Hoje eu tive um sonho
Sonhei que era um quinze de abril
Uma Lua Cheia esplêndida
Uma noite de luar
A cidade estava acéfala
Digo, oficialmente acéfala
O prefeito e sua trupe
Foram discutir a paz dos túmulos
Na Colômbia reacionária de Uribe
Foram com dinheiro público
Levaram o vice
A guarda municipal
O controlador de tráfego
[Eu disse tráfego]
A primeira dama e talvez mais alguns
Era noite de Sarau Debaixo
Embaixo do viaduto e era do DIA
Noite dos poetas marginais
Dos encapuzados
Baile de rima dos revoltados
E nessa noite pungente
Os coquetéis saíram do papel
Rasgaram o transparente véu
Dessa democracia indecente
Após poemas sujos
Putarias literárias
Orgasmos de prosas
A multidão incontida ocupou ruas
Alamedas, bueiros alagados
O exército que até então exercitava a poética
Trocou penas e lápis por indignações na prática
O Paço Municipal vazio
De ética e legitimidade
Foi tomado por cordelistas em fúria
A Câmara cerrada
Pichada de cima a baixo
Pelo poder popular do Sarau de Baixo
A Guarda Municipal em choque
Nem conseguiu aquarelar
Ao ver aquela onda revolucionária passar
Era a noite dos meus quarenta anos
Comemorei em grande estilo
Fazendo tremular
Da sacada do prédio
A bandeira do Movimento Popular