Escrever (tentativas) poéticas
É como mergulhar num pântano
artificial
Não corto os pulsos como o Veríssimo
Mas desejo, caro leitor
que você imagine que o autor morreu
Atolou-se nesse lodo poético movediço
Morreu sem ar
sem luz
sem isso
Morto, caro leitor
Não posso responder sobre o que escrevi
sobre quem escrevi
ou como estou me sentindo
Morri com o poema
Morri com as tentativas
Agora ele fede
Está em decomposição
Cabe a você, caro leitor
usar a imaginação
E quem sabe mantê-lo dessepulto
25.9.16
Ensaio sobre minha cegueira
Precisei ensaiar minha cegueira
Para poder enxergar melhor
Precisei ensaiar minha cegueira
Para poder cantar a vida melhor
Precisei ficar cego
Para compreender a cegueira do outro
Precisei estar cego
Para ver minha própria cegueira
Minha cegueira é minha condição de visão
É quase gagueira
No parlamento imundo
Minha cegueira é minha condição de estar no mundo
É poder enxergar os limites do outro
Estou cego
nada sinto
E ao mesmo tempo compreendo a visão
E sei porque minto
Estou cego e corro
E todos que enxergam
param
Doentes de poliomielite
Estou cego
E tantos que enxergam
Vêem só o pensamento da elite
Minha cegueira é como um parto
Ante o aborto das minhas convicções
soterradas num pacto
Estou
cego
surdo
mundo
E a toda hora mudo o canal
para nada ver além do ego
Para poder enxergar melhor
Precisei ensaiar minha cegueira
Para poder cantar a vida melhor
Precisei ficar cego
Para compreender a cegueira do outro
Precisei estar cego
Para ver minha própria cegueira
Minha cegueira é minha condição de visão
É quase gagueira
No parlamento imundo
Minha cegueira é minha condição de estar no mundo
É poder enxergar os limites do outro
Estou cego
nada sinto
E ao mesmo tempo compreendo a visão
E sei porque minto
Estou cego e corro
E todos que enxergam
param
Doentes de poliomielite
Estou cego
E tantos que enxergam
Vêem só o pensamento da elite
Minha cegueira é como um parto
Ante o aborto das minhas convicções
soterradas num pacto
Estou
cego
surdo
mundo
E a toda hora mudo o canal
para nada ver além do ego
23.9.16
Etc
Não preciso mais ouvir músicas deprimentes
Para escrever meu poemas e sentir as vilanias
Basta ligar a TV e ver os políticos que mentem
Basta ir à feira ver os preços e orar para que não aumentem
Não preciso querer compor
deprimente
Já basta o canal que não abre a mente
Já basta a geladeira vazia
comumente
Já basta ler o jornal e ver
como mente
Já não preciso forçar a barra da dor deprimente
Basta ver o consumo rasteiro das ideias
intermitentes
Basta ver a briga interna
dos meus entes
Já não preciso saber quem sou
ou quantos dentes
Parecem visões prementes
Visões emparelhadas de um futuro pouco decente
et ceteramente
Para escrever meu poemas e sentir as vilanias
Basta ligar a TV e ver os políticos que mentem
Basta ir à feira ver os preços e orar para que não aumentem
Não preciso querer compor
deprimente
Já basta o canal que não abre a mente
Já basta a geladeira vazia
comumente
Já basta ler o jornal e ver
como mente
Já não preciso forçar a barra da dor deprimente
Basta ver o consumo rasteiro das ideias
intermitentes
Basta ver a briga interna
dos meus entes
Já não preciso saber quem sou
ou quantos dentes
Parecem visões prementes
Visões emparelhadas de um futuro pouco decente
et ceteramente
15.9.16
eu, vezes nada
Eu, trambolho de gente
Deixo essa última carta
Escrita com o dente
trincado de ódio
Eu, trambolho de gente
Filho do Augusto e do amoníaco
Sinto cheiro de enxofre
Nas cadeiras de chefes demoníacos
Eu, trambolho de gente
Cego de um olho
Míope de outro
Só enxergo meias verdades
Eu, trambolho de gente
Sou maltrapilho
Indecente
Visconde feito de milho
Eu, trambolho de gente
Sou uma rima no deserto
Uma lágrima no oceano
Ninguém de fato, decerto
Eu, trambolho
Às vezes gente
Às vezes ato
Às vezes nada
vezes nada
Deixo essa última carta
Escrita com o dente
trincado de ódio
Eu, trambolho de gente
Filho do Augusto e do amoníaco
Sinto cheiro de enxofre
Nas cadeiras de chefes demoníacos
Eu, trambolho de gente
Cego de um olho
Míope de outro
Só enxergo meias verdades
Eu, trambolho de gente
Sou maltrapilho
Indecente
Visconde feito de milho
Eu, trambolho de gente
Sou uma rima no deserto
Uma lágrima no oceano
Ninguém de fato, decerto
Eu, trambolho
Às vezes gente
Às vezes ato
Às vezes nada
vezes nada
2.9.16
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