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23.8.09

Em greve

(Para Gabriel)


respiro este ar sufocante
minhas narinas não suportam mais
em greve não trabalham
renegam sua função

preferem asfixiar o corpo demente
do que encontrar respostas ao solene desejo

escuto canções, produzo tensões
procuro nas letras as respostas
mas não existem perguntas

minhas mãos não suportam mais
trabalhar com este coletivo

meus dias não suportam mais
o silêncio, sem bom dia

leio livros, produzo tensões
procuro nas letras as respostas
mas não existem perguntas

meus olhos não suportam mais
tantos desvios

meu corpo não suporta mais
tanta cobrança

o carteiro não veio
não escrevem ao coronel
mais cem dias
mais cem anos
mais um segundo de solidão

lá fora eventos, ventanias
pessoas opacas
outras não fedem, nem cheiram

e minhas narinas continuam em greve de fome

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