Amado T.,
Parece-me que os desdobramentos dos meus atos ficarão
marcados para sempre
A realidade enclausurada, as pernas encurtadas e a falta de
sol indicam que,
mesmo com o retorno da normalidade, não conseguirei recompor
o que foi perdido
Em resumo, mutilei uma orelha surda
Os girassóis murcharão no vaso amarelo
O ceifador continuará solitário e desconhecido
A bala teimará em não sair do meu corpo
Continuo assintomático com a venda de apenas um quadro em
vida
Nem febre, nem dor, nem ganho
Tudo isso vai passar
Inclusive eu
Com amor,
V.G.
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