Páginas

24.1.10

Passado

Sou preto e branco, sou sépia
Sou molduras barrocas, mofadas pelo tempo
Sequioso por amar o futuro
Preso à história
Voz entupida, corrompida,
Voz de prisão de ventre
Pulmões fragilizados pelo silêncio
Sou estrada passada, pretérito
Sou o outro em mim mesmo
Sequioso por encontrar felicidade

Resposta a cães covardes - do amigo Franscidavid Belmino

"Se nestes animais não há tamanha covardia
Chama-os de seres funestos, covardes, Desleais e traiçoeiros
Por que chamas de cães covardes?
Essas criaturas nefandas em suas ações
Desprezível, abjeto, infame, torpe, vil e mísero
Em busca de justiça injusta para encobrir sua podridão
Perseguidores da honradez e probidade
Humanos covardes, sim!!!
Sua inteligência está para a corrupção
Amigos por venalidade, vendidos e comprados
Falta decoro e decência a esses dejetos da maldade!!!
Abutres limpam a natureza, eles a sujam
Dos abutres eles fogem por causa de sua carniça
E da podridão de seus atos
Há animais covardes ... !!!
Sim, mantedores da alienação
Do corrupto e da opressão.
Covardes por fraqueza e
Maléficos por convicção
“Courage” camarada na luta pela transformação
Pobres cães por mais terríveis que sejam

Jamais serão tão funestos como eles são."

Franscidavid Belmino

Estranho

Não é estranho amor descolorido
Receitas de bolo sem açúcar?
Não é estranho estar só, cercado por uma multidão?
Não é estranho a solidão lutar contra a coerência numa batalha ferrenha,
Sem vencedor, nem vencido?
Não é estranho o amor querer perdurar
Num desejo infinito, apenas para a historia constar?
Não é estranho sentir saudade do futuro,
Imaginar sentimentos que virão?
Não é estranho sentir tua falta, sentir a falta do prédio, dos desejos
Que não existem mais?
Não é estranho morrer de véspera, alagar-se no verão seco,
Criar paisagens idílicas?
Não é estranho estar preso a uma canção, um bolo de milho
E a um emprego devastador?
Não é estranho necessitar da previdência, precisar criar os filhos
Que não existem?
Estranho mesmo é estar entranhado
Neste mar hipócrita, nessa chuva rala
Neste som nefasto
Estranho mesmo é continuar vivo neste turbilhão...

Cães Covardes

(à Mészaros pelo “ódio patológico” e pela “capacidade civilizatória”; à Manoel Gomes pelos “abutres”)

Cães covardes me perseguem
Farejam meus medos
Minhas provisões
Ignoram minha história
Cães covardes tão dóceis aos pés do dono
Dentes afiados, subservientes,
Querem meu sangue
Ódio patológico da liberdade
Cães covardes sem autonomia
Sem inteligência, sem vida própria
Amigos por conveniência
Ração é o que desejam
Cães covardes espalhados aos montes
Abutres em carniça,
Vermes comedores de carne podre
Mantedores da alienação,
Da opressão e do ódio
Cães covardes,
Sua capacidade civilizatória está esgotada
Mal sabem eles que transformo perseguição
Em desejo presente de continuar lutando

23.1.10

minha mania de guardar coisas - minha agenda de 1991

20 anos sem Zé Marques - "Morre-se na luta, mas a luta não morre"



"...tínhamos professores com uma visão diferenciada da realidade social, um deles me chamou a atenção. Professor José Marques (o Preguinho), militante partidário, que se fazia presente em atos em defesa do ensino público, especialmente na campanha eleitoral de 1989. Uma outra realidade começava a se construir em minha cabeça. Nessa Escola o debate político era efervescente, vestido numa roupagem das diferentes manifestações culturais, artísticas e desportivas, inseridas numa amálgama de classes sociais heterogêneas, a partir das lutas do sindicato e do grêmio estudantil. Aquele bom menino da classe média queria agora mudar o mundo!
Mas, um fato marcante daria rumo a essa história. No final de 1990, o professor Zé Marques ao retornar de uma viagem à Juru (PB) a fim de participar de uma manifestação política de professores, teve sua vida ceifada por um acidente automobilístico. O enterro de ‘Preguinho’ foi algo que me marcou profundamente, uma longa marcha invadiu o centro da capital paraibana ao som de Vandré e não saia da minha mente o sentimento altruísta de tantos lutadores do povo, que deram a vida em nome da causa."

22.1.10

Quede

Quede Vô, Quede Vó?
Que vazio naquele quarto
Quede o cuscuz, a batata com ovo e tomate?
Não mais chokitos, beijos e carinhos,
tempo inexorável, incorruptível
Cadê vocês onde estão?
Nas minhas lágrimas, no meu corpo,
Nas minhas estruturas?
Naquele quarto, agora sem penteadeira,
sem a cama, sem o guarda-roupa
Quede eu?