27.9.20
Medo
5.9.20
Menino
Não tenho tempo para agruras
Nem para subjetividades
O menino pobre que puxa a carroça
Grita no meu pé de ouvido
Sigo descalço, humilde
Não sinto as trepidações do asfalto
Não sinto o cheiro ocre da latrina
Nem o gosto da miséria
O menino pobre que puxa a carroça
Vem puxar meu pé à noite
Não deixa que eu assista à minha série favorita
Sussurra que a vida não é ficção
Missa do Galo
Para onde vão os poemas?
Por quem os sinos dobram?
Por que a lápide está em branco?
Por que as beatas não estão rezando?
Não são perguntas
São retóricas
São resumos e histórias
São sentimentos histéricos
que batem à porta ao som da meia noite
Nasci
Eu nasci para ser poeta
Morrer de fome pelos meus escritos
Morrer de amores pelas minhas dores
Eu nasci para ser poeta
Meia vida de inspiração
Meia dúzia de indignação
Eu nasci para ser poeta
Meia vida afinando letras
Meia vida tocando versos desafinados
Eu não nasci
Eu pari um poema
e abortei palavras