Os Ombros Suportam O Mundo - Carlos Drummond de Andrade
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
24.6.07
12.6.07
boeing 737
Fotos da terra e o sol aparecendo
Amigos caindo, escrevendo de longe
Cabeça confusa, esquerda perdida
A juventude canta em coro:
Tudo é imutável
O jovem da zona rural mal sabe o que é benefício
Uma fila no INSS e mais um é-vento na cabeça
O egoísmo, a maldade e a soberba
A TV nada nos diz
Operações da PF falam mais nos noticiários
Até que derrubem mais um boeing 737
Amigos caindo, a distância sufoca
Muitas ruas, muitos rumos, distâncias completas
Jovens fora da escola
E eles querem que o futebol
Livre-nos de todas das drogas
Juventude pobre, comendo osso e arrotando filé
Não militam, esperam, escutam o mp3
Nadam livres, em cabeças desossadas
Pobres vidas, esperando o sol apagar
Noite fria em colchão de cetim
O locutor na rádio anuncia:
É mais uma final de campeonato
Não posso perder o Alonso bater
Não posso gritar – a vida em um ato
O sino da escola bateu
E ainda falta responder a última questão da prova
Amigos caindo, escrevendo de longe
Cabeça confusa, esquerda perdida
A juventude canta em coro:
Tudo é imutável
O jovem da zona rural mal sabe o que é benefício
Uma fila no INSS e mais um é-vento na cabeça
O egoísmo, a maldade e a soberba
A TV nada nos diz
Operações da PF falam mais nos noticiários
Até que derrubem mais um boeing 737
Amigos caindo, a distância sufoca
Muitas ruas, muitos rumos, distâncias completas
Jovens fora da escola
E eles querem que o futebol
Livre-nos de todas das drogas
Juventude pobre, comendo osso e arrotando filé
Não militam, esperam, escutam o mp3
Nadam livres, em cabeças desossadas
Pobres vidas, esperando o sol apagar
Noite fria em colchão de cetim
O locutor na rádio anuncia:
É mais uma final de campeonato
Não posso perder o Alonso bater
Não posso gritar – a vida em um ato
O sino da escola bateu
E ainda falta responder a última questão da prova
3.6.07
CULTURA POPULAR
Em alguma praia do RN: um rádio antigo, uma bruxinha de vassoura, aguardente Gato Preto, um litro de Campari, uma barraquinha de taipa - sinônimos da cultura desse povo nordestino
o petróleo e o sofá
...onde é que está? Cadê sua fração?"
O carroceiro fitava-me enquanto eu tentava registrar esse momento. Do meu lado, um rapaz pedindo dinheiro para aquela passagem de ida não-sei-para-onde. No boné do carroceiro está grafado "Grito dos/as Excluídos/as"... ao me ver diminuiu "a marcha" - talvez achando estranho o fotógrafo amador alterando sua rotina... o rapaz pedinte perguntava o óbvio: tirando foto, é?
Assinar:
Postagens (Atom)