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15.5.13

Vela

Quando eu morrer me velem na Arapuca
Lá no topo
Cheio de velas coloridas
Rituais indígenas serão bem vindos

O Toré e a Legião devem ser marcantes
Não esqueçam que preciso de alguns minutos contemplando a paisagem
Ouvindo apenas a sinfonia marítima

As folhas do Serge indiquem o caminho
Com meus pés voltados para o mar

Digam aos burocratas que o cadáver sumiu
Desçam à praia e lá no fundo azul
Deixem-me nadar junto aos peixes

Quero ser o Brás sóbrio
Boêmio da natureza
Em seu último desejo

13.5.13

AutoExílio

Que saudade do verdelouro das tuas ruas
do chão amarelado no outono
folhas de ipês caindo mansinho

Que saudade da disputa do teu nome
rubro-negro conservador em contraste
com o verde-branco da liberdade

Que saudade do Radical discursando
da boca maldita do Ponto Cem Réis
dos jornais afixados pelo Régis
no Paraíba Palace Hotel

Que saudade da melodia da Tabajara
do fim de tarde no Sanhauá
dos mergulhos infinitos na Arapuca
da expressão máxima das praias do sul

Que saudade da casa d@ Vovo
da avenida Bahia, bem longe do Salvador
do campinho da EMLUR
do chorinho sem vela
do oceano sem tela
dos corais
azuis sem tê-la

Que saudade da escola técnica
d@s amig@s de longa data
das estrelas
do luar

Quem dera um dia poder semear
este campo
fazer florir histórias
esverdear esta bandeira
cumprimentar o sol
e dormir plenamente
ao som da seiva crescente
em paralelo com o mar

9.5.13

Desintegro-me

Répteis

E você cobra, implora
Pica
Rola
E sai voando, calada
Feito cobra alada

7.5.13

Juntos chegaremos lá...


Quem viveu o histórico 1989 deve lembrar das músicas de campanha para Presidência da República, com mais de 20 candidatos de todas as estirpes que participaram do processo de votação "direta" depois de mais de 25 anos.

Algumas músicas são inesquecíveis. "Bote fé no Velhinho, que o Velhinho é demais" da fracassada campanha de Ulisses Guimarães (vencido nas urnas até pelo então desconhecido Enéas, e só para recordar do bordão: "Meu nome é Enéas"), ou do "Lá Lá Lá Lá Brizola", ou "Lula Lá valeu a espera...".

Um dos candidatos conquistou a simpatia de parte do eleitorado com o slogan "Juntos chegaremos lá" utilizando um artifício com as mãos e o dedo indicador apontando para o "Lá" (seja ele o que for). Guilherme Afif Domingos, candidato do Partido Liberal, filiado aos grandes empresários (sempre bom lembrar que o Agronegócio também elegeu seu candidato, o nefasto Ronaldo Caiado) obteve um votação significativa.

Na época, ainda no começo da adolescência, brinquei muito com meus colegas do "Juntos chegaremos lá", sem saber o que aquilo significava. 24 anos depois acabo de descobrir. Afif assumirá uma pasta de Secretário, com status de Ministério, no Governo Dilma "da Silva". O projeto neoliberal chegou lá, junto com ele chegaram José Alencar, Henrique Meirelles, César Borges, Afif Domingos e todos aqueles que  combatemos ao longo da vida.

Lembro que quando trabalhei em Jequié/BA organizamos um ato político reivindicando mais verbas para a Universidade Pública durante a inauguração da Av. César Borges, que teimávamos chamar de Av. da Paz. Toninho Malvadeza no palanque com Paulo Souto (então governador) e o próprio César Borges (vivinho, apesar de dar nome à avenida). As faixas de protesto eram nosso único ruído naquele momento. Ao som de "abaixo as faixas" proferido do alto do palanque, Toninho Malvadeza deu o sinal para a Polícia bater e prender Augusto, então estudantes de Direito da UCSAL, que segurava uma das faixas bem ao meu lado. Augusto foi espancado e levado preso. À noite conseguimos "libertar" o preso político, acusado pela polícia de, pasmem, assalto! Depois de muita procura conseguimos um Delegado (não aliado à malvadeza) para fazer o corpo de delito em Augusto.

Essa é uma breve história entre tantas. Quantos militantes de esquerda não passaram por uma situação desta? Arriscaram sua vida pela causa?

E o resultado disso: "Juntos chegaram lá!", só não sabíamos que o projeto neoliberal teria tantos aliados.

Lauro Pires Xavier Neto
Doutorando em Educação / UFS

2.5.13

Como não utilizar o dinheiro público


No portal da transparência de Aracaju/SE verifiquei que algumas pessoas da Câmara Municipal receberam diárias de R$ 1.500,00 para participar de "Curso de Teoria e Prática de Oratória" realizado na cidade de Maceió-Al entre 25 a 28 de abril de 2013. Pela lista disponibilizada no portal da transparência nove pessoas (entre vereadores e assessores) usufruíram deste "benefício", perfazendo um total de R$ 13.500,00 apenas com as diárias (dinheiro público, sempre bom lembrar). Além disso, a Câmara Municipal pagou a inscrição do curso (mais R$ 3.600,00, ou seja R$ 400,00 por pessoa).

Pergunto: é preciso passar 4 dias em Maceió (de quinta a domingo) para fazer um curso de Oratória? Se realmente existe essa necessidade, não poderia a Câmara de Aracaju contratar um especialista na área para ministrar este curso em Aracaju, ao custo bem inferior da soma das diárias?

Um detalhe interessante é que no dia 25 de abril não houve a realização de nenhuma atividade acadêmica, apenas o "credenciamento" (conforme consta em http://www.ibradem.org.br/wp-content/uploads/2013/04/PROGAMA%C3%87%C3%83O-ABRIL.jpg), ou seja, um dia desnecessário, um gasto público desnecessário. O curso completo teve a carga horária de onze horas, sendo que efetivamente 8 horas com os palestrantes. Em resumo os vereadores de Aracaju e seus assessores foram para o Hotel Verde Mar, na praia de Pajuçara em Maceió, passar 4 dias para um curso de Oratório com carga horária efetiva de 08 horas - tudo isso arcado com dinheiro público!

Vamos ficar calados? Ou vamos denunciar mais um descaso com o cidadão?