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12.3.10

Ei Camarada,
não deu prá ir à reunião do Partido
Outros partidos careciam de remendos

Ei Camarada,
Desculpe-me a idiossincrasia
Mas o meu governo foi à bancarrota
Nesta tarde não dava prá estudar Lênin, Marx ou Mao
Pois lá em casa estava tudo tão mal

Ei Camarada,
Prometo largar as cervas pretas
E voltar ativo e forte às mesas intelectuais
Sei que nada justifica minha ausência
Mas, parafraseando o Comandante
(Correndo o risco extremo de ser piegas)
Um dito revolucionário também pode ser vítima
De um sentimento inexorável de amor

Para Gê

Prezado Gê,
Durante muito tempo não te compreendi
Prestes a ignorar tua atitude
Mas não àquela relativa à perseguição política – imperdoável
Ou aos desmandos coronelistas

Teu jardim sem begônias, orquídeas ou olgas
Foi escolha política que não concordo
Trato mesmo da postura pessoal
Do ato infame
Do ilícito em ceifar aorta e miocárdio

Gê, hoje consigo distinguir desespero
E desejo contínuo
Afirmação peremptória,
Apenas para ficar na história