Páginas

3.1.07

Por favor...

Você fechou a porta e foi embora
Disse-me que não mais voltaria

Mas antes, me beijou, amou
Disse-me que não mais voltaria

E queria apenas mostrar teu amor por mim
E eu nem ouviu, nem senti, nem amei
Estava fechado, adormecido
Querendo acreditar, que a gente nunca havia se encontrado

Ainda nem escrevi um livro
Mal comecei a andar nesse vasto mundo
Que engole toda forma de sentir e agir
E saber que eu sempre amei você
E agora não sei para onde ir

Só que hoje acordei mais tarde
E sai por aí me procurando
Encontrei pernas e braços na cozinha
Olhos e ouvidos
Entre o chuveiro e a pia

Encontrei o silêncio do meu coração
Nas trevas do corredor da sala de estar

A geladeira, trancada, guardava o suspiro
O doce veneno do pensar em estar contigo

E eu que não aprendi a amar
Já queria mudar o mundo
Mas os meus defeitos você soube dominar
E utilizar isso contra mim ou a teu favor

E por favor
Não ache que sei o que estou fazendo
O caminho ainda vai se fazer
E por favor
Não use isso em seu favor
Não queira que eu ache que você é mais egoísta do que eu

O caminho ainda vou fazer
O caminho ainda vai se fazer
E sei que vou carregar todas as pedras
E andar com minhas pernas
E meus defeitos
Sei que posso pedir para voltar
Sei que talvez eu não volte
Sei que talvez você vá

Mas,
Não use isso em seu favor

Fim (de Feira) de Carnaval

Encontrei Pedro Osmar na Feira de Jaguaribe
Uma feira, sem pé, nem cabeça
De chinelos e pregos
De frangos sem cabeças, de camarão sem cabeça
De gente sem...

Dinheiro no bolso, ante a fartura de cabeças
de alhos porós – quase esbarro, quase caio
No meio da multidão, que grita
Vende, pesa, esbarra
Ante o tomate, a cebola, o coentro
A falta de quase nada, num quase tudo
Comestível
Uma mistura de chão sujo, limpo
Meus olhos com ares de verdureiro

Enxergar o Pedro, da carne de Jaguaribe
Do Jaguaribe Carne, na feira que tudo tem
Guerrilha, resistência – fome
Prá onde vai tanta comida,
De onde vem tanta miséria?
Da música, da feira, de uma quarta
Feira de fimdecarnaval

Prá onde vai o Guerrilheiro
Carregando a cultura, na mão?
Vai sua boca, munição
Que atira nos pés calçados
Daqueles que não fazem feira
Apenas festejam a riqueza do Carnaval
De matar os outros de fome
Essa é a Feira, esse é o Pedro
Que seja sempre Osmar! Oxalá!
Que seja sempre carne,
Jaguaribe, a Feira de Guerrilhar


Frederico Linho, JPA 25/02/04