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28.1.14

Arqueologia

Após alguns anos de escavações intensas descobriu a felicidade fossilizada, carcomida pelo tempo.

16.1.14

Ipês

- Não deixe a Parahyba sem antes ver a floração dos Ipês!
Recado do meu Avô
Que deve estar triste ao ver os Ipês
Servindo de sustentação para as bugigangas do natal
Que explicaria o porquê da floração tardia
Em meio a tantos autos
Carros, óleo diesel
Efeito estufa
Ainda assim, felizmente, no meu último dia na capital parahybana
Pude ver o tapete amarelo
Contrastando com o cinza-corrupção
Da Assembleia Legislativa

11.1.14

Revivendo 1989

25 anos depois o emblemático 1989 continua vivo. Ano da primeira eleição direta para Presidente da República após a ditadura civil-militar, vinte e poucos candidatos representavam as mais diversas correntes de pensamento. De coisas risíveis, como a natimorta candidatura de Sílvio Santos, ao sonho da esquerda subir ao poder pela via eleitoral. O que os caciques da política não esperavam é que um salvador da pátria, travestido de caçador de marajás, então desconhecido do grande público, pudesse superar nomes como Ulisses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. O desfecho dessa história todos nós conhecemos. 35 milhões de votos elegeram Collor de Melo-Itamar Franco e outros 32 milhões choraram a derrota de Lula-Bisol.

Pelo "Vocênotubo" é possível relembrar passagens marcantes daquele ano memorável. É possível assistir o programa eleitoral dos chamados nanicos, como Marronzinho e Enéas, e os extremos políticos como o então comunista Roberto Freire (PCB), apoiado pelo cantor Lobão, até figuras nefastas como Aureliano Chaves (PFL) e o candidato ruralista, Ronaldo Caiado (PSD).
Os jingles das campanhas contagiaram multidões, alguns mais pelo apelo sonoro do que pelos programas de governo. Afif, representante dos industriais, angariou votos graças ao "Juntos chegaremos lá, fé no Brasil" e até mesmo o "Bote fé no velhinho, que o velhinho é demais", do Dr. Ulisses,conseguiu comover muita gente. O "Lá, Lá, Lá Brizola" e o "Lula-lá", viraram clássicos e devem estar, ainda hoje, na memória de muita gente. Este último principalmente porque contou com um coral de artistas e intelectuais.

Lembranças idílicas da época fazem parte do meu imaginário, pois era um momento pleno do desabrochar da adolescência, tempo inclusive do primeiro amor. Infelizmente a crônica da vida real foi mais dura com o povo brasileiro e a inesperada vitória de Collor ainda carece de análises pormenorizadas. Como milhões de dólares surgiram para financiar a campanha? Quem foram os aliados nas eleições de 1990 privilegiados com as chamadas sobras de campanha? Quem assassinou PC Farias?

Durante a campanha, nos bastidores, escutava-se que os brasileiros perderiam seus aparelhos de TV, teriam restrições alimentares e teriam a poupança confiscada, caso o candidato barbudo vencesse a eleição. De fato a poupança foi confiscada e o saque nas contas restrito. Collor explica o fato como uma estratégia para barrar a inflação, depois de ouvir o Simossen, e diz que o Mercadante afirma que o PT utilizaria o mesmo artifício. Sarcasmos colloridos à parte, milhões de brasileiros foram assaltados e a verdadeira face de um projeto emergiu de maneira dramática para os pequenos poupadores.

Ficam mais perguntas. Como um ilustre desconhecido, filiado a um partido nanico (Partido da Reconstrução Nacional) conseguiu tamanha projeção? Como Collor de Melo conseguiu derrotar, no segundo turno, uma aliança de candidatos de tamanha expressividade (Lula, Brizola, Covas, Ulisses)? Por que um jovem, de apenas 40 anos, foi escolhido pelas elites para ser seu representante para derrotar a ameaça petista?

A história do afastamento de Collor por empáfia e corrupção todos nós já sabemos, mesmo que de maneira incompleta e sem vermos os larápios na cadeia. Como esse fenômeno surgiu é que procuro explicações.

A metralhadora poética

O poeta metralha
Gira sua poética
Aponta, engatilha
Mira com métrica

Metralha seu poeta
Metralha

Atira sua poética
Neste sistema canalha

10.1.14

Doutor [2]

- A célula do corpo humano que não tem núcleo é a hemácia. Tchau, boa sorte.

Não tive tempo nem de reagir àquela assertiva inesperada. Os portões estariam fechados em pouco tempo e só consegui devolver o boa sorte.

Quando vi a questão na prova de biologia é que compreendi o recado. Durante anos essa frase ruminou nos meus pensamentos. Alguns anos depois explodiram os escândalos. Professores de cursinho denunciados, presidente da entidade organizadora do certame afirmando a necessidade de diminuir as fraudes e outros assuntos correlatos que encheram as pautas dos tablóides por algum tempo.

Mas, a força política de quem vendia e, em especial, de quem comprava questões logo fez esvaziar as pautas e calar o noticiário. O tempo se ocupou do resto. Alunos que curtiam a vida em festas e baladas foram aprovados no curso de Direito, o preferido das fraudes.

Filho de Doutor, Doutorzinho é! E assim surgiram Desembargadores, Promotores e Juízes  com o propósito de perpertuar as ideias da classe dominante.

E assim vivemos numa sociedade como as hemácias, sem um núcleo concreto que possa referendar as ações dos grupos dominantes. Ações forjadas, desde a sua origem, sob a égide da fraude e do escárnio.

7.1.14

Empobrecer

Resolvi empobrecer
Deixar de lado o letramento
Ler a Folha de São Paulo
Sem enxergar o verdadeiro pensamento

Sem ver, nem Veja
Obscuros textos que irão me convencer
Que Nova Iorque é o paraíso
E com meu trabalho conseguirei vencer

Resolvi compactuar com o povo
Comprar tudo em infinitas prestações
Casa, carro, pão com ovo
Créditos sem limitações

Resolvi andar de ônibus
Sentir o aperto do trem
Comer Prato Feito
Que só o Mercado Central tem

Desisti do emprego público
E da segurança previdenciária
Pois vi que parte do povo
Passa o domingo na visita presidiária

Cansei de almoços dominicais
Shopping Center, baladas culturais
Das prostitutas do cais

Cansei de exame biométrico
Desse ritual patético
Que diz para votar e ser ético

Vou anular meu voto
E quem sabe um dia eu volto
Para este mar revolto
Que derrubará as pedras
Roladas a mais

P[B]xP[E]

Prefiro a província
E o Porto do Capim
Prefiro ficar sem time
Mas com a companhia
Dos amigos do Belo
Prefiro não colar a bandeira
[no Auto]
Prefiro não ter [e]sport[e]
Prefiro não chiar no ésse

Prefiro este lugar pacato
Sem emprego digno
Sem riquezas de imediato
E cheio de modéstias
E muito menos moléstias

Prefiro as Muriçocas no carnaval
E a terra sem canavial
Prefiro o verde-branco
Não vou negar
Que prefiro a volta do [hy]
E que um dia a capital mude esse nome