era por mim.
E depois de um dia difícil pensei
ter visto você entrar pela minha janela e dizer:
- Eu sou a tua morte
Cena
03 – Parte para a militância política, depois da decepção amorosa como uma
válvula de escape. Trocando de roupa para enfrentar a vida, ir ao trabalho.
Ato 03 – Militância Política
Que país é este? Que país é
este???? Estou cansad(a) de ouvir falar em Freud, Jung, Engels, Marx – intrigas
intelectuais em mesa de bar! O que eu quero eu não tenho, o que eu não tenho
quero ter e acho que isso não tem nada a ver! Ninguém respeita a Constituição,
ninguém vai me dizer o que sentir. Mas o que eu tenho é só um emprego e um
salário miserável, eu tenho o meu ofício que me cansa de verdade.
Sei que existe injustiça, eu sei
o que acontece, quero justiça, eu quero trabalhar em paz, eu quero trabalho
honesto, em vez de escravidão. Somos os filhos da revolução, de uma revolução
de merda, de generais de merda – eu não anistiei ninguém!
É o bem contra o mal e você de
que lado está? Qual foi a semente que você plantou? Quem são teus inimigos?
Quem é de tua cria? Pense só um pouco, não há nada de novo nas favelas, no
senado: sujeira pra todo lado! Desses vinte anos nenhum foi feito pra mim e
agora você quer um retrato do país? Todos os índios foram mortos, nosso Estado
não é nação, a juventude sem escolas, as crianças mortas, nossa desunião, o
voto dos analfabetos, todos os impostos, queimadas, o trabalho escravo, todo
roubo (e) a festa da torcida campeã!
Será que eu sou capaz de
enfrentar a estupidez humana? A estupidez de todas as nações? Será que nada vai
acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?
Só que agora é diferente aqui no
nosso Belsen tropical: existem os tolos e existem os ladrões e há quem se
alimente do que é roubo, mas vou guardar o meu tesouro, caso você esteja
mentido.
Desde pequenos nós comemos lixo,
comercial e industrial, mas agora chegou nossa vez, se a via crucis virou
circo, estou aqui! A juventude sofre e ninguém parece perceber. Eu tenho um
coração, eu tenho ideais e nos pontos de ônibus estão todos ali: a matilha de
crianças sujas no meio da rua. E mais uma criança nasceu, não há mentiras nem
verdades aqui só há os PM´s armados e as tropas de choque, tiram todas as
minhas armas, como posso me defender? Essa justiça desafinada é tão humana e
tão errada, nós assistimos televisão também, qual é a diferença????
A gente não queria lutar, e a
gente não queria lutar, se lembra quando era só brincadeira, fingir ser soldado
a tarde inteira? Mais uma guerra sem razão e já são tantas as crianças de armas
na mão, quando querem transformar dignidade em doença, quando querem
transformar esperança em maldição – o Brasil é o país do futuro: filósofos
suicidas, agricultores famintos, desaparecendo embaixo dos arquivos! E o que
que eu tenho a ver com isso? O que fazer pra todo mundo ficar junto? Sou
brasileir(a) errad(a) vivendo em separado, contando os vencidos de todos os
lados.
Ato
04 – O Recomeço...
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