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23.7.16

Tudo

Eu já tentei de tudo

Tentei fazer omelete sem quebrar os ovos
Tentei construir parede sem tinta vermelha
Descansei no sétimo dia
Na sombra de uma rede

Enfrentei os sete mares
Descrevi vidas em xilogravura
E acabei fixo, numa moldura

Já tentei de tudo
Fiz da vida uma cozinha de forno a fogão
Fiz poupança, espada, lança e redenção

Eu pensei que éramos muitos
Nessa síndrome tecnológica da austeridade

Terminamos sós
Nus
Abatidos na tenra idade

19.7.16

(quase) todos os olhos

Para tom, Zé!


violência

Corro da violência
Das vicissitudes
Do sangue que corre em minhas veias

Corro da violência
Da falta de atitude
Das estatísticas
em larga escala

Larga minha mão
Beija minha boca
Sangra meu beiço robusto

Larga meu peito
Esfola meu busto
Me diz quanto vale
O custo
(Brasil)

Chega de violência
Chega mais violência
Chega de violetas
E roletas russas

Eu sou minha própria violência
Estilhaço pedaços de mim
Me engulo
Sou o verme do meu próprio cadáver

Lesto e seguro
Digo adeus na hora da chegada
E abro mão do meu sangue puro

16.7.16

Os dez últimos dias

Os dez últimos dias
E o som não mais principia
Sem tese, antítese ou síntese

Não há cura
Para uma doença de dez dias

Não há cura
Para longas passionais

Não há cura
Para lutas inglórias

Não há cura
Para vizinhos inescrupulosos

Não há cura
Para orquestras desafinadas

Não há cura
Para trabalhos vazios

Não há cura
Quando se quer apenas dez últimos dias

Não há cura

Não acuda

Não acura

Não cura

Não...